Revista de Nossa Senhora
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Nas mãos do OLEIRO

Publicado em 22 de agosto de 2016 / Reportagens >

Acabar com o mal é o compromisso de quem quer ser misericordioso. Destruir o que fere, o que distrai, o que permite ao coração fechar-se à graça. Não se pode titubear em tempos onde o amor precisa lutar muito para conseguir espaço numa sociedade que valoriza demasiadamente o ter, o prazer e o poder. É preciso preservar quando se veem sinais de amor entre as pessoas porque nos tempos atuais, ele se torna difícil de realizar. E é assim que retomamos, neste mês, a temática do Ano da Misericórdia, evitando o mal e deixando que a graça de Deus tome conta de nós.

Toda a Igreja tem investido tempo, formação, encontros e retiros para tratar da temática da misericórdia e temos ouvido apelos de toda parte, principalmente do papa Francisco, sobre as atitudes que devemos tomar para vivê-la. Temos encontrado inúmeras sugestões, todas muito importantes e corretas, sobre como ser e viver a misericórdia com obras de caridade que nortearão a nossa entrega espiritual neste tempo de graça. Além destas, gostaria de inserir uma reflexão a mais, buscando inspiração em Jeremias. Apesar de simples, creio que é uma consideração muito salutar.

No capítulo 18 do livro do profeta Jeremias, ele é convidado a descer à oficina do oleiro e contemplar o seu trabalho. Contemplar o que sai das mãos daquele que modela o barro e faz e desfaz o que bem entender. Não só molda, mas refaz o que se quebra. Refaz com o mesmo barro que usou para construir o vaso que saiu errado. Não se dá ao trabalho de buscar nova argila porque a matéria ainda é boa.

Imagine-se observando atentamente o oleiro, aquele que com a delicadeza das mãos cria do nada da matéria um belo produto. Não seria assim o exercício da misericórdia? A origem do ser misericordioso não estaria nesta experiência de experimentar ser usado por Deus que nos cria do nada da nossa existência e nos dá um rosto, um coração, enfim, o existir?

Por este olhar, um coração que se deixa moldar por Deus pode abrigar a misericórdia. Para ser misericordioso é preciso conhecer o Criador no exercício da sua criação. Somos esse barro, orientado para transformar-se num produto bom, digno. Enquanto vivemos, Deus procura moldar o nosso coração à sua vontade, mas não pode encontrar resistência. O homem precisa permitir porque Deus não se impõe à força. O barro amolecido pode ser moldado, direcionado, mas o barro seco não se permite mudança, molde ou qualquer outra obra.

Entenda bem: neste Ano da Misericórdia nós não nos moldaremos. É Deus quem nos moldará. Se nos moldássemos a nós mesmos seríamos egocêntricos, presunçosos e autossuficientes. A força de moldar vem d´Ele. Será um ano em que experimentaremos a Sua mão carinhosa sobre nós. Ele aparará nossas arestas e tornará o nosso coração, como sempre refletimos no tempo do Advento, um caminho plano, endireitado para a vinda do Senhor. Só quem ama ou quer experimentar esse sentimento, deixa-se moldar por Deus.