“Padre, creio piamente que Cristo ressuscitou. Agora, pensando filosófica e historicamente, Jesus, depois de ressuscitado, teria morrido normalmente como qualquer outro ser humano, certo? Por que é que não temos narrativa desse fato de apóstolo nenhum e nem de escritores dos primeiros séculos, como Flávio Josefo? Haveria aí alguma explicação ou este é outro mistério insondável da vida de Jesus?” José Carlos Barbosa – S. José do Alegre MG. Por email
Caro José Carlos, o leitor desavisado talvez estranhe a formulação erudita de sua pergunta porque desconhece sua história de ex-seminarista MSC, hoje professor aposentado, agente pastoral atuante em sua comunidade.Isto, sem falar que foi meu aluno, no curso clássico, na Escola Apostólica, Pirassununga, nos idos de 1960 …
Sabemos que a Bíblia descreve fatos que nem sempre são acontecimentos históricos, razão pela qual exigem uma leitura em clave teológica ou simbólica. Quanto aos fatos da morte e ressurreição de Jesus, trata-se de fatos marcantemente históricos. Sua morte física foi testemunhada pela multidão no calvário, constando seu relato até mesmo em obras de escritores pagãos. Sua ressurreição, embora o sepulcro vazio não a prove diretamente, contudo insinua algo que depois iria se confirmar por várias aparições, caso das santas mulheres, dos discípulos de Emaús e dos apóstolos. Note-se que esses últimos, medrosos e trancados no cenáculo, não alimentavam qualquer expectativa a respeito, alguns até duvidavam no momento de sua subida aos céus. Aliás, Marcos e Lucas (o Lucas do evangelho, não o dos Atos dos Apóstolos) colocam todos os acontecimentos no mesmo dia, domingo, primeiro dia da semana: o Pentecostes, as aparições às santas mulheres, aos discípulos de Emaús e aos apóstolos reunidos no cenáculo. Em seguida, após a refeição, Jesus os leva até Betânia, onde, antes de subir aos céus, os envia a pregar o evangelho. Diz o Catecismo da Igreja, n. 645: Cristo ressuscitado, que apareceu aos apóstolos e comeu com eles, “tem um corpo autêntico e real, possuindo ao mesmo tempo propriedades novas de um corpo glorioso; não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai”.
J.Carlos, não se pode comparar a ressurreição de Jesus com aquelas que Ele realizou, devolvendo a vida à filha de Jairo, ao jovem de Naim e ao seu amigo Lázaro. Esses voltaram a morrer. Cristo, não!
Há muitas lendas sobre a pessoa de Jesus, em especial nas centenas de escritos apócrifos, muitos deles elaborados cerca de 200 anos depois de Cristo, com tempo suficientemente longo para a criação de fantasias. São obras que servem de script para romances e filmes atuais, como O Código Da Vinci. Apócrifos modernos seriam, por exemplo, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e outros. Jesus não voltou a morrer. Na ascensão termina sua presença terrena e histórica, tendo início o tempo da Igreja, a qual, assistida pelo Espírito Santo, procura responder a sua última e solene convocação: VÓS SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS!
Pe. Humberto Capobianco, MSC é Diretor do Colégio John Kennedy em Pirassusunga, SP.