Mas para que serve a fé? Para o cristão a reposta é: serve para praticar a caridade, no sentido paulino, e para encontrar a Deus no sentido joanino.
Estamos em pleno ano da fé, proposto pelo Papa Bento XVI. Tempo de refletir sobre algo que faz parte da vida de milhões de pessoas pelo mundo afora. Os que não têm fé, ainda constituem uma minoria, mas ano após ano vão aumentando, inclusive no Brasil.
Ter fé consiste em algo bastante genérico. As pessoas costumam acreditar naquilo que elas querem. Isso abre infinitas possibilidades de crenças, das mais tradicionais às mais exóticas. Ter fé em última análise é crer em algo. No caso que nos interessa, falamos de uma fé colocada em um Deus. Com isso já chegamos a inúmeras possibilidades, entre elas, ser politeísta, ou monoteísta, ou seja, crer em vários deuses ou em um Deus só.
Nós, cristãos, somos monoteístas, descendentes de Abraão, assim como os Judeus e os mulçumanos. Cada um, porém, embora adorando um só Deus, entende a fé de maneira muito particular. Acredito que um olhar mais minucioso para nossa fé cristã é uma das propostas desse ano.
Mas para que serve a fé? Para o cristão a reposta é: serve para praticar a caridade, no sentido paulino, e para encontrar a Deus no sentido joanino. Para o apostolo Paulo, a fé sem obras é morta, portanto, sem sentido. Para o evangelista João, a fé só pode existir no amor ao próximo; afinal, se não amo o próximo que vejo, como amarei a Deus que não vejo? A comunidade crista, fiel aos ensinamentos de Jesus, entendeu e continua entendendo que a fé em Deus, só se reconhece através do serviço e amor aos irmãos. Madre Teresa de Calcutá entendeu muito bem isso quando disse: “as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”. Em outras palavras: quem tem fé em Deus que é amor, traduz a fé em obras.
Mas se engana quem usa a fé para obter favores e segurança. Pra começo de conversa, a fé sempre pressupõe a dúvida. Onde há certeza, não precisa haver fé. A dúvida aqui não é incredulidade, mas confiança. Eu confio, por isso creio. Não vejo a Deus, não convivi com Jesus, mas confio na sua palavra testemunhada pelos que com ele conviveram. Confio na experiência de tantos homens e mulheres que, ao longo da história da salvação, receberam de Deus a missão de nos transmitir o que Ele desejava de nós.
Quem nunca questiona a sua fé, acaba acreditando em tudo. E nem tudo é crível. Muita coisa é mentira. Muitas “pregações” são falsas, é engano, são desprezo da boa fé dos fiéis. Quem não tem uma fé sólida, baseada na razão, como diz o Apostolo Pedro, se deixa levar. Por isso fomentar uma dúvida saudável, nos atiça o coração em busca das verdades divinas. Que seria de um Tomás de Aquino, ou de um Agostinho de Hipona, se não tivessem o coração cheio de duvidas? Certamente não teriam se tornado Doutores da Igreja. Não porque duvidaram tão somente, mas porque pensaram sobre Deus, e isso esclareceu e aumentou a fé que ambos já cultivavam.
Por isso, é bom rever aquilo que cremos e, sobretudo aquilo que praticamos. Uma coisa complementa a outra, e ambas podem nos levar mais para perto de Deus. Não somos iniciadores de nada. Milhões já creram antes de nós, mas também temos que dar nosso testemunho para os que virão depois. De maneira sóbria e evangélica procuremos conhecer mais o Deus em quem acreditamos, para Nele termos a vida eterna que esperamos, e que Ele mesmo nos prometeu.
Pe. Alex Sandro Sudré, mSC é pároco da Comunidade São José, em Campinas, SP