Revista de Nossa Senhora
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Evangelho de João: Crises e Conflitos

Publicado em 4 de julho de 2013 / Reportagens >

OaxacaJoão 6, faz uma catequese a respeito da Eucaristia como realidade central na vida cristã. Infelizmente, estamos acostumados a reduzir a Eucaristia somente ao momento da comunhão ou à missa. Isto é perder o rumo que o Evangelho indica. João 6 retrata com realismo como costumamos buscar a felicidade, Deus, com generosidade e grandeza e, muitas vezes, com mesquinhez. Em seguida, apresenta Jesus que alimenta os seus discípulos com tudo o que Ele é e faz. Disso, decorre a Eucaristia em seu contexto correto, integrada com a Cruz, com a Palavra, com o empenho em viver o projeto do Pai, celebrada como um sinal (sacramento) das opções de Jesus na vida comunitária.

Na narrativa da cura do cego, percebemos como o conflito se acirra com aqueles que preferem permanecer na cegueira e não aceitar Cristo como luz. Isto desembocará no discurso sobre os verdadeiros líderes do povo.

O capítulo 10 do quarto evangelho chama a atenção para o bom pastor. Estamos acostumados a pensar no “pastor” – nas lideranças do povo – como pessoas ligadas ao mundo da religião. No entanto, nesta época qualquer autoridade política ou religiosa era chamada de pastor. Naquele tempo, abusava-se muito da palavra Deus. Os pagãos tinham uma pluralidade de deuses para expressar o quanto a divindade é rica e complexa. Autoridades políticas e religiosas, usando o nome de Deus, mantinham o povo na ignorância, alienação, na exploração e na injustiça. Jesus apresenta o Bom Pastor como aquele que deseja conduzir o povo para a fartura, dignidade e alegria. Por isso, a porta está sempre aberta. Trata-se de uma vida digna neste mundo e na plenitude ou vida eterna.

A narrativa da ressurreição de Lázaro aponta para a ressurreição do próprio Cristo, autor da vida eterna (Jo 11). A cena é descrita da seguinte forma: 1. Na pessoa de Lázaro, nome cujo significado é “Deus ajuda”, há uma ligação entre três temas: vida, morte e crer. Jesus parece decepcionar, pois não se encontra presente na morte do amigo. 2. Aparece a figura de Maria, irmã de Lázaro, mulher que professa a fé na ressurreição. 3. Diante da morte do amigo, Jesus fica comovido. 4. Nem a pedra, nem o fato de estar morto há quatro dias são obstáculos para Deus.

5. Jesus chama Lázaro para fora da “mansão dos mortos”, pede para “desatá-lo” e “deixá-lo ir” para Deus. 6. Muitos creram. Maria, expressando sua fé na ressurreição dos mortos, descobre que Cristo é a própria ressurreição.

Esta narrativa está estreitamente ligada à unção em Betânia, realizada por Maria, irmã de Lázaro (Jo 12,1-11). O processo de crer pressupõe carinho e cuidado com o Mestre. A paixão de Jesus se aproxima e Maria, sem saber, antecipa o sepultamento.

O domingo de Ramos (Jo 12, 12-36) é retratado como uma manifestação nacionalista do povo acolhendo Jesus em Jerusalém, debaixo das barbas dos romanos. Saíram ao encontro de Jesus agitando “os ramos de palmeiras”. Estes ramos eram símbolo da revolta dos macabeus contra a dominação grega, tanto em 164 aC (Cf. 2Mc 10,7) como em 142 aC, no final da revolta (Cf. 1Mc 13,51). Na segunda revolta judaica, em 131-135 dC, foram cunhadas moedas com palmeiras desenhadas, simbolizando a independência do povo. A própria saudação “Hosana” era feita em manifestações cívico-políticas. João acrescenta ao Salmo 118,25-26 a frase “o rei de Israel”. Portanto, a acolhida de Jesus em Jerusalém, celebrada por nós no domingo de Ramos, expressa o desejo do povo por libertação do jugo opressor.

O Livro dos Sinais termina (12, 37-50) com duas reflexões: 1. Por que tantos se recusam e se opõem à mensagem de Jesus? A resposta não fala das causas, mas mostra que no passado também aconteceu o mesmo com a palavra dos profetas. 2. Há uma reflexão sobre a manifestação da fé ao falar do Pai e da Palavra anunciada ao mundo (v. 44-50).

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé. MG