Em sua encíclica “Lumen Fidei”, o Papa Francisco, no número 56, diz o seguinte: “Contemplando a união de Cristo com o Pai, mesmo no momento de maior sofrimento na cruz (cf. Mc 15,34), o cristão aprende a participar do olhar próprio de Jesus; até a morte fica iluminada, podendo ser vivida como a última chamada da fé, o último “Sai da tua terra” (cf. Gn12,1), o último “Vem!” pronunciado pelo Pai…”

A morte iluminada pela fé
Comecei a meditar sobre a morte como encontro, como mergulho profundo no amor, como uma porta que se abre para a felicidade sem fim. Pensando assim, somos capazes de ver essa realidade sob um prisma mais alegre e consolador. Pensei: Uma morte iluminada pela fé, passagem desta para a vida eterna, certamente nos levará à Luz sem ocaso, ao próprio Deus. Esta verdade nos traz uma paz profunda e uma certeza de que não há estado de espírito de maior felicidade do que nos sentirmos totalmente acolhidos nos braços de Deus.
Santa Maria, Rogai por nós
Convido você, para voltar o olhar e coração, com muito carinho, para a pessoa de Maria, na glória do céu. Quando rezamos a Ave Maria, dizemos: “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”, pedindo a Maria que interceda por nós. Reconhecemo-nos pobres pecadores. Por esse motivo nos dirigimos à “Mãe de Misericórdia”, à Toda Santa. Entregamo-nos a ela “agora”, no hoje de nossas vidas. E nossa confiança aumenta para, desde já, entregar em suas mãos “a hora de nossa morte”. Que ela esteja então presente como na morte de seu Filho na Cruz, e que, na hora de nossa passagem, ela nos acolha como nossa mãe para nos conduzir a seu Filho Jesus no Paraíso.” (Cf.Cat. Católico-2677)
Nosso fim último é Deus
Faz parte da condição do ser humano dizer adeus a esta vida terrena. Perante a morte somos todos iguais porque Deus é o Senhor da Vida e pode nos chamar a qualquer momento. Cabe a cada um, cada uma, estar sempre preparado(a). É por graça e bênção do Pai que vivemos. Se formos pessoas de fé viva, a páscoa definitiva desta para a vida eterna, será um momento de entrega nos braços do Pai misericordioso. E as palavras de Jesus então ressoarão: “Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo.” (Cf. Mt 25,34)
Se a morte é a visão de Deus face a face, por que há pessoas com tanto medo de morrer? Jesus disse tantas vezes aos discípulos: “Não tenham medo”!. E isso vale para todo cristão. A morte é um momento sagrado, de entrega e de oferta da vida. Jesus nos diz que Deus ”não é um Deus de mortos, mas, de vivos” (Mc 12,27). Essa vida nova já nos foi assegurada por Jesus com a sua ressurreição. Não devemos temer porque, se escolhermos a vida enquanto estamos na terra, continuaremos a viver na eternidade.
Na oração da Missa do domingo da Páscoa rezamos: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova”. É o que recebemos pela ressurreição de Jesus. Ele passou pela morte, porém, dela saiu “vencedor” porque ressuscitou verdadeiramente. “
Somos povo de esperança. Esperança em Cristo, como nos escreveu o apóstolo Paulo: “Sei em quem pus minha fé” (2Tim 1,12). Foi Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que, com palavras e ações e com sua morte e ressurreição, inaugurou no meio de nós o Reino de vida do Pai, que alcançará sua plenitude lá onde não haverá mais nem morte, nem luto, nem pranto, nem dor, porque tudo o que é antigo terá desaparecido” (Ap 21, 4). (DA 143)
Há muitas moradas na casa do Pai
É difícil imaginar como é o céu, mas é consolador pensar que temos uma morada preparada pelo próprio Cristo. À pergunta de Pedro: “Senhor, para onde vais? Jesus respondeu: Para onde vou não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde.” (Jo 13,36). “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, eu vô-lo teria dito. Vou preparar-vos um lugar. Voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. (Jo 14, 1-3) “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4) tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” ( 1Cor 2,9)
A Igreja – “Comunhão dos Santos”
“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, que somos nós, dos defuntos que estão terminando sua purificação no purgatório, dos bem-aventurados do céu, formando todos juntos uma só Igreja, Corpo Místico de Cristo. E pela fé cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre à escuta das nossas orações.” (Cat. Católico 962)
Maria no céu
Maria é sinal de esperança para o povo de Deus peregrino. Enquanto caminhamos, a Mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada de corpo e alma, é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada no tempo futuro. No versículo do Magnificat, “todas as gerações me chamarão bem-aventurada”, Maria, com toda sua humildade, reconhece que o Poderoso fez nela grandes coisas. Desde os tempos remotos a Bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de Mãe de Deus, sob cuja proteção os fiéis se refugiam suplicantes em todos os perigos e necessidades. (Cap. 8 – LG)
Então, caros leitores da Revista de Nossa Senhora, alegrem-se com esta consoladora verdade e continuem a aprofundar esta beleza de nossa religião. Quando escolhi o título deste artigo, estava lendo os pronunciamentos do Papa Francisco. Desde o início da Jornada até o seu final ele não se cansava de nos incentivar a viver nossa fé com novo entusiasmo, porque, dizia ele, “a fé deve iluminar a vida, os atos, a opção de seguir a Cristo.” Então, se a fé ilumina a vida, ilumina também a morte, como vimos acima.
Oxalá tenhamos o privilégio de ter Maria junto de nós no momento da nossa morte. Com certeza, será uma morte iluminada.
Ir. Maria da Luz Cordeiro, FDNSC