Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação.
Texto: Ir. Maria Ivone Weissheimer – FDNSC
Maria foi a primeira a dizer Sim a Jesus. O seu Sim abre a porta para infinitos “sins” a seu Filho: O sim do discípulo amado, de José, de Paulo, de Pedro, de Francisco de Assis, de Inácio de Loyola, do Padre Julio Chevalier, de Tereza de Calcutá, de Oscar Romero, o meu, o seu….. Este sim se renova por todas as gerações, percorre séculos, povos, culturas, idades….. Todo o amor que sentimos por Jesus, nasceu no dia da anunciação, o dia do grande SIM que penetrou até o âmago da criação, do universo e se estenderá até a parusia onde todos, em unísono, diremos “sim” ao nosso Deus e Senhor! Então mergulharemos nesta fonte infinita de amor, de beleza, de paz!
Com o “SIM”, Maria fica à disposição total de seu Filho. Ela se torna a primeira cristã, a primeira pessoa consagrada ao Filho. Como não admirá-la e imitá-la? Como não pedir que nos ajude para que sejamos atraídos pelo Senhor? O convite de Gabriel à alegria e ao amor de Deus penetra o coração de Maria. Ela sente-se amada por Deus e seu coração transborda de amor, é a expressão de um dom total, é a resposta de amor ao amor. Em Maria a aliança cantada pelos profetas atinge o ponto mais alto. O seu coração é o berço que acolhe Jesus e adere com amor e entusiasmo ao plano da salvação. Então algo de absolutamente novo acontece. Nela começa a se formar o Filho da promessa que é ao mesmo tempo Filho do Pai e filho de Maria, homem e Deus. “A humanidade viu neste menino, sob a ação do Espirito, uma mutação única que se vai expandindo em todos aqueles que o acolhem”, diz o teólogo Giovanni M. Bigotto. A presença de Jesus no ventre de Maria, faz estremecer de alegria o pequeno João Batista, e Isabel dá a Maria o maior título que se possa atribuir a alguém, porque confere ao menino o maior título que lhe pertence: Senhor! “Maria é a mãe do meu Senhor”. Com esse título ela confirma a divindade de Jesus. Maria, portanto, é a primeira pessoa que vive uma fé cristã, cuja razão e meta é Jesus. Ela vive a maior das bem-aventuranças que é a fé. Vemos isso no Magnificat, cântico que permeia toda a Sagrada Escritura e demonstra que a palavra de Deus se torna a sua palavra e a sua palavra nasce da palavra de Deus porque os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus e sua vontade consiste em querer com Deus. Deus e seu Filho constituem o seu centro. No Magnificat também Maria mostra que Deus é um salvador pessoal ”meu salvador”. É o Deus que faz maravilhas! Ela olha para o que está para lhe acontecer. É extraordinário! É a maravilha das maravilhas que Deus fez para o seu povo. É um Deus Santo que acolhe os pequeninos, que está presente, é ativo e preocupa-se com os seus, é um Deus fiel, Ele cumpre a promessa que fez a Abraão, realizada agora no menino, seu Filho. Para ela, Deus é um Deus de amor. Toda a história da humanidade está envolta por seu amor. É um Deus perfeito no seu agir. Nesse canto Maria deixa emergir sua própria identidade espiritual, seu encantamento, sua gratidão, sua alegria. O menino que se forma nela é a maior fonte e causa da sua alegria. Ela está estabelecida na alegria. O coração de Maria está modelado pelo Espírito Santo, pautado pelo coração do Filho, dom do amor sem limites de Deus. A mãe emerge na totalidade da pessoa do Filho, e este também penetra na totalidade da pessoa da mãe, por isso a gratidão irrompe de seu coração de maneira espontânea, abundante e jubilosa. Lutero em seu comentário sobre o Magnificat, disse: “Este cântico da bem-aventurada e doce Mãe de Deus deveria ser aprendido e decorado por todos”.
Lucas nos diz que Maria guardava todas as coisas, meditando-as em seu coração (Lc.2,19). Ela guarda e medita no seu coração tudo o que acontece ao seu Filho. Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação. A anunciação constitui um estado místico de profunda intimidade com Deus. No Natal ela olhou pela primeira vez o rosto de seu Filho e sua oração foi de júbilo, de êxtase, de emoção, de encantamento!
Enquanto Maria envolve Jesus com seu amor, Deus nos envolve com sua luz. Caná foi um momento de oração e fé porque ela diz a seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. É uma oração concreta. Jesus irrompe como personagem central. É a iniciativa de Maria que O coloca no centro. Ela apenas disse; “Eles não tem mais vinho. E aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Eis a chave para sermos escutados. Ela entrega a Jesus o nosso problema. Maria rezou sobretudo ao pé da Cruz, uma oração de presença, de silêncio, de fé, de amargura profunda. É uma oração de amor, que não diz nada, em total adesão ao Filho para que o Verbo encha o silêncio com sua Palavra: “Mulher, eis o teu filho”; “Eis a tua Mãe”. Jesus morre, ao passo que a Igreja, Mãe e Filho, nascem. Maria é o testamento de Jesus e com ela, nasce a Igreja de seu Filho. Ela permanece em oração no cenáculo, na comunidade do primeiro grupo dos discípulos, em Pentecostes. Ela reza na Igreja e pede o Espírito para que pentecostes continue no mundo, na comunidade, no coração de todas as gerações, no âmago de cada um de nós. Não é à toa que João confere a Maria lugares chaves: Caná, onde Jesus oficializa sua vida pública e na cruz onde Jesus a encerra. Ele a quer como personagem por excelência para ser testemunha e modelo.
Enfim, Maria, pela sua maternidade está ligada a Jesus de maneira única, ela é templo de Deus, posse absoluta de Deus e posse de Jesus desde a sua existência. Também seremos “santos e imaculados”, quando, como Maria, houvermos escolhido por inteiro o Senhor. Maria é profecia e antecipação do nosso próprio destino, diz o teólogo G.M.Bigotto.
Ir. Maria Ivone Weissheimer FDNSC, é irmã da Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração.