Nós que prosseguimos, devemos a eles o respeito de irmãos e irmãs. Caminharam conosco por anos, sonhando os mesmos sonhos e sofrendo as mesmas dores do reino, até que para eles e elas ficou difícil continuar a servir a Deus dessa maneira. Não deu mais. Alguns podem ter perdido a fé e a perspectiva, mas a maioria continuou amando a Jesus e à Igreja e servindo ao Senhor. Não perderam a vocação . Só não foi mais possível servir e amar num convento, no celibato ou no ministério . Para eles ficou difícil demais prosseguir naquele caminho de vida . Para não servirem a Deus infelizes e desajustados, procuraram seu ajuste noutro caminho.
Há quem os diminua por isso.
Há quem fale em perda, fuga, infidelidade e fracasso; o que é injusto, porque há fracassados que continuam, mas servindo sem amor e há muitos deles que se tornaram pessoas melhores depois da mudança de vida. Cada caso é um caso!
Nós que ficamos nos conventos, nas paróquias, nas pastorais e achamos que podemos ir até o fim, temos mais é que respeitá-los. Por um tempo conseguiram, cheios de zelo e amor, ajudar o povo de Deus como padres, freiras e irmãos. Foi vocação. Sentiram-se chamados. Houve um momento em que, ou não foi mais possível responder daquele jeito ou sentiram-se chamados a outro caminho. Pediram licença, fizeram tudo nos conformes. Mas, ficar não dava mais. Em nenhum momento quiseram desafiar a Igreja, mas o coração pedia um lar, um amor ou um outro caminho de serviço.
Falo dos maduros. Sofreram e ainda sofrem bastante com suas opções. Tenho vários amigos e amigas, maravilhosos em tudo, que já exerceram o ministério sacerdotal e já viveram como religiosas. Aprendi e ainda aprendo muito com eles. Nunca me achei melhor do que eles só porque continuo. Nem sei se os entendo, porque não passei pelo que eles passaram. Mas de ouvi-los, sei o quanto sofreram e ainda sofrem.
Continuam companheiros. Alguns adorariam poder atuar, mas nossa Igreja ainda não fez esta opção. Enquanto isso, prosseguem com saudade, mas sem mágoa, na mesma direção do mesmo reino . Mudaram de veículo, mas não de destino. Nunca os chamo de ex padres ou ex freiras. Chamo-os de irmãos. É o que são. Um dia nossa igreja saberá aproveitar melhor suas capacidades.
Enquanto isso não acontece, que sejam vistos como servidores de Deus, lá onde agora estão, alguns mais, outros menos felizes, outros infelizes como antes. Julgá-los, nunca ! Essas coisas do coração e da fé não podem ser medidas na base do era e não é mais. A maioria continua viajando na direção do mesmo infinito, amando como antes. Se você nunca viveu perto deles ou delas, não terá uma ideia do quanto lhes dói a palavra ex. Não a use. Eles não a merecem.
Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com