Viver não é fácil, e a gente sabe muito bem disso. A existência humana traz em si essa mistura interessante de tragédia e comédia, que é o que acaba dando beleza a tudo, dando-nos a oportunidade de achar prazer em viver. Há tempo para tudo, tempo para gemer e tempo para bailar.
Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de destruir, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de bailar. Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar, e tempo de se separar. Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.” (Ecle 3, 1-8).
Talvez você já possa ter lido este trecho do Eclesiastes em outras ocasiões, sem deixar de concordar intimamente com suas palavras. De fato, há um tempo para tudo nesta nossa vida, e é esta sucessão de acontecimentos, de momentos duros e alegres, que nos vai construindo como pessoas.
Viver não é fácil, e a gente sabe muito bem disso. A existência humana traz em si essa mistura interessante de tragédia e comédia, que é o que acaba dando beleza a tudo, dando-nos a oportunidade de achar prazer em viver. Há tempo para tudo, tempo para gemer e tempo para bailar.
Foi precisamente esta vida que Maria viveu, e que Jesus assumiu. Vida que nos cobra sempre nos refazermos, sempre nos reinventarmos. Como num baile, em que sempre se tocam diferentes ritmos, temos que “dançar conforme a música”. Em Maria vemos um belo exemplo desta vivência: acompanhando sua história, narrada no Evangelho de Lucas, vemos sua trajetória do espanto da Anunciação, até a alegria jubilosa da Ressurreição, passando pela dor da Paixão. A sabedoria de viver está em assumir que haverá um tempo para tudo, momentos bons e ruins, e que não se pode ficar preso a nenhum deles… Quanto mais apego, mais sofrimento. Se Maria tivesse ficado para sempre ao pé da Cruz, a lamentar-se pela morte de Jesus, certamente não teria visto a bela manhã de Ressurreição… Há que se viver com intensidade cada momento, mas sabendo que tudo passa, alegria e sofrimento, e que isso nos torna mais fortes e sábios se soubermos fazer o esforço de ler nesses fatos a mão de Deus conduzindo nossa história.
Pra que apegar-se a velhas mágoas? A viver de glórias do passado?… Dizem que os antigos monges do deserto, ao encontrarem-se pelos caminhos, cumprimentavam-se dizendo “Memento mori” (“Lembre-se da morte”), ao que se lhe respondia “Carpe diem!” (“Aproveite o dia!”). A vida é muito curta para nos debruçarmos sobre nós mesmos em auto-piedade ou para ficarmos alimentando antigas angústias. Com Maria aprendemos a difícil arte do perdão. É preciso lançar-se ao aprendizado do perdão. Aprender a perdoar a vida, perdoar a si mesmo, perdoar o outro… O perdão é que nos abre os olhos para ver a vida como um todo, não como um momento: ele nos ensina a compreender que tudo passa e que se entregar sem lutar é um disparate.
É provável que você se lembre de antigas mágoas. Vamos ser sinceros: todos as temos! Seja pelas nossas condições na infância, mágoas contra alguém ou até mesmo contra nós mesmos. Mágoas, todos temos, mas é preciso redenção. Jesus, ao ser interrogado por Pedro a respeito de quantas vezes deveria perdoar, afirma que “setenta vezes sete” deveriam ser as ocasiões de perdão (Cf. Mt 18, 21-22). Setenta vezes sete… Mas não em sete segundos! É claro que perdoar exige um processo, um tempo. Uma ferida aberta não se cicatriza do dia para a noite, é preciso ser paciente, afinal, há um momento para tudo neste mundo…
O mais importante nesta escola de perdão, em que Maria nos ensina, é o desejo de perdoar. Mas se a dor for grande e a mágoa também, que tenhamos ao menos o desejo de desejar o perdão. Se não conseguimos perdoar na hora, que estejamos dispostos a fazer o processo, com ajuda de Deus, para podermos compreender a maravilha da vida que sempre traz um dia após o outro pra nos fazermos sempre novos. Dias bons e dias não tão bons surgirão nas nossas vidas, até o dia em que precisarmos deixar esta existência. Há tempo de nascer e tempo de morrer. Não pedimos o nascimento, nem sabemos quando partiremos, mas o que será do intervalo entre o nascer e morrer, aí depende muito de nós. Que Maria, companheira, mãe e mestra em nossa caminhada, nos ajude a ver, nos tropeços da vida, degraus para irmos sempre mais alto. Amém.
Fr. Fernando Clemente, MSC é seminarista religioso e cursa o 2º ano de teologia