Revista de Nossa Senhora
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MARIA Morreu ou não Morreu?

Publicado em 1 de outubro de 2013 / Reportagens >

revista“Padre, não sei se o Sr. se lembra de mim, mas faz algum tempo, eu lhe escrevi perguntando sobre a preocupação de um amigo evangélico. Mais uma vez venho pedir-lhe uma explicação, também sobre Nossa Senhora. É o seguinte: eu sempre soube que no caso da assunção de Maria aos céus, a Igreja deixou em aberto a questão de sua morte, mas por ocasião de sua festa, em agosto, ouvi numa TV católica, um padre afirmar que Maria morreu. O que o Sr. me diz?” Adriano Marques da Silva – por e-mail.

Caro Adriano, sim, lembro-me de uma consulta sobre um amigo seu que se tornou evangélico e que, em sua nova comunidade, sentia falta do culto a Nossa Senhora. Quanto ao seu questionamento de hoje, tanto você como o padre da TV tem razão. Recordemos um pouco do histórico desse culto desde os primórdios, quando surgem, no oriente, entre os séculos IV e VI, as primeiras narrativas sobre o passamento da Virgem, a partir de escritos apócrifos, onde se fala do Transitus (passagem) ou Dormitio (dormição) da Mãe de Deus. Algumas igrejas celebravam a morte de Maria, outras a sua ressurreição, seja só da alma, seja da alma e do corpo. A Igreja copta, por exemplo, celebrava a morte e a ressurreição de Maria, sucessivamente, nos dias 6 e 9 de agosto. Também na Igreja do ocidente havia divergências sobre o destino final da Virgem.

Assim, embora não houvesse bases bíblicas para sustentar essa verdade, usava-se o princípio da “Lex orandi, Lex credendi”, isto é, um consenso baseado na fé unânime e universal dos cristãos católicos. O fato eclesial era mais que suficiente para uma definição dogmática. O enunciado da definição dogmática, segundo a qual, “A Imaculada Mãe de Deus, a Sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi assunta à glória celestial em alma e corpo”, evita falar de morte, não define como foi seu fim nem o modo de sua morte. Alguns chegam a dizer que Maria foi arrebatada diretamente à glória do Cristo, sem ter morrido no sentido estrito do termo, segundo nos diz Paulo, em 1 Tes. 4, 17, a exemplo dos justos da última geração.

Caro Adriano, como você pode perceber, o tema é bastante polêmico, a Igreja deixa em aberto a questão da morte de Maria, de modo que tanto você como o padre da TV tem razão, mas hoje, a tendência dos teólogos, em geral, é pela sua morte, visto que somente quem morre pode ressuscitar. Ela morreu porque foi plenamente humana e a morte é consequência natural da vida, independentemente do pecado. Agora, tema ainda mais difícil é o chamado debate antropológico, como, tanto no caso da Virgem como em nosso caso, explicar a ressurreição imediata, logo após a morte. Mas isto pode ficar para uma próxima ocasião. Um abraço!

Pe. Humberto Capobianco, MSC, é Diretor do Colégio John Kennedy em Pirassununga, SP.