A missa é comum nos relatos, dos mais sofisticados da cidade até os antigos onde as tumbas se perdem na historia do tempo.
Texto: Pe. Antonio Carlos Meira, mSC
Introdução
Estimado leitor, faço uma ligação do fato de celebrar a esperança no dia de Finados e a historia que vivemos como Missionários do Sagrado Coração. Na verdade, podemos dar muitas voltas na vida, mas não podemos perder a esperança. Para isto, a celebração recorda o passado e é motivo para arrancar a coragem dos primeiros que iniciaram o caminho, deixam marcas no chão para que assumamos a missão com o mesmo entusiasmo daqueles sonhadores de primeira hora.
Celebrar a Esperança com os Finados
Fazer memória de nossa história. Uma tarefa importante para as novas gerações num tempo em que o presente passa quase absoluto, esquecendo-se dos antepassados. Olhar o passado não significa voltar atrás, senão avançar conhecendo o espírito de nossas origens. Um dos grandes problemas que encontramos na formação da juventude hoje é a perda do significado da historia. Contenta-se com o viver o hoje, sem passado e sem futuro. (conf. DA 44)
Quero comentar uma pesquisa que mandei como tarefa de casa para os alunos leigos com quem trabalho, dando aula aos sábados, no seminário diocesano. Um grupo heterogêneo, com gente de todas as classes da cidade e do campo, e de todos os níveis de formação: de universitário a gente simples. Para Finados, pedi uma tarefa investigativa de observação dos cemitérios, e que buscassem dar a sua interpretação, como matéria de escatologia.
Ontem, li mais de cinquenta trabalhos que relatavam uma variedade de experiências baseadas em crenças, lendas e sentimentos das pessoas entrevistadas. Por exemplo, numa comunidade um pouco distante daqui, um fato curioso chamou a atenção de todos. Nesse dia os mortos são recordados com uma comida familiar, cozinhada a dois metros de profundidade embaixo da terra, ou seja, num buraco. Estas comidas são assadas, distribuídas entre os familiares, uma parte é deixada para que o morto venha comer durante a noite.
Noutros lugares, preparam, de igual maneira, iguarias para os mortos, acreditando que na noite do dia 02 de novembro, eles voltem a comer, participando da comida feita para toda a família, ou seja, Finados é celebrado como parte da família. Por isso, ganha importância para todos, o significado da continuidade da historia desta vida para a outra. Ao mesmo tempo, em que num cemitério uns celebram a memória dos que se foram, noutro cemitério, numa cidade não muito longe, o costume é deixar o nome dos familiares escrito na tumba; outros contratam cantores com suas musicas tristes ou alegres, para cantar nas tumbas.
A missa é comum nos relatos, dos mais sofisticados da cidade até os antigos onde as tumbas se perdem na historia do tempo. Uma das crenças é que cada vez que se celebra uma missa para o finado, a alma vai se livrando das penas no purgatório.
Seria bastante recordar outras historias. O mais importante foi recordar e meditar com os alunos como o passado nos faz viver a esperança no futuro, com os compromissos no presente. A tarefa de sonhar e viver a vida, aqui e agora, com alegria na fé da ressurreição.
Nosso Passado, Presente e Futuro
Essa dinâmica do passado, do presente e do futuro, fez-me pensar ao celebrar a nossa historia como MSC, no meio de uma variedade de culturas, desde a realidade brasileira. Nestes cem anos de presença dos MSC no Brasil, o mundo deu um giro que os primeiros missionários levariam um susto ao ver as realidades onde começaram e sonharam com a fundação da congregação. O mundo rural quase desapareceu nas ultimas décadas, as fronteiras escolhidas como desafios missionários, de repente foram invadidas pela cidade, por uma cultura quase incompreensível para quem não acompanhou as mudanças. Os desafios missionários mudaram de lugar e agora pedem novas respostas para as gerações presentes.
Contudo, o desconhecimento do processo faz com que fixemos os ideais olhando para trás, pensando que aquele mundo era ideal e que devemos permanecer no sonho dos primeiros. O itinerário missionário foi forçado a mudar de enfoque com os novos ventos do mundo atual e do processo da historia. Voltar às raízes é uma das tarefas nesta celebração dos cem anos. Mas, é perigoso cair na tentação de querer repetir as mesmas obras daqueles primeiros missionários. No entanto, é preciso assumir com valentia e coragem os novos desafios que marcam a identidade do carisma missionário, como batizados e como consagrados à vida religiosa. Sobretudo, fortalecer a identidade de nossa vida própria como Missionários do Sagrado Coração de Jesus. Sonhar e festejar o passado heróico de nossos antepassados significa antecipar o futuro, numa feliz esperança de que tudo se completa em Jesus Cristo, no amor ao seu coração que sangra com os que sofrem com a miséria o abandono nas ruas, os excluídos da terra.
Nas celebrações festivas, encontramos base para meditar nossa trajetória na historia do mundo. Na consciência popular está presente a transição de nossa peregrinação na terra, nossa passagem por lugares diferentes, onde morremos e renascemos com os sofrimentos do povo.
Pe. Antonio Carlos Meira, mSC é missionário no Equador