Revista de Nossa Senhora
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“Respondamos em Comunhão onde a vida clama”

Publicado em 2 de maio de 2011 / Edições > Maio - 2011 >

INTRODUÇÃO

Desta vez, estou tentando fazer um retrato da realidade deste bairro onde estamos nos estabelecendo como Missionários do S. Coração. Desde que chegamos aqui, a fama de violência é a marca que o faz conhecido por todos. Trata-se de um comentário de quem vive fora; pra quem vive aqui dentro, toca viver a realidade cruamente.

Texto: Pe. Antonio Carlos Meira, mSC

 

É Possível viver  a missão num bairro marcado pela violência?
Ontem a noite estive na casa de uma animadora para um pequeno jantar de um batizado. Ainda não passava das dez da noite, quando pensei que devia voltar porque a insegurança tem aumentado, ultimamente. Nesta semana, uma pessoa foi morta numa vingança e outra foi baleada, não se sabe o motivo.

Outro dia, conversava com os policiais que trabalham na área, e me indicavam os perigos que encontram. A população tem medo de colaborar com as autoridades policiais, temendo represálias: nestes lugares a vida vale muito pouco.

Num inicio de noite, saí de casa para dar uma volta pela rua e observar a realidade e vi muito pouca gente andando. Apesar do calor, todo mundo está com as portas fechadas, desde à tardinha, parecendo que não vive ninguém no bairro, nesta hora. Até os sons das caixas de musica nas casas silenciam.

A insegurança é um pesadelo na vida da população porque ninguém está livre de ser morto por quase nada ou perder um familiar de uma hora para outra. O pior desta situação, é que um assalto por um drogado é imprevisível. Ninguém sabe a hora que o ladrão vai chegar. Isso não são histórias contadas, conhecemos muitos que ficaram paraplégicos para sempre com os golpes num assalto.

Como pequena comunidade MSC, buscamos iniciar e afirmar nossa presença aqui. Já iniciamos a construção da casa paroquial no centro do bairro, ao lado do templo central. Alguns dizem que estamos indo para a boca do leão.

A missão na periferia do mundo
Realmente, a violência é um sinal de nosso tempo. Um sinal da realidade atual, revelando a extrema pobreza, a exclusão. É necessário enfrentá-la com muita paciência e testemunho de vida. É uma situação extrema, onde a própria vida está ameaçada. Um contexto muito difícil e perigoso. Sentimo-nos impotentes querendo ser luz no meio das trevas da morte.

São situações de fronteira, onde necessitamos aprender realidades em que a vida clama, muitas vezes silenciosamente: fronteira do centro com a periferia, a fronteira cultural da pobreza com o consumo desordenado, a fronteira de gerações entre velho e o novo e outras.

A vocação missionária
Como missionários, estamos num oceano desconhecido de realidades que misturam vários paradigmas e no dia a dia encontramos luz e sombras, onde se dão os esforços para nos manter no caminho do evangelho.

A nossa pobreza é parte da bagagem missionária, pois fazemos do coração o lugar de muitas formas de riqueza: da experiência vivida, os fracassos, os encontros e os desencontros. As mesmas opções nos permitem sonhar alto para nos manter no discipulado onde tudo vai se construindo aos poucos. Alimenta-nos a fidelidade ao projeto de Jesus, o encontro com o pobre, as histórias partilhadas, o grito de dor no meio da violência, da morte precoce; aqui fazem sentido a esperança, a caridade e a fé.

Há lugares de missão onde o esforço tem que ser dobrado algumas vezes, dependendo-nos de muitas coisas ao mesmo tempo: a sobrevivência, a organização, a formação de lideres, sair ao encontro de pessoas, vocação para o compromisso com a comunidade.

A missão cristã neste momento de mudança de época nos convoca a acompanhar os pequenos que peregrinam em busca de vida, mesmo quando as condições reais não são nada favoráveis;

“Apaixonados por Jesus cristo, respondamos em comunhão, onde a vida clama”, afirma a CLAR, no seu plano de trabalho.

Estar diretamente no contexto onde a vida clama, não é uma situação muito romântica: há o desânimo, as obscuridades sempre nos deixam na duvida de que rumo seguir. Atravessar este caminho ou este deserto implica uma forte espiritualidade encarnada, uma confiança que vai além das soluções imediatas, é estar em sintonia com o projeto do evangelho, assumir a confiança de que o Mestre não nos abandona.

Tudo isso é uma experiência que nos alenta na caminhada, a força que vem de Deus. Como missionários do Sagrado Coração, estamos conscientes das dificuldades da missão, segundo o fundador; Julio Chevalier:

“O Coração do divino Mestre é o centro para onde tudo converge… o sol da Igreja, a alma das nossas almas, manancial dos nossos ministérios…., o remédio de todos os nossos males…”. (Julio Chevalier). São palavras bonitas que ganham um profundo sentido quando nos toca meditá-las desde nossa missão.

Pe. Antonio Carlos Meira, mSC é missionário no Equador.

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