Revista de Nossa Senhora
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Abril de 2015

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Regina Coeli

topoRainha do céu, alegrai-vos!
Aleluia!

Porque quem merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse! Aleluia!
Rogai a Deus por nós! Aleluia!

Exultai e alegrai-Vos,
ó Virgem Maria! Aleluia!
Porque o Senhor ressuscitou
verdadeiramente! Aleluia.

Oremos:
Ó Deus, que Vos dignastes
alegrar o mundo com a
Ressurreição do Vosso Filho
Jesus Cristo, Senhor Nosso, concedei-nos, Vos suplicamos,
que por sua Mãe, a Virgem
Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna.
Por Cristo, Senhor Nosso.

R.: Amém!

A Festa da Páscoa

interna3A solene celebração da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo – Páscoa – está para o ano litúrgico da mesma forma que o domingo para a semana. É a festa mais importante da Liturgia Católica. Por isso também se diz que cada domingo é uma celebração pascal.

O Missal Romano nos educa perfeitamente na celebração do mistério pascal em suas normas universais sobre o ano litúrgico: “O Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa com a missa vespertina na Ceia do Senhor, tem seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição”.

Voltemos um pouco ao passado para compreender a Liturgia Pascal. A Ásia Menor celebrava a Páscoa no dia 14 de Nisan, já as Igrejas que seguiam a tradição romana celebravam a Páscoa no domingo seguinte a esta data. As duas primeiras homilias da Páscoa remontam ao século II. A primeira é de Melitão de Sardes (entre os anos de 165 e 185), porém não se tem a autoria da segunda. Na homilia de Melitão, dividida em três partes, há no centro a reflexão de que a Páscoa judaica já não é fato, pois a verdadeira Páscoa é apresentada na vitória de Jesus sobre o pecado e a morte. Ali se dá a síntese da história da salvação de toda humanidade, desde a criação até a parusia.

Buscando compreender o termo Páscoa, lancemos um olhar atento à herança da cultura da época. A palavra Pascoa é uma transliteração do aramaico “paschá”, no hebraico “pesah”, e do grego “pasjein”. O Antigo Testamento apresenta o termo 49 vezes, indicando o rito da lua cheia da primavera 34 vezes, e 15 vezes cita o “cordeiro imolado”.

O termo Páscoa lembra a passagem dos judeus pelo Mar Vermelho e o deserto até a entrada na terra prometida. Para os cristãos, esta “passagem” testemunha o movimento da humanidade que migra do pecado à graça da salvação que se dá pela paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

A Liturgia Católica apresenta uma riqueza de ritos, neste período, em preparação à Páscoa. Desde a Quaresma, Domingo de Ramos até culminar na celebração da Vigília Pascal, que apresenta quatro momentos importantes: celebração da luz, liturgia da palavra, celebração batismal ou renovação das promessas batismais e a celebração eucarística.

Porém, a Páscoa é prorrogada durante a oitava e continua sendo festejada por um período litúrgico chamado Tempo Pascal, que vai até o Domingo da Ascensão e culmina com a solenidade do dia de Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos Apóstolos, e hoje estendida a todos nós. Assim, pelo batismo somos os continuadores da presença do Cristo ressuscitado. Depois, a Páscoa é sempre recordada em cada domingo do calendário litúrgico.

A Literatura Católica é muito rica e vasta, com conteúdos que ajudam os fiéis a compreender essa solenidade, como por exemplo, alguns itens apresentados no Catecismo da Igreja Católica: “O mistério Pascal no tempo da Igreja, O mistério Pascal nos Sacramentos da Igreja, A celebração sacramental do Mistério Pascal”. Além disso, outros documentos do magistério da Igreja intensificam a reflexão do mistério pascal.

O mistério pascal, conforme o Novo Testamento, mostra o Reino de Deus oculto às massas, mas revelado aos eleitos. Nos escritos de São Paulo Apóstolo, meditamos na salvação que Deus oferece à humanidade de todos os tempos, realizada em Cristo e confiada seguidamente aos apóstolos e a toda Igreja para que se tornem discípulos missionários no anúncio desta realidade salvífica a todos os fiéis.

Acontece uma dinamicidade entre três elementos muito importantes no Mistério Pascal: a) situação de morte, b) a vida que brota da morte, c) a intervenção especial de Deus. Assim, a vida que brota da morte cria a consciência de uma nova criação. Do mesmo modo como fomos criados, fomos redimidos, portanto, “recriados”, saindo dos pecados provocados pelos apetites desenfreados.

Devemos, porém, nos voltar para o mistério salvífico entre Deus e a humanidade, que se dá na doação da vida de Jesus pela humanidade. A primeira aliança foi a libertação do povo israelita da opressão do Egito. A nova e eterna aliança é tirar a humanidade do peso do pecado, libertando-a definitivamente do mal.

Depois de dois milênios, continuamos todos inseridos no mistério da Páscoa – a ressurreição – que já nos é presenteada pelo nosso Batismo e vivência fiel aos sacramentos. Nestes dias, vimos pelos meios de comunicação as diferentes manifestações da Paixão por todo o Brasil.

Tivemos celebrações litúrgicas, momentos devocionais populares e manifestações culturais. A época é tão importante que todos manifestam, a seu modo, um pouco de sua realidade e esperança. Cada lugar fez de acordo com sua tradição e costume.

Somos chamados a viver a Páscoa e viver como discípulos missionários de Cristo, hoje testemunhando sua Ressurreição! Que esta Páscoa nos renove na caminhada por um mundo de paz e fraternidade, preparando-nos para sermos uma Igreja viva e ressuscitada.

A Páscoa continua sendo celebrada durante a oitava, como também no tempo pascal e em toda a liturgia da Igreja.

Dom Orani João Tempesta, O.Cist. é Arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro – RJ

A Oração

interna2Nem sempre temos vontade de rezar, esse é um sentimento que em algum momento já sentimos pessoalmente, mas isso não quer dizer que a oração não seja uma necessidade intrínseca ao ser humano. Muito mais que importante, ela é uma necessidade salutar, vital.

Lembro-me bem que, quando era criança, se eu rejeitasse alguma comida, minha mãe me dizia que a gente não come somente daquilo que gosta. Hoje entendo que ela queria me dizer, ou ensinar, que mesmo não gostando de determinado alimento, ele era, mesmo assim, necessário para a minha saúde e para o meu bom desenvolvimento. Igualmente para o cristão, isso não é diferente no que concerne à prática da oração. Mesmo que estejamos desanimados, preguiçosos ou que a oração nos pareça sem sabor ou difícil, não podemos nos esquecer de que é ela que nos coloca na íntima união com Deus.

A verdade é que “a oração é uma embaixada de Deus”, ou seja, ela abre um espaço, um território dentro do coração humano onde Deus, e somente Ele, pode agir livremente e sem ser invasor. A nossa oração, por mais simples ou por mais difícil que seja, coloca-nos na intimidade de Deus, faz nosso do coração solo sagrado.

Quando o nosso espírito se curva em oração, o nosso ser se revela a Deus e conseqüentemente Deus se revela a nós tal como Ele é: graça, consolo, alegria, conforto, esperança, cura… Ele incute em nós o seu verdadeiro valor, a sua essência vital e, por esta expressão íntima, nos assemelhamos a Ele.

São muitas as formas de rezar, mas às vezes nenhuma das técnicas que estamos acostumados a usar permite que façamos uma profunda experiência com Deus, ou pelo menos, como gostaríamos. Em alguns momentos o vazio interior é maior, sentimos uma espécie de secura ou aridez espiritual e o que nos resta é apenas o silêncio. Pode ser esta, portanto, a nossa oração mais profunda e mais fecunda, um abandonar-se em Deus. Quando acaba a nossa eloquência, sobra-nos o abandono e então surge o espaço onde Deus nos encontra desarmados de nossas palavras e pode assim falar e se revelar a nós.

A oração é uma postura de vida e uma resposta às nossas inquietações. É a expressão do nosso amor a Deus e de Deus que nos ama. A oração verdadeira é o encontro da nossa intimidade com a intimidade de Deus, é o que nos mantém em discernimento diante deste mundo tão intenso e cheio de exigências. Ela é o que dá coerência à vida do cristão e o anima na sua vocação.

Diác. Girley Reis, MSC, trabalha na diocese de São Gabriel da Cachoeira- AM

Arte, Símbolo e Sacramento

interna1Vivenciar a arte é entrar no mundo de símbolos, do mito, do transcendente, tão próprios da religião, tão presentes na história do cristianismo e nas origens da religião judaica.

Por isso, os sacramentos, sinais da presença viva de Deus, precisam de uma linguagem comunicativa, uma forma adequada que nos evoque e invoque a presença do Mistério Santo. A água, o óleo, o fogo, o pão e vinho, a imposição das mãos, o amor entre o casal, deixam de comunicar a si próprios para possibilitar a relação dialógica entre Deus e a humanidade. A força litúrgica e sacramental depende da verdade e da vida presentes e expressas nos sinais e gestos. A poesia, a música, o teatro, a pintura associados à liturgia e como parte integrante dela, conferem à liturgia seu verdadeiro caráter dinâmico e vivo, autêntica ação do povo de Deus. A desinformação, a falta de preparo, de adaptação e consequentemente a desvalorização do ato litúrgico, torna a celebração fria e vazia, não revelando a força sacramental, comunicadora da Graça, ou comunica uma imagem deformada de Deus:

O símbolo é um fenômeno originário do ser humano que corresponde a sua estrutura corpóreo-espiritual e social fundamental. O perceptível pelos sentidos é capaz de expressar algo para além do sensível.

A revalorização dos gestos, figuras e símbolos é um despertar para um olhar sacramental; numa cultura em que se cultivam a atenção, a integração dos seres, tudo começa a falar por si, tudo passa a ser percebido na sua força e dinamismo. É a busca de uma pastoral que na liturgia seja expressão do humano na sua totalidade. Dessa forma, o sacramento será comunicação viva, evocação e presença do Deus Mistério Revelado. Ao passar da fase de compreensão do gesto, do símbolo, do sacramento, entraremos, então, na sua intimidade e passaremos a vivenciá-lo. No caso do sacramento, entramos em comunicação com o transcendente que se faz imanente através do cotidiano da vida, do pão, da água, do fogo, da terra, do ar, da natureza, das criaturas:

O símbolo pertence à categoria dos signos ou sinais. Quando tais sinais constituem unidade com o que significam, são chamados símbolos. Neste sentido, podemos afirmar que a relação da humanidade com Deus necessita de símbolos. Toda a criação apresenta-se à pessoa de fé como vestígio de Deus, é a primeira revelação da Palavra. Através da beleza da criação entramos em contato com o criador e entendemos nossa pequenez e simultaneamente a nossa grandeza. Ao contemplarmos os seres criados, um se destaca como imagem viva do Criador: a pessoa. No mistério humano, descobrimos o mistério divino. A fé cristã tem um símbolo decisivo para compreender o sentido da história:

Jesus Cristo. Ele é a imagem plena do Pai.

Pe. Michel dos Santos, MSC É vigário do Santuário das Almas em São Paulo / SP