Revista de Nossa Senhora
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Você acessou a Edição Dezembro – 2010

Pra começo de conversa

Dezembro, é Natal outra vez.

Com Maria e José vamos acolher o Menino da manjedoura, o Emanuel, Deus Conosco. É o tema que perpassa as páginas de nossa revista, como lemos na coluna sobre Maria, assinada pelo Padre Bertasi, onde o filho primogênito, no presépio, é a imagem mais eloquente da bem-aventurança dos pobres. Esse Deus vem com poder, atributo divino cuja descrição podemos apreciar na página de Catequese, do Padre Paulo Roberto: o Deus que é pobre, que é amor e misericórdia.

Na Página Missionária, Padre Antônio Carlos Meira nos conta detalhes curiosos da devoção aos santos, por ocasião de sua estada em Chiapas, no México, para participar de um congresso de Antropologia.

Na Amazônia, nosso jovem missionário, Padre Reuberson, narra fatos pitorescos de sua experiência de itinerância, evangelizando nossos irmãos indígenas às margens do rio Negro.

No capítulo Espiritualidade, na apreciada coluna do Padre Agenor Girardi, aprendemos o que vem a ser a verdadeira liderança, que é feita de sabedoria, maturidade, sobriedade e modéstia.

Caro leitor, não para aí a variedade de artigos de nossa Revista de Nossa Senhora: tem a página sempre esperada do Padre Zezinho, tem o Santuário em seu Lar, Notícias da Igreja e um interessante artigo da palavra do Padre Alex, “ A Era dos Extremos”, baseado em obra de Erick Hobsbawn, mostrando os contrastes do século XX (guerras e alta tecnologia) e como essas fases cíclicas poderão se repetir no terceiro milênio. E tudo isto, sem falar do santuário da Agonia, em Itajubá, Liturgia, Pode Perguntar, Testemunhos e muito mais.

Como você pode perceber, muitas mãos ajudaram a preparar pra você essa bela edição natalina.

Faça uma proveitosa leitura. Que o Menino Deus nasça em seu coração e no coração de todos os seus.

UM SANTO E FELIZ NATAL !

A Redação.

O exercício da liderança

A tarefa de liderança pressupõe maturidade espiritual e humano-afetiva. O verdadeiro líder precisa ser amadurecido pela chuva e pelo sol e ter sido entregue às provações da vida.

Texto: Pe. Agenor Girardi, mSC

A capacidade de liderar: - A tarefa de liderar outras pessoas tem como base a capacidade de saber lidar consigo mesmo em primeiro lugar. Quem não aprendeu a lidar consigo mesmo não está preparado para lidar com outras pessoas. Tal pessoa tem que saber lidar em primeiro lugar com seus pensamentos e sentimentos, com suas necessidades e paixões. Sem princípios humanos e éticos, não é possível exercer dignamente a liderança. Caso contrário, vai misturar sua tarefa de liderança com suas necessidades não resolvidas. E suas paixões reprimidas acabam determinando suas emoções. Quanto tempo perdido por causa de inveja e rivalidade, por causa de agressões recalcadas e imaturidade da liderança que está à frente de uma comunidade. Quem assume um cargo de liderança deve passar em primeiro lugar por este treinamento de si mesmo.

A virtude da sabedoria: - A primeira condição para exercer bem a liderança é ter a sabedoria de coração. Tal sabedoria não provém apenas do grau acadêmico, do estudo adquirido. A pessoa sábia é sensata e sabe ponderar as questões envolventes. Na língua latina temos a palavra “sapiens” e tem o sentido de experimentar, saborear, ter entendimento e compreensão. Somente quem experimenta as coisas como elas são, se tornará sábio. A sabedoria está ligada com a experiência de vida. Mas não se trata apenas de um saber exterior, mas sim da sensibilidade interna. Sábio é aquele que tem senso prático e fineza no trato com as pessoas. Ser pessoa é tratar o outro como pessoa.

A liderança supõe maturidade: – A tarefa de liderança pressupõe maturidade espiritual e humano-afetiva. O verdadeiro líder precisa ser amadurecido pela chuva e pelo sol e ter sido entregue às provações da vida. Somente assim tal pessoa pode ser apreciada por aqueles os quais deve liderar. Quando a pessoa soube enfrentar o calor do dia e a escuridão da noite, a rejeição do mundo e a crítica adversa, a semente que traz dentro de si, vai se transformando lentamente. Os critérios da maturidade humana passam a ser a paz interior, a serenidade e a integração com sua própria pessoa e com os demais. Aquele que está em contato com seu centro, não se deixa abalar facilmente e nem ser levado pelas adversidades.

A sobriedade: – É uma característica da liderança. Na língua latina a palavra “sobrius” significa não estar embriagado, mas tem também o sentido de não perder o controle de seu cargo. É cultivar a virtude da temperança, tão necessária em todos os tempos e circunstâncias. É estar sóbrio e não se deixar dominar pelos desejos. A pessoa sóbria é imparcial nos seus julgamentos e decisões. Sabe avaliar as coisas de forma objetiva e não se deixa levar pelas emoções do momento. A pessoa imparcial é uma pessoa amadurecida espiritualmente. Muitas pessoas não percebem as coisas como realmente são, mas somente através de suas necessidades reprimidas, de suas emoções, de seus medos e desconfiança.

A modéstia: – É outra característica de uma liderança amadurecida. A maneira como comemos diz muito sobre a nossa relação com as pessoas e conosco mesmos. Durante o ato de comer, muitas vezes torna-se claro que existe um “animal voraz” em nosso interior. Nós simplesmente devoramos os alimentos. Quem realmente saboreia os alimentos, nunca comerá muito, mas vai aprender a saborear os alimentos como dádivas de Deus. Quem apenas devora o que come, nunca vai estar em harmonia consigo mesmo. Aquele que come de forma voraz também vai “devorar” as pessoas e se aproveitará delas. Tal pessoa fará uso de tudo somente para si mesmo. Da mesma forma, será alguém ganancioso por dinheiro e tenderá a aumentar sempre suas posses e seu poder dominador. Esta pessoa vai utilizar todos os meios apenas para aumentar seu prazer, em vez de

servir aos outros no exercício da liderança. Não se importa com o bem comum, mas apenas com suas próprias necessidades desmedidas. Tal pessoa pode engolir muitas coisas e nunca ficar satisfeita. Contaminará seus colaboradores com sua insatisfação. Será cega aos deveres de liderança no serviço e amor à sua comunidade.

Pe. Agenor Girardi, mSC é Pároco da Paróquia São José em Francisco Beltrão,PR. Escreve regularmente para diversos periódicos ligados a Vida Religiosa Consagrada.

E Ela deu à luz o seu Filho primogênito

Maria e José testemunharam-nos a grande verdade de que só Deus basta. Nas horas amargas daquela noite, na solidão e no desprezo dos grandes, havia a certeza de que Deus estava ali.

Texto: Pe. José Roberto Bertasi, mSC

Enquanto aí estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu Filho primogênito. Envolveu-o em faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eleshospedaria” (Lc 2, 6-7).

César Augusto, imperador de Roma, ordenou que todos fizessem o recenseamento em sua cidade natal. Desejava saber quantos súditos tinha para cobrar os impostos que sustentavam o império. José e Maria foram até Belém. Ela estava grávida. Chegara o momento culminante, decisivo para toda a humanidade. Anuncia-se a vinda do Reino de Deus na força da pobreza. Nessa hora histórica, Maria e José vivem com muita intensidade o êxodo, a peregrinação. O Filho de Deus deve nascer como peregrino e na periferia de Belém, porque não havia lugar para seus pais no centro de Belém. Na escuridão da noite, o pobre casal abriga-se sob o teto de uma estrebaria. Na simplicidade e na pobreza de um estábulo, mas ricos na fé e no amor, Maria e José vivem esse momento de extrema importância para a história humana. A extrema pobreza tem o seu significado: nada deve desviar o olhar daquele que é tudo para nós, do maior presente do Pai para toda a humanidade e para toda a criação. Jesus, deitado na pobre manjedoura, é a criança mais esperada do mundo; a ele pertence todo o amor do Pai. A criança reclinada no presépio é o Príncipe da Paz, é o Rei dos reis.

Este momento revela-nos o verdadeiro sentido da bem-aventurança dos pobres. Maria e José testemunharam-nos a grande verdade de que só Deus basta. Nas horas amargas daquela noite, na solidão e no desprezo dos grandes, havia a certeza de que Deus estava ali. Presença amorosa e consoladora. Que mais poderiam desejar do que ver e conhecer aquele a quem Deus deu um nome insuperável, nome de Filho bem-amado, que podemos chamar de Jesus, Salvador, Deus conosco?

Jesus é chamado o Primogênito de Maria. É o Primogênito da criação. Por ele, o Verbo eterno do Pai, foram criadas todas as coisas, e tudo foi criado para ele, que vem ao mundo como verdadeira luz e vida. Sua alegria será levar a Boa Nova a muitos, para que possam com ele invocar a Deus e chamá-lo de Pai. É o Primogênito de Maria, mãe de todos nós, irmãs e irmãos dele.

O texto de Lucas mostra o anjo se revelando aos pastores, que ficaram envolvidos pela glória de Deus. São pastores, gente simples, não são comerciantes, escribas, letrados, líderes. São gente comum do povo. Nessa época, a profissão de pastor não era bem vista. Lucas apresenta os pastores de maneira simpática. Já nos acostumamos com esses relatos dos fatos do Natal que nem imaginamos o quanto eles podem ser questionadores. Essas pessoas que são as destinatárias da revelação evangélica possivelmente hoje corresponderiam a grupos que nossa sociedade não consideraria dignos de tal destaque. Deus escolhe os simples para mostrar que seus critérios são bem outros. De certa forma, nos convida a aprender com aqueles que nem costumamos ouvir porque pensamos que sabemos ou merecemos mais. Os pastores foram os primeiros a acolher o anúncio do nascimento do Menino Deus.

A alegria pelo nascimento do Deus Menino é para todo o povo. Se Deus escolheu os pastores como primeiros mensageiros, ele não exclui ninguém. Se alguém se exclui é por conta própria, não por escolha de Deus que quer que todos se salvem e descubram o caminho da justiça, da fraternidade, da caridade.

O sinal apontado pelo anjo combina com a simplicidade dos outros. Os pastores não são convidados a ir ao encontro de um majestoso senhor, de um chefe guerreiro. O sinal é exatamente aquela situação em que somos todos iguais: um menino que acaba de nascer, envolto em faixas.

Diante do mistério do Natal, invoquemos Maria como filhos afetuosos. Diante de Deus, Pai santo, nós nos ajoelhamos e louvamos seus desígnios. Adoramos o Primogênito de Maria como seu Filho único. Nele podemos invocar Deus, nosso Pai. Louvemos nosso Deus, pelo modo maravilhoso com que revelou seu amor paterno, dando-nos Jesus como irmão e Maria como mãe. Com Maria, rejubilamo-nos, vendo a grandeza do amor do nosso Deus. Pedimos que o Espírito Santo nos torne gratos, para que glorifiquemos com Jesus e Maria o excelso nome de Deus.

Lembremo-nos, também, da alegria de Maria naquela hora. As dores do parto, a insegurança do êxodo e a pobreza do estábulo são apenas o pano de fundo da sua alegria e gratidão.

Maria não tem outra riqueza além do seu Primogênito, e nenhuma outra esperança senão ver-nos como seus filhos e irmãos. A alegria de Maria é que encontremos nossa esperança e nossa alegria em Jesus, o Emanuel. Procuremos nele a nossa salvação e nos confiemos a ele.

Pe. José Roberto Bertasi, mSC é Reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Sul, em Itapetininga, SP.