Revista de Nossa Senhora
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Para Meditar

“Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido
envolto em faixas e posto numa manjedoura” (Lc 2, 12) 

Um recém-nascido
igual a todos os outros recém-nascidos do mundo:
envolto em faixas.
“Tão humano, só podia ser divino”. 

Um recém-nascido,
que nos faz todos recém-nascidos,
que nos faz dizer:
“Sinto-me nascido a cada momento.
Para a eterna novidade do Mundo”.
Ele faz novas todas as coisas.

É Natal!
Que a serena alegria de estar na presença de um Deus-Criança
inunde todos os dias de nossa vida!

Fernando Clemente, MSC

Edição Dezembro de 2013

capa-aprovada

Natal tempo de esperança

interna3No Natal trava-se a batalha entre dois imaginários sociais. De mais longe, vem o significado cristão, profundo, religioso do nascimento de Jesus. Todos conhecemos a origem. Cai no solstício de inverno dos países do hemisfério Norte. Desde o Imperador Aureliano (séc. III), celebrava-se nesse dia o Natal do Sol Invicto, festa mitríaca do renascimento do sol. A Igreja de Roma transpõe-na então para o nascimento do Verdadeiro Sol da Justiça, Jesus Cristo, a partir do IV século.

Nos países cristãos, a festa conservou enorme pureza e significado, embelezando a noite das crianças. A tradição do presépio engalanou-a com símbolos religiosos. A apresentação artística do nascimento de Jesus com Maria e José, cercado de anjos, Reis Magos, pastores e animais, em gruta singela, povoou o inconsciente das crianças e ficou como camada subterrânea no imaginário adulto. Vinculou-se a ela a figura de São Francisco de Assis como iniciador, no século XIII, da representação do Nascimento de Jesus. Na forma em que hoje conhecemos o presépio, ele é bem mais tardio, remontando ao século XVI.

São muitos séculos de piedade, de religiosidade que se consubstanciaram nessa festa. Sempre houve o invólucro da ceia de Natal, mas ela se cercava de símbolos religiosos, de orações, de cânticos próprios, antes prolongando que rompendo a sacralidade da festa.

Aos poucos, o capitalismo desbragado na forma de sociedade de consumo começou a tocar-lhe o coração e transformá-lo em mercadoria. Os sinais religiosos conservam a materialidade visível, o significante, mas perderam o significado para se mercantilizarem. Vende-se a festa de Natal em todos os pormenores. Ela é arrancada da celebração litúrgica de tal modo que pode ser celebrada sem nenhuma referência ao evento fundador.

Na prática, vivem-se três situações diferenciadas. Em alguns lugares, predomina ainda a dimensão religiosa. Os mosteiros, comunidades cristãs fervorosas põem o acento na celebração eucarística da meia noite, mesmo que, por razões práticas, o horário venha sendo relativizado. Há lugares do Brasil em que a violência urbana impede as pessoas de saírem tarde da noite para a celebração. Antecipam-na.

Outros jogam com o 50%. Conservam a festa religiosa, mas em proporção igual se munem com os acréscimos seculares de presentes, de consumismo exagerado dos bens natalinos. Nos EUA, a venda de peru cresce enormemente como o prato típico do tempo natalino. As granjas se orientam para tal.

Hoje é a forma mais comum de celebrá-lo. Os aparatos externos consumistas tendem a crescer, mas ainda se respeita o imaginário religioso de séculos. Famílias de boa tradição cristã não abandonam a celebração litúrgica, antes de iniciarem as comilanças, bebedeiras e presentes. Paga-se já tributo considerável ao consumismo.

A vitória completa da sociedade secularizada acontece pela redução do Natal à categoria de simples feriado civil. E o lazer ocupa totalmente o espaço disponível. Vincula-se tal evento ao costume de mútuo presentear-se, sem se dar conta do significado simbólico primigênio. O presente vale pelo presente, pela embalagem, pelo valor material, pelo gozo do consumo. Nada a ver com o grande Presente do Pai na pessoa de Jesus. É o fim do Natal religioso.

Em luta desigual com o afã consumista da sociedade atual, resta-nos conservar a tradição religiosa pelas vias de que dispomos: catequese desde a família, valorização da celebração litúrgica, educação cultural da simbologia religiosa natalina. A religião faz parte da cultura e é-lhe o coração. Tal vinculação permite que ambas se conservem.

Feliz Natal ! 

Pe. João Batista Libânio, é teólogo jesuita.

Quem tem a paz tem muito mais respostas!

interna2Custou, mas encontrou a sua paz
Custou até demais
Momentos houve até em que ele imaginou
Que não conseguiria nunca mais
Doeu, doeu demais não ter a paz
Não ter nenhum conforto para a alma
As noites eram frias
E os dias eram longos por demais
Que dor e que agonia
Dentro de um coração que não tem paz

Alguém lhe apresentou Jesus de Nazaré
Ele nunca viu seus olho
Nunca teve uma visão
Jesus nunca falou nos seus ouvidos
Mas ele sabia que era Jesus

E orava e suplicava
Meditava e meditava
Nas palavras que Ele disse
Para quem carrega um fardo:

Troquem de fardo comigo
Eu fico com o de vocês e vocês com o meu.
Meu peso é leve e meu jugo não machuca.

Uma calma de manhãs de orvalho
Uma brisa suave de primavera
foi se apossando de seu interior.
As palavras do Livro Santo
foram lhe devolvendo a vida
e a vontade de prosseguir.

Começou a respirar,
a dormir e a sorrir leve e solto.
Mudou de rosto, de olhar e de jeito.
E foi lá fora, ajudar os outros.

Nunca se achou melhor e mais santo
Nem mais salvo , nem mais ungido,
Nem mais eleito.

Viveu agradecido pela paz que Jesus lhe dera
Desenvolveu a paz inquieta dos que lutam para levar aos outros a paz que Deus lhes concedeu.
Porque a paz é uma graça que vem do céu
e se cultiva e desenvolve no dia a dia. 

De iluminado tornou-se iluminador
De abençoado, abençoador,
De perdoado, perdoador
E de coração deprimido, coração libertador.

Tinha encontrado a paz para si.
Agora precisava encontrá-la para os outros.
Tornou-se missionário do diálogo.

Nunca mais descansou.
Morreu aos 90 anos, trabalhando
pela paz dos outros.
Convencido de que a paz é de todos os milagres,
o mais bonito milagre
que um coração possa querer. 

Quem tem a paz tem muito mais respostas!

Vamos até Belém

Nativity sceneNum mundo que  leva as pessoas ao individualismo, procuremos participar da alegria dos humildes, fazer nossa a esperança dos pobres, alegrar os que nos rodeiam com a vivência da fé em Cristo.

O Evangelista Lucas, no capítulo 2 de seu Evangelho, põe nos lábios de humildes pastores, este importante convite: “Vamos até Belém! Vamos ver o que aconteceu e o que o Senhor nos manifestou”. Vamos! Caminhemos com os pastores até Belém, ao encontro do Salvador.

A gruta onde Jesus nasceu ficava perto do campo de pastores, que dividiam suas vidas com seus próprios animais, dia e noite. Sem instrução, não sabiam ler coisa alguma, muito menos as Escrituras em língua clássica e antiga. Mesmo assim, embora pobres e à margem dos acontecimentos sociais, eram gente de Israel, acreditavam em anjos – para isso não precisavam ler. E foi um anjo do Senhor, o grande portador das mensagens divinas, quem lhes anunciou a Boa Nova. Enquanto vigiavam seus rebanhos no meio daquela noite abençoada do Natal, ouviram a voz do enviado de Deus: “Eis que vos anuncio uma grande alegria!

“Não temais, a boa nova será para todo o povo: hoje vos nasceu, na cidade de Davi, em Belém, um salvador que é o Cristo Senhor. E completou: ”Vocês vão encontrá-lo na manjedoura, envolto em faixas”.

Alegria na terra e no céu: anjos em multidão cantaram com eles.” Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade”. E Lucas acrescenta: “E a glória de Deus envolveu aqueles pobres”.

Os pastores aceitaram o convite e, juntos, caminharam até à gruta. Encontraram o menino com a mãe e José. Cheios de júbilo, partilharam o que ouviram a respeito do menino”. Maria guardava tudo no coração.

Natal é a festa da família, oportunidade especial de acolhida aos irmãos e irmãs, tempo de abrir as portas para deixar Jesus entrar em nossa casa, no coração, na vida.

Num mundo que leva as pessoas ao individualismo, procuremos participar da alegria dos humildes, fazer nossa a esperança dos pobres, alegrar os que nos rodeiam com a vivência da fé em Cristo. É preciso deixar de lado o comodismo e caminhar com coragem até a gruta de Belém a fim de acolher Jesus e entrar na escola do presépio.

Podemos aprender tantas lições: a disponibilidade, a fraternidade, o acolhimento, a humildade, o amor, a fé, a vida em família, a partilha. Partilhar não é só repartir o que se possui, mas, é também estender as mãos para receber o que os outros têm para repartir. As famílias e a comunidade estão esperando nosso testemunho.

“Cada um de nós, ao contemplar na fé como o Filho de Deus quis nascer e viver nesse mundo, deve deixar-se tocar por esse mistério de um Deus que se faz um com a gente. É tão diferente do que nós teríamos pensado. Não chama a atenção sobre si. Nos braços de Maria, identifica-se com a criança e com os mais simples e pobres, revelando assim a dignidade de toda pessoa humana, independentemente das aparências e da condição social.” Estas palavras ditas por Dom Luciano Mendes são um convite para que nos deixemos envolver pelo amor de Deus revelado de uma maneira tão simples. A contemplação desta cena suscita no coração da gente imensa gratidão, quando pensamos que Deus enviou seu Filho por causa de seu amor incondicional a cada ser humano.

Resta-nos imitar os simples pastores que, decididamente, foram até Belém. Essa deve ser também a nossa atitude. Apresentemo-nos diante de Jesus e Ele nos envolverá com sua ternura. Não deixemos de falar das alegrias, sofrimentos e esperanças. José ouvirá em silêncio e Maria vai guardar tudo em seu coração.

Caro (a) Leitor(a), que neste Natal o Deus que se fez uma frágil criança, ilumine sua vida e fortaleça sua fé. Sinta-se convidado(a): Vamos até Belém!

Ir. Maria da Luz, FDNSC