Revista de Nossa Senhora
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Dezembro de 2015

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Confirma-nos no teu Temor

interna4“Agradecemos-te, ó misericordioso Senhor, 
benfeitor de nossas almas, 
porque também neste dia, 
nos fizeste dignos de teus celestes
e imortais mistérios. 

Endireita nosso caminho,
confirma-nos no teu temor, 
vela pela nossa vida,
consolida os nossos passos, 
pelas orações e súplicas
da gloriosa Mãe de Deus 
e sempre Virgem Maria
e de todos os santos.”

(São João Crisóstomo)

O Presente de Natal

interna3Natal é tempo de presentes. Quantos presentes! E quem não gosta de receber um presentinho?! É festa, é alegria e nada mais natural que presentear, para homenagear e compartilhar a alegria…Será que já nos perguntamos sobre o motivo do presente de Natal? Qual é a razão da festa, da homenagem, da alegria? Para nós, cristãos, o motivo vem da fé: recebemos de Deus um presente de valor inestimável; estamos muito felizes e agradecidos ao Pai do céu e manifestamos aos outros essa alegria, convidamos a participar de nossa festa e expressamos isso nos presentes, nos votos, nas mensagens de Natal; mas também nas ações de solidariedade e caridade fraterna, indo ao encontro dos que sofrem de diversas maneiras, para que também eles recebam um sinal dessa alegria.

De fato, os presentes de Natal já aparecem na cena do primeiro Natal da história: os “magos do Oriente” prostraram-se diante de Jesus e o adoraram; “depois, abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (cf Mt 2,11). E que presentes! Eram a expressão da homenagem ao supremo Deus, ao grande Rei e ao Salvador. Antes, porém, de desembrulhar seus dons, os “reis magos” manifestaram sua fé: “ajoelharam-se diante dele e o adoraram” Sem essa percepção da fé sobre o que se celebra no Natal, o presente chama para si toda a atenção e torna-se ele mesmo o grande homenageado. E os presentes, então, precisam ser cada vez maiores, mais caros, mais de acordo com nossos desejos, vaidades e ambições. Será que o presente de Natal ainda tem sentido?

Pode ter, e muito! A Liturgia do Natal traz uma verdadeira pérola, que nos ajuda a compreender melhor o sentido dos presentes do Natal. Na “Oração sobre as Oferendas”, da missa da noite do Natal, a Igreja pede: “Ó Deus, acolhei a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a si a nossa humanidade”. Deus nos dá de presente o que tem de melhor: o próprio Filho eterno; e a terra também oferece a Deus o que tem de melhor, embora infinitamente inferior: nossa pobre humanidade. Deus não fica mais pobre, mas nós ficamos infinitamente mais enriquecidos!

Eis por que presenteamos no Natal: estamos muito felizes e queremos que também outros participem da nossa alegria! Nosso gesto será tanto mais significativo, quanto mais tivermos feito, antes, a experiência da adoração daquele que o céu nos presenteou. Assim fizeram os “magos do Oriente” e os pastores de Belém: voltaram da manjedoura “louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (cf Lc 2,20).

Entendo que o gesto de oferecer presentes no Natal, talvez, esteja muito desvinculado de tudo isso que estou dizendo aqui. Dar presentes no Natal ficou muito envolvido numa trama de comércio e de conveniências sociais. Há quem se pergunte, sobretudo quem não é cristão: por que tenho que oferecer presentes de Natal? Por que, todos os anos, a mesma correria das compras de presentes? Por que precisam ser sempre mais interessantes que os do ano anterior? Vistos desse modo, de fato, os presentes de Natal tornam-se um verdadeiro motivo de stress…

A própria festa do Natal vai se desvinculando sempre mais do seu significado cristão originário; acontece muita festa, sem citar o nome de Jesus, até mesmo omitindo a palavra “Natal”. É uma pena que até os votos de “feliz Natal” sejam substituídos por um genérico “boas festas”! Bem, aqui está nossa tarefa de cristãos: não deixemos que se perca na cultura do nosso tempo o significado cristão do Natal e sua referência necessária ao nascimento de Jesus Cristo. Cabe a nós testemunhar ao mundo o significado verdadeiro do Natal.

Não importa que nem todos tenham a mesma fé, como nós temos. No Natal, são os cristãos que oferecem ao mundo o motivo da festa: estamos muito felizes porque comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, em quem reconhecemos o Filho de Deus, Salvador. Não temos por que ocultar ou camuflar o motivo de nossa festa! E convidamos todos a se alegrarem conosco.

Afinal, foi o próprio anjo que anunciou, na noite do nascimento de Jesus: “eu vos anuncio uma grande alegria, que será alegria também para todo o povo” (cf Lc 2,10). Preparemos, pois, a festa! E os presentinhos também…

Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal
Arcebispo de São Paulo.

Os Três Reis Magos

interna2Eis que a estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.” (Mt 2,8-9)

Ao escutarmos essas profundas palavras do relato da visita dos três reis magos, podemos ficar imaginando como deve ter sido a experiência deles. Acontece neste momento o que conhecemos por epifania, que se traduz literalmente por manifestação. No grego antigo epifaneia e as suas variações significavam, no seu sentido religioso, a aparição visível de uma divindade que trazia saúde para o povo. Os cristãos aplicaram esse termo à manifestação salvadora do Filho de Deus. Deus vem ao nosso encontro e nos manifesta o seu amor, nos traz a reconciliação.

O frio e as trevas que habitavam o mundo são dissipados pelo calor e a luz que emanam do Menino, que nasce em um singelo presépio. A força de Deus se manifesta em um lugar que para o mundo seria considerado uma fraqueza, um fracasso.

Os três reis magos

Neste relato do Evangelho aparecem três personagens que um olhar superficial poderia até imaginar que sua presença seria fora de contexto: os três reis magos. A palavra grega magoi parece derivar-se da forma persa maga. Os magos eram originalmente uma tribo da Meda, que na religião persa exercia funções sacerdotais ou também possuíam alguma ciência ou poder secreto. Eles em muitos casos eram entendidos em Astronomia e Astrologia.

Os magos aparecem no Evangelho como personagens importantes, homens sábios, dedicados ao estudo dos astros. Para estes sábios agrande estrela era sinal inequívoco do nascimento “do Rei dos judeus”. Mas não se tratava de um rei qualquer. No antigo oriente a estrela anunciava o nascimento de um rei divinizado, por isso dizem a Herodes: «viemos adorá-lo».

Os cristãos representaram os magos como reis, provavelmente influenciados pela profecia de Isaías (Is 60,6). Que sejam “três reis magos” está relacionado ao número de presentes que são oferecidos ao Menino: ouro, incenso e mirra; sinais da realeza, divindade e humanidade de Cristo, respectivamente. A partir do século VIII, surgem os nomes dos três reis magos: Melchior, Gaspar e Baltasar.

Ser como os três reis magos: perceber os sinais e colocar-se a caminho

Agora que conhecemos um pouco desses três personagens, gostaria de fazer uma breve reflexão. Primeiramente, fica claro que eles são capazes de perceber os sinais. São homens que estão em uma atitude de reflexão, atentos. Por estarem abertos, Deus falou às suas mentes e corações e eles foram capazes de interpretar as profecias e os sinais de sua época. Fizeram silêncio e por isso conseguiram notar os detalhes, interpretando corretamente as profecias.

No mundo de hoje, onde tudo acontece com tanta rapidez, onde queremos fazer tantas coisas ao mesmo tempo, onde há tanto barulho, como nos faz falta essa atitude dos reis! Muitas vezes deixamos de perceber os sinais de Deus em nossas vidas por estarmos distraídos ou preocupados com tantas coisas!. Aprendamos desses homens a fazer silêncio e sermos reverentes!

Ao perceberem os sinais, colocam-se imediatamente a caminho. Podemos imaginar quanto tempo, recursos, esforço devem ter custado para esses homens. Porém, não temem abandonar suas seguranças, comodidades e arriscar tudo para encontrar o sentido de suas vidas, a felicidade plena .A atitude deles lembra uma frase presente de alguma forma no Evangelho e que os últimos papas têm repetido: “Não tenham medo, Cristo não tira nada, dá tudo”. Abandonemos nossas falsas seguranças e nos coloquemos a caminho em busca da verdadeira felicidade. Não tenhamos medo de fazer.

O encontro dos reis com Jesus, Maria e José

Para terminar a nossa reflexão gostaria que imaginássemos como deve ter sido aquele encontro dos reis magos com a Família de Nazaré. Qual não deve ter sido a alegria deles ao perceber que aquela estrela os guiou ao que os seus corações ansiavam! Podemos imaginar essa estrela como um sinal da presença do Espírito Santo, que sempre nos guia ao caminho correto.

Certamente neste momento a maternidade espiritual de Maria já se havia manifestado. A Mãe acolhe os humildes pastores e os reis magos com um coração aberto. Ela, já naquele momento, ao receber os presentes dos reis, lhes dá um presente maior ainda: o seu Filho Jesus, salvador da humanidade. Como os reis magos, acolhamos sempre os sinais de Deus em nossas vidas e não tenhamos medo de segui-los.

Nesta caminhada, Maria nos acompanha e nos leva sempre ao encontro do seu Filho. Adoremos o Menino e entreguemos a Ele as nossas vidas!
Irº Gilberto Cunha é leigo Consagrado da comunidade Sodalício de Vida Cristã.
Trabalha em Aparecida (SP)

Natal de CRISTO, plenificação da vida

interna1Falamos de vocação o tempo todo. Dizemos que todas as pessoas têm um chamado especial que cabe somente a elas e ressaltamos a importância de todo cristão assumir a sua missão, o seu papel no mundo e dentro da sua comunidade eclesial. Um cristão batizado sem uma comunidade onde possa atuar e colocar os seus dons a serviço é um cristão estéril. É alguém que ainda não se deu conta de que a fé professada em Jesus Cristo tem como consequência o serviço a ele e ao seu projeto. Esse projeto é o que chamamos almejadamente de Reino dos Céus.
Não há nenhum exagero em dizer que todas as pessoas são vocacionadas, ou seja, todas as pessoas são chamadas por Deus a participarem ativa e efetivamente no cuidado a este mundo. Este chamado é gratuito, de nenhuma maneira é impositivo, e a sua característica principal é a liberdade.

O primeiro e o principal chamado do ser humano é à vida. Antes de qualquer coisa Deus nos desejou, nos quis para ele. Muitas pessoas questionam a sua existência por não se sentiram queridas, desejadas, planejadas, e carregam consigo uma deficiência de amor e autoestima. No entanto, precisamos ter a fiel certeza de que Deus nos amou antes de tudo como filhos e filhas. Essa paternidade divina nos faz dignos e merecedores do seu sopro de vida em nós.

Todas as vezes que nos descuidamos de nós mesmos, do nosso corpo, que não valorizamos a nossa existência ou que não respeitamos e não cultivamos a vida também no próximo estamos sendo infiéis ao dom de Deus em nós e no outro. Vida plena e em abundância é o que nos constitui. Por isso, essa vida precisa ser cuidada, protegida, valorizada, cultivada, regada como dom gratuito de Deus que fecunda o espaço à nossa volta e nos frutifica para o bem comum. A vida em qualquer situação onde ela se encontra é uma obra prima que tem um valor inestimável.

Deus também quis ter uma vida como a nossa, quis ser um de nós para que através da nossa frágil existência humana ele pudesse nos salvar. Em Jesus Cristo Deus penetrou a existência humana dotando-a de plenitude e valor. Assumindo a nossa humanidade o próprio Cristo nos fez participantes da sua divindade. Somente o nosso Deus é assim, quebra os paradigmas, e o Criador vem ao encontro da sua criação.

Quando celebramos o natal do Filho de Deus, sua presença em nosso meio, dizemos que a vida é mesmo divina. Embora as vicissitudes e contratempos próprios da existência humana, viver é uma graça, um presente, um dom. O cuidado com a nossa alma e com o nosso corpo é cuidado com o Deus vivo em nós.

Que neste tempo do Natal possamos reconhecer o nosso valor, reconhecer que a vida é Deus presente em nós e atuante na nossa história, é valorizar o mundo, nossa casa comum, é amar o outro como templo de Deus e morada do Espírito. Vocacionados à vida, dotados da liberdade e dignidade de filhos de Deus, construamos um mundo mais fraterno, respeitável e consciente da sua missão.

Pe. Girley de Oliveira Reis, MSC, trabalha na Diocese de S. Gabriel da Cachoeira/AM