Revista de Nossa Senhora
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Você acessou a Edição Fevereiro 2011

Caros leitores,

Está chegando às suas mãos o número de fevereiro da nossa publicação, Revista de Nossa Senhora (RNS), feita com o cuidado e o carinho que vocês merecem. Espiritualidade, liturgia, missões no Brasil e no exterior, notícias da Igreja, cartas dos devotos, uma vasta coletânea de temas de grande interesse para todos aqueles que procuram conhecer e viver os valores cristãos.

Vocês serão agraciados com as considerações do Padre Zezinho sobre a verdadeira amizade, dom de Deus; um sólido artigo de nosso confrade da Holanda, Padre Bovenmars, em boa tradução do Padre José R. Bertasi, discorrendo sobre a renovação da teologia marial; a página missionária do Padre Antônio Carlos Meira, depois de alguns anos nas alturas dos Andes, missionando, faz um ano, no clima quente e úmido do litoral do Equador; o jovem missionário, Padre Reuberson, sangue novo mourejando entre os irmãos indígenas do alto rio Negro, na Amazônia; as oportunas sugestões do Padre Francisco Tarcísio no âmbito das celebrações litúrgicas; uma alentada reflexão do Padre Cortez sobre a espiritualidade do Coração de Jesus; as considerações do teólogo, Padre Paulo Roberto, sobre a fé em Jesus Cristo:o que nos salva, liberta e humaniza não é o seu sofrimento, mas o amor.

Leiam ainda a página vocacional do Padre Lucemir, notícias da Igreja e outras coisas mais.

Mas, entre todas as matérias, a espiritualidade este mês tem uma coloração especial. Isto porque o Padre Agenor Girardi, nosso apreciado colaborador nesta coluna, acaba de ser nomeado bispo da Igreja: auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre, RS. Essa nomeação tem sido motivo de alegria para todos nós, seus confrades, Missionários do Sagrado Coração, nós que o conhecemos de perto e podemos atestar suas qualidades para o honroso e espinhoso ministério.

Pedimos que todos os leitores de nossa revista se unam a nós para pedir a Deus que abençoe e fecunde o seu múnus de pastor.

Caros leitores, a mesa está posta. Fiquem à vontade!

A Redação.

Em busca do caminho de DEUS

O povo deste lugar é bastante religioso, mas cresce, contraditoriamente, a indiferença com a religião.

Texto: Pe. Antonio Carlos Meira, mSC

Os latidos dos cachorros invadem nosso encontro. As pessoas que acompanham a pequena procissão, que se forma, estão em silêncio. Percebe-se que algumas senhoras que preparam um altar pequeno na frente da casa se sentem intimidadas pelo ambiente. Algumas recém-chegadas do campo, no meio do ambiente de insegurança da periferia, não estão à vontade.

Muita casa pequena de taquara tem um altar improvisado com uma vela que insiste em permanecer acesa apesar do vento que ainda sopra nesta temporada. É importante dar cada passo junto para participar juntos da oração, em forma de murmúrio que sai de maneira quase improvisada do coração. Desta maneira, as pessoas vão se reunindo na medida em que caminhamos de parada em parada.

Pois bem, adotamos uma maneira de animação missionária que custa muito a algumas animadoras ou animadores que estavam acostumados a esperar na igreja a participação dos fiéis.

ENCONTRAR O CAMINHO

Nesta semana, faz um ano que chegamos a este lugar para fundar um trabalho missionário, juntamente com o inicio da formação de uma paróquia. Desde o inicio, buscamos uma presença bem próxima da vida do povo daqui. Foi pouco tempo para conhecer esse lugar. Dá a impressão de que levará um bom tempo somente para saber onde estamos pisamos. Ainda não se consegue assimilar toda a riqueza do povo, nem tirar da vida as conseqüências pastorais que podem ajudar na inculturação do Evangelho.

Não sei se podemos chamar de reinicio da missão num lugar ou iniciar tudo novamente. Mas nossa pequena comunidade missionária está começando a trajetória nestas terras bastante desconhecidas até então. Encontramos uma variedade de adaptações neste primeiro ano aqui. É uma coisa que necessita paciência. Pisar no chão esburacado das ruas e deixar o tempo passar, escutar muito.

O povo deste lugar é bastante religioso, mas cresce, contraditoriamente, a indiferença com a religião. A pobreza é gritante em todos os sentidos: faltam escolas, centro de saúde, e cresce o consumo de droga. Ontem, quando voltávamos dos encontros de um conjunto habitacional, encontramos um casal que chorava na porta da igreja. Quando nos viram, um senhor bastante jovem veio ao nosso encontro e queria desafogar suas magoas; estava bêbado; cheguei a suspeitar que estivesse drogado. A mulher que estava toda suja, também chorava; uma criança estava no meio deles assustada em silencio. Depois de conversar, insistimos para que voltasse para casa, se acalmasse e passasse a noite tranquila e que outro dia voltasse para conversar.

A PRESENÇA DE DEUS

Como encontrar a presença de Deus no meio de situações-limites? Os sinais não demoram em se fazer sentir. A busca da catequese é muito grande, pessoas que buscam ajuda espiritual e confissões. Há uma sede de Deus. Não necessita muito convite; uma coisa interessante é a insistência de algumas crianças que, ante a indiferença de alguns pais que parecem abandonar toda a esperança para melhorar, buscam sozinhos a comunidade para integrar-se. Outro sinal importante é a presença de voluntarias e voluntários que assumem vários tipos de trabalho.

Uma coisa que se vê como esperança é a espiritualidade popular. Senhoras de idade avançada animam e participam dos grupos, ajudam na missão dos bairros rezando o tradicional terço, ensinam as crianças a rezar, outras que participam do grupo da terceira idade com o cuidado da saúde. Uma porta para entrar na vida da comunidade e ajudá-la a crescer.

Ainda encontramos vocações especiais: gente que organiza o atendimento dos pobres entre os pobres. São os aleijados, enfermos que estão sempre de cama e vivem em estado de abandono. E são muitos em nosso meio. Nesta região o número de gente prostrada em cama é grande. E para trabalhar no meio desta realidade não é para qualquer um. Encontram-se situações em estado chocante.

As celebrações, pouco a pouco, vão ganhando mais vida. Há momentos fortes e outros em que praticamente o povo desaparece. Mas vamos insistindo em construir uma comunidade viva, missionária, onde o encontro das pessoas e a solidariedade sejam sinal da presença de Deus. Mesmo não sendo fácil, o Espírito de Deus sopra e faz mudar as situações de morte em esperança de vida.

Pe. Antonio Carlos Meira, mSC é missionário no Equador.

Amado seja por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus

Quando falamos de “coração”, não estamos falando de algo puramente sentimental, emocional ou romântico. A Bíblia nos ensina que o coração é o centro do homem.

Texto: Pe. Benedito Ângelo Cortez, mSC

Querido irmão e irmã, com alegria peço licença para chegar até você e propor-lhe um diálogo de “coração para coração”. Tenho certeza de que, através de nossa fé, nos encontramos sempre diante do Coração do divino mestre. Portanto, mais do que uma leitura, meu desejo é que esse texto tão singelo nos ajude a contemplar o Coração transpassado de Cristo. Queremos aprender desse Coração que é manso e humilde (Mt 11,29). Ele tem a pedagogia da misericórdia e da compaixão.

Pelo batismo fomos “regenerados” (1Pe. 1,23), nascemos pela água que brotou do Coração de Cristo pendente na cruz. O Padre Júlio Chevalier, um extraordinário missionário francês, que fundou a Congregação a qual pertenço, gostava de dizer, quando contemplava o Coração ferido de Jesus na Cruz: “vejo nascer desse Coração um homem novo, uma mulher nova, um mundo novo…”

Somos filhos e filhas dessa fonte inesgotável de amor. Na cruz, o Coração de Jesus se transforma em útero, onde fomos regenerados. A ferida se transforma em fonte de um manancial que jorrou abundantemente para nos purificar de nossos pecados. Não fomos lavados por uma água qualquer, mas na pia batismal fomos mergulhados nessa torrente sagrada e sacramental. Pelo batismo nosso coração foi abraçado pela misericórdia do Coração de Deus.

Quando falamos de “coração”, não estamos falando de algo puramente sentimental, emocional ou romântico. A Bíblia nos ensina que o coração é o centro do homem. O coração é o núcleo mais profundo de nossa vida psíquica e espiritual. O coração é o amor íntimo e profundo do homem, onde ele se encontra com o mais sólido, verdadeiro e genuíno de si mesmo. O coração é o lugar do encontro, onde a relação e o contato com as coisas, com os outros, consigo mesmo e com Deus, se convertem em encontro ardente e luminoso. O coração é o templo de Deus. No coração habita o Espírito de Deus, enchendo o homem de seu amor e de sua sabedoria. “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). Desde o coração se irradiam o ser íntimo do homem e o Amor infinito de Deus.

Deus sempre está a nossa procura, chama por nós, como no paraíso chamava por Adão. Nós, envergonhados pela mancha do pecado, nos escondemos de Deus. Quantas vezes, iludidos pela serpente de nosso egoísmo, de nosso louco desejo de ser “como deuses” e não humanos, ainda fugimos de Deus como nossos primeiros pais no paraíso. Mas, graças ao SIM de Maria, a Serva do Senhor e Nossa Senhora, o Verbo se fez carne. O humano e o divino se abraçaram no Coração de Jesus. Nele, nosso coração sedento de vida e de salvação, é alcançado pela graça de Deus. Ele verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, nos ensina que, quanto mais humanos formos, mais perto de Deus estaremos.

O apostolo Paulo não tem dúvidas ao afirmar que nossa “vida e identidade estão escondidas em Cristo” (Col. 3,3). Em outras palavras, podemos dizer que só no Coração de Jesus encontraremos o sentido mais profundo de nossa existência, de nossa humanidade, de nossa salvação e de nossa missão como cristãos no meio deste mundo em que vivemos. Mundo marcadamente insensível e desumano. Mundo “sem Coração”, como costumamos dizer, porque não aprendemos ainda a viver com o coração.

Confiemos no Coração de Jesus. Falemos com ele, em nossas orações, apaixonadamente; falemos de coração para coração. Que o Coração de Jesus seja para cada um de nós, fonte de graças e escola de mansidão e humildade, para, assim, levarmos adiante a missão que nos propôs.

Façamos do título desse artigo nossa oração. Durante esse mês, rezemos:

“Amado seja por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus! Eternamente!”

Pe. Benedito Ângelo Cortez, mSC é Superior Provincial da Província de São Paulo dos Missionários do Sagrado Coração