Revista de Nossa Senhora
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Fevereiro de 2016

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“Não, não pares!

home-4“Não, não pares!
É graça divina começar bem.
Graça maior é persistir na caminhada certa, manter o ritmo.
Mas a graça das graças é não desistir.
Podendo ou não, caindo, embora aos pedaços,
chegar ao fim.”

D. Hélder Câmara

Misericórdia

interna-3Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. Ela é fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação.

Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade.

Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.

Misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.

Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre,
apesar da limitação do nosso pecado.

 

QUARESMA: oração, conversão e cuidado!

interna-2Um olhar mais demorado, uma reflexão mais profunda, um pensamento mais aguçado, dão-nos conta de que nossa Casa Comum – a terra – inspira cuidados cada vez maiores. Dentre tantos exemplos, basta lembrar a histórica seca de 1915, no nordeste brasileiro, sentir o aumento das temperaturas em nossas ruas ou observar a recente escassez de água nos reservatórios paulistanos para comprovar a certeza de que a Terra precisa de proteção

O esforço do Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Laudato Si, e/ou as decisões da COP 21, ocorrida em Paris só serão sentidos à medida que cada habitante da imensa Terra for capaz de zelar do pequeno universo em que vive. A quaresma que celebramos como preparação para páscoa é, oportunamente, um momento que nos convoca à oração, a conversão e, por que não, ao cuidado com a Casa Comum.

No Brasil, historicamente, associou-se a Campanha da Fraternidade à Quaresma. Este ano apelo de conversão dirigido aos cristãos caminha pelo viés da preocupação com Casa Comum: a Terra. Somos exortados ao cuidado e ao cultivo de ações que reflitam a consciência de que o planeta “geme como que em dores de parto”.

De maneira específica, a Campanha da fraternidade quer voltar nossos olhares para a certeza de que “Justiça ambiental” é parte integrante da “Justiça Social”.

Convida-nos, essa campanha, a reclamar às autoridades constituídas preocupações humanitárias: abastecimento de água potável a todos, destinação correta do esgoto sanitário, um eficaz manejo dos resíduos sólidos, entre outras. Propostas tão eloquentes que não podem ficar circunscritas ao umbrais da Igreja Católica. Por isso, a CF-2016 será também de cunho ecumênico, dirigida a todos os homens e mulheres de boa vontade.

Do ponto de vista bíblico, uma texto de Amós é a fonte iluminadora dessa campanha. Diz o profeta: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Garantir os direitos essenciais para a vida humana e cuidar bem do planeta, são partes fundamentais da justiça exigida por Deus. Quando isso não acontece, diz outro profeta, que as feras, as aves do céu e até os peixes do mar desparecem (Oséias 4,1-3).

O que Deus quer de nós é que sejamos como jardineiros que cuidam da natureza com carinho.  E, também, o cuidado uns dos outros, como quem cuida de plantas que amam. É esta imagem que está presente na descrição do livro do Gênesis, que relata a criação do mundo. Deus tomou Adão e o colocou no Jardim do Éden para que o cultivasse e guardasse (cf. Gênesis 2,15).

Assim, torna-se claro que, além dos habituais gestos quaresmais de

penitência, jejum e caridade, deveríamos, explicitamente, acrescentar o CUIDADO. Cuidado manifesto no zelo concreto e consciente do planeta; na postura crítica em relação àqueles que têm a missão de gerir o patrimônio comum e na educação cada vez mais solidária e respeitosa com a natureza dirigida às novas gerações.

Que a Quaresma seja, portanto, momento de oração, conversão e cuidado!

A Redação

A Misericórdia tem rosto

Estamos em pleno “Ano da Misericórdia”. Ano de graça como o Senhor anunciou, citando a tradição profética, quando iniciou sua vida pública lá na Sinagoga de Nazaré, conforme o evangelho de Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração,para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.(cf. Lc 4, 18ss)”

Mais uma vez, a Igreja, através do papa Francisco, nos dá a oportunidade de reviver essa experiência maravilhosa de Deus que nos permite perceber o quão grande é seu amor por nós. Durante esse ano, teremos a oportunidade de, a cada mês, refletir um pouquinho sobre esse tema tão importante e atual. Estaremos nesta página sempre atento ao que nos propõe o documento do papa “Misericordiae Vultus”[...]

Vivemos num mundo tão complexo onde tudo parece se pautar pelo relativismo, pelo subjetivismo e pela “cultura da indiferença”, a sensação que temos é de que tudo é descartável. Neste contexto de mudanças tão violentas é a vida humana a que mais se torna vulnerável e ameaçada, principalmente a dos mais pobres. Estamos num tempo de agitação, parece que sempre estamos atrasados e nunca conseguimos viver com intensidade o tempo presente. A “verdade de nosso eu” parece ser dura de mais para ser encarada, redimida e abraçada e, assim, vamos deixando nos entorpecer por tantas coisas novas e por tantas informações que surgem, que preferimos viver “distraído” e meio fora do real.

Mas, como em toda “distração” tem um pouco de “traição”, aos poucos vamos perdendo nossa sensibilidade, nossa humanidade e, o pior de tudo, vamos perdendo o sentido da nossa vida. Até a consciência que nossa vida é puro dom de Deus, a certeza de que Ele nos ama e nunca nos abandona, vai ficando como se fosse uma quimera e não uma verdade. [...]

De outro lado, absolutizamos a ciência, o econômico, a técnica e, pouco a pouco vamos relativizando e “coisificando” o ser humano. Já não vemos mais como nossos irmãos e filhos de Deus, mas como objetos. A pessoa só tem valor se for um consumidor. Caso contrário, será apenas um risco nas estatísticas ou “algo”, (não alguém) que poderia ser descartável. Não produz, não rende, não tem valor…

Quando perdemos nossa capacidade de nos sentir amados e queridos por Deus, perdemos nossa capacidade de amar. Quando nos esquecemos da gratuidade de seu amor, perdemos, consequentemente, nossa capacidade de gratidão. Quando perdemos essa sensibilidade de filhos de Deus, o orgulho e a arrogância original se estabelecem e o sentido de pecado se relativiza na onda de que tudo pode, de que não existe mais verdade, mas sim versões. Acostumamos com o mal, ou pior ainda, achamos que o mal se paga com o mal e, assim, entramos numa espiral de morte sem saída. O perdão dá lugar ao ódio e a vingança vai substituindo a capacidade de reconciliação.

Francisco propõe, também, que a Igreja, à luz da sagrada escritura, um caminho para nosso crescimento na experiência de Deus e de sua misericórdia: “Redescubramos as obras de misericórdia corporais e obras de misericórdia espirituais .

Neste ano favorável, façamos uma bonita peregrinação e busquemos passar pela “porta santa” e fazer nossa experiência de contemplar e experimentar a misericórdia de Deus e assim, aprendermos a ser misericordiosos como Ele é misericordioso. Mas, não nos esqueçamos de que a primeira “Porta Santa” foi aberta no Coração de Jesus na Cruz. Pelo batismo, começamos a travessia por esse “Umbral da salvação”.

Seu Coração, sempre aberto, será sempre a porta da misericórdia a todos que acolherem seu amor e perdão. Quando se encarnou, Jesus nos mostrou que a misericórdia tem rosto e na Cruz, quando derramou seu perdão sem limites, nos mostrou que a misericórdia tem coração. Aliás, que misericórdia não é outra coisa senão um coração que se escancara para acolher e curar nossas misérias.

Então paremos um pouquinho para refletir:

Como seremos misericordiosos se não entendemos ou acolhemos a misericórdia de Deus em nossa vida?

Quais as grandes experiências da misericórdia de Deus em nossa vida?

Abram-se todas as “portas santas”, se nós não abrirmos as “portas do nosso coração”, como o Senhor misericordioso poderá entrar?

Pensemos nisso, e até o próximo mês, se Deus quiser.

Pe. Benedito Ângelo Cortez, MSC é mestre de Noviços em Itajubá (MG)