Revista de Nossa Senhora
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Você acessou a Edição Janeiro – 2012

Caros leitores,

Começa o ano novo e passamos a ouvir aqueles votos e aquelas saudações costumeiras, umas sinceras e autênticas, outras protocolares e formais. Enquanto os antigos nos dizem:

“Bom princípio”, outros nos desejam um “próspero ano novo”. A maioria não faz nenhuma conotação que nos lembre graças ou bênçãos de Deus. Quase todos nos desejam prosperidade material, mesmo, traduzindo aqueles versos populares, típicos dessa época: “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”.

Nada contra esses votos e esses benefícios que nos dão segurança e nos ajudam a viver com dignidade. Contudo, no início de cada novo ano que a bondade de Deus nos concede, nós, cristãos, vamos além. Pedimos e procuramos fazer com que nossos propósitos de renovação e as alegrias do Natal nos acompanhem no decorrer do ano que vai se iniciar.

E no rol de subsídios e recursos, provisão e alimento para nossa caminhada, oferecemos também o conteúdo de nossa revista, material feito de temas que abordam espiritualidade e missão, Igreja, catequese, notícias, enfim, tudo aquilo que colabora para o nosso crescimento na fé.

Esta primeira edição do ano não é diferente. Aqui vocês, leitores e leitoras, vão reencontrar artigos e autores com os quais estão familiarizados. De fato, aos poucos, vamos estreitando laços e formando uma verdadeira família na fé.

Desde já, pra todos vocês, um Ano Novo abençoado e feliz, com as graças de Deus e a poderosa intercessão de Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração.

A REDAÇÃO.

Tortas doces de maçãs bichadas

Os catequistas têm, todos, o direito de ensinar. Todos têm o dever de opinar e, todos, o dever de corrigir ou aceitarem ser corrigidos. Defendi, uma vez, num artigo, o sacerdócio para mulheres. Dom Murilo Krieger, grande amigo de tantas horas, chamou-me a atenção, com o direito que tem um bispo de fazê-lo. Indicou- me o texto no qual João Paulo II pedia aos sacerdotes que deixassem este assunto para as autoridades. Imediatamente escrevi outro artigo pedindo desculpas à Igreja e dizendo que o Papa tinha mais direitos do que eu, voltava atrás na minha opinião. Quero pregar a Palavra de Deus e, por extensão, a da Igreja, mas não quero ensinar o que a Igreja não me autoriza a ensinar.

Dias atrás, atendi uma jovem em crise de baixa estima porque não conseguira realizar seu sonho de ser santa. Não dava tudo a Jesus. Perguntei o que ela entendia por “tudo”. Nunca soube de um santo que dera tudo a Deus. É impossível pelas próprias forças doar-nos tanto.

Da sua conversa depreendi que estava impregnada do falso slogan: “Para Deus, ou tudo ou nada”! Perguntei-lhe se diante de lauta e farta mesa com mais de 50 pratos, ela experimentaria todos e comeria de tudo, ou se, não podendo comer tudo e de tudo, não comeria nada… Riu-se. É claro que não experimentaria tudo, nem comeria tudo, mas comeria o que conseguisse digerir…

Lembrei-lhe que a comunhão em Cristo não é diferente. Não temos capacidade moral, ética ou mental para experimentar todas as místicas e correntes de espiritualidade que a Igreja nos oferece; mas não temos, também, o direito de dizer que não somos nada. Ninguém conseguirá dar tudo a Jesus, e isso não significa que não deu nada. Nem os pais dão tudo aos filhos, nem as crianças dão tudo aos pais.

Sugeri que trocasse o slogan que norteava e que é bonito como marketing da fé mas não se sustenta, pelo conceito do máximo possível dentro do mínimo admissível. Com graduação em pedagogia, ela imediatamente entendeu minha proposta. Pediu licença e escreveu no seu celular para twittar depois: Pensamento do Padre Zezinho scj :- Tentarei viver o máximo possível, dentro do mínimo admissível…Não buscarei mais a mística do “ou tudo ou nada”, porque nunca serei capaz de dar tudo a Deus. Mas poderei dar o meu máximo, que nunca será tudo!

Brinquei, dizendo que a anotação passava de 170 toques. Disse, ela com um sorriso: – Pois é. Se nem num twitter eu consigo dar tudo e tenho que fazê-lo por etapas, menos ainda na vida. Ficarei santa de pouquinho em pouquinho.

Tomemos cuidado com propostas radicais. Francisco e Clara conseguiram chegar perto do tudo, mas, ainda assim, sofreram com seus limites. Nem Paulo, nem santo algum conseguiu dar tudo. Foram canonizados por terem chegado ao máximo possível. Não se contentaram com o nada, nem com o mínimo, mas traçaram a linha entre o mínimo tolerável e o máximo realizável. A frase de Paulo: “Posso tudo naquele que me dá forças” está pontilhada desta psicologia. Estava dizendo que quem pode é Jesus.

Já vi crianças atravessarem a correnteza forte de um rio. Conseguiram. Mas os pais estavam ao lado e as seguravam com cordas… Elas puderam porque os pais podiam… Não foi tudo, mas também não foi nada. A santidade, que pode estar nos extremos, também pode estar no meio. Depende de aceitarmos nossos limites! Já comi tortas deliciosas feitas com as partes boas de maçãs bichadas…

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.