Revista de Nossa Senhora
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Janeiro de 2015

Revista Nossa Senhora - janeiro-15.indd

Inquilinos do Tempo

A resposta a uma pergunta
gera em nós novas perguntas.

Alcançar um horizonte
mostra-nos novos horizontes.

Cada passo dentro de nós
abre-nos novas encruzilhadas.

Um compromisso na história
solidariza-nos com outros desafios.
 
interna4Se é importante chegar
é para partir de novo.
 
Se nos satisfaz saber
é para buscar o que não sabemos.

 Se nos alegramos com o que somos
é para sair rumo àquilo que não somos.
 
O mesmo pão que nos sacia hoje
permite-nos sentir fome amanhã.
 
Somos uma pergunta com respostas parciais
mas só Deus é a resposta.
 
Somos felizes com os amores humanos
mas só quando têm o brilho do Absoluto.
 
Somos inquilinos do tempo e do espaço,
mas somos filhos do Infinito.
Benjamín González Buelta, SJ

Iniciar 2015 morando em Deus

interna3Com muita alegria e esperança iniciamos o ano de 2015. Início do ano é sempre tempo de esperança, de renovar projetos, de estar motivados para crescer e responder com generosidade ao chamado que Deus nos faz ao longo da história.

Sim, Deus nos chama a cada dia e a cada ano para que cresçamos como pessoas humanas, como filhos amados de Deus e como membros da Igreja. O chamado de Deus é sempre discreto, através das pessoas que nos rodeiam, dos acontecimentos cotidianos, da Palavra de Deus rezada e ouvida na liturgia, da Igreja pelos seus ensinamentos, e dos pobres que vêm ao nosso encontro pedindo solidariedade e nos ensinando a sermos mais solidários. O grande chamado de Deus é para a vida. Cuide com carinho de sua saúde,  Deus nos quer felizes, realizados e santos no amor. Quanto mais plenos formos como pessoa humana, mais faremos parte do Ser Divino de Deus. Jesus era plenamente humano e por isso plenamente Divino.

Caro (a) leitor ( a) , inicie 2015 consciente de que Deus habita em você. Você e seu irmão são morada de Deus. Dom Helder Câmara insistia em dizrer que Deus habita em nós e nós habitamos em Deus. Ele dizia: “Saio de casa, da Igreja, de qualquer lugar, mas não saio de Deus”. Dizia Dom Helder: “Quando perguntam onde moro, tenho o desejo de dizer ‘moro em Deus’”. Você já pensou nisso? Se vivo em Deus, não há o que temer. Deus está em mim e eu em Deus. Quer proteção maior para iniciar o ano do que a certeza de  estar em Deus?

Desejo a você, caro leitor (a) e benfeitor (a) de nossa Revista e de nossa missão, um ano cheio de realizações e de paz. O Papa São João XXIII dizia que a paz é fruto de quatro coisas: verdade, justiça, liberdade e amor. Creio que este é um bom projeto de vida para 2015. Buscar sempre dizer e viver na verdade interior seguindo a grande Verdade que é Jesus Cristo. Assumir as causas da justiça, a começar na própria família, passando pela vida da sociedade. Buscar ser livre interiormente e ajudar as pessoas a encontrarem a sua liberdade pessoal, sem as amarras dos bens materiais, das pessoas ou dos vícios pessoais. E por fim, o amor. Só o amor poderá nos salvar e nos tornar plenamente felizes.

Descobrir o quanto sou amado por Deus e o quanto sou capaz de amar meus irmãos.
Não se esqueça de que você tem Nossa Senhora do Sagrado Coração ao seu lado. Esta Mãe o protege e cuida com carinho de você.

Pe. Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC (Sup. Provincial)

Um novo Ano se inicia

interna2Iniciamos o ano com grandes festividades no mês de janeiro e queremos partilhar com você um pouco da espiritualidade de cada uma destas solenidades.

Busquemos nelas algum sentimento ou experiência de vida para marcar o rumo do nosso novo ano.

Festa da Santa Mãe de Deus – “Theotokos” palavra grega que significa o título desta festa, a primeira do ano. Aqui podemos nutrir dois sentimentos fundamentais a nossa vida de cristãos. O primeiro diz respeito a nossa filiação divina,ou seja, temos identidade, raízes profundas e seguras. Deus é a nossa essência, a nossa identidade. A Igreja, em seus primórdios, proclama depois de amplo debate, o primeiro dos quatro dogmas Marianos. Maria de Nazaré, aquela pequena e humilde mulher, torna-se a escolhida de Deus para ser, humana e divinamente falando, a Mãe de seu Filho Jesus Cristo.

Nesta escolha de Deus por Maria, o que nos pode marcar é à maneira como Deus nos ama profundamente. O segundo sentimento é o de pertença/serviço. Isto está claro nesta outra marca fundamental para nós, deixar-nos amar por Deus. Foi o que a singela mulher de Nazaré fez, não se exaltou, mas se colocou como humilde serva do Senhor, dando o seu “Fiat(faça-se)” com um detalhe importantíssimo, segundo a vontade de Deus (cf. Lc. 1, 38). Ensinamento maior não poderíamos ter ao iniciarmos um novo ano: temos certeza de que somos amados e nos doamos aos irmãos  confiando nesse amor.

Após as grandes Solenidades que foram Natal e Santa Maria Mãe de Deus,  a Igreja nos insere no mistério da manifestação do Senhor Jesus. A Festa da Epifânia do Senhor, (A Palavra Epifania, em grego, significa revelar, aparecer manifestar. No Cristianismo,ela  diz do mistério em de Deus que se dá a conhecer que se revelou e se revela àqueles que a cada dia o buscam) São Mateus, em seu evangelho, nos deixa isso muito claro, os reis magos chegam a Jerusalém, procurando um recém-nascido rei dos judeus (cf. Mt. 2, 1-2). Jesus se deixa encontrar na simplicidade da manjedoura em Belém, na pequenez de uma criança que naturalmente exige amor, conquista com a sua fragilidade! Jesus não impõe grandeza. Deixa-Se encontrar no dia a dia de nossa vida.

“Tu és o meu Filho amado. Em ti eu me agrado” (Mc. 1, 11). Resposta melhor não poderíamos ouvir na festa do Batismo de Jesus, a qual encerra as festividades do tempo do Natal. Talvez nessa altura de nossa reflexão possamos perceber qual seja o nosso fio condutor. Nesta solenidade encontra-se a centralidade da vida cristã, somos filhos de Deus. A exemplo de Maria, devemos nos deixar ser amados por Deus, buscá-Lo na simplicidade da vida. Desfrutando do amor de Deus através do nosso batismo, nos tornamos ‘o seu agrado, o seu bem querer’. Que o somos, mesmo que não busquemos a Deus, e até mesmo o rejeitemos.

O mês se encerra com a festa de São Paulo Apostolo, homem de uma genialidade fenomenal, cumpridor dos preceitos, amante da Lei, fiel. Às vezes, a fidelidade radicalizada nos pode levar por caminhos difíceis em nossa vida. Assim aconteceu com Paulo: por ser fiel à lei, perseguiu o seu amado ainda não conhecido. É preciso, antes de tudo, em nossa vida de oração, pedir ao Senhor a graça de buscá-lo e conhecê-lo.

Parafraseando  Santo Agostinho, “é impossível amar aquilo que não se conhece”. A queda de Paulo foi fundamental para poder conhecer Aquele que ele procurava através de sua grande fúria contra os cristãos. Ao escutar a voz do Senhor, Paulo respondeu: “aqui estou”! sua vida transformou-se em testemunho de amor ao Amado, como afirma na sua carta aos I Coríntios: “Aquilo que sou, o sou pela graça de Deus” (I Cor. 15,10).
Meus amados irmãos, nesta bonita caminhada de inicio de ano, podemos em nossa vida cristã, abraçá-lo com mais confiança partindo da certeza de que somos filhos amados de Deus. Como Maria, deixemos o Espírito Santo nos cobrir com a sua sombra (cf. Lc 1, 35) e fecundar em nós o Cristo. Em nosso cotidiano, através de nossa oração e ações, permitamos ao Senhor se manifestar em sua bondade e amor. Assim, não nos esqueçamos de que vamos nos tornando o agrado de Deus, a sua afeição do Pai em seu Filho Jesus Cristo, pelo nosso batismo. A exemplo do apóstolo  Paulo, transformemos a nossa vida em um testemunho da boa nova do Reino de Deus em nosso meio. Pois, somos filhos e Filhas amados de Deus. Santo e abençoado ano para você!

Fr. José Eduardo S. Paixão, MSC

Meu pai, meu mestre

interna1Era o ano de 1949. Eu tinha cinco anos de idade. Meu pai mostrou-me o mapa da Europa e apontou com o dedo para a Iugoslávia, dizendo:

- Este país é a união de vários outros países. Foi o Marechal Tito que criou a Iugoslávia. Mas isso não vai durar…

Verdadeira profecia, antecipando-se à fragmentação já verificada entre Sérvia e Croácia, Bósnia e Montenegro, Macedônia e Eslovênia.

Cito apenas, entre tantos, um exemplo do trabalho de formação que meu pai realizava com os dois filhos. Aos cinco anos, eu já sabia ler e escrever, graças a sua atuação como alfabetizador, utilizando o moderníssimo método pedagógico do… jogo da forca! Em sua mesa de trabalho, na subestação elétrica da Rede Mineira de Viação, o encarregado jogava forca com os filhos. Só para facilitar as coisas, extraía do painel umas palavrinhas como Siemens, Worthington e Brown Boveri…

Quando passei pelo exame de admissão ao ginásio, já no colégio interno, aos dez anos e meio, os veteranos me cercavam para perguntar o nome das capitais. França? Paris! Inglaterra? Londres. Sem excluir Liechtenstein, Andorra e San Marino.

Quem me ensinou? Meu pai. Em um bloco usado da RMV, ele me punha a copiar a lista de países e capitais. Como recreio, a escalação do Vasco da Gama, em letras de imprensa, no sistema WM: Barbosa, Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Heleno (ou Ipojucã) e Chico.

Não havia televisão, mas era em companhia de meu pai que acompanhávamos pelo rádio as Aventuras do Anjo, Jerônimo, o Herói do Sertão, e o Balança, mas não cai. Se meu pai ia jogar bilhar, levava os dois filhos como assistentes. Se ia ao treino de futebol, lá estávamos nós. Na foto do Andradina Futebol Clube, eu apareço como mascote, trajando a camiseta vermelha. Na hora da pescaria, nunca nos deixava em casa; e cortava para os dois filhos, em pequenos cubos, o saboroso queijo Dana, que a custo repartíamos com os lambaris.

Bons tempos! Um pai que estava ao lado, acompanhava e estimulava os filhos, sem espaços particulares proibidos aos pequenos.

Se me permitem, vou perguntar: – “Pais, até quando vocês deixarão seus filhos desperdiçarem o seu potencial, gastando o precioso tempo com TV e joguinhos eletrônicos? Não dispõem de tempo para conviver com os filhos?”

Sei que o mundo mudou. Os pais também mudaram. Mas não seria o caso de corrigir mudanças que fazem mal?

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.