Revista de Nossa Senhora
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Gratia Plena

Virgin Mary and JesusVirgem Maria, plena de graças
Derrama tua presença, diviniza
És como lírios dos campos, a perfumar
És como rosas orvalhadas em pleno amanhecer
Derramas, perfuma amar, Recai suave como brisa
E nós somos peregrinos em teu doce amar
És milagre de vida em seu doce amar
És formosa como as rosas
Teu perfume suave exalas
És amor que se derrama
És rama em nós entrelaçada
Terna é tua presença materna
Chegas para nosso lar, sublimar
Te saudamos: Ave Maria cheia de graça
Nos encanta em simplicidade e beleza
Se nossa mãe Virgem pura
Somos escravos de teu amor

Maria Regina Câmara Scala
Maceió – AL.

Julho de 2014

Revista Nossa Senhora - julho - 14.indd

MARIA exemplo de alegria

mariaTodas as qualidades de Maria convergem para o amor que o Pai pôs no seu coração de jovem, escolhida e predestinada, a ser a Mãe do Salvador. Dentre suas qualidades podemos destacar a alegria. Na ladainha a invocamos como “causa de nossa alegria”.

A celebração do Ano Litúrgico ajuda-nos a revigorar a nossa fé. Acompanhando os mistérios da vida do Salvador, podemos vivenciar o dinamismo do amor divino que nos transforma e nos mantém no caminho da salvação.

O dia 20 de abril deste ano foi, para todos nós cristãos, “o dia de Júbilo, da Festa, do ALELUIA, da RESSURREIÇÃO DO SENHOR”. Em todas a Igrejas ressoou a proclamação da Páscoa, quando o ministro, com voz forte e vibrante, proclamou a vitória do Rei Jesus Cristo: “Exulte de alegria a multidão dos anjos, exultemos também nós por tão grande louvação. Cristo está vivo para sempre”. A alegria da Ressurreição nos contagia e fortalece a nossa vida em meio a este mundo tão dividido, tão marcado pela violência e pelo pecado. Mas, a Vida vence a morte, o Amor supera o ódio. A vitória de Cristo é também nossa vitória. “A Páscoa é o cerne, o ponto de partida e de chegada do ano Litúrgico, da razão de ser de cada cristão, da missão e da própria Igreja. Razão e sentido de nossa fé: “SE CRISTO NÃO RESSUSCITOU É VÃ A NOSSA FÉ…” (cf.I Cor 15,13-14.17.20).

Pensando na vitória de Jesus, vivo no meio de nós, podemos pensar em Maria como aquela que soube viver a alegria de ser toda de Deus. Sua alegria é sinônimo de firmeza, de fé inabalável e confiança em Deus. Não é fruto de euforia passageira, mas, um sentimento constante de estar em Deus. Muitas vezes passou por momentos de intenso sofrimento, mas, a alegria em doar-se e assumir a missão conservaram sua força a fim de manter-se “de pé” como nos diz o Evangelista João (cf.Jo 19,25). Maria, mesmo abatida por tanto sofrimento, foi para a casa de João com o coração repleto de alegre satisfação pela fidelidade de Jesus e por ter recebido dele a missão de ser mãe de todos nós. Prova de fidelidade é a sua constante presença junto aos apóstolos mantendo-os congregados, em oração, esperando aquele que Jesus havia prometido – o Espírito da Verdade.

Em Maria fé e alegria formam uma unidade. No Hino do Magnificat, ela revela seu grande contentamento e a profundidade de sua fé, ao receber a saudação de sua prima Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres”, “Bendita és tu que acreditaste.” “Bendito é o fruto do teu ventre!.” E Maria disse:. “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador… …porque olhou para a humildade de sua serva, doravante todas as gerações hão de chamar-me de bendita. Ele sacia de bens os famintos, despede os ricos sem nada. Acolhe Israel, seu servidor, fiel ao seu amor.” (cf. Lc 1,46ss)

É neste hino que Maria se revela de maneira impressionante como filha do povo e como Mãe do Salvador que vinha para salvar o povo. “Maria participa da dupla condição de seu povo. Faz parte da imensa multidão dos pequenos e pobres e ao mesmo tempo se entrega humildemente nas mãos de Deus como serva. Proclama o imenso amor de Deus e a sua ação transformadora sobre as relações humanas impulsionadas pela vinda do Reino.” (Irmão Afonso Murad no seu livro: Quem é esta mulher?)

É impossível contemplar Maria como exemplo de alegria e não experimentar o desejo profundo de imitá-la. Oxalá aprendamos com ela a ser fiéis na alegria, a fim de levar aos irmãos e irmãs a alegria que vem do coração: “a alegria humilde, alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e bondosa,” como nos sugere nosso querido papa Francisco em um de seus pronunciamentos. Assim deve ter sido a alegria de Maria, humilde, amorosa, fraterna, pronta e atenta, como ela nos ensina.

Aos leitores(as) da Revista de Nossa Senhora, meu desejo profundo, para cada um, cada uma, de uma vivência cristã de intensa alegria; e minha prece à Mãe de Jesus que interceda ao seu amado filho para que nós, assim como os apóstolos, possamos ouvir…. “o vosso coração se alegrará e ninguém vos poderá tirar vossa alegria”. (cf. Jo16,22)

Ir. Maria da Luz Cordeiro, fdnsc

o ócio das férias

un niño pensando en soledadO ano gira na dobradiça das férias. Associam-se a tal tempo divertimento, descanso, passeio, viagens. Interrompemos as atividades laborais ou escolares para entregar-nos ao ócio. O termo conserva em Latim tom positivo. Aqueles, que terminavam honradamente as tarefas impositivas da vida, à guisa do aposentado de hoje, os romanos reconheciam gozar do otium cum dignitate. E viam em tal fase da vida a excelente oportunidade para dedicar-se às letras. “O ócio sem letras é como a morte e a sepultura do homem vivo”, pontifica Sêneca.

Se férias e ócio se entrelaçam, a ambos não devem faltar as letras. Não se ocupa o tempo livre, que o termo ócio denota, com vacuidades. Vazio não enche vazio. Ao abrirmos brechas na vida de trabalho e de obrigações escolares, cabe-nos preenchê-las. Vale de todo ser humano a expressão latina de que horret vacuum – tem horror ao vazio.

A questão se impõe como ocupá-lo. Aí está o busílis do assunto. A cultura pós-moderna invade os silêncios com os sons. Criou inúmeros artefatos que batalham todo o tempo o ouvido e o cérebro da nova geração. Dorme ouvindo, acorda ouvindo. Não há pausa. Não há ócio. E então não cabem as letras do ler e do pensar. Só existe o ruído.

Vão sugestões para as férias. Cada dia encontrar no fluir das horas algum tempo para atividades altamente humanas e repousantes: Contemplação, leitura e conversas gratuitas. Às vezes, as três casam, quando lemos algo que nos arranca do livro, projeta-nos para a profundidade interior onde habitam as maiores belezas e terminamos na partilha.

A contemplação alimenta-se da memória. Ela carrega o passado na dupla faceta das experiências gratificantes como das dolorosas. Ambas nos permitem vivenciar a verdadeira humanidade que se constitui de alegrias e tristezas, de prazer e dor, de realizações e fracassos.

No ócio das férias faz bem reviver momentos de beleza do passado, revigorando-nos as energias. E as horas sombrias merecem também olhar de reconciliação com nós mesmos e com as fontes da dor. Tudo isso nos põe próximos dos outros humanos que vivem também experiências semelhantes. Nada nos desumaniza tanto quanto postar-nos como heróis, exceções, sobrenadando ao lado da fragilidade humana. A arrogância existencial destrói-nos o senso de humanidade.

A contemplação tranquila de nós mesmos e da própria vida serena-nos o coração nos tempos de silêncio do ócio das férias. Calar-se não significa tristeza nem incomunicabilidade. Mas refontização para melhorar as relações.

Dois outros espaços abrem-se-nos nas férias. Entregar-nos a leituras que nos imerjam na realidade. E lá nos encontramos retratados. Passeamos por paragens maravilhosas. Some-se a esses voos pelo mundo fascinante da literatura o cultivo das relações pessoais em conversas gratuitas e leves. Como nos enriquecemos ao tagarelar com amigos e ouvir deles as belezas do universo dos livros. Assim o ócio deixa de ser vazio para plenificar-nos a anima e o ânimo.

Pe. João Batista Libânio, SJ (in memorian)

O ano gira na dobradiça das férias. Associam-se a tal tempo divertimento, descanso, passeio, viagens. Interrompemos as atividades laborais ou escolares para entregar-nos ao ócio. O termo conserva em Latim tom positivo. Aqueles, que terminavam honradamente as tarefas impositivas da vida, à guisa do aposentado de hoje, os romanos reconheciam gozar do otium cum dignitate. E viam em tal fase da vida a excelente oportunidade para dedicar-se às letras. “O ócio sem letras é como a morte e a sepultura do homem vivo”, pontifica Sêneca.Se férias e ócio se entrelaçam, a ambos não devem faltar as letras. Não se ocupa o tempo livre, que o termo ócio denota, com vacuidades. Vazio não enche vazio. Ao abrirmos brechas na vida de trabalho e de obrigações escolares, cabe-nos preenchê-las. Vale de todo ser humano a expressão latina de que horret vacuum – tem horror ao vazio.A questão se impõe como ocupá-lo. Aí está o busílis do assunto. A cultura pós-moderna invade os silêncios com os sons. Criou inúmeros artefatos que batalham todo o tempo o ouvido e o cérebro da nova geração. Dorme ouvindo, acorda ouvindo. Não há pausa. Não há ócio. E então não cabem as letras do ler e do pensar. Só existe o ruído.Vão sugestões para as férias. Cada dia encontrar no fluir das horas algum tempo para atividades altamente humanas e repousantes: Contemplação, leitura e conversas gratuitas. Às vezes, as três casam, quando lemos algo que nos arranca do livro, projeta-nos para a profundidade interior onde habitam as maiores belezas e terminamos na partilha.A contemplação alimenta-se da memória. Ela carrega o passado na dupla faceta das experiências gratificantes como das dolorosas. Ambas nos permitem vivenciar a verdadeira humanidade que se constitui de alegrias e tristezas, de prazer e dor, de realizações e fracassos.No ócio das férias faz bem reviver momentos de beleza do passado, revigorando-nos as energias. E as horas sombrias merecem também olhar de reconciliação com nós mesmos e com as fontes da dor. Tudo isso nos põe próximos dos outros humanos que vivem também experiências semelhantes. Nada nos desumaniza tanto quanto postar-nos como heróis, exceções, sobrenadando ao lado da fragilidade humana. A arrogância existencial destrói-nos o senso de humanidade.A contemplação tranquila de nós mesmos e da própria vida serena-nos o coração nos tempos de silêncio do ócio das férias. Calar-se não significa tristeza nem incomunicabilidade. Mas refontização para melhorar as relações.Dois outros espaços abrem-se-nos nas férias. Entregar-nos a leituras que nos imerjam na realidade. E lá nos encontramos retratados. Passeamos por paragens maravilhosas. Some-se a esses voos pelo mundo fascinante da literatura o cultivo das relações pessoais em conversas gratuitas e leves. Como nos enriquecemos ao tagarelar com amigos e ouvir deles as belezas do universo dos livros. Assim o ócio deixa de ser vazio para plenificar-nos a anima e o ânimo.

Pe. João Batista Libânio, SJ (in memorian)

Partir do “Coração do Evangelho”

catequeseDepois de refletir sobre “Uma Igreja «em saída»” e sobre a “Conversão Pastoral”, o Papa Francisco na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” procura mostrar-nos que a transformação missionária da Igreja só será possível a partir do coração do evangelho. O núcleo da reflexão do Santo Padre é este: devemos ter presente que o conjunto das verdades reveladas propostas pela Igreja tem um centro, uma espécie de Sol, em torno do qual gravitam todas as outras afirmações da fé e que a elas confere seu sentido pleno. Sem a compreensão desse centro – o coração do evangelho – muitos ensinamentos da Igreja, embora baseados na revelação, tornam-se incompreensíveis e desinteressantes para as pessoas insuficientemente iniciadas na vida cristã. A título de exemplo: quem não fez a experiência do amor de Deus pela humanidade, oferecido a nós em Cristo, não pode compreender o significado da indissolubilidade do matrimônio.

E é preciso retomar sempre o coração do evangelho para que não passemos a impressão de que muitos ensinamentos da Igreja são imposição de dogmas ou de preceitos que ferem a liberdade humana e se opõem ao desejo e ao direito de ser feliz. A propósito assim se expressa o papa: “O problema maior ocorre quando a mensagem que anunciamos parece então identificada com tais aspectos secundários, que, apesar de serem relevantes, por si sozinhos, não manifestam o coração da mensagem de Jesus Cristo. Portanto, convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio”(n. 34).

“Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário.”(n. 35) E mais adiante o Papa diz qual é o coração do evangelho: “Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado.”(n.36). Quando no capítulo terceiro o Santo Padre trata do “Anúncio do Evangelho”, ele retoma de maneira mais clara qual é o coração do evangelho: “Voltamos a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio ou querigma, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial.

O querigma é trinitário. É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai. Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar». Ao designar-se como «primeiro» este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos. Por isso, também «o sacerdote, como a Igreja, deve crescer na consciência da sua permanente necessidade de ser evangelizado». (n. 164). Traduzindo de forma prática a última frase desse trecho: Todos os dias eu devo de novo deixar ressoar em mim o coração do evangelho, o querigma. Sem essa volta às raízes o ensinamento da Igreja, sobretudo em matéria de moral, se torna um peso por não ser mais a resposta de amor que o discípulo deve dar a seu Senhor.

Aqui temos o maior desafio para a evangelização. Como, por ex.,oferecer uma catequese aos jovens que lhes penetre a vida se esses jovens não foram tocados pelo pessoa de Cristo a ponto de sentirem fome e sede de sua palavra? Sem a experiência do coração do evangelho, o conjunto das verdades da fé e dos preceitos morais do decálogo parecerão uma imposição vinda de fora e não valores que abrem caminho para uma vida humana digna e mais feliz. Finalizo este artigo com a palavra do Papa Francisco: “O Evangelho convida, antes de tudo, a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-O nos outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos…Se tal convite não refulge com vigor e fascínio, o edifício moral da Igreja corre o risco de se tornar um castelo de cartas (papel), sendo este o nosso pior perigo; é que, então, não estaremos propriamente a anunciar o Evangelho, mas algumas acentuações doutrinais ou morais, que derivam de certas opções ideológicas. A mensagem correrá o risco de perder o seu frescor e já não ter «o perfume do Evangelho»”(n.39).

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues – Arcebispo de Sorocaba (SP)