Revista de Nossa Senhora
  • Administração: Rua Angá, 994 – VI. Formosa – São Paulo – SP
  • Telefax: (11) 2211-7873 – E-mail: contato@revistadenossasenhora.com.br

Você acessou a Edição Junho – 2014

Para Meditar

interna4Custou, mas encontrou a sua paz
Custou até demais.
Momentos houve até em que ele imaginou
Que não conseguiria nunca mais.

Doeu, doeu demais não ter a paz
Não ter nenhum conforto para a alma.
As noites eram frias
E os dias eram longos por demais
Que dor e que agonia
Dentro de um coração que não tem paz.

Alguém lhe apresentou Jesus de Nazaré
Ele nunca viu seus olhos
Nunca teve uma visão
Jesus nunca falou nos seus ouvidos
Mas ele sabia que era Jesus.

E orava e suplicava
Meditava e meditava
Nas palavras que Ele disse
Para quem carrega um fardo:

Troquem de carga comigo
Eu fico com o de vocês e vocês com o meu.
Meu peso é leve e meu jugo não machuca.

Uma calma de manhãs de orvalho
Uma brisa suave de primavera
foi se apossando de seu interior.
As palavras do Livro Santo
foram lhe devolvendo a vida
e a vontade de prosseguir.

Começou a respirar,
a dormir e a sorrir leve e solto.
Mudou de rosto, de olhar e de jeito.
E foi lá fora, ajudar os outros.

Nunca se achou melhor e mais santo
Nem mais salvo , nem mais ungido,
Nem mais eleito.

Viveu agradecido pela paz
que Jesus lhe dera

Desenvolveu a paz inquieta
dos que lutam para levar aos outros
a paz que Deus lhes concedeu.
Porque a paz é uma graça que vem do céu
e se cultiva e desenvolve no dia a dia.

De iluminado tornou-se iluminador
De abençoado, abençoador,
De perdoado, perdoador
E de coração deprimido, coração libertador.

Tinha encontrado a paz para si.
Agora precisava encontrá-la para os outros.
Tornou-se missionário do diálogo.

Nunca mais descansou.
Morreu aos 90 anos,
trabalhando pela paz dos outros.
convencido de que a paz é
de todos os milagres,
o mais bonito que um coração possa querer.

Quem tem a paz tem muito mais respostas !

Pe. Zezinho, SCJ

Junho de 2014

capa-junho

A CEIA PASCAL e o anúncio da traição de Judas

Jesus breaks the breadO inesperado e o imprevisto:

Os evangelhos dedicam vários capítulos para apresentar o relato da Paixão e Morte de Jesus. É uma descrição dramática e envolvente. Cada momento vivido por Jesus é denso e ao mesmo tempo de uma profundidade imensa. O Filho de Deus começa a seguir de forma definitiva, agora, o caminho da cruz. O inesperado acontece. Ninguém imaginava como poderia se concluir este fato. É impossível descrever o que se passa no coração do Mestre. Tudo vai culminar na entrega total ao Pai, lá no alto da cruz. Acabam-se os discursos de Jesus. Chega à hora de sofrer em silêncio.

Lideranças que provocam morte:

Os evangelhos põem em relevo o papel desempenhado por Caifás, que era genro de Anás. Caifás foi Sumo Sacerdote, isto é, chefe supremo do templo de Jerusalém e presidente do Sinédrio entre os anos 18 a 36 de nossa era cristã. Eles associam os anciãos do povo aos sumos sacerdotes; isto é, aqueles que tinham mais influência na casta sacerdotal. Então se reúnem as “lideranças perversas” para decidirem à prisão e execução de Jesus. Pensam até em marcar uma data para isso, mas a festa da Páscoa devia ser celebrada em paz e qualquer tumulto popular provocava a repressão por parte dos soldados romanos. O medo das lideranças supõe que o povo que seguiu Jesus não estaria de acordo com tal decisão tomada na clandestinidade e combinação diabólica.

Ao escurecer já começava o novo dia:

Treze pessoas era um número aceitável para uma ceia de páscoa; normalmente era só a família que se reunia para tal evento, em torno de cinco a dez pessoas. Os doze com Jesus têm agora um sentido novo: o novo Israel celebra a nova Páscoa. A família de Jesus agora são seus doze discípulos.

Os lugares à mesa:

Jesus dará “sua carne e seu sangue” para a vida do mundo. Os lugares à mesa eram ocupados conforme o critério de idade. Esta ordem era observada de forma escrupulosa. Jesus quebra esta ordem, colocando João ao seu lado, o mais novo; aquele que no dia seguinte estaria aos pés da cruz, com Maria. Daí a discussão entre os discípulos para ver quem ficaria mais perto de Jesus. Eles ainda deviam superar as ambições.

Simples mas solene:

A última ceia foi celebrada na simplicidade, mas sem deixar de ser solene. Os discípulos nem podiam imaginar que aquela ceia iria tornar-se o coração da Igreja nascente e perpetuar-se para sempre. O que será que se passava no coração de Judas Iscariotes? É impossível descrever. Os demais discípulos nem podiam imaginar o que estava para acontecer.

Trevas e sombras:

Judas entendeu que seu plano fora descoberto por Jesus. As palavras duríssimas que Jesus diz a respeito dele continuam nos impressionando muito: – “Seria melhor para esse homem não ter nascido” (Mt 26,24). Pedro sentia-se angustiado pela incerteza. Não conseguia resistir, fez um sinal para o seu amigo João, que estava ao lado do Mestre e este perguntou diretamente, quem seria o traidor. Jesus respondeu a João com um fio de voz: – “É aquele que eu der um pedaço de pão embebido no vinho” (Jo 13,26). Aquele era um gesto simbólico com que à mesa, se demonstrava simpatia e amizade por alguém. Jesus tentou assim, mais uma vez salvar uma alma perdida, mas Judas, pelo contrário ficou ainda mais sombrio, pois “satanás entrou nele”; sentiu um profundo ódio por sua vítima. Judas levantou-se da mesa e saiu sem dizer uma palavra. As trevas da noite o envolveram. Agora os laços com Jesus estavam mesmo cortados.

Fracasso e humilhação:

Jesus celebra e institui “sua eucaristia” e manda celebra-la em sua memória. Jesus não come, mas se entrega. Ele parte o pão para repartir e assim os seus discípulos podem fazer o mesmo. Jesus anuncia em seguida o fracasso e humilhação que os discípulos vão passar. É um anúncio trágico. Os discípulos vão tropeçar na grande prova e se dispersarão como ovelhas, mas sua queda não será definitiva, porque o pastor ressuscitado voltará a reuni-los na Galiléia (Mt 28,10).

O momento se aproxima:

Na noite da refeição pascal era proibido sair de casa, mas Jesus “transgrediu” esta regra da antiga tradição, temendo pela segurança dos apóstolos, pois poderiam facilmente ser presos na sala onde haviam ceado. Judas, percebendo que não havia mais ninguém na sala, conduziu os soldados até uma propriedade afastada, que ficava no outro lado do Cedron. Este lugar era conhecido de Judas, pois muitas vezes já estivera com Jesus lá. Era chamado de Horto das Oliveiras; em hebraico, de “Getsêmani”, que significava o lugar onde havia uma prensa para a produção do azeite de oliva. Esta foi à última saída de Jesus com seus discípulos, antes de sofrer a Paixão.

Dom Agenor Girardi, MSC – Bispo Auxiliar de Porto Alegre – RS

A ética da dor

teen depression, tunnelSe a dor desaparecesse totalmente do corpo humano, não se controlariam os perigos para a saúde. Ela serve de alerta, sinal, sintoma de que algo não funciona bem no corpo e conduz o médico à busca de diagnóstico correto.

A dor continua sendo espinho na experiência humana. A complexidade do ser humano a faz bater no corpo, na alma, no espírito. E a luta continua para aboli-la em todos os campos. No horizonte caminha-se para vitória total contra ela ou trata-se de ilusão? A dor só possui valência negativa a ser negada? Negar a negação significa avanço, conforme a mais comezinha aritmética: menos vez menos é mais. Ou será que a dor pertence às experiências fundamentais da vida humana e possui aspecto positivo? E negar totalmente o positivo não nos leva segundo a mesma aritmética ao negativo? Mais vez menos é menos. Eis a pergunta ética.

A medicina navega entre o rochedo de Cila e o turbilhão de Caríbdis no Estreito de Messina. Com a anestesia tem eliminado a dor física. Ela incomoda e, às vezes, inutilmente e com algum anestésico se elimina. Benditos pro-gressos da medicina que nos poupam de tanto sofrimento físico!
Entretanto tem-se criado perigosa cultura da eliminação de qualquer dorzinha por crescente dose de analgésicos que as pessoas tomam por conta própria. Não toleram nenhum incômodo parecido com dor.

Vejamos o risco. Se a dor desaparecesse totalmente do corpo humano, não se controlariam os perigos para a saúde. Ela serve de alerta, sinal, sintoma de que algo não funciona bem no corpo e conduz o médico à busca de diagnóstico correto. Sem sinais dolorosos, a morte chegaria antes de se descobrir a doença. Bendita dor salvadora! A ética não abona o uso exagerado de analgésico da cultura atual por causa da insuportabilidade do mínimo sinal de sofrimento. Atenção à perniciosa propaganda da indústria farmacêutica!

E quando a dor atinge a psique? Aí a situação se complica. Ela não cede instantânea e definitivamente à cura da medicina. Cede diante de antidepressivos, mas passado o efeito do remédio, volta. E, não raro, mais forte. Revela com maior clareza a fragilidade humana.

Há pessoas que sofrem longos períodos de depressão. E algumas não o suportam e terminam tirando-se a vida ou metendo-se em drogas violentas que levam ao mesmo fim. Se o ser humano não se educa a conviver e a trabalhar a dor psíquica, viverá escravo de remédio.

De novo, entra a ética da dor. Não se trata de eliminar sem mais o sofrimento psíquico, mas de ajudar as pessoas humanas a assumirem a si mesmas sem ilusões de felicidades fáceis. Momentos de solidão, de dor interior fazem parte do crescimento humano. Ensinam a pessoa que quanto mais fechar-se e prender-se a si mesma, mais afundará na noite afetiva. E a saída para os outros, ações de solidariedade, empenho em serviços altruísticos a ensinarão encontrar a paz que os prozacs só oferecem artificial, superficial e momentaneamente.

E a dor do espírito? Diferente. Dorme em cada ser humano, mesmo que não saiba e não queira admitir, o infinito do Deus criador que o chamou para si. Dor de eternidade. Nenhuma medicina cura. Só o cultivo da espiritualidade e do amor dedicado aos irmãos canaliza tal inquietude dolorosa. Santo Agostinho, atormentado por ela, exclamou: Inquieto, Senhor, está o nosso coração até que descanse em ti!

Pe. João Batista Libânio, SJ
(in memorian)

Milagre Eucarístico de Orvietto / Bolsena – Itália 1263

Duomo di OrvietoVocê acha que algum padre pode duvidar da presença de Jesus na Eucaristia? “Não”, seria a sua resposta, mas o milagre eucarístico que tratamos neste mês aconteceu pela falta de fé de um sacerdote que era conhecido por ser muito piedoso, mas a dúvida sobre a presença de Cristo na Eucaristia o atormentava há muito tempo. Este padre chamava-se Pedro de Praga.

De um lado um sacerdote que duvidava, do outro, um grupo chamado Cátaros que procurava combater, entre outras verdades da fé, a presença de Jesus na Eucaristia. A Igreja, por isso, enfrentava uma grande crise dos fiéis atordoados com tantas manifestações contrárias à fé.

Pe. Pedro, o sacerdote que duvidava, decidiu peregrinar até Roma e ao parar num povoado chamado Bolsena, próximo a Orvietto, celebra uma missa no altar de Santa Cristina. No momento da consagração, Deus lhe dá um ultimato sobre a sua fé na Eucaristia e, portanto, da hóstia começa a sair sangue. Ele tenta em vão esconder tal fato, mas algumas gotas de sangue caem no corporal e respingam sobre o altar. Não se esconde de Deus as maravilhas que Ele quer que conheçamos.

Por ocasião do verão, o Papa Urbano IV estava em Orvietto e foi para lá que Pe. Pedro se dirigiu. Sendo acolhido, o Papa o ouviu e imediatamente tomou providências sobre o acontecido. Munido de prudência e sabedoria, pediu a Deus que lhe desse, de fato, um sinal de Sua providência. Tendo os fatos analisados e a grande devoção à Eucaristia criando corpo na Igreja, um ano depois, o Papa Urbano IV instituiu a Festa de Corpus Christi.

Até hoje, o corporal – pequeno tecido quadrado que é colocado sobre o altar onde se consagram as hóstias – é visitado por milhares de fiéis na Catedral de Orvietto. E no mundo inteiro, graças a este milagre podemos celebrar a Festa da Eucaristia, a festa que une o coração de todos os cristãos.

A Redação