Revista de Nossa Senhora
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Maio de 2015

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Caro(a) Leitor(a)

interna4Mais uma edição da Revista de Nossa Senhora chega até sua casa e, com ela, chegam informações, formação e doutrina.

Maio, como nenhum outro mês, se reveste das cores da devoção a Maria, Mãe de Deus, lembrando-nos a tradição das noivas e o dia das nossas mães da terra. Para nós, também, é marcado pela celebração da Festa de Nossa Senhora do Sagrado Coração que, este ano, vai acontecer de 23 a 31, no seu Santuário Nacional, em Vila Formosa, São Paulo, capital.

Nesta edição, você leitor, vai ler e refletir uma sólida reflexão sobre a devoção mariana, modelo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da união perfeita com Cristo, da lavra do Papa Francisco. Ainda focalizando a Mãe de Jesus, Ir. Maria da Luz nô-la apresenta personificando a aliança de Deus com seu povo. Na secção Santuário em seu Lar, Miguel da Motta nos traz o belíssimo testemunho de vida de Maria Alves Borges, de Varzelândia, norte de Minas, legionária de Maria e grande apóstola de Nossa Senhora.

O leitor atento não deixará de ler também a memória histórica que a teóloga Maria Clara Bingemer faz do jubileu do Pacto das Catacumbas, iniciativa de bispos brasileiros, tendo à frente D. Hélder Câmara, no encerramento do Vaticano II. Sempre presente nessas páginas, o missionário Padre Reuberson, MSC, que trabalhou alguns anos, no Alto Rio Negro, no Amazonas, nos brinda com mais um capítulo do seu apreciado “Diário de Missão”, sob o título de “Viagens”.

Outras colaborações mais compõem o sempre variado mosaico de nossa Revista.

A todos uma proveitosa leitura!

A REDAÇÃO.

Milhares de Porquês

interna3Acredito num aqui, nascido de um porquê, com ponto final, rodeado e cercado de milhares de porquês exclamativos interrogativos. Não consigo imaginar a vida sem esses porquês.

Considero a vida uma aventura funcional. Havia, houve, há e haverá um porquê para cada vida neste mundo, mas de todas as vidas, entendo que a humana é a mais funcional. Deveria ser!

Fui criado por alguma razão e por alguma razão nasci da família de onde vim nesse tempo, nessa era, nessa hora, por alguma razão vivi ate agora aos 70 anos e por alguma razão morrerei, não sei quando, acho que meu aqui e agora é funcional. Deus o criador em que eu acredito, queria de mim um resultado ao me por nesse planeta. Sei que não correspondi a todas as expectativas do meu Criador, mais fui, sou e serei feliz todas as vezes que eu conseguir ser funcional, isto é, quando a minha vida deu, dá e der certo em favor dos outros, disso tenho certeza, fui posto nesse mundo por causa dos outros, nasci de dois outros, cresci no meio de inúmeros outros, vivo no meio de milhões de outros, falo a milhões de outros, motivo milhões de outros e certamente, quando ficar enfermo, precisarei de alguns outros, e alguns outros me levarão ao túmulo quando morrer, disso eu não tenho dúvida, fui criado em função dos outros.

O mesmo acontece com todos os outros seres humanos que vieram a este mundo, por isso uma das coisas mais ridículas e sinal de loucura é alguém gastar milhões consigo mesmo. Erguer palácios para o próprio deleite, fazer Templos para o Senhor e casas mais ricas para si mesmo.

Uma forma de loucura é criar para si cem ou mil vezes mais conforto do que para aqueles que nos ajudam a nos manter vivos e ganhar a vida, é uma forma de loucura puxar para si fama, honra, glória, dinheiro é a disfuncionalidade levada aos dispersores. O ser humano funcional fica feliz com pouco, reparte do seu excesso e raramente tem excesso que vai repartindo, à maneira que recebe, descobriu o bastante e o suficiente e sente-se pleno apesar de todos os seus limites a partir do fato que de está ajudando outras vidas, árvores, que mesmo não dando tantos frutos como davam, continuam dando sombra, e a árvore, que mesmo estéril, não se sente inútil.

Comprei esses dias um relógio que parou de funcionar no terceiro dia, se é relógio e não cumpriu sua funcionalidade, não houve conexão com o mecanismo e a pilha, a energia não chegou a ele, mesmo com nova bateria ele não funcionou, alguma coisa emperrava o seu mecanismo, então eu disse a Deus, Senhor eu não quero ser como esse relógio, mecanismo eu já tenho concede-me sem cessar a sua graça e sua energia e então eu funcionarei a contento. Como acredito em Deus, acho que ele me ouviu.

Pe. Zezinho. SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

Tecnologia

Hand pressing modern laptop with mobile app icons and symbolsPodemos dizer que hoje em dia vivemos numa sociedade da tecnologia. O avanço tecnológico cria uma fascinante rede de comunicação aproximando povos e pessoas até mesmo dos lugares mais remotos. Todo mundo se rende ao fascínio das redes sociais que se aperfeiçoam cada dia mais. É contagiante! E esta tecnologia tão contagiante, celebrada por aproximar as pessoas, povos e culturas, usada a favor da vida, tem também um lado preocupante e, quando não, cruel. Ela pode ao mesmo tempo unir e excluir, facilitar a comunicação sem construir relacionamentos, aproximar pessoas, mas não construir laços. Facilmente podemos cair numa solidão virtual, mantendo inúmeros contatos, mas sozinho do outro lado.

A inteligência humana é dom de Deus. Em sua pedagogia, Deus dá ao homem meios para ele sobreviver, se desenvolver, criar e recriar. O homem torna-se partícipe do desenvolvimento deste mundo e o seu principal beneficiado, mas pode também, muito facilmente, se tornar escravo ou dependente das próprias invenções.

Voltando para as novas tecnologias, com seus avançados recursos e mecanismos, não podemos nos esquecer de princípios básicos e elementares que regem a vida do ser humano dentro de uma sociedade e que são essenciais para uma vida saudável de relacionamento com o outro.

O mandamento de amar o próximo como a si mesmo é um exemplo de que uma pessoa não pode viver longe da convivência com outras. Ela precisa constantemente estar com outros da sua espécie, amando e respeitando, sentindo o toque, o abraço, o olhar. Algumas coisas não podem ser substituídas nem mesmo pelos meios tecnológicos mais avançados.

A tecnologia é, sem dúvida, uma ferramenta extraordinária para a comunicação, para intensificar relações, de grande importância para a evangelização, mas pode ser excludente e pode nos fechar no nosso próprio eu, levando-nos a uma vida egoísta e solitária. Solitária é aquela pessoa que se perdeu dentro de si mesma. No labirinto do seu próprio ser.

Nós, cristãos, somos vocacionados a estar no mundo sem estar presos a ele. Usarmos das coisas tanto quanto elas nos são úteis sem, no entanto, ficarmos dependentes delas. Usarmos de todos os meios para anunciarmos Cristo ao mundo e a todas as pessoas sabendo, contudo, enxergá-lo no próximo mais próximo.

Afinal de contas, é Jesus Cristo o comunicador por excelência. Um homem que soube falar com uma multidão de cinco mil pessoas e, ao mesmo tempo, tocar os corações. Alguém que curava ao tocar e curava quando era tocado.

Uma vida virtual pode ser mais intensa se na vida real sabemos tocar as pessoas e nos deixar tocar por elas. Toda e qualquer relação só tem sentido se os corações se encontrarem, pois foi no Coração de Cristo que o Amor nos encontrou.

Diácono Girley Reis, MSC, trabalha na Diocese de São Gabriel da Cachoeira – AM.

A beleza salvará o mundo

interna1Deus é beleza, e nos atrai. É impossível separar a beleza do mistério. A experiência cristã da beleza é sempre uma experiência de fé. Ao abordarmos a arte sacra e sua função pastoral, estamos falando de uma arte que deve ser comunicativa, que facilita a experiência do Sagrado.

Sendo assim, o homem pode se servir da arte sacra para educar sua sensibilidade, estando cada vez mais aberto, para acolher o Mistério e torná-lo presente e atuante em sua própria vida.

Toda arte é fruto de uma época e colabora para criar o espírito desta época. A utopia de uma modernidade totalmente iluminada pela razão, técnica e eficiência, deixou profundas lacunas na dimensão afetiva, simbólica, mística, transcendental da humanidade. Os sinais aparecem numa sede do sagrado, na revalorização de símbolos e experiências místicas, às vezes, sem muito critério e discernimento. A arte como mediação pastoral, como expressão do religioso, do místico está aí, presente, nas diferentes manifestações.

Nos últimos anos, principalmente a partir do Concílio Vaticano II, percebemos uma força na vida pastoral da Igreja, seja nos movimentos de participação do povo, tanto nas decisões da Igreja (maior comunhão e participação), como na valorização do fiel leigo na sua missão evangelizadora, como ponte entre os valores cristãos e os vários setores da sociedade.

Ao mesmo tempo, o processo de participação gera uma “reapropriação do sagrado” por parte do fiel, bastante visível na maior intimidade com a Palavra de Deus, no interesse pela história da Igreja, no cuidado com o lugar da celebração, a “casa da beleza”, e na busca de novas formas de celebrações ou mesmo na sua maior consciência sobre os fundamentos da liturgia cristã. Conhecer as raízes da fé na relação entre a Palavra e a vida tornou-se elemento fundamental na caminhada para a formação pastoral desse novo sujeito: o povo em processo de consciência da sua fé e do seu valor e consequente compromisso na história.

Desde os primórdios, percebemos o cristianismo como uma religião profundamente marcada pela comunicação. Dadas suas raízes judaicas, tão afirmadas na palavra, o cristianismo continua sendo uma religião marcada pelo diálogo entre Deus e seu povo e entre a própria comunidade cristã, na sua dimensão missionária, evangelizadora. Aí nos deparamos com algo fundamental: toda comunicação exige uma materialização do conteúdo. Neste caso, a arte tem sido ao longo dos anos, não só para o cristianismo, um elemento significativo, nas suas diferentes formas de expressão.

A partir da realidade dos pobres da América Latina, de suas lutas e ações pastorais, surge a Teologia da Libertação com um novo modo de fazer teologia, a partir do rosto de Deus presente nas várias faces dos pobres. Nas comunidades, nos encontros de formação, na liturgia e na vida pastoral começa a surgir um novo rosto eclesial. O canto, a pintura, a dança, o teatro, vão construindo uma expressão de fé cheia de alegria e beleza, enfim, de uma arte brotada da paixão pelo Reino de Jesus, na utopia de uma humanidade e mundo libertos.

Pe. Michel dos Santos, MSC É vigário do Santuário das Almas em São Paulo/SP