Revista de Nossa Senhora
  • Administração: Rua Angá, 994 – VI. Formosa – São Paulo – SP
  • Telefax: (11) 2211-7873 – E-mail: contato@revistadenossasenhora.com.br

Você acessou a Edição Março – 2013

Edição Março de 2013

capa-março

Vocação e Generosidade

vocacao©Foto_ Moisés Moraes-0674Creio que um dos aspectos mais importantes de um vocacionado é a generosidade de coração. A palavra generosidade é substantivo abstrato. Do mesmo modo que amigo é o substantivo concreto do substantivo abstrato que é a amizade. Generoso é aquele que tem a qualidade da generosidade. No dicionário, a palavra Generosidade indica uma pessoa dotada de caráter e sentimentos nobres, mostrando-se capaz de sacrificar um bem que lhe é precioso para ajudar alguém (podemos chamá-lo de alma generosa); digno; elevado;sublime. Que gosta de se doar, que tem prazer em oferecer coisas aos outros; dadivoso, magnânimo, capaz de doar a vida em favor de outrem. O seu contrário significa avarento, ambicioso, mesquinho. Diz-se de quem dá com largueza é prodigo; fértil, fecundo é o contrário de quem retém para si, árido, infértil. Uma outra qualidade da pessoa generosa é perdoar as fraquezas alheias. O contrário é egoísmo.

Veja, meu irmão(ã), quanto a generosidade está ligada à vocação cristã. Lembro-me de um formador no seminário, o saudoso Padre José Roberto Bertasi, falecido no início de 2013, o qual, sempre que elogiava os nossos vocacionados, dizia que fulano era um jovem generoso e que, por isso, apesar de todos as suas limitações, poderia ser um bom religioso e sacerdote. O contrário, se não fosse generoso, poderia ter todos os dons e qualidades, mas não poderia ser bom cristão e, muito menos, religioso Missionário do Sagrado Coração.

No evangelho, todos os evangelistas mostram um Jesus sempre muito generoso. Em nenhuma passagem encontramos mesquinhez em Jesus, mas sim uma perfeita oblação. Quando Jesus vê a multidão faminta e decide multiplicar os pães, não dá apenas um pão cada um para matar a fome, mas o faz com fartura a ponto de sobrarem doze cestos cheios (João 14), quando Jesus vê alguém doente pedindo a cura, ele não só cura, mas perdoa os pecados e envia em paz. Quando trazem uma pecadora diante dele, (Lc, 7, 36ss), é capaz de perdoar e enviar em paz aquela mulher.

Em Mateus, vemos a beleza das parábolas de Jesus, mostrando como é o Reino dos Céus. Ele sempre relatava as parábolas com largueza e generosidade. Assim falou em Mateus 13, sobre a parábola do semeador, que produziu cem vezes mais, no grão de mostarda, que cresceu tanto que as aves dos céus se abrigavam nos seus ramos, o fermento que a mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado. A parábola da pérola perdida. Quem a encontra, vai, vende tudo o que tem para possuir aquela pérola. E o que dizer sobre a pesca milagrosa, em que as redes ficam cheias de peixes. Jesus falava com largueza e generosidade. Na generosidade de Jesus está a estrutura do evangelho.

Ele soube dar tudo o que tinha, deu a vida abrindo o seu coração e deste coração saíram as últimas gotas de sangue e água, como nos relata o evangelho de São João, capítulo 19.

Em Marcos 10, 17 -22, Jesus pede ao jovem rico que seja generoso para segui-lo. Mas, infelizmente aquele jovem, tão amado pelo Senhor, não foi capaz de dar um passo e deixar o que tinha para seguir Jesus.

Tenho certeza de que o egoísmo nos torna tristes e a generosidade nos faz felizes. Não tenha medo de ser generoso com a Igreja, com as pessoas, consigo mesmo e com os necessitados. A generosidade nos enche de graça e alegria.

Se Deus o está chamando para a missão, Diga SIM e será feliz. E Deus vai abençoá-lo.

Pe. Manoel Ferreira dos Santos Junior, mSC, Superior Provincial

Teologia da Pequenez

pezezinhoO encantamento faz a teologia. Se o macrocosmo não nos encanta, tampouco a ideia de um Criador mexerá conosco. Se é admirável o que já se vê, mais impressionante deve ser o que não vemos e ainda mais admirável quem fez tudo isso. Se o microcosmo não nos impressiona, tampouco a ideia de um Criador detalhista que sabe de cada fio de cabelo nosso também nos impressionará.

A criança é encantadora e encantada. Tudo o que é maior do que ela, parece muito grande e arranca um “Uau! Puxa! Olha mãe!” Tudo o que é menor, toma seu tempo. Ela vê a formiguinha, o grilo, o ratinho, esquilo que lhe são menores com a admiração de quem vê vida abaixo dela. No dizer de grandes teólogos, entre eles Bento XVI, precisamos redescobrir a teologia da pequenez, ou seja, a teologia do encantamento do pequeno rebanho. (Sal da Terra, Editora Imago).

Crianças tímidas ou arruaceiras acabam se enturmando para ver os peixinhos na praia. Não há para elas a teologia da eleição. Há a teologia da admiração. Muitos peixes e todos juntos. Seu peixe especial nem sempre é o maior. Às vezes é o mais indefeso.

Quando Jesus fala dessa pequenez e diz aos discípulos que tornar-se pequeno é condição para entrar no Reino de Deus, quando deixa claro que não devem disputar os primeiros lugares; que devem servir de bacia e de toalha; que devem aprender a encantar-se e a apequenar-se a ponto de se declararem servos inúteis; que não merecem elogios por terem cumprido o dever, quando repreende os discípulos em disputa por um lugar de honra e, quando põe uma criança entre eles e a aponta como símbolo desta confiança no futuro, sem querer saber quem será o dono dele; na verdade está canonizando não a infantilidade, mas a simplicidade. Saber ser pequeno é coisa de adulto sério.

Tem feito falta esta teologia numa sociedade em que o individualismo invadiu todos os setores da vida. Tem faltado na mídia onde os números, as tabelas de audiência, os ratings e o ibope criam ídolos da noite para o dia e os sepultam com igual açodamento. Tem faltado na religião que também cria semideuses da fé. Deus me mandou dizer-lhes isto! Somos os novos escolhidos. Os outros falharam. Deus tem um recado especial para “você”: ele mandou dizer que “te” ama… Pregações e bilhetinhos desse tipo mostram a falta de uma teologia da pequenez. Onde se abusa das palavras “ especial, mais, maior e melhor”, onde o ibope e o marketing imperam, quase sempre a humildade e a simplicidade vão embora.

Certo estava Bento XVI que, perguntado por Peter Seewald sobre a essência do cristianismo, disse que a estatística não é uma das medidas de Deus! Trata-se de mostrar ao ser humano que ele é amado como indivíduo, mas no seio de da comunidade humana. Mesmo em multidão não somos uma Igreja massificada, mas grão de mostarda que descobre em pequenos grupos, aparentemente sem impacto, as grandes repostas da vida. O difícil é aceitar que somos um entre bilhões, sem ser apenas um a mais e sem nos acharmos mais do que os outros…

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.

www.padrezezinhoscj.com

A missão dos cristãos leigos

cristaosOs Leigos são cristãos que têm uma missão especial na Igreja e na sociedade. Pelo batismo, receberam essa vocação que devem viver intensamente a serviço do Reino de Deus.

Na Igreja existem as diversas vocações: a sacerdotal, a diaconal, a religiosa e a leiga. Todas são muito importantes e necessárias, pois brotam do Batismo, fonte de todas as vocações.

Antigamente, a missão do leigo era relegada a segundo plano, valorizando-se só o sacerdócio e a vida religiosa. Mas depois do Concílio Vaticano 2, a vocação e missão dos leigos foram revalorizadas, conferindo-se-lhes a mesma dignidade dos sacerdotes e religiosos.

Dentro da comunidade eclesial, os leigos são chamados a desempenhar diversas tarefas: catequista, Ministro da Eucaristia, agente das diferentes pastorais, serviço aos pobres e aos doentes. São chamados também a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando de conselhos pastorais e econômicos.

Não como simples colaboradores do bispo e dos padres, mas como membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços para o engrandecimento da Igreja de Cristo.

Apesar desses serviços que desempenham na comunidade eclesial, sua missão mais importante é no mundo. Eles são chamados a realizar sua missão dentro das realidades nas quais se encontram no dia-a-dia.

Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política e da cultura, nos movimentos populares e sindicais, nos meios de comunicação, são chamados a testemunhar, pela palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo. Nessas realidades, são chamados a desempenhar sua missão, necessária e insubstituível.

Por isso o papel do leigo não é ficar o dia todo na igreja, mas ser fermento nesses campos de vida e de atuação, ser “sal da terra e luz do mundo”. Nesses ambientes deve se empenhar para a construção efetiva do Reino de Deus, “um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”, como rezamos no prefácio da missa da festa de Cristo Rei.

O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol dos irmãos, onde há o respeito pêlos outros, onde se luta pela justiça e pela libertação. E tudo isso acontece de modo especial através da atuação dos cristãos leigos.

Quando os leigos assumem de fato sua missão específica, podemos sonhar com uma nova ordem social. O Concílio Vaticano II e os ensinamentos do Papa insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens criados e sanando os males. Felizmente, muitos têm entendido essa missão e se empenhado para bem cumpri-la.

Vemos com muita esperança hoje o crescimento da tomada de consciência por parte de muitos leigos que compreendem essa índole específica de sua missão. Acreditam nela e procuram exercê-la de modo digno e eficiente para que se faça cada vez mais concreta a promessa de Jesus: “O Reino de Deus está presente no meio de vós.”

Na festa de Cristo Rei é importante refletir sobre a corresponsabilidade na construção do Reino. Os leigos devem assumir seu papel, confiantes nas bênçãos divinas.

Devem participar da vida comunitária, buscando nas celebrações, sobretudo na Eucaristia, as forças de que necessitam para bem desempenhar sua missão na comunidade e no mundo.

Através dos leigos, a Igreja se faz presente nos diversos ambientes sociais, impregnando-os da mensagem de Jesus Cristo, semeando os valores evangélicos da solidariedade e da justiça, empenhando-se decisivamente na construção da sociedade justa, fraterna e solidária, sinal do Reino de Deus.

Dom João Bosco Óliver de Faria

Para Meditar….

revistaViver é cantar.
E cantar é saber ouvir.
É saber baixar o tom, quando necessário,
Saber cantar junto, para que haja harmonia.
É aceitar que a vida lhe dará solos
Para que você possa brilhar,
Mas que também lhe cobrará o seu silêncio
Para apreciar o cantar do outro.
É ter consciência de que estamos num imenso coral
E que é imprescindível estar atento ao Maestro,
Para tentar evitar os inevitáveis desafinos…
É aceitar que um dia o concerto acabará
E que não depende de nós o momento de parar… 

Por isso, cante!
Cante como se fosse a última canção,
E aproveite o prazer de fazer vibrar
Cada fibra do seu corpo em beleza e arte.
Porque, sim, viver (e conviver) é arte.
Assim,
Valerá a pena todo o esforço que a arte nos cobra,
E as vaias de alguns
Certamente serão encobertas pela multidão
Que nos aplaudirá.

Fernando Clemente, MSC