Revista de Nossa Senhora
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Mãe, não quero nada

interna4Mãe, não quero nada,
Vim apenas te ver.
Não leves a mal que
eu esqueça os pedidos que
me fizeram para eu te fazer.
Não é egoísmo, Senhora, e a
prova é que não farei também
nenhum pedido para mim,
nem desejo serenar-me,
contemplando teu rosto sereno.
Em nome de todos os homens
que vivem te suplicando,
Em nome de todos os irmãos que já se aproximam de ti de mãos estendidas,
Deixa que eu esqueça um momento o
vale de lágrimas, a terra das tristezas,
Nossa miséria de mendigos,
Nossa pobreza de criaturas,
nossa tristeza de pecadores,
Para saudar-te, Rainha dos Anjos,
Virgem-Mãe de Deus!
Bendito seja o Criador de tuas mãos
sem mancha por onde passa toda a luz
Que tomba sobre a escuridão dos homens!
Bendito seja o Criador de teu olhar boníssimo que tem o dom de
acender a esperança das almas desalentadas, nos corações
em desespero, à beira do abismo,
do irremediável, do fim!
Bendito o Criador de tua sombra
suavíssima pois já notei, Mãe querida,
Que basta a tua lembrança,
o teu perfume para encher a solidão
da vida, a solidão do homem.
Mãe, não quero nada.
Vim apenas te ver.
 
Dom Helder Câmara

Novembro de 2015

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A Missão Incompleta

interna1Quem visita Kerala, na Índia, faz contato com as comunidades católicas de rito siro-malabar, cuja origem é atribuída à presença do apóstolo São Tomé, que ali viveu e morreu, ainda no primeiro século da Igreja de Jesus Cristo. Seu notável périplo obedecia ao último mandato de Jesus: “Ide e fazei para mim discípulos de todas as nações”. (Mt 28,19.)

Já no Século XVI, exatamente em 6 de maio de 1542, desembarcava da nau Santiago, no porto indiano de Goa, o nobre espanhol, hoje conhecido como o santo jesuíta, Francisco Xavier. Além da Índia, o discípulo de Inácio de Loyola evangelizou na Malásia, Sri Lanka, Indonésia Oriental, Japão e China, onde morreu. Passados vinte séculos do imperativo de Jesus Cristo, como anda a missão de anunciar a Boa Nova? Os demógrafos avaliam em 7,2 bilhões de pessoas a população do planeta Terra. Apenas seis nações reúnem quase a metade desse total: China, Índia, Japão, Indonésia, Bangladesh e Paquistão. Teriam ali ouvido o anúncio do Evangelho? Dessa população inteira apenas três por cento aderiram ao Salvador, que deu sua vida por nós.

Tudo indica que faltaram missionários suficientes para o anúncio desejado por Jesus Cristo. Já em sua época, Francisco Xavier clamava pela presença desses missionários. Em uma de suas cartas, datada de 1542, ele escrevia: “Percorremos as aldeias de neófitos, que receberam os sacramentos cristãos há poucos anos. Esta região não é cultivada pelos portugueses, já que é muito estéril e pobre; e os cristãos indígenas, por falta de sacerdotes, nada sabem a não ser que são cristãos. Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam cristãos, simplesmente pela falta de quem os faça tais. Veio-me muitas vezes o pensamento de ir pelas academias da Europa, particularmente a de Paris, e por toda parte gritar como louco e sacudir aqueles que têm mais ciência do que caridade, clamando: ‘Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do céu, por vossa culpa se precipitam nos infernos!’Quem dera que eles se dedicassem a esta obra com o mesmo interesse com que se dedicam às letras, para que pudessem prestar contas a Deus da ciência e dos talentos recebidos!”

Sei que os tempos são outros. Talvez nem acreditem mais no inferno. Em defesa das culturas locais, talvez acusem o Evangelho de força de destruição. Mas de uma coisa eu tenho certeza: a missão está incompleta…

Antônio Carlos Santini, Comunidade Nova Aliança

Testemunhar a Fé com Alegria

interna3Vivemos num tempo em que se fala muito em crise vocacional na vida sacerdotal e religiosa. Também notamos a dificuldade que muitas paróquias vêm enfrentando com a falta de agentes de pastoral ou lideranças comunitárias que estejam realmente dispostas a se dedicarem pela vida e ação evangelizadora da Igreja. A missão da Igreja é missão de todos e de cada um de nós, é compromisso de todo cristão batizado assumir na Igreja o seu lugar na dinâmica da anunciação do Evangelho de Cristo e na construção do Reino.

A falta de compromisso e os muitos afazeres do dia a dia estão fazendo das pessoas meras expectadoras eclesiais, utilizando-se da Igreja como prestadora de serviços. Não sabem que a ação missionária da Igreja é muito mais que um serviço eclesial prestado, mas uma prática que significa e resignifica a vida, dando-lhe sentido, valor, ordem e maturidade na fé. Também não podemos confundir esta ação com um mero voluntariado, mas uma missão batismal e vocacional dada pelo próprio Cristo a cada pessoa para que o mundo o conheça e creia.

A vida pastoral dentro da Igreja deve ser entendida como uma experiência pessoal de fé que foi colocada em prática. São inúmeros os movimentos e pastorais dentro da Igreja e neles há espaço para todas as pessoas com suas qualidades, habilidades e dons que, partilhados, constroem uma nova civilização.

Para Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, “urge apresentar aos jovens e adolescentes os distintos caminhos do serviço do Senhor e do seu Reino: como leigos engajados nos diversos âmbitos da vida social; casados que assumem o compromisso do matrimônio; consagrados por causa do Reino dos Céus; e ministros ordenados a serviço do povo, nas diversas comunidades de fé… É necessário que nas diversas dimensões da vida social haja pessoas leigas, comprometidas com a fé, dispostas a cooperar em construir um mundo um pouco melhor para as futuras gerações”.

De fato, quando falamos em missão da Igreja estamos falando da vocação de cada cristão que forma assim o rosto missionário da Igreja de Cristo. Ninguém está de fora ou dispensado do seu compromisso evangelizador. Para isso, é necessário desmistificar essa ideia de que vocacionadas são somente aquelas pessoas que se dedicam aos ministérios ordenados ou à vida consagrada. Na verdade, a vocação é um chamado a toda pessoa batizada e inserida numa comunidade de fé. Os leigos e as leigas das nossas comunidades precisam descobrir este caminho de serviço e doação como um caminho de auto-realização pessoal e ministerial da Igreja. E o nosso desafio é plantar essa semente no coração das nossas crianças e jovens para que venham a ser cristãos adultos conscientes e comprometidos com a sua fé.

Nenhuma pessoa realmente feliz anda pelos cantos carrancuda e de mal com a vida. Um rosto alegre contagia e é um grande testemunho da alegria que brota do seguimento de Cristo. Se a vida consagrada, os ministérios ordenados e não ordenados testemunhassem no dia a dia, com alegria e serenidade no rosto, de que Cristo vale a pena, certamente teríamos mais vocações para toda a nossa Igreja.

Pe. Girley de Oliveira Reis, MSC, trabalha na Diocese de S. Gabriel da Cachoeira/AM