Revista de Nossa Senhora
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Edição Setembro de 2012

CAROS LEITORES,

Vai aqui mais um número de nossa revista, aquele esquema que vocês conhecem bem, sem grandes pretensões, temática simples, estilo-família, como convém aos devotos de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Assim, vocês vão saborear as páginas missionárias, discorrendo sobre a obra de nossos confrades na Amazônia e no Equador; tem a página de Catequese, Santuário em seu Lar, a coluna do Padre Zezinho, a poesia do Frater Fernando, a espiritualidade do Sagrado Coração, da lavra do Padre Cortez, a página do Bispo, Dom Agenor Girardi, o texto sempre aguardado sobre Maria, a página vocacional, a dos Devotos, o Pode Perguntar, tentando resolver algumas questões postas pelos leitores, e tantos outros artigos que vocês se acostumaram a ler e apreciar.

Mas, nesta edição, eu gostaria de chamar a sua atenção para a página sobre Liturgia, do Frater Michel, tratando do “Sacrosanctum Concilium”, um dos grandes documentos do Vaticano II, e, por extensão, lembrar esse belo acontecimento eclesial que este ano está completando seu cinquentenário. Como seria bom se pudéssemos ler ou reler alguns desses documentos, por exemplo, a “Gaudium et Spes”, (Alegria e Esperança) e a “Lumen Gentium” (Luz dos Povos), os quais, entre outros, vieram mostrar a guinada importante nas orientações de nossa Igreja, que teve a humildade de dialogar com o mundo e buscar soluções para problemas contemporâneos, redescobrindo a mensagem original do evangelho e renovando estruturas disciplinares.

Só assim, já dizia o Papa Paulo VI, reavivaremos o espírito do Concílio, fazendo com que aquelas sementes de vida lançadas no campo que é a Igreja, cheguem à plena maturidade.

Vamos tentar? Fica aí o convite!

A REDAÇÃO.

MARIA, missionária por excelência

É comum ouvir-se a expressão “Maria passa na frente” entre os católicos. Não é raro ouvi-la entre os pedidos e intercessões recorrentes à Maria por ocasião de uma viagem, trabalho ou projetos pessoais. Maria é sempre lembrada porque é vista como a companheira fiel, a intercessora, aquela que de uma maneira ou de outra protege.

Mesmo sabendo que Maria não recebeu de Jesus a missão apostólica como os doze, ela é reverenciada pela Igreja como a primeira missionária. Um título que tem sua razão de ser porque desde o momento da saudação do anjo ela iniciou a sua missão de servir. A partir de então fez de sua vida uma total dedicação ao projeto de Deus: coloca-se, por isso, a caminho e visita a sua prima Isabel em estágio avançado de gravidez; nas bodas de Caná foi a intercessora; na cruz assumiu cada um de nós como filhos e em Pentecostes, sustentou os discípulos para o bom êxito da missão que lhes foi confiada.

A Igreja procura seguir este exemplo de Maria suscitando em seu seio o caráter missionário. Através da convocação e do envio de Jesus, ela assume como os discípulos a propagação da Palavra onde quer que vá. Portanto, como Maria, somos missionários por excelência.

O Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração procura cumprir este legado deixado por Jesus através dos trabalhos missionários que visam estar na casa das pessoas, participando de suas vidas e alimentando-as com a semente da fé. Tendo o papel missionário de Maria como pano de fundo, as Capelinhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração cumprem este ministério de ir até o outro levando uma mensagem de esperança. Em cada casa visitada, uma história de fé é conhecida e testemunhada. As visitadoras e zeladoras das capelinhas contam, em cada encontro, uma experiência vivida com histórias de superação, força e devoção a Maria.

É um movimento simples, que faz um trabalho sem alardes e sem grande publicidade. Um trabalho feito no silêncio, na dedicação e pautado na intercessão de Nossa Senhora. São 20 capelinhas que visitam as famílias de nossa paróquia e diversas ruas e bairros próximos que não pertencem ao nosso Santuário. É a devoção que ultrapassa limites geográficos e assume um papel de protagonismo na vida de muitas pessoas.

A primeira Capelinha de Nossa Senhora surgiu há mais de vinte anos e, desde então, famílias inteiras são contempladas com este movimento. A primeira capelinha ainda existe e está aqui em nosso Santuário e por ela, muitos apresentaram a Deus as suas súplicas e agradecimentos. Nela, está contido um universo de orações e simboliza, portanto, a filiação que todos sentem, o acolhimento que todos esperam e a salvação pela qual ela pode interceder.

Com a mesma intensidade é a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora do Sagrado Coração quando vai às paróquias e se encontra com os devotos que a esperam. É Maria que vai à frente e prepara os caminhos. É o amor de mãe que zela pelos filhos que a veneram.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração em Vila Formosa, São Paulo, SP

Mansão dos mortos, O QUE É?

“Padre, sempre recito o Credo na missa e digo que creio que Jesus desceu à Mansão dos Mortos, mas para dizer a verdade, nunca entendi direito o sentido dessa expressão. O Sr. poderia explicar? Obrigado”.  José Carlos Ferruccio – Londrina – PR. – por e-mail

José Carlos, você tem razão, essa expressão pode confundir as pessoas e você teve a franqueza de perguntar sobre esse artigo de nossa fé. Antes costumava-se rezar: “Jesus desceu aos infernos”, no sentido de lugares inferiores, debaixo da terra, segundo o imaginário popular que sempre viu o céu como um lugar físico, lá nas alturas, e o inferno lá em baixo. Era até uma ofensa aos habitantes do Japão, nossos antípodas …

Mas antes, o Credo afirma que Jesus foi sepultado, o que parece óbvio, mas era um problema para aqueles hereges, os docetistas, que diziam que Cristo não tinha um corpo em carne e osso, mas era apenas aparência, um fantasma.

São Paulo, em sua carta aos Hebreus, seus compatriotas, diz que:” pela sua morte, Cristo expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida, pois onde há testamento é necessário que intervenha a morte do testador.Um testamento só entra em vigor depois da morte do testador. Permanece sem efeito enquanto ele vive.”(Hb. 9, 15 b-17). Pedro, em sua primeira carta, lembra que ”é nesse mesmo espírito que Cristo foi pregar aos espíritos que estavam retidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. (Pd. 3,19)

O Catecismo da Igreja Católica, expressando e confirmando esssa doutrina, afirma:” a Morada dos Mortos para a qual Cristo morto desceu, a Escritura denomina os Infernos, o sheol ou o Hades, visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor. O que não significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no seio de Abraão. São precisamente essas almas santas que esperavam o seu Libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos Infernos. Jesus não desceu aos infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido.”

J. Carlos, fica assim claro que, descendo à região dos mortos, Jesus cumpre em plenitude o anúncio evangélico da salvação. Ninguém fica de fora, a todos é dada a oportunidade de conhecer a Cristo e, livremente, aceitá-lo ou rejeitá-lo. Quando Pedro se refere aos rebeldes dos dias de Noé, supõe-se que eles já tinham se convertido.

Antònio Carlos Santini, escritor e jornalista católico, no seu estilo de poeta-teólogo, falando do mistério da descida, do Filho de Deus que desce do céu até nossa miséria, desce no lava pés, desce da cruz e à mansão dos mortos, escreve, em seu livro “Creio, as Razões da Esperança”: “ … o motivo principal de sua ‘descida’ é que nós, humanos, não somos capazes de galgar as alturas urânicas e fazer de Deus nossa presa. Conhecendo com que dificuldade rastejamos penosamente sobre o húmus original, exatamente aquele que nos faz ‘humanos’, o Logos divino inicia seu interminável mergulho descendente”. Mais adiante ele diz: “… a insistência dos cristãos a respeito dessa ‘visão’ do Senhor no Xeol deve-se à necessidade de proclamar a universalidade da Redenção. Mesmo os homens e mulheres que viveram antes de Cristo têm a oportunidade de acolher ou recusar o Messias. Assim, já livre das barreiras do tempo e do espaço, Cristo visita os mortos, mostra-lhes suas chagas e espera que cada um dos visitados lhe diga um “sim” ou um “não” definitivo.Esta é a nossa fé: a salvação é universal!

José Carlos, dessa vez limitei-me a citar a Bíblia, o Catecismo e o escritor católico. Mas está tudo aí. Agradeçamos a Deus que nos revelou realidades tão bonitas e procuremos vivê-las na alegria e na esperança.

Padre Humberto Capobianco, MSC, é Diretor do Colégio John Kennedy, em Pirassununga, SP