Revista de Nossa Senhora
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Se as igrejas se calarem

home4Se as Igrejas se calarem, as Igrejas pecarão.
Menores abandonados, crianças cheirando cola.

Se as Igrejas não falarem, as Igrejas pecarão.
Erotismo contra a infância, violência na TV.

Nudismo por toda parte, nas praias e nas novelas. Tortura, roubo e sequestro,
corrupção nos governos.

Gente sem terra e sem teto, crianças fora da escola. Hospitais desativados, doentes não atendidos.

Chacinas e genocídios, guerras por causa
de terra. Fanatismo religioso, religião
ferindo a outra.

Se as Igrejas se calarem,
as Igrejas pecarão.

Revistas de erotismo, na
mão de nossos meninos.

Trabalho escravo no campo,
salário quase de fome.

Pe. Zezinho, SCJ

Setembro de 2014

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Milagres Eucarísticos: Sena – Itália 1730

Kerkje in Welschnofen, Zuid-Tirol, ItaliëEm todo milagre eucarístico há um dado curioso. Uma curiosidade saudável já que os nossos olhos nunca ultrapassam o mistério de Deus. Em Sena, Itália, o curioso é que o milagre acontece independente de uma pessoa pela sua incredulidade, mas por um ato de violência contra a fé.

Narra-se que um grupo de ladrões rouba, em Sena, o cibório de prata onde ficavam reservadas as partículas consagradas. Dias depois as hóstias foram encontradas num cofre de esmolas de outra Igreja. Em reparação a este ato os fieis levam em procissão, precedidas pelo pároco, as hóstias roubadas e as depositam no sacrário. O que era para ser um simples ato de reparação transforma-se num milagre. Isso aconteceu no ano de 1730. Cinquenta anos depois, ao examinarem as hóstias consagradas percebeu-se que elas estavam intactas e com o mesmo frescor de quando haviam sido feitas.

A divulgação do fato fez com que a Igreja providenciasse uma análise mais apropriada por cientistas que constataram que o fato de conservação não tinha outra explicação a não ser um milagre. Para tanto foi providenciado um teste onde colocaram o mesmo número de partículas do referido milagre numa caixa fechada e dez anos depois a abriram. Só encontraram restos putrefatos e pequenas partículas amareladas

Tantos outros testes foram realizados e o mais importante deles foi em 1914, tendo participado um dos mais renomados cientistas da época, professor Siro Grimaldi, que após o exame das hóstias lançou um livro com o título Um cientista que adora explicando que a farinha é o grão que mais acolhe fungos e parasitas com mais rapidez e, no entanto, aqueles fragmentos de trigo estavam incorruptíveis.

A farinha, que pensamos ser um mero produto do trigo, após a consagração torna-se o verdadeiro corpo de Cristo. O Milagre Eucarístico é fonte de inspiração para que a nossa fé não se perca em dúvidas sem sentido. O que prevalece não é o trigo, mas o mistério que surge por detrás dele. É o Corpo de Cristo que se dá a cada um de nós. Sem tempo e sem reservas.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, SP.

A arte da jardinagem

MINOLTA DIGITAL CAMERASophia de Mello Breyner escreveu: «Em todos os jardins hei de florir…». Acho que a podemos compreender bem, pois quem conhece minimamente o seu próprio coração sabe quanto ele se assemelha a um jardim. Por saber isso é que nos tornamos, claro está, nos primeiros interessados na peculiar arte de jardinagem que é o cuidado do nosso mundo interior. Há uma passagem bíblica, de um dos livros sapienciais, que traduz o que, a esse nível, nos cabe fazer. Diz assim: «Regarei as plantas do meu jardim e saciarei de água os meus canteiros» (Eclo 24,30).

A arte de jardinagem pede de nós três coisas. A primeira delas é o autoconhecimento. É necessário que nos debrucemos sobre o nosso mundo interno, antes de tudo para reconhecê-lo. Lembro-me de uma pergunta de Marguerite Yourcenar: «Quem pode haver tão insensato que se deixe morrer sem ter dado, pelo menos uma volta à sua prisão?». Se isto é verdade, em relação aos nossos limites (à nossa prisão), quanto mais em relação à nossa alma. Vivemos na época da grande mobilidade. A paisagem encheu-se de aeroportos, estações, vias rápidas. Não sei, contudo, se nos tornou mais disponíveis para essa que é a grande viagem: a descida ao íntimo do coração. Às vezes a sensação é que nos tornamos estrangeiros de nós próprios.

A segunda tarefa desta arte de jardinagem é, chamemos-lhe assim, uma solicitude ativa. O «principezinho», o irrequieto alter-ego de Saint-Exupéry, ajuda-nos a concretizar isto de que falamos. É a propósito dos embondeiros. Cito: «No planeta do principezinho, havia como em todos os planetas, ervas boas e ervas daninhas. E por conseguinte boas sementes de ervas boas e más sementes de ervas daninhas. Mas as sementes são invisíveis. Dormem no segredo da terra até que uma delas se lembra de despertar… Se se trata de um rebento de rabanete ou de roseira, podemos deixá-lo crescer à vontade. Mas no caso de se tratar de uma planta daninha, é necessário arrancá-la imediatamente mal formos capazes de a reconhecer. Ora, existiam sementes terríveis no planeta do principezinho… eram as sementes dos embondeiros. O solo do planeta estava infestado delas. Se não arrancarmos o embondeiro a tempo nunca mais nos conseguimos desembaraçar dele. Atravanca o planeta todo».

A terceira etapa da nossa arte interior é o florescer. Não podemos estar a vida inteira em busca de conhecimento, mesmo se um bom quinhão de teoria não faça mal a ninguém. Nem podemos ficar apenas pela enérgica sacudidela do pó que se amontoa e torna tudo ilegível. Há estações interiores em que só nos falta isto: florir. Também aqui aprendamos dos jardins alguma sabedoria. As flores, por exemplo, não nascem apenas nos canteiros demarcados. Também acontece (e às mais belas) brotarem à beira dos caminhos ou fora de tempo. Numa das inesquecíveis passagens diarísticas de Raul Brandão ele conta o seguinte: ainda hoje recordo «aquela laranjeira que, de velha e tonta, deu flor no inverno em que secou».

(Obs.: Catequista é também jardineiro que ajuda o catequizando a conhecer o próprio coração…)

Pe. José Tolentino Mendonça, teólogo e poeta

Comunidades novas: Leigos em ação

site1Volta e meia faço contato com pessoas descontentes com a Igreja. Quando pergunto o motivo, relatam as mazelas de sua paróquia. Sempre respondo com as mesmas palavras: “A Igreja é maior que sua paróquia”.

Este ponto me parece da maior importância: se confundo a Igreja com o espaço geográfico de minha paróquia, posso de fato ficar desanimado. Se, ao contrário, alargo o campo de minha observação, vejo os hospitais mantidos por freiras, as creches, escolas, orfanatos, clubes de mães, centros sociais animados por congregações e ordens religiosas – todos eles sinais de uma Igreja viva e a serviço dos mais pobres.

E se estes “sinais” de vida não bastarem, é tempo de abrir os olhos para uma grande “novidade” da Igreja: as Comunidades Novas. A primeira delas foram os Foyers de Charité, inspirados já na década de 1930 a uma leiga francesa – Marthe Robin – com a cooperação de um sacerdote – o Pe. Georges Finet. Os Foyers de Charité são comunidades de leigos que formam uma família, tendo Nossa Senhora como mãe e um sacerdote como pai.

Jesus revelou a Marthe seu desígnio de criar comunidades de leigos como parte de um “novo Pentecostes de amor”. Curiosamente, a oração redigida por João XXIII para a preparação do Concílio Vaticano II, em 1959, trazia a mesma expressão: “novo Pentecostes”. Em seus primeiros contatos com o Pe. Finet, Marthe acentuou o papel preponderante a ser exercido pelos leigos na renovação da Igreja.

Logo após o Vaticano II, começaram a “pipocar”, aqui e ali, sempre em maior número e com variados carismas, as Comunidades Novas, que o Documento de Aparecida avalia como “um dom do Espírito Santo para a Igreja” (DA, 311). Ali, “os fiéis encontram a possibilidade de se formar cristãmente, crescer e comprometer-se apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários” (Ibid).

E ainda: “Os movimentos e novas comunidades constituem valiosa contribuição na realização da Igreja particular. Por sua própria natureza, expressam a dimensão carismática da Igreja”.(DA, 312).

As Comunidades Novas surgem nos mais variados ambientes: uma faculdade de artes (Nova Aliança, São Paulo), uma universidade federal (Pequena Via, Viçosa, MG), uma paróquia de periferia (Aliança de Misericórdia, São Paulo), uma lanchonete (Com. Shalom, Fortaleza, CE). O carisma de fundação pode ser dos mais variados, passando da evangelização pelos meios de comunicação (Canção Nova) até a obediência à Igreja (Nova Aliança, BH) e a acolhida em família de deficientes físicos e mentais (Arca, de Jean Vanier; Jesus Menino, de Tonio, Petrópolis).

Exemplo notável dessas associações de leigos é a Comunidade Aliança de Misericórdia: em sete anos de existência, já reunira 300 rapazes e moças que deixaram família, trabalho e estudos para seguir a missão que lhes era apresentada pelos fundadores, os missionários italianos Pe. Antonello e Pe. João Henrique.

A comunidade assim se apresenta em seu site: “A Aliança de Misericórdia se insere em todos os ‘bolsões’ de pobreza, e aí busca libertar as pessoas de toda estrutura de pecado e miséria em que se encontra. Dentre os trabalhos que desenvolvemos, temos: 23 casas de acolhida para moradores de rua e dependentes químicos; 450 acolhidos; 4 centros de assistência à população de rua, sendo atendidos 18.300 moradores de rua por mês; 340 crianças atendidas em 3 creches; 2 milhões e 160 mil refeições distribuídas todo ano; 36 centros de evangelização no Brasil e 2 no exterior, evangelizando cerca de 100 mil pessoas por ano no Brasil, e 24 mil no exterior; evangelização nos presídios, Fundação CASA, garotas de programas, além de retiros querigmáticos para jovens, casais, crianças”.

Caro paroquiano, seja gentil e procure ampliar os seus olhares. Um abraço.

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança