Revista de Nossa Senhora
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Você acessou a Edição Setembro – 2015

Tua Palavra

home4Meu Senhor e meu Pai!
Envia teu Santo Espírito
para que eu compreenda
e acolha tua Santa Palavra!
Que eu Te conheça e Te faça conhecer,
Te ame e Te faça amar,
Te sirva e Te faça servir,
Te louve e Te faça louvar
por todas as criaturas.
Faze, ó Pai, que pela leitura da palavra
as pessoas se convertam,
os justos perseverem na graça
e todos consigamos a vida eterna.

Amém.

Setembro de 2015

capa-aprovada

O dedo de Deus e o dedo dos homens

home3A mão humana é uma das maravilhas da Criação. Seus dedos são muito úteis. O anular carrega o anel, símbolo da autoridade. O mindinho, discreto, limpa os ouvidos. Os polegares matam piolhos. Mas é o indicador quem mais trabalha…Do latim index [daí a palavra “índice”], o dedo indicador tem a função óbvia de apontar, “indicar”. De tão importante, chegou a dar nome a um modo verbal, o indicativo. Em tempos primordiais, foi usado para escrever.

É assim que, no Livro do Êxodo, aprendemos que a Lei de Deus, entregue a Moisés nas alturas do monte, foi obra do dedo de Deus: “Quando Deus acabou de falar com Moisés na montanha do Sinai, deu-lhe as duas tábuas da Aliança. Eram tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus”. (Ex 31,18.)“Escrever na pedra” é sinônimo de escrever de modo definitivo, durável, indelével. E os Padres da Igreja identificaram esse “dedo” divino com o Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade: “digitus paternae dexterae” [dedo da mão direita do Pai]. Podemos entender que a redação dos mandamentos foi uma espécie de pirogravura, uma Lei pétrea, gravada a fogo.

No capitulo 8º do Evangelho de São João, naquela passagem infelizmente conhecida como da “mulher adúltera”, podemos ver a importância do dedo indicador. Um grupo de fariseus e de escribas (exatamente aqueles que escrevem) arrastam até Jesus uma jovenzinha apanhada em adultério. Ela devia ser noiva, pois queriam apedrejá-la, conforme Dt 22,23. Já as casadas, deveriam ser enforcadas, segundo o Sifrei 163 dos rabinos talmúdicos.Arrojam a garota ao solo, na poeira do pátio do Templo, cercam-na como uma matilha de lobos e apontam para ela com o indicador que acusa: “Moisés mandou apedrejar esta mulher”. A seguir, o mesmo dedo indicador se volta para Jesus: “E tu, que dizes?”

A intenção é óbvia: os inimigos de Jesus agem de modo que o pregador da misericórdia venha a entrar em choque com Moisés, isto é, a Lei do Sinai, o que faria dele um herege a ser igualmente punido.Para surpresa de todos, Jesus usa seu próprio indicador: escreve no chão. E nós nos vemos diante de notável contraste: uma Lei gravada na rocha indelével e os pecados escritos na areia fina, moída pelos pés dos peregrinos. Areia fina que o mais leve vento pode mover, apagando a inscrição e anulando a sentença…

Sim. São tempos de misericórdia os tempos da Nova Aliança. Se vai correr sangue, que seja o sangue do Cordeiro. Não o sangue do pecador. Por isso mesmo, diante da insistência dos acusadores, Jesus ergue seu indicador e aponta para eles: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.Vendo-se apontados, bem na mira do dedo indicador do Mestre, eles se vão retirando um a um, a começar pelos mais velhos. Lógico: quem mais viveu, mais pecou. E com uma simples frase, Jesus muda os juízes em réus…

Agora, sim, Jesus pode dirigir seu indicador para a jovem: “Nem um só deles te condenou?” Ela sussurra: “Nenhum, Senhor…” E Jesus recolhe seu dedo indicador para arrematar: “Nem eu te condeno!”Mas o dedo de Deus continua trabalhando. Jesus aponta para o azul do horizonte, onde se abre a perspectiva de uma vida nova, e mostra o rumo a seguir: “Vai… e não peques mais…”

Antonio Carlos Santini,
Comunidade Nova Aliança

Felizes os que ouvem a Palavra de Deus

home2A Sagrada Escritura é a revelação do plano divino de salvação para a humanidade. Abraão, os demais patriarcas, profetas e o povo de Deus caminharam na esperança dessa salvação. Deus revelou seu amor ao seu povo através de acontecimentos, sinais e também pela palavra dos profetas. A história profética e a esperança salvífica de Israel atingem seu auge com a promessa sobre a vinda do Messias libertador, o Ungido de Deus. Num tempo de grande sofrimento, o profeta Isaías, inspirado pelo Espírito de Deus, convida o rei de Judá a pedir a Deus um sinal do seu amor libertador. O rei recusou-se a acreditar e respondeu: “De maneira alguma! Não quero por o Senhor à prova”(Is 7,10-12). Deus, porém, através do profeta, promete este sinal de salvação: “Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel – Deus conosco” (Is 7,14) Essa Virgem é Maria. Isaías contempla o futuro Salvador: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9,5).

Podemos perfeitamente supor que na família em que Maria cresceu essas promessas foram meditadas com frequência, e por todos foram cantados os grandes cantos de Isaías sobre o Servo de Deus. Maria vivia intensamente essa esperança de Israel, já mesmo antes da vinda do Messias. O mesmo Espírito Santo que iluminou os profetas e escritores sagrados, “cobriu Maria com sua sombra, com uma plenitude tão singular a ponto de formar nela o corpo santíssimo de Jesus. Maria é a Mãe feliz que ouviu, guardou no coração e viveu a palavra de Deus. Mais. Ela abrigou o Verbo de Deus: Jesus. (cf Jo, 1,1) “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo,1-14)

“A plena docilidade de Maria ao Espírito Santo é a característica do seu estado de união com Deus. Maria foi plenamente aberta à vontade de Deus. Maria não vive senão para Deus. Observando a vida dela através do Evangelho, nunca a vemos levada por motivos egoístas, por interesses pessoais. É movida por um só impulso: a glória de Deus e os interesses de Jesus. Na sua condição humilde e escondida, no seu trabalho, na sua pobreza, nas dificuldades e sofrimentos que padeceu, nunca Maria pensou em si mesma, jamais deixou escapar um lamento, mas se manteve sempre e inteiramente entregue ao cumprimento palavra de Deus. O Segredo de Maria está em deixar-se em tudo reger e mover pelo Espírito Santo. É assim que devemos imitar Maria: eliminar de nossa vida tudo o que é fruto do egoísmo, amor próprio, orgulho, para viver sob o impulso do Espírito Santo” (Do Livro: Um mês com o Espírito Santo)

Preservada de toda mancha de pecado desde sua concepção, Maria correspondeu sempre à vontade do Pai e manteve-se fiel à sua palavra. Ser como Maria, totalmente aberta à Palavra, ouvindo, acolhendo e respondendo com ações concretas. Deixemo-nos transformar pela Palavra de Deus como fez Maria. Devemos dirigir o olhar para ela, procurar imitá-la, guardar e meditar a palavra e pedir ajuda quando se torna difícil ser fiel. A Palavra ilumina, nutre e direciona nossa vida para o cumprimento da vontade de Deus. “Como um jovem manterá pura a sua vida? Sendo fiel às vossas palavras. Guardo no fundo de meu coração vossas palavras para não vos ofender”… (Sl 118)

Estimado(a) leitor(a), procuremos ter as mesmas atitudes de Maria, ser dóceis à vontade de Deus e acolher Jesus que é Palavra, porque foi em Jesus que o Pai se revelou a nós. Que Maria interceda por nós para que sejamos abertos e acolhedores, a fim de que a palavra de Deus produza frutos em nossas vidas como semente em terra fértil.

Ir. Maria da Luz B. Cordeiro, FDNSC

Bíblia, por uma leitura coerente e madura

home1A Bíblia é a história de um povo com o seu Deus; não de qualquer povo, mas do povo de Deus, escolhido por Ele, para ser exemplo para todos os povos. Israel representa a humanidade caminhando com Deus. Nas suas andanças e desandanças, espelham-se os tropeços da humanidade confrontada com Deus.

Nós somos o povo de Deus, portanto, não podemos ler a Bíblia apenas como devoção individual. Porque somos povo, somos indubitavelmente solidários com os ricos e com os pobres, com os justos e com os pecadores. Andamos todos misturados, carregando o nosso peso e o dos outros, como também os outros carregam o peso deles e o nosso. Completamente misturado: é assim que anda o povo de Deus (cf. Ex 12,38).

Deus é pastor das ovelhas e dos cabritos. Mas, constantemente, o rebanho se recusa a seguir o seu pastor. O povo murmura e se revolta; quer pão, água, carne. E nós somos este povo de Deus; Deus conosco e nós, rebanho, andando e desandando, nos atrapalhando mutuamente e nos ajudando pela presença dos outros, empurrando e empurrados, aos balidos.

Na frente vai o nosso pastor, levando o rebanho rebelde. Mas o pastor também se cansa desta rebeldia constante, “desanima, se zanga e entrega o rebanho aos lobos”, que rasgam ovelhas e cordeiros. A Bíblia não é só narração idílica e pastoril. É também anúncio severíssimo dos profetas, denunciando ao povo os seus pecados e a sua infidelidade e anunciando os piores castigos: destruição completa de Samaria, o Israel do Norte, em 721 a.C.; destruição de Jerusalém e do Templo, em 587 a.C., com o exílio, longe da Terra Prometida. Depois da morte de Jesus, no ano 70 d.C., nova destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos…

Quando nos propomos a ler a Bíblia, é comum nos dedicarmos aos trechos mais “consoladores”, que falam da ternura de Deus, de seu amor pelo povo… Mas podemos ler e refletir somente aquilo de que gostamos e deixar de lado aqueles outros trechos mais severos? Será que ainda é a Palavra de Deus, ou uma antologia piedosa, adoçada, temperada para o nosso gosto e consolo?

Será que temos o direito de ler e meditar somente aquilo que nos agrada e assim retirar da Palavra de Deus sua mensagem essencial, fabricando um ídolo para nosso uso particular e, amiúde, individualista: “Meus problemas, minhas enfermidades, minha família…” Será que não estamos, dessa forma, esvaziando a Palavra de Deus, que proclama a salvação para a humanidade inteira, reduzindo-a a um remédio caseiro para o nosso egoísmo e egocentrismo? Enquanto isso, o mundo inteiro morre e se destrói por falta de conhecimento da Palavra que o pode salvar, e que nós edulcoramos para o nosso “uso tranquilizante”.

Acredito que temos uma obrigação gravíssima de ler e procurar entender a Bíblia inteira – consoladora e severa – para descobrir o plano de Deus para nós e para a humanidade. Não temos o direito de manter essa Palavra cativa, para nosso uso pessoal. Palavra que pertence à humanidade inteira, e da qual somos os depositários, os responsáveis, mas não os proprietários.

Portanto, impõe-se-nos a necessidade urgente de uma leitura adulta e responsável da Palavra de Deus toda, do Gênesis ao Apocalipse, para perceber e entender o que Deus está hoje gritando para nós e, por nós, à humanidade desvairada. Se alguém está se afogando no rio e deixamos de gritar para pedir socorro, será que não temos responsabilidade pela sua morte? A Humanidade passa por temeridades e temos em nossas mãos o remédio que pode salvar eternamente. Será que temos o direito de adocicar esta mensagem, fazendo dela um “chá de erva-doce” para o nosso uso individualista e egoísta, enquanto muitos dela necessitam?

É por este motivo que se deve, cada vez mais, insistir numa leitura realista e mais completa da Bíblia. Diríamos, uma leitura adulta – coerente – , que procure perceber e entender o plano de Deus para a humanidade, para sermos conscientes nesta caminhada, e para que a Bíblia se torne realmente luz para a nossa vida e para a vida dos nossos irmãos.
Redação da Comunidade Shalom – Fortaleza/CE.