Revista de Nossa Senhora
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A IGREJA esta acabando?

Publicado em 29 de outubro de 2014 / Reportagens >

“Padre, ouvi num programa de TV  um comentarista afirmar que a religião está acabando na Europa e que estará acabando no resto do mundo à medida que as pessoas ficarem mais bem informadas pela educação, pela ciência e pela tecnologia. Seria verdade? O que o Sr. me diz.” Glauco Afonso  Meneses – Ribeirão Preto – por e-mail

Caro Glauco, vez por outra, a gente escuta pessoas, nem sempre bem informadas, externando opiniões sobre Igreja e religião. É verdade que a Europa, baluarte do cristianismo no ocidente, nos últimos anos, por conta do grande progresso e bem estar material, foi perdendo o antigo vigor a ponto de se falar em um início de descristianização. Em alguns países, por exemplo, se lê, nos ônibus, a inscrição: ”Deus provavelmente não existe”. Até mesmo na França, chamada “La fille ainée de l’Église’, a filha mais velha da Igreja, terra de grandes santos e sábios, católicos ilustres como Pasteur, Paul Claudel, Jérôme Lejeune e tantos outros, os cristãos têm sido vítimas de discriminação por parte de autoridades, isto sem falar de caricaturas de Cristo e zombaria anti-cristã no dia a dia dos meios de comunicação. Diante dos afagos às minorias judaicas, muçulmanas e budistas, os católicos se sentem os novos excluídos da sociedade…

Até aí, de fato, há nuvens sombrias no horizonte, mas não é de hoje que se prega a crença em um ateísmo universal, uma evolução a partir da educação e cultura para todos, algo que nunca se concretizou. Tais pregadores se esquecem de que as pessoas religiosas também se valem do progresso e usam com grande habilidade esses recursos da ciência e da tecnologia…

Em contraposição a essa situação de crise, sabe-se também que, segundo pesquisadores insuspeitos como Kathleen Norris, Eugene Peterson e outros, em países de maioria tradicionalmente atéia, como Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia, a porcentagem de ateus tem diminuído sensivelmente.Veja a Suécia: em 1999, 85% se diziam ateus;em 2001, eles eram 69% e, em 2004, 64% de ateus assumidos. De outro lado ou, como consequência disso, tem havido um número crescente de grupos cristãos fundamentalistas. Quem diria!

Contudo, Glauco, a Igreja também tem culpa no cartório. Explico-me: quantas diretrizes e inspirações do Vaticano II ficaram pelo caminho! Junte a isso os escândalos, os casos de pedofilia, durante tanto tempo acobertados pelas autoridades eclesiásticas; as posições inflexíveis sobre temas de sexualidade, contraceptivos, a situação de casais divorciados e o acesso à comunhão daqueles que se casaram de novo, casais homossexuais e outros casos mais. Numa palavra, é caso de conversão. Daí que o mundo olha com esperança o ministério do Papa Francisco, um homem sensível ao sofrimento das pessoas e aos problemas da família, razão pela qual, em boa hora, convocou o Sínodo Extraordinário dos Bispos, com enfoque especial nessa temática tão importante.

Glauco, vale lembrar aqui as palavras de São João XXIII, após a convocação do Concílio Vaticano II, quando muitos pensavam que sua finalidade principal fosse a união dos cristãos: “o primeiro e principal escopo do Concílio é apresentar ao mundo a Igreja de Deus em seu perene vigor de vida e de verdade… só depois poderemos dizer aos nossos irmãos separados: esta é a vossa casa, esta é a casa dos que levam o sinal de Cristo”. Pois é, conversão em primeiro lugar.

Padre Humberto Capobianco MSC, é Diretor do Colégio John Kennedy em Pirassununga, SP.