Era o ano de 1949. Eu tinha cinco anos de idade. Meu pai mostrou-me o mapa da Europa e apontou com o dedo para a Iugoslávia, dizendo:
- Este país é a união de vários outros países. Foi o Marechal Tito que criou a Iugoslávia. Mas isso não vai durar…
Verdadeira profecia, antecipando-se à fragmentação já verificada entre Sérvia e Croácia, Bósnia e Montenegro, Macedônia e Eslovênia.
Cito apenas, entre tantos, um exemplo do trabalho de formação que meu pai realizava com os dois filhos. Aos cinco anos, eu já sabia ler e escrever, graças a sua atuação como alfabetizador, utilizando o moderníssimo método pedagógico do… jogo da forca! Em sua mesa de trabalho, na subestação elétrica da Rede Mineira de Viação, o encarregado jogava forca com os filhos. Só para facilitar as coisas, extraía do painel umas palavrinhas como Siemens, Worthington e Brown Boveri…
Quando passei pelo exame de admissão ao ginásio, já no colégio interno, aos dez anos e meio, os veteranos me cercavam para perguntar o nome das capitais. França? Paris! Inglaterra? Londres. Sem excluir Liechtenstein, Andorra e San Marino.
Quem me ensinou? Meu pai. Em um bloco usado da RMV, ele me punha a copiar a lista de países e capitais. Como recreio, a escalação do Vasco da Gama, em letras de imprensa, no sistema WM: Barbosa, Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Heleno (ou Ipojucã) e Chico.
Não havia televisão, mas era em companhia de meu pai que acompanhávamos pelo rádio as Aventuras do Anjo, Jerônimo, o Herói do Sertão, e o Balança, mas não cai. Se meu pai ia jogar bilhar, levava os dois filhos como assistentes. Se ia ao treino de futebol, lá estávamos nós. Na foto do Andradina Futebol Clube, eu apareço como mascote, trajando a camiseta vermelha. Na hora da pescaria, nunca nos deixava em casa; e cortava para os dois filhos, em pequenos cubos, o saboroso queijo Dana, que a custo repartíamos com os lambaris.
Bons tempos! Um pai que estava ao lado, acompanhava e estimulava os filhos, sem espaços particulares proibidos aos pequenos.
Se me permitem, vou perguntar: – “Pais, até quando vocês deixarão seus filhos desperdiçarem o seu potencial, gastando o precioso tempo com TV e joguinhos eletrônicos? Não dispõem de tempo para conviver com os filhos?”
Sei que o mundo mudou. Os pais também mudaram. Mas não seria o caso de corrigir mudanças que fazem mal?
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.