Revista de Nossa Senhora
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Vinde e vede: Os três primeiros discípulos

Publicado em 30 de setembro de 2015 / Reportagens >

interna-out-1A grande expectativa

É o terceiro dia desde o interrogatório feito a João Batista, o qual se encontra no mesmo local do dia anterior. Ele é um profeta estático. Não vai ao encontro das multidões. Não fica andando de um lugar para outro. Permanece ali no outro lado do rio Jordão, em Betânia, enquanto dura a sua missão, que só termina quando Jesus começa a sua. Assim que Jesus tiver passado adiante dele, não aparecerá mais nesse local. João Batista não está sozinho, mas acompanhado de alguns discípulos, que escutaram seu anúncio e receberam o seu batismo. O evangelista João diz que, naquele momento, João Batista estava acompanhado de dois discípulos. Eles pertencem a um grupo mais numeroso. Assim como João Batista, os discípulos também estão na expectativa. Ele já tinha reconhecido o Messias, mas os discípulos ainda não.

Jesus volta ao local  do seu batismo

A passagem de Jesus naquele local não é casual, pois tem uma força que atrai e cativa.. Jesus se coloca adiante, toma seu lugar já previsto por João Batista. É o momento da mudança. João Batista fica para trás. Ele deixa de ser precursor, porque Aquele que foi anunciado está começando o seu ministério público. João Batista pronuncia sua declaração solene na presença de dois discípulos. Repete o que já tinha afirmado a todo o povo: – “Eis o Cordeiro de Deus” (João 1,36). Nesta afirmação já está implícito, que este trará a libertação definitiva, pois a expressão “Cordeiro de Deus”, quer dizer, “Filho de Deus”. João Batista não fala aqui que, será ele que vai tirar o pecado do mundo.Aqui só define Jesus com duas palavras – “Cordeiro de Deus”. – Não faz um longo discurso para convencer seus discípulos. De uma forma livre e generosa, João Batista cede a Jesus seus discípulos e sai de cena

Os dois primeiros discípulos:

A reação dos dois discípulos é imediata. Eles entenderam a mensagem de João Batista. Um é André e o outro, pelo que podemos deduzir, é o próprio João, autor do evangelho. Seguir a Jesus indica o desejo de viver com ele e como ele, aceitar seus ensinamentos e fazer parte de sua missão. O verbo “seguir” significa caminhar junto com alguém que aponta o caminho e que dá uma direção na vida. Este verbo expressa a resposta dos discípulos diante da afirmação solene de João Batista. Os dois finalmente encontram a quem esperavam e, sem vacilar, a ele aderem imediatamente. Aqui no evangelho de João, não se fala que eram pescadores, como fazem os sinóticos (Mateus 4,18-22), mas são apresentados como discípulos já instruídos e preparados para o seguimento do Mestre. É uma decisão sem retorno.

O que estais procurando

Tem o mesmo sentido da pergunta: – O que buscais? – Jesus está consciente de que os dois o seguem. O caminho percorrido em silêncio marca a expectativa da novidade. A busca só alcança seu objetivo com a iniciativa de Jesus. A pergunta de Jesus está no presente e é válida para todos. É um convite para que cada um examine o motivo do seguimento. Aqui Jesus não faz nenhuma referência a sua pessoa e nem coloca condições para este convite implícito. É uma pergunta aberta a todos. Jesus quer saber os desejos que eles têm em seus corações. Pode haver motivos bem diversos para seguir alguém. Por isso, pergunta-lhes o que eles estão procurando; o que esperam dele e o que acreditam que ele lhes possa dar. O evangelho de João diz que há também seguimentos equivocados, adesões a Jesus que não correspondem ao que ele é e nem à missão que realiza (João 2,23-25). Como ressoa dentro de mim esta pergunta feita por Jesus? – Por qual motivo eu estou seguindo a Jesus?

Mestre, onde moras?

Os discípulos respondem com outra pergunta, que à primeira vista significa: – “Onde te alojas?” – Porém, em nível mais profundo tal pergunta investiga o grande mistério da morada transcendente de Jesus. Os dois dão a Jesus o título respeitoso de “Rabi”, que significa “um mestre qualificado”, indicando assim que o tomam por guia, dispostos a seguir suas instruções. Reconhecem que Jesus tem algo a ensinar-lhes que eles ainda não conhecem. Os discípulos querem agora saber onde Jesus mora, lugar diferente de onde estava João Batista. Deixam seu antigo mestre sem conflitos, competições ou disputas. João Batista é um homem livre e não prende ninguém em sua pessoa. Os dois, por sua vez, estão dispostos a dar o passo para estar com Jesus.

Vinde e vede

Jesus atende imediatamente ao pedido implícito feito na pergunta dos dois. Agora vem o convite direto e claro, o de experimentar a convivência com ele. É nesta convivência com o Mestre que eles encontrarão a resposta que estão procurando. Jesus reside no lugar onde ele acampou: – “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1,14). Ele está no campo da vida, onde Deus está presente no meio da humanidade. Por isso, esse lugar não se pode conhecer por mera informação, mas unicamente por experiência pessoal: – “Vinde e vede”. – O lugar onde vive Jesus é a manifestação da luz e está em oposição às trevas. É o lugar da vida em plenitude e está em oposição ao mundo. Luz e treva estão sempre em oposição.

André reconquista seu irmão

A experiência de André, no seu contato com Jesus o tocou profundamente. Imediatamente sente necessidade de comunicar tal descoberta. Em primeiro lugar dará a notícia ao seu irmão Simão. O indicativo “primeiro” indica que a atividade de André não terminou com o convite feito ao seu irmão. Simão Pedro, embora, como André, fosse de Betsaida, no norte do país, encontra-se naquelas paragens, atraído pelo movimento das multidões, suscitado por João Batista, mas não escutara sua mensagem e nem tinha seguido Jesus. André dá a notícia ao seu irmão nestes termos: – “Encontramos o Messias”. – A experiência é comunitária. Simão Pedro também esperava o Messias. André anuncia-lhe que a espera terminou. Simão não se aproxima de Jesus por iniciativa própria, mas deixa-se conduzir por seu irmão André. Em toda a cena não pronuncia nenhuma palavra. Neste momento não demonstra nenhum entusiasmo pela pessoa de Jesus. Simão Pedro, embora estabeleça contato pessoal com Jesus, não diz nada. Sua atitude fica suspensa. É o único dos quatro mencionados que não expressa nada, que não fala nenhuma palavra.

Dom Agenor Girardi, MSC é Bispo Diocesano de União da Vitória – PR