Maria e José testemunharam-nos a grande verdade de que só Deus basta. Nas horas amargas daquela noite, na solidão e no desprezo dos grandes, havia a certeza de que Deus estava ali.
Texto: Pe. José Roberto Bertasi, mSC
Enquanto aí estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu Filho primogênito. Envolveu-o em faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eleshospedaria” (Lc 2, 6-7).
César Augusto, imperador de Roma, ordenou que todos fizessem o recenseamento em sua cidade natal. Desejava saber quantos súditos tinha para cobrar os impostos que sustentavam o império. José e Maria foram até Belém. Ela estava grávida. Chegara o momento culminante, decisivo para toda a humanidade. Anuncia-se a vinda do Reino de Deus na força da pobreza. Nessa hora histórica, Maria e José vivem com muita intensidade o êxodo, a peregrinação. O Filho de Deus deve nascer como peregrino e na periferia de Belém, porque não havia lugar para seus pais no centro de Belém. Na escuridão da noite, o pobre casal abriga-se sob o teto de uma estrebaria. Na simplicidade e na pobreza de um estábulo, mas ricos na fé e no amor, Maria e José vivem esse momento de extrema importância para a história humana. A extrema pobreza tem o seu significado: nada deve desviar o olhar daquele que é tudo para nós, do maior presente do Pai para toda a humanidade e para toda a criação. Jesus, deitado na pobre manjedoura, é a criança mais esperada do mundo; a ele pertence todo o amor do Pai. A criança reclinada no presépio é o Príncipe da Paz, é o Rei dos reis.
Este momento revela-nos o verdadeiro sentido da bem-aventurança dos pobres. Maria e José testemunharam-nos a grande verdade de que só Deus basta. Nas horas amargas daquela noite, na solidão e no desprezo dos grandes, havia a certeza de que Deus estava ali. Presença amorosa e consoladora. Que mais poderiam desejar do que ver e conhecer aquele a quem Deus deu um nome insuperável, nome de Filho bem-amado, que podemos chamar de Jesus, Salvador, Deus conosco?
Jesus é chamado o Primogênito de Maria. É o Primogênito da criação. Por ele, o Verbo eterno do Pai, foram criadas todas as coisas, e tudo foi criado para ele, que vem ao mundo como verdadeira luz e vida. Sua alegria será levar a Boa Nova a muitos, para que possam com ele invocar a Deus e chamá-lo de Pai. É o Primogênito de Maria, mãe de todos nós, irmãs e irmãos dele.
O texto de Lucas mostra o anjo se revelando aos pastores, que ficaram envolvidos pela glória de Deus. São pastores, gente simples, não são comerciantes, escribas, letrados, líderes. São gente comum do povo. Nessa época, a profissão de pastor não era bem vista. Lucas apresenta os pastores de maneira simpática. Já nos acostumamos com esses relatos dos fatos do Natal que nem imaginamos o quanto eles podem ser questionadores. Essas pessoas que são as destinatárias da revelação evangélica possivelmente hoje corresponderiam a grupos que nossa sociedade não consideraria dignos de tal destaque. Deus escolhe os simples para mostrar que seus critérios são bem outros. De certa forma, nos convida a aprender com aqueles que nem costumamos ouvir porque pensamos que sabemos ou merecemos mais. Os pastores foram os primeiros a acolher o anúncio do nascimento do Menino Deus.
A alegria pelo nascimento do Deus Menino é para todo o povo. Se Deus escolheu os pastores como primeiros mensageiros, ele não exclui ninguém. Se alguém se exclui é por conta própria, não por escolha de Deus que quer que todos se salvem e descubram o caminho da justiça, da fraternidade, da caridade.
O sinal apontado pelo anjo combina com a simplicidade dos outros. Os pastores não são convidados a ir ao encontro de um majestoso senhor, de um chefe guerreiro. O sinal é exatamente aquela situação em que somos todos iguais: um menino que acaba de nascer, envolto em faixas.
Diante do mistério do Natal, invoquemos Maria como filhos afetuosos. Diante de Deus, Pai santo, nós nos ajoelhamos e louvamos seus desígnios. Adoramos o Primogênito de Maria como seu Filho único. Nele podemos invocar Deus, nosso Pai. Louvemos nosso Deus, pelo modo maravilhoso com que revelou seu amor paterno, dando-nos Jesus como irmão e Maria como mãe. Com Maria, rejubilamo-nos, vendo a grandeza do amor do nosso Deus. Pedimos que o Espírito Santo nos torne gratos, para que glorifiquemos com Jesus e Maria o excelso nome de Deus.
Lembremo-nos, também, da alegria de Maria naquela hora. As dores do parto, a insegurança do êxodo e a pobreza do estábulo são apenas o pano de fundo da sua alegria e gratidão.
Maria não tem outra riqueza além do seu Primogênito, e nenhuma outra esperança senão ver-nos como seus filhos e irmãos. A alegria de Maria é que encontremos nossa esperança e nossa alegria em Jesus, o Emanuel. Procuremos nele a nossa salvação e nos confiemos a ele.
Pe. José Roberto Bertasi, mSC é Reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Sul, em Itapetininga, SP.