Revista de Nossa Senhora
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Nosso dever, nossa Salvação!

Publicado em 1 de julho de 2015 / Reportagens >

revista-01A investigação sobre a Ordem na Liturgia mostrará como a liturgia é criadora de ordem e organizadora do espaço e do tempo à sua disposição, justamente porque beleza tem a ver com harmonia, e harmonia, com ordem.

A liturgia sugere sempre um caráter estruturado, hierárquico e corporativo. Ela não pode ser jamais apossada por grupos ou tendências que queiram marcar sua posição. Isso feriria a natureza da liturgia e a esfacelaria. Trata-se, portanto, da liturgia da Igreja, onde todo o aparato conceitual que constitui o Dogma tem a beleza como sua única via de celebração. E aí reside o gênio litúrgico do cristianismo.

Teologicamente, a ordem na liturgia significa a retomada da ordem que Deus imprimiu à Criação e que o pecado desfigurou. O Mediador desta ordem é Jesus Cristo. Para que isso aconteça, devemos entregar o nosso ser e o nosso tempo àquele que é o Senhor da vida e do tempo e, por isso, o único que pode ordenar as pessoas, o tempo e o espaço de acordo com a ordem da Criação.

A liturgia põe ordem na humanidade e em cada pessoa individualmente. Mas para isso é necessário que nos deixemos ser possuídos, despojados e restaurados pela liturgia da Igreja. Mais uma vez, a palavra entrega é fundamental, pois somente pode ser ordenado pela liturgia quem se deixa possuir por ela. Aqui também, a liturgia tem uma função terapêutica, na medida em que cura nossas almas da desordem estabelecida pelo pecado e da dimensão caótica que fere a existência humana.

Em função da beleza e da ordem, as rubricas são instrumentos que assumem um papel preponderante. Devem ser conhecidas a fundo no seu caráter preceptivo ou “orientativo”, não simplesmente para uma execução fria, mas para que delas se extraia o tesouro teológico escondido sob forma normativa, de tal maneira que a celebração seja o prolongamento da beleza dos gestos de Cristo e ordene o mundo e cada pessoa de acordo com a beleza que deve reinar na ordem da Criação. E ainda coloque todas as realidades numa perspectiva cósmica, libertando-as da dimensão caótica.

Somente um investigador desapaixonado e desvinculado de qualquer tendência ideológica pode ter acesso a esse tesouro e mostrar que as rubricas não se enquadram nos parâmetros do “certo” ou do “errado”, pois a liturgia não é uma questão moral, mas uma questão de fé. Então, a pergunta não deve questionar o que está certo ou errado, mas o que mostra ou esconde a beleza dos gestos de Cristo e a ordem que ele imprimiu na Criação, tirando-nos do caos em que o pecado nos lançou. Esses devem ser os parâmetros que norteiam qualquer nível de investigação litúrgica, seja num curso acadêmico ou numa formação pastoral.

Pe. Michel dos Santos, MSC é Vigário do Santuário das Almas em São Paulo/SP