A primeira imagem, conhecida, apresentava o Menino Jesus, ainda menino aos pés de sua Mãe”
Texto: Pe. José Roberto Bertasi, mSC
Os primeiros Missionários do Sagrado Coração ficaram entusiasmados com a espantosa expansão da devoção, e sentiram a necessidade de explicar o significado real da invocação: “Nossa Senhora do Sagrado Coração, rogai por nós”. O Pe. Piperon, em sua humildade habitual, diz: “Um de nós foi encarregado dessa tarefa”. Daí, pode-se concluir que ele é o autor das primeiras páginas dedicadas a Nossa Senhora do Sagrado Coração.
O Pe. Piperon gostava de falar do acontecimento que o levara a publicar esse primeiro documento: sua visita ao Pe. Ramière, o conhecido diretor do Apostolado da Oração e do “Mensageiro do Coração de Jesus”. Quando o Pe. Piperon falou com ele sobre a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração e ofereceu-lhe a estampa de propaganda devocional, o Pe. Ramière perguntou-lhe:
- “Há algum escrito impresso sobre a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração?
- Até o momento, nada foi impresso sobre o assunto, foi a resposta do Pe. Piperon.
Abrindo a pasta, o visitante retirou dela um modesto manuscrito que o Pe. Ramière examinou com atenção, e disse:
- “Dê-me essas páginas, a fim de publicá-las no Mensageiro. Serão lidas com muito interesse”.
- É impossível, respondeu-lhe o Pe. Piperon. Lamento, muito, mas não são minhas. Transmitirei seu desejo ao meu Superior. Ele mesmo dar-lhe-á a resposta.
Então, o Pe. Chevalier entendeu que não devia deixar a outros o cuidado dessa publicação. Imediatamente, compõe um opúsculo, ao qual chama : “Nossa Senhora do Sagrado Coração, escrito pelo Rev. Padre Chevalier, missionário apostólico do Sagrado Coração”. Esta foi sua primeira obra.
Ele a publicou, em novembro de 1862, com a aprovação do Arcebispo de Bourges, Dom de La Tour d´Auvergne” (Pe. Piperon).
O “modesto manuscrito” do Pe. Piperon tornou-se, assim, a brochura do Pe. Chevalier. Nós não sabemos se há grandes diferenças entre ambos, mas é preciso destacar a influência do Pe. Piperon no tocante à primeira publicação. Essa brochura foi enviada aos bispos da França e dos países vizinhos. Mais de quarenta bispos apoiaram a publicação. O Arcebispo de Bourges dá-lhe seu beneplácito, no ano de 1862. Em 1863, chegaram aprovações de outros bispos, publicadas pelo Pe. Chevalier nas edições posteriores. Essas publicações datam do ano 1863.
Um exemplar foi, também, enviado ao Pe. Ramière que o publicou no “O Mensageiro do Coração de Jesus”, em maio de 1863. É a primeira publicação sobre Nossa Senhora do Sagrado Coração, redigida por aquele cuja intuição espiritual pôs em destaque esse aspecto da glória de Nossa Senhora. Com efeito, de um pequeno artigo, de uma pequena planta, surgiu uma grande árvore. Além desse escrito, o Pe. Chevalier escreveu muitas outras obras importantes.
A imagem foi solenemente coroada, em nome do Santo Padre, o Papa Pio IX, no dia 8 de setembro de 1869. Vinte mil peregrinos estavam, em Issoudun, a fim de participar da festa. Contavam-se entre os participantes 30 bispos e cerca de setecentos sacerdotes. A devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração havia se estendido rapidamente.
Mas… Deus escreve certo por linhas tortas. Pessoas desejosas de apropriar-se da nascente devoção, apresentaram à Santa Sé um novo modelo de imagem, pedindo que fosse o único válido. A fim de conseguirem seu intento, apresentaram como perigosa para a devoção popular a imagem de Issoudun. O perigo consistia em que a imagem de Maria, já aprovada pelo Papa, parecia insinuar um domínio absoluto de Maria sobre o Filho. A primeira imagem, conhecida, apresentava o Menino Jesus, ainda menino aos pés de sua Mãe. Esta crítica infundada colocava em perigo a nascente devoção e mesmo a existência da Arquiconfraria, criada em honra de Nossa Senhora.
O Pe. Chevalier não perdeu tempo. Enviou, imediatamente, uma reprodução fiel do modelo original a Roma, acompanhada de uma carta do Arcebispo de Bourges e fazia a pergunta: “Como poderia estar em questão uma imagem que havia sido coroada em nome do Santo Padre e, há anos, era venerada por milhares de peregrinos?”
É importante tecer algumas considerações sobre o Pe. Piperon, nome que inúmeras vezes aparece neste artigo dos Anais.
O Pe. Carlos Piperon foi companheiro de estudos do Pe. Chevalier, no Seminário Maior de Bourges. Foi o co-fundador da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração. Foi Assistente Geral, de 1869 a 1905. Amigo íntimo e fiel do Pe. Chevalier, ocupou cargos importantes na Congregação onde viveu 60 anos como MSC. Um de seus companheiros, assim o define: “Muito o amei e mais ainda o admirei. Não conheci ninguém mais humilde; não vi ninguém com o mesmo grau do genuíno sinal de santidade”. O Pe. Carlos Piperon trabalhou de maneira incansável na propagação da Arquiconfraria de Nossa Senhora do Sagrado Coração. O Pe. Chevalier se comprazia em chamá-lo: “O querido e venerado Padre Piperon”.
Pe. José Roberto Bertasi, mSC, trabalha em Itajubá, MG