Vivemos num tempo em que se fala muito em crise vocacional na vida sacerdotal e religiosa. Também notamos a dificuldade que muitas paróquias vêm enfrentando com a falta de agentes de pastoral ou lideranças comunitárias que estejam realmente dispostas a se dedicarem pela vida e ação evangelizadora da Igreja. A missão da Igreja é missão de todos e de cada um de nós, é compromisso de todo cristão batizado assumir na Igreja o seu lugar na dinâmica da anunciação do Evangelho de Cristo e na construção do Reino.
A falta de compromisso e os muitos afazeres do dia a dia estão fazendo das pessoas meras expectadoras eclesiais, utilizando-se da Igreja como prestadora de serviços. Não sabem que a ação missionária da Igreja é muito mais que um serviço eclesial prestado, mas uma prática que significa e resignifica a vida, dando-lhe sentido, valor, ordem e maturidade na fé. Também não podemos confundir esta ação com um mero voluntariado, mas uma missão batismal e vocacional dada pelo próprio Cristo a cada pessoa para que o mundo o conheça e creia.
A vida pastoral dentro da Igreja deve ser entendida como uma experiência pessoal de fé que foi colocada em prática. São inúmeros os movimentos e pastorais dentro da Igreja e neles há espaço para todas as pessoas com suas qualidades, habilidades e dons que, partilhados, constroem uma nova civilização.
Para Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, “urge apresentar aos jovens e adolescentes os distintos caminhos do serviço do Senhor e do seu Reino: como leigos engajados nos diversos âmbitos da vida social; casados que assumem o compromisso do matrimônio; consagrados por causa do Reino dos Céus; e ministros ordenados a serviço do povo, nas diversas comunidades de fé… É necessário que nas diversas dimensões da vida social haja pessoas leigas, comprometidas com a fé, dispostas a cooperar em construir um mundo um pouco melhor para as futuras gerações”.
De fato, quando falamos em missão da Igreja estamos falando da vocação de cada cristão que forma assim o rosto missionário da Igreja de Cristo. Ninguém está de fora ou dispensado do seu compromisso evangelizador. Para isso, é necessário desmistificar essa ideia de que vocacionadas são somente aquelas pessoas que se dedicam aos ministérios ordenados ou à vida consagrada. Na verdade, a vocação é um chamado a toda pessoa batizada e inserida numa comunidade de fé. Os leigos e as leigas das nossas comunidades precisam descobrir este caminho de serviço e doação como um caminho de auto-realização pessoal e ministerial da Igreja. E o nosso desafio é plantar essa semente no coração das nossas crianças e jovens para que venham a ser cristãos adultos conscientes e comprometidos com a sua fé.
Nenhuma pessoa realmente feliz anda pelos cantos carrancuda e de mal com a vida. Um rosto alegre contagia e é um grande testemunho da alegria que brota do seguimento de Cristo. Se a vida consagrada, os ministérios ordenados e não ordenados testemunhassem no dia a dia, com alegria e serenidade no rosto, de que Cristo vale a pena, certamente teríamos mais vocações para toda a nossa Igreja.
Pe. Girley de Oliveira Reis, MSC, trabalha na Diocese de S. Gabriel da Cachoeira/AM