Onde estão os religiosos, existe alegria!”
Neste Mês Vocacional somos convidados a refletir sobre como estamos vivendo a nossa vocação humana e cristã. Nós, os Consagrados, temos o Ano da Vida Consagrada, proclamado pelo Papa Francisco, no dia 21 de novembro de 2014, e que vai até o dia 02 de fevereiro de 2016, para nos ajudar nesta reflexão. Como estamos vivendo a nossa vocação, nestas quatro dimensões: a relação com Deus, a relação com as outras pessoas, a relação conosco mesmos e na relação com a natureza?
Na Carta “Alegrai-vos”, o Papa aponta três objetivos para Ano da Vida Consagrada: Olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro. E, conclui o Pontífice na mesma carta: “seja sempre verdade aquilo que eu disse uma vez: ‘Onde estão os religiosos, existe alegria’.” Marca este Ano, sobretudo a alegria dessa Consagração.
O padre jesuíta, Jaldemir Vitório, em artigo na Revista Convergência, da Conferência dos Religiosos do Brasil, de julho/agosto deste ano, destaca que os consagrados tem muitos motivos de alegria, tais como: “de sermos discípulos e discípulas de Jesus e servidores do Reino; de pertencer a uma família religiosa, com sua história, carisma e espiritualidade; de viver em comunidade como irmãos e irmãs; de abraçar juntos a missão; de servir aos empobrecidos e marginalizados; de ser profetas do Reino; de ser ‘reserva de humanidade’, num mundo de desumanidade; de ser presença missionária na Igreja, abraçando as tarefas mais desafiadoras; de abraçar missões ad gentes; de viver a intercongregacionalidade, como possibilidade de alargar o campo da missão; e, de envelhecer com dignidade e chegar ao ocaso da vida conservando viva a chama da vocação e da missão.”Que bom viver estas alegrias! Elas podem ser observadas pelos jovens em nossas comunidades e assim fazerem parte deste caminho que estamos trilhando como pessoas humanas.
Nós, os Missionários do Sagrado Coração de Jesus, somos chamados a viver a nossa vocação de alegria na missão. O Papa diz em sua carta, “Espero ainda de vós o mesmo que peço a todos os membros da Igreja: sair de si mesmos para ir às periferias existenciais. ‘Ide pelo mundo inteiro,’ foi a última palavra que Jesus dirigiu aos seus e que continua hoje a dirigir a todos nós (cf. Mc 16,15).” O que será que Deus pede a nós hoje?
Maria: Vocação Chamada a viver na alegria
Deus chamou Maria e ela disse o seu “Sim”, com alegria. Um “Sim” que nós também podemos dar para viver a alegria de sermos discípulos missionários. Um “Sim” que somos chamados a viver a partir ou discernir a partir de três pilares, a saber: Numa experiência intima com Deus, numa a vida em comunidade e em missão.
Vida de experiência íntima com Deus
Sentir a presença amorosa e misericordiosa do Espírito Santo na vida diária, sendo próximos de Deus, sentando aos pés de Jesus uns 15 a 20 minutos em oração com Ele, silenciando para escutar a sua Palavra, uma espiritualidade integrada, oração e vida, alimentando a fé na escuta do Mestre.
O Papa Francisco nos diz, na Carta Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, que a nossa espiritualidade cristã é uma grande riqueza e uma contribuição para a renovação da humanidade, “aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequências no nosso modo de pensar, sentir e viver. (…) A espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo.” (n. 216).
Somente assim, podemos discernir qual a vontade de Deus na nossa vida de discípulos Missionários. Somente se nos colocarmos numa relação amorosa, entendemos o que ele quer.
Vida vivida em comunidade
Jesus assumiu a missão de anunciar o Reino de Deus formando uma comunidade. Ele formou uma Comunidade de Vida, um grupo de Doze Apóstolos, para estar com Ele e enviá-los a pregar (Mc 3,13-19). Grupo que andou com Ele pelos caminhos da Galileia e foi sendo formado, passo a passo, na prática do dia a dia, em comunidade. “O discípulo missionário de Jesus Cristo necessariamente, vive sua fé em comunidade (1Pd 2,9-10) em ‘íntima união ou comunhão das pessoas entre si e delas com Deus Trindade.’
Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã. Comunidade implica convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores.” (Dir. CNBB, n. 55) Por isto, para discernir bem sobre o que Deus quer de cada um de nós é fundamental fazer parte de uma Comunidade Cristã, viver uma vida em comunhão com outras pessoas.
Vida vivida em missão
A vida é missão e a missão é vida. Temos vários relatos nos Evangelhos onde Jesus enviou os seus discípulos em missão. Foram enviados dois a dois, a partir da Comunidade, para levar o espírito de Jesus. Enviados para levar a vida e vida em abundancia, principalmente onde esta era mais ameaçada.
A CNBB, nas Diretrizes Gerais para a Igreja no Brasil, nos diz que “o discípulo missionário no seu amor por Jesus Cristo, não se cala diante da vida impedida de nascer, diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé.”(DGE,65) O discernimento vocacional acontece com mais clareza se tenho uma vida de missão e uma missão de vida.
Concluindo…
Portanto, a vocação, a resposta ao chamado de Deus, somente poderá ser fiel, assim como foi o “Sim” de Maria e de tantos discípulos e discípulas, se a minha vida está sendo vivida em uma relação íntima com Deus Trindade, numa Comunidade Cristã e na Missão.
O chamado vocacional a uma vida de Consagração alimenta em nós a alegria de viver. E esta alegria faz com que nossos olhos brilhem.
Nosso sorriso se expressa espontaneamente quando podemos viver a alegria do Evangelho, a alegria de ser discípulo missionário, de viver em profunda intimidade com Deus e na vida fraterna evangélica, de ser feliz na opção realizada que é dom de Deus e cooperação nossa.
Esta vocação nos convida a levar às pessoas mais necessitadas o abraço que consola, conforta, transmite fraternidade e alegria, entusiasmo e votos de felicidade; a ser presença simples e ação generosa, criativa, dinâmica e feliz no serviço direto aos mais pobres. Vocação que nos consagra a ser a encarnação da misericórdia de Deus, a estarmos disponíveis para atender à sede de Deus e à sede de espiritualidade, ir ao encontro dos outros, levar-lhes Jesus Cristo, feliz, dentro de nós, como Maria em sua visita a Isabel, um Jesus Cristo desejoso de estar conosco e nos outros.
Nossa Senhora do Sagrado Coração nos fortaleça na missão de testemunhar e evangelizar, servir e libertar. Que nossa vocação ajude a despertar o mundo! Amado seja por toda parte o Sagrado Coração de Jesus. Eternamente!
Pe. Mário Roessler, MSC – (roemarmsc@gmail.com)