Revista de Nossa Senhora
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Outubro, mês missionário

Alguns anos atrás, quando se pensava em missão, identificava-se a figura de alguém que saía do seu espaço e ia à outras terras para pregar o evangelho ou simplesmente ser presença de Deus.

Hoje, quando se fala de missão, há a preocupação de abarcar na reflexão todos os tipos de nomenclaturas, idéias, objetivos e também a questão da mobilidade humana.

Apesar das inovações nas reflexões – ainda bem que elas existem, – missão nunca vai deixar de ser, em última análise, o encontro com o outro.

Em terras estrangeiras, locais, em lugares longínquos ou bem próximos. Missão vai levar em conta o quanto o outro é importante, e o quanto a distância precisa ser superada para que o anúncio do evangelho aconteça de forma perene e constante.

Neste mês de outubro lembramos a oração do Santo Rosário. Uma devoção antiquíssima que nos coloca em sintonia com o próprio Deus contemplando a sua manifestação em nosso meio.

A Revista de Nossa Senhora quer estar em sintonia com toda a Igreja do Brasil que reflete, desde o ano de 2008, sobre a Missão Continental, quando publica, neste mês, um artigo sobre “Missão Inter Gentes”.

Acompanhe e boa leitura!

A Redação

A primeira a dizer SIM.

Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação.

Texto: Ir. Maria Ivone Weissheimer – FDNSC

Maria foi a primeira a dizer Sim a Jesus. O seu Sim abre a porta para infinitos “sins” a seu Filho: O sim do discípulo amado, de José, de Paulo, de Pedro, de Francisco de Assis, de Inácio de Loyola, do Padre Julio Chevalier, de Tereza de Calcutá, de Oscar Romero, o meu, o seu….. Este sim se renova por todas as gerações, percorre séculos, povos, culturas, idades….. Todo o amor que sentimos por Jesus, nasceu no dia da anunciação, o dia do grande SIM que penetrou até o âmago da criação, do universo e se estenderá até a parusia onde todos, em unísono, diremos “sim” ao nosso Deus e Senhor! Então mergulharemos nesta fonte infinita de amor, de beleza, de paz!

Com o “SIM”, Maria fica à disposição total de seu Filho. Ela se torna a primeira cristã, a primeira pessoa consagrada ao Filho. Como não admirá-la e imitá-la? Como não pedir que nos ajude para que sejamos atraídos pelo Senhor? O convite de Gabriel à alegria e ao amor de Deus penetra o coração de Maria. Ela sente-se amada por Deus e seu coração transborda de amor, é a expressão de um dom total, é a resposta de amor ao amor. Em Maria a aliança cantada pelos profetas atinge o ponto mais alto. O seu coração é o berço que acolhe Jesus e adere com amor e entusiasmo ao plano da salvação. Então algo de absolutamente novo acontece. Nela começa a se formar o Filho da promessa que é ao mesmo tempo Filho do Pai e filho de Maria, homem e Deus. “A humanidade viu neste menino, sob a ação do Espirito, uma mutação única que se vai expandindo em todos aqueles que o acolhem”, diz o teólogo Giovanni M. Bigotto. A presença de Jesus no ventre de Maria, faz estremecer de alegria o pequeno João Batista, e Isabel dá a Maria o maior título que se possa atribuir a alguém, porque confere ao menino o maior título que lhe pertence: Senhor! “Maria é a mãe do meu Senhor”. Com esse título ela confirma a divindade de Jesus. Maria, portanto, é a primeira pessoa que vive uma fé cristã, cuja razão e meta é Jesus. Ela vive a maior das bem-aventuranças que é a fé. Vemos isso no Magnificat, cântico que permeia toda a Sagrada Escritura e demonstra que a palavra de Deus se torna a sua palavra e a sua palavra nasce da palavra de Deus porque os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus e sua vontade consiste em querer com Deus. Deus e seu Filho constituem o seu centro. No Magnificat também Maria mostra que Deus é um salvador pessoal ”meu salvador”. É o Deus que faz maravilhas! Ela olha para o que está para lhe acontecer. É extraordinário! É a maravilha das maravilhas que Deus fez para o seu povo. É um Deus Santo que acolhe os pequeninos, que está presente, é ativo e preocupa-se com os seus, é um Deus fiel, Ele cumpre a promessa que fez a Abraão, realizada agora no menino, seu Filho. Para ela, Deus é um Deus de amor. Toda a história da humanidade está envolta por seu amor. É um Deus perfeito no seu agir. Nesse canto Maria deixa emergir sua própria identidade espiritual, seu encantamento, sua gratidão, sua alegria. O menino que se forma nela é a maior fonte e causa da sua alegria. Ela está estabelecida na alegria. O coração de Maria está modelado pelo Espírito Santo, pautado pelo coração do Filho, dom do amor sem limites de Deus. A mãe emerge na totalidade da pessoa do Filho, e este também penetra na totalidade da pessoa da mãe, por isso a gratidão irrompe de seu coração de maneira espontânea, abundante e jubilosa. Lutero em seu comentário sobre o Magnificat, disse: “Este cântico da bem-aventurada e doce Mãe de Deus deveria ser aprendido e decorado por todos”.

Lucas nos diz que Maria guardava todas as coisas, meditando-as em seu coração (Lc.2,19). Ela guarda e medita no seu coração tudo o que acontece ao seu Filho. Guardar no coração é ação longa, cotidiana que caracteriza a pessoa que vive profundamente a sua interioridade. Esta oração silenciosa é a contemplação. A anunciação constitui um estado místico de profunda intimidade com Deus. No Natal ela olhou pela primeira vez o rosto de seu Filho e sua oração foi de júbilo, de êxtase, de emoção, de encantamento!

Enquanto Maria envolve Jesus com seu amor, Deus nos envolve com sua luz. Caná foi um momento de oração e fé porque ela diz a seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. É uma oração concreta. Jesus irrompe como personagem central. É a iniciativa de Maria que O coloca no centro. Ela apenas disse; “Eles não tem mais vinho. E aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Eis a chave para sermos escutados. Ela entrega a Jesus o nosso problema. Maria rezou sobretudo ao pé da Cruz, uma oração de presença, de silêncio, de fé, de amargura profunda. É uma oração de amor, que não diz nada, em total adesão ao Filho para que o Verbo encha o silêncio com sua Palavra: “Mulher, eis o teu filho”; “Eis a tua Mãe”. Jesus morre, ao passo que a Igreja, Mãe e Filho, nascem. Maria é o testamento de Jesus e com ela, nasce a Igreja de seu Filho. Ela permanece em oração no cenáculo, na comunidade do primeiro grupo dos discípulos, em Pentecostes. Ela reza na Igreja e pede o Espírito para que pentecostes continue no mundo, na comunidade, no coração de todas as gerações, no âmago de cada um de nós. Não é à toa que João confere a Maria lugares chaves: Caná, onde Jesus oficializa sua vida pública e na cruz onde Jesus a encerra. Ele a quer como personagem por excelência para ser testemunha e modelo.

Enfim, Maria, pela sua maternidade está ligada a Jesus de maneira única, ela é templo de Deus, posse absoluta de Deus e posse de Jesus desde a sua existência. Também seremos “santos e imaculados”, quando, como Maria, houvermos escolhido por inteiro o Senhor. Maria é profecia e antecipação do nosso próprio destino, diz o teólogo G.M.Bigotto.


Ir. Maria Ivone Weissheimer FDNSC, é irmã da Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

De Igreja em Igreja

Há um novo monumento a ser erguido, novos templos a serem criados, novos microfones e novas emissoras a serem oferecidas ao Senhor Jesus no novo jeito de anunciá-lo.

Texto: Pe. Zezinho, SCJ

De igreja em igreja ou de movimento em movimento, alguns cristãos são hoje mais peregrinos do que fiéis, mais errantes do que paroquianos, mais romeiros do que diocesanos. Não se fixam. Costumam ir atrás do mais novo astro da fé. Se o proclamado novo astro da fé entende, ele devolve seus ouvintes à comunidade ou à igreja da qual veio. Se se acha a mais nova solução para o mundo, ou o novo Jesus, ele funda um novo movimento ou uma nova igreja marcada por sua presença, sua imagem, suas palavras e seu pensamento e chama as pessoas para segui-lo. Torna-se mais onipresente do que Deus.

Mais do que “ouçam”, para o novo astro da fé o verbo é “venham”. Mais do que “ajudem os pobres daí”, o verbo é “tragam sua oferta, quando vierem”. Há um novo monumento a ser erguido, novos templos a serem criados, novos microfones e novas emissoras a serem oferecidas ao Senhor Jesus no novo jeito de anunciá-lo. Quem era fiel a outro grupo é gentilmente convidado a ser, agora, fiel ao novo mais novo da fé! Não é proibido ser infiel aos outros. Só não se pode ser infiel a quem o tornou infiel…

Quem não viu este filme? Acontece com frequência vertiginosa. Novas igrejas fundadas há quarenta anos já deram origem a cinco ou seis outras e os fiéis, que não eram assim tão fiéis, porque já tinham deixado sua primeira igreja para irem ouvir o, ontem, mais novo pregador da igreja verdadeira, agora vão ouvir e seguir o mais novo pregador da agora mais nova igreja verdadeira. É a era do convencimento: “vem que aqui tem mais” !

Mais o quê? Na era da oferta e da procura, a nova igreja ou o novo movimento tem mais oferta para o que o fiel mais procura: milagres, consolo, bênçãos, graças, perdão, certeza de salvação! Ligue a televisão e o rádio e preste atenção nos discursos. Lei da oferta e da procura. Você procura e nós temos!…

O novo marketing da fé oferece mais. Se não o fizesse, não teria tantos novos seguidores. Jesus disse que quem o seguisse teria que renunciar a si mesmo e tomar sua cruz. Os novos pregadores oferecem o “não sofra mais!” “traga sua cruz e a deixe aqui, porque depois desse culto, você sairá sem ela, sua dor irá embora”.

A ênfase no imediato, no agora-já, no milagre e na cura serve para milhões de pessoas que precisam urgentemente de um alívio. Movimentos e igrejas que o oferecem enchem seus templos. No dizer de um dos pregadores dessa forma de cristianismo “eles são as igrejas do “aqui-agora” e não do “depois”, “sucesso aqui e sucesso depois”, “vitória aqui e vitória depois!”

Poucos resistem a essas ofertas. Se um supermercado oferece algo mais vantajoso é lá que o freguês irá. Se uma igreja oferece fé mais realizadora é lá que o ex-fiel, agora infiel, irá ser o mais novo fiel! Alternância, emotividade e mobilidade parecem ser características da nossa era. Quem tocar o sentimento, ganhará o pensamento!

Pe. Zezinho, scj é músico e escritor. Tem aproximadamente 80 livros publicados e bem mais de 115 álbuns musicais.

Mês da bíblia

Setembro é tradicionalmente chamado de “Mês da bíblia”.  Alguns dados sobre a bíblia são velhos conhecidos de muita gente, mas para muitos eles são novos. Eis alguns dados interessantes: Existem diferentes versões básicas da Bíblia. As atuais edições nas diversas línguas são traduções de uma ou outra versão.

Versão dos “Setenta”ou “Alexandrina”:
(conhecida também como “Septuaginta”), é a principal versão grega por sua antiguidade e autoridade. Sua redação se iniciou no século III a. C. (250 a.C) e foi concluída no final do século II a.C. (105 a.C). O nome de “Setenta” se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a 70 sábios e “Alexandrina” por ter sido feita em Alexandria e usada pelos judeus de língua grega ao invés do texto hebreu.

Versões Latinas:
Ítala Antiga ou “Vetus Latina”: provém da Versão dos Setenta para a maioria dos livros do A.T., e dos originais gregos para os livros do N.T. e Sabedoria, II Macabeus e Eclesiástico. Esteve em uso no Ocidente desde o século II até o século V.

Vulgata:
Ao final do século IV, o Papa Dâmaso ordenou que São Jerônimo fizesse uma nova versão latina tendo presente a Ítala antiga. Foi denominada “Vulgata” porque a intenção da obra era “vulgarizá-la”, torná-la popular. São Jerônimo traduziu diretamente do hebraico e do grego originais para o latim, com exceção dos livros de Baruc, Sabedoria, Eclesiástico e I e II Macabeus, o quais, transcreveu sem nenhuma tradução da Ítala antiga.

Neovulgata:
A Neovulgata é a mesma versão Vulgata, à qual foram incorporados os avanços e descobertas mais recentes. Fonte: acidigital.com

Boa Leitura

A Redação

O Título de Nossa Senhora foi e será sempre, para nós, um raio de Luz!

Maria é totalmente dependente de Deus e ao lado de seu Filho, ela é a imagem mais perfeita de libertação da humanidade e do universo. É a Ela, que a Igreja tem que procurar, como Mãe e Modelo, para entender também o significado de sua missão libertadora.

Texto: Irmã Lezir B. Braga

Padre Júlio Chevalier, fundador da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração e das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração,  fez uma promessa a Nossa Senhora, dizendo que, se seu pedido fosse atendido, ele trabalharia para difundir a devoção ao Sagrado Coração, por toda parte e honraria Maria para que ela fosse amada e honrada por todos os meios possíveis e de um modo especial.

Hoje, várias imagens são encontradas nos cinco continentes. Esta devoção espalhou-se em muitos lugares,  povos e nações. Maria foi à frente, abrindo caminhos para os MSC e as FDNSC, expressando assim um rosto humano e materno de Deus para as culturas do mundo. Pouco importa que Maria tenha um grande ou pequeno lugar em nossa vida espiritual; o importante, é que tenha um lugar real e especial em nosso coração.

Maria está de braços estendidos, como na medalha milagrosa. E para representar Jesus com a idade de 12 anos. Com umas das mãos, mostra o Seu coração e com a outra, aponta em direção à sua mãe.

Padre Chevalier determina de maneira precisa: Maria não faz somente o gesto de nos apresentar Jesus, mas ela olha para Ele, o contempla de olhos baixos, lembrando a   humanidade sofrida.

Em contemplação, Padre Chevalier viu o Menino Jesus, o Verbo  feito carne, com a idade de 12 anos, idade escolhida para ensinar no Templo, nos apresenta seu Coração, fornalha de amor, fonte de graça. Jesus nos indica Maria, também, a quem ele confia todas as riquezas de seu Coração.

Em 1875,  foi pedido por Roma, representar a imagem em outro modelo. Maria segurando  nos braços o Menino Jesus, mostrando seu Coração, e Jesus apontando para sua Mãe.

Em 1964, depois do Concílio, com a volta às fontes e o aprofundamento da espiritualidade marial, surgiu então a terceira imagem:  Maria ao pé da cruz e Jesus com o lado aberto por um golpe de lança, donde jorram água e sangue – ( Jô.19). Eles olharão aquele que traspassaram (cf. Zacarias 12, 10). Com aspersão de água pura e promessa de um coração novo e a fonte do lado direito (Ez,36,25-47), vemos Maria que acolhe a fonte para ela e para nós e lá ela se torna nossa Mãe. A Mãe, por sua vez aponta para o Coração do Filho, confirmando que Ele é fonte de todas as graças.

Esta devoção, criada por Júlio Chevalier, se espalhou por meio de uma novena eficaz. Ele, por própria experiência, foi atendido ao encerrar  sua novena à Maria Imaculada, no dia 8 de dezembro de 1854, quando na Igreja se proclamava o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.
A Igreja renova mais efetivamente nela a consciência da verdade sobre Deus que é todo Dom e presente, que não pode ser separada da manifestação do seu amor preferencial pelos pobres e humildes, aquele amor que, no Magnificat,  celebra a missão de Jesus.

Maria é totalmente dependente de Deus e ao lado de seu Filho, ela é a imagem mais perfeita de libertação da humanidade e do universo. É a Ela, que a Igreja tem que procurar, como Mãe e Modelo, para entender também o significado de sua missão libertadora.

Que o Espírito Santo nos ajude a caminhar com Maria em seu exemplo de fidelidade, iluminando-nos na busca incansável, na aceitação humilde, na coerência libertadora e na constância serena e paciente do peregrinar pela fé.

É importante para nós, como Família Chevalier, não esquecer que Ele estava em oração e meditação, quando deu este novo título à Maria e nós, seus seguidores,  temos que compreender isto. Ele quis combinar de um modo novo, estas duas devoções importantes no seu tempo: a devoção ao Sagrado Coração e a Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração, pois para ele e para nós, é o resumo  de nossa fé e espiritualidade.

O título foi e será para nós, como um raio de luz, uma expressão do rosto Materno de Deus.

Irmã Lezir B. Braga é Superiora Provincial das Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

A Bíblia, meu livro de oração, liturgia e catequese

Há vários esquemas de leitura orante, entre os quais se destaca a chamada Lectio Divina, cujos passos são: leitura do texto, meditação, partilha, oração, contemplação e ação.

Texto: Fr. Jackson Douglas Furtado, mSC

Quando nos aproximamos do livro mais conhecido do mundo que é a Bíblia, percebemos em suas palavras escritas, a exposição, a comunicação e o conhecimento de Deus revelado à humanidade. Assim a Bíblia nos faz pensar, sentir e dizer algo de Deus. Mas para pensar, sentir e dizer algo de Deus permanece sempre válida a pergunta de vários leitores: como pensar, sentir e dizer a minha experiência de Deus na Bíblia? Como compreendê-la? Como entendê-la? Porém, apesar das dificuldades, o povo de Deus ama a Palavra, mesmo sem compreendê-la e entendê-la totalmente. Nesse sentido, os conhecedores da Bíblia nunca se cansam de afirmar que “na Sagrada Escritura há setenta faces”, isto é, há muitos modos de ler a Palavra de Deus. Por isso, destaco como prioridade, entre tantas faces da Bíblia, três possibilidades que acredito, nos ajudam a pensar, sentir e dizer da revelação pessoal, consciente e livre da experiência de Deus aplicada no cotidiano da nossa vida.

Por isso, uma primeira aplicação e contato com a Bíblia, passa por uma leitura como forma de oração que é o modo mais básico e espontâneo: o leitor percorre a Sagrada Escritura, tendo em vista um dialogo com Deus. Há vários esquemas de leitura orante, entre os quais se destaca a chamada Lectio Divina, cujos passos são: leitura do texto, meditação, partilha, oração, contemplação e ação. A segunda forma passa pela leitura usada na liturgia e na pregação, ou seja, na celebração Eucarística que estabelece o vínculo entre vários textos que falam do mesmo tipo de presença e de ação de Deus na história humana. Essa leitura também quer levar o leitor/ouvinte a um compromisso de vida. Um pouco mais elaborada é a terceira forma, catequese e doutrinação, pois exige um conhecimento relativamente sólido da chamada “História da Salvação”, dos dogmas e da moral, a fim de que a experiência do povo da Bíblia possa ser constantemente atualizada.

Portanto, estes três pontos que tornam simples um contato com a Bíblia, nos inserem no conhecimento de Deus que penetra nossa mente (pensar), nosso coração (sentir) e nossa boca (dizer) para encarnar a Palavra de Deus em nossa vida de cristãos, pois, Deus colocou no coração da humanidade o desejo constante de buscar a sua Palavra no livro Sagrado que é a Bíblia.

Fr. Jackson Douglas Furtado, mSC é graduando em Teologia.

Somos Vocacionados

Mês de agosto e vocação. É difícil não associar o mês ao tema. Desde a nossa mais tenra idade e já iniciados na formação nos encontros de catequese, conhecemos essa dobradinha. A liturgia das missas enfatiza o tema com cartazes, músicas, danças.

As homilias dominicais, mesmo que en passant, tratam do assunto. Nos colégios católicos e na imprensa católica, um artigo, nota ou aviso, suscita sempre a temática.

É bom lembrar que a vocação não deve ser vista como a realização de um projeto pessoal. Não é um planejamento do que queremos para a nossa vida. É antes o encontro da nossa liberdade com o convite de Deus.

A bíblia está repleta desse sublime encontro entre o chamamento de Deus e a resposta acolhedora do ser humano: Abraão, os profetas, discípulos de Jesus… Ser vocacionado é sentir-se escolhido por Deus.

A Revista de Nossa Senhora traz todos os meses uma reflexão sobre vocação. Implícito, o tema está em nossas obras pastorais, apresentadas na coluna “Nossas Obras”.

Nela, uma obra apostólica é apresentada todos os meses. E estas obras, no Brasil ou fora dele, são assumidas por alguém enviado por Deus, em nome de nossa Província, para exercer a sua vocação.

Tenha o prazer de uma boa leitura!

A Redação.

Sinais e Símbolos na liturgia

A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus Cristo.

Texto: Pe. Luiz Eduardo Pinheiro Baronto

Uma celebração sacramental é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina da salvação, o significado dos sinais e símbolos deita raízes na obra da criação e na cultura humana, adquire precisão nos eventos da antiga aliança e se revela plenamente na pessoa e na obra de Cristo.

Sinais do mundo dos homens. Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus.

Deus fala ao homem por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a proximidade dele.

Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador.

As grandes religiões da humanidade atestam, muitas vezes de maneira impressionante, este sentido cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Jesus Cristo.

Sinais da aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua vida litúrgica: estes não mais são apenas celebrações de ciclos cósmicos e gestos sociais, mas sinais da aliança, símbolos das grandes obras realizadas por Deus em favor de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da antiga aliança podemos mencionar a circuncisão, a unção e a consagração dos reis e dos sacerdotes, a imposição das mãos, os sacrifícios, e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.

Sinais assumidos por Cristo. Em sua pregação, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais da criação para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza suas curas ou sublinha sua pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga Aliança, particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos esses sinais.

Sinais sacramentais. Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o Espírito Santo realiza a santificação. Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram toda a riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as figuras da antiga aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e antecipam a glória do céu.

PALAVRAS E AÇÕES

Uma celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante ações e palavras. Sem dúvida, as ações simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta de fé acompanhem e vivifiquem estas ações para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta de fé de seu povo.

A liturgia da palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário), sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamação, as respostas da assembléia (aclamações, salmos de meditação, ladainhas, profissão de fé…).

Inseparáveis enquanto sinais e ensinamento, a palavra e a ação litúrgicas são indissociáveis também enquanto realizam o que significam. O Espírito Santo não somente dá a compreensão da Palavra de Deus suscitando a fé; pelos sacramentos ele realiza também as “maravilhas” de Deus anunciadas pela palavra: torna presente e comunica a obra do Pai realizada pelo Filho bem-amado.

CANTO E MÚSICA

“A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da liturgia solene.” A composição e o canto dos salmos inspirados, com freqüência acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente ligados às celebrações litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradição: Recital “uns com os outros salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração” (Ef. 5,19) . “Quem canta reza duas vezes.”

O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por “estarem intimamente ligados à ação litúrgica”, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis:

Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam bem.

A harmonia dos sinais (canto, música, palavras e ações) é aqui mais expressiva e fecunda por exprimir-se na riqueza cultural própria do povo de Deus que celebra? Por isso, o “canto religioso popular deve ser inteligentemente incentivado a fim de que as vozes dos fiéis possam ressoar nos pios e sagrados exercícios e nas próprias ações litúrgicas, de acordo com as normas e prescrições das rubricas. Todavia, os textos destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das Sagradas Escrituras.”

Pe. Luiz Eduardo Pinheiro Baronto

“Fé demais não cheira bem”

Fé não é questão de pedir muita coisa a Deus e menos ainda de falar no nome do Senhor da boca para fora. Fé Cristã é vivência do Evangelho.

Texto: Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC

É muito comum escutarmos pessoas dizerem: “meu filho, meu marido têm muita fé, apesar de não ir à igreja”. Geralmente, fazem esta observação pelo fato de que o filho, o marido ou outra pessoa, de vez em quando, recorra a Deus ou a algum santo. Outros dizem: “eu tenho fé, porque aceito tudo o que a Bíblia diz e a Igreja ensina sem nunca questionar ou duvidar”. Seria isto fé? O que falar dos fanatismos, intolerâncias, moralismos, alienações e todo tipo de infantilismo na relação com Deus?

O verbo crer vem do latim – credere/cordare – significa dar o coração a Deus. Na Bíblia, o coração é a pessoa por inteiro em sua consciência, decisões e afetos. Crer, então, significa entregar-se totalmente a Deus de tal forma que minha maneira de agir, minhas decisões, minhas relações sejam pautadas pelos valores do evangelho. Crer significa confiar totalmente em Deus, buscar sua vontade, colocar sua única esperança no Senhor. Fé é fidelidade, perseverança, firmeza e convicção.

Nem sempre a pessoa que aceita tudo o que a Bíblia diz ou a Igreja ensina é uma pessoa de fé. Nem sempre aquele que nunca duvida é um crente. Podemos aceitar tudo, nada questionar e nunca mudar nada em nossa vida. Podemos nutrir exageros em matéria de religião como o fanatismo, a intolerância religiosa e o moralismo por causa de nossas inseguranças e da visão estreita de Deus e de sua Palavra. A pessoa de fé se conhece pelo seu comportamento.

A forma de tratar as pessoas com respeito e dignidade; a valorização de sua comunidade (Igreja); a forma como se preocupa com os pobres, excluídos e sofredores; seu jeito de viver e amar. A fé verdadeira se concretiza no amor.

Jesus foi muito claro ao dizer que “nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Fé não é questão de pedir muita coisa a Deus e menos ainda de falar no nome do Senhor da boca para fora. Fé Cristã é vivência do Evangelho.

Fé é entrega e abandono nas mãos de Deus, perseverança, fidelidade, convicção de vida. Significa colocar Deus como o absoluto de tal forma que Ele esteja presente, norteando nossos relacionamentos, decisões, nossa consciência, nossa existência. Fé Cristã é um comportamento de acordo com o Evangelho, com a proposta de Cristo. É abertura a Deus e ao outro, respeitando seu jeito diferente de ser, pensar, falar e professar outro credo diferente do meu.

Crer é um ato pessoal. Significa que eu tomo uma decisão em minha vida por Deus e pelo seu projeto de ser humano e de nova sociedade. Essa decisão, esse ato de entrega e comprometimento, ninguém pode fazer no meu lugar. Ninguém pode crer por mim.

Crer é um ato comunitário. A Comunidade Cristã é o lugar onde partilho, alimento, fortaleço minha fé. É o lugar onde me deixo ser questionado, desafiado para manter em contínua avaliação a minha vida e me converter. É o lugar do cultivo da minha existência como crente através da oração diária, da meditação da Palavra de Deus, da participação ativa na Celebração da Eucaristia, do estudo bíblico, da confissão de meus pecados e do serviço que presto na evangelização de meus irmãos e irmãs.

Crer tem dimensões sociais. Não se vive como cristão dentro de quatro paredes, mas no mundo, dando sua contribuição para a defesa do meio ambiente, dos direitos humanos, para que haja ética na política, para a superação dos preconceitos, injustiças e exclusões. Quem entra num processo de se tornar um ser humano novo, renovado em seu coração pela Graça de Deus colabora para que também surja um mundo novo “sem ódio, sem rancor e sem cobiça”.

Por isso, nas orações da Igreja fazemos a conclusão dizendo “amém”. Essa resposta pode ser traduzida por “estou firme”, “confirmo”, “estou convicto do que foi dito”. Da próxima vez que você disser “eu creio”, “eu tenho fé” ou “amém”, tente perceber se tudo isso brota do mais profundo do seu ser como convicção. Tente avaliar sua perseverança, fidelidade a Deus e ao seu Evangelho. Procure perceber se há um comportamento condizente com o que você diz. Caso contrário, serão apenas palavras vazias ditas diante de Deus. Nada mais do que uma grande mentira.

Pe. Paulo Roberto Gomes, mSC é Pároco da Paróquia São Paulo, em Muriaé, MG.

Novas Mídias

Mídia e você. Tudo a ver. Mesmo trocando uma palavra desta chamada de um canal de televisão, já nos lembramos a quem ela se refere. Não precisa mais do que isso, uma frase, para que o seu cérebro identifique e faça lembrar fragmentos do produto relacionado que você acabou de ler. É assim que as coisas no mundo da mídia funcionam. É preciso ser ágil.

Nossas paróquias também. Há um esforço hercúleo para estar caminhando, se não lado a lado, mas a passos próximos do que hoje conhecemos como mídias e novas mídias: twitter, facebook, blogs. Os trabalhos pastorais podem usufruir deste bem. Não há o que temer. A maioria dos jovens tem um contato bem intenso com elas. Se os jovens têm parte nesse mundo e frequentam as nossas paróquias, por que não ceder a eles um espaço novo, apresentando um trabalho pastoral que queira, além dos métodos tradicionais que atendem a uma grande parcela dos fiéis, alçar vôos nestas novas maneiras midiáticas de se falar de Deus?

Às vezes torcemos o nariz para a internet e tudo o que provém dela, mas certamente deve ter sido assim com o rádio, televisão, telefone e todas as novas tecnologias.

Nesse mês a Revista de Nossa Senhora quer apresentar este tema a você, leitor, além das colunas mensais que falam da catequese, de Maria, de espiritualidade e outras reflexões.

Boa leitura para você!

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