Revista de Nossa Senhora
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Teologia da Pequenez

pezezinhoO encantamento faz a teologia. Se o macrocosmo não nos encanta, tampouco a ideia de um Criador mexerá conosco. Se é admirável o que já se vê, mais impressionante deve ser o que não vemos e ainda mais admirável quem fez tudo isso. Se o microcosmo não nos impressiona, tampouco a ideia de um Criador detalhista que sabe de cada fio de cabelo nosso também nos impressionará.

A criança é encantadora e encantada. Tudo o que é maior do que ela, parece muito grande e arranca um “Uau! Puxa! Olha mãe!” Tudo o que é menor, toma seu tempo. Ela vê a formiguinha, o grilo, o ratinho, esquilo que lhe são menores com a admiração de quem vê vida abaixo dela. No dizer de grandes teólogos, entre eles Bento XVI, precisamos redescobrir a teologia da pequenez, ou seja, a teologia do encantamento do pequeno rebanho. (Sal da Terra, Editora Imago).

Crianças tímidas ou arruaceiras acabam se enturmando para ver os peixinhos na praia. Não há para elas a teologia da eleição. Há a teologia da admiração. Muitos peixes e todos juntos. Seu peixe especial nem sempre é o maior. Às vezes é o mais indefeso.

Quando Jesus fala dessa pequenez e diz aos discípulos que tornar-se pequeno é condição para entrar no Reino de Deus, quando deixa claro que não devem disputar os primeiros lugares; que devem servir de bacia e de toalha; que devem aprender a encantar-se e a apequenar-se a ponto de se declararem servos inúteis; que não merecem elogios por terem cumprido o dever, quando repreende os discípulos em disputa por um lugar de honra e, quando põe uma criança entre eles e a aponta como símbolo desta confiança no futuro, sem querer saber quem será o dono dele; na verdade está canonizando não a infantilidade, mas a simplicidade. Saber ser pequeno é coisa de adulto sério.

Tem feito falta esta teologia numa sociedade em que o individualismo invadiu todos os setores da vida. Tem faltado na mídia onde os números, as tabelas de audiência, os ratings e o ibope criam ídolos da noite para o dia e os sepultam com igual açodamento. Tem faltado na religião que também cria semideuses da fé. Deus me mandou dizer-lhes isto! Somos os novos escolhidos. Os outros falharam. Deus tem um recado especial para “você”: ele mandou dizer que “te” ama… Pregações e bilhetinhos desse tipo mostram a falta de uma teologia da pequenez. Onde se abusa das palavras “ especial, mais, maior e melhor”, onde o ibope e o marketing imperam, quase sempre a humildade e a simplicidade vão embora.

Certo estava Bento XVI que, perguntado por Peter Seewald sobre a essência do cristianismo, disse que a estatística não é uma das medidas de Deus! Trata-se de mostrar ao ser humano que ele é amado como indivíduo, mas no seio de da comunidade humana. Mesmo em multidão não somos uma Igreja massificada, mas grão de mostarda que descobre em pequenos grupos, aparentemente sem impacto, as grandes repostas da vida. O difícil é aceitar que somos um entre bilhões, sem ser apenas um a mais e sem nos acharmos mais do que os outros…

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.

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A missão dos cristãos leigos

cristaosOs Leigos são cristãos que têm uma missão especial na Igreja e na sociedade. Pelo batismo, receberam essa vocação que devem viver intensamente a serviço do Reino de Deus.

Na Igreja existem as diversas vocações: a sacerdotal, a diaconal, a religiosa e a leiga. Todas são muito importantes e necessárias, pois brotam do Batismo, fonte de todas as vocações.

Antigamente, a missão do leigo era relegada a segundo plano, valorizando-se só o sacerdócio e a vida religiosa. Mas depois do Concílio Vaticano 2, a vocação e missão dos leigos foram revalorizadas, conferindo-se-lhes a mesma dignidade dos sacerdotes e religiosos.

Dentro da comunidade eclesial, os leigos são chamados a desempenhar diversas tarefas: catequista, Ministro da Eucaristia, agente das diferentes pastorais, serviço aos pobres e aos doentes. São chamados também a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando de conselhos pastorais e econômicos.

Não como simples colaboradores do bispo e dos padres, mas como membros ativos da comunidade, assumindo ministérios e serviços para o engrandecimento da Igreja de Cristo.

Apesar desses serviços que desempenham na comunidade eclesial, sua missão mais importante é no mundo. Eles são chamados a realizar sua missão dentro das realidades nas quais se encontram no dia-a-dia.

Na família, no trabalho, na escola, no mundo da política e da cultura, nos movimentos populares e sindicais, nos meios de comunicação, são chamados a testemunhar, pela palavra e pela vida, a mensagem de Jesus Cristo. Nessas realidades, são chamados a desempenhar sua missão, necessária e insubstituível.

Por isso o papel do leigo não é ficar o dia todo na igreja, mas ser fermento nesses campos de vida e de atuação, ser “sal da terra e luz do mundo”. Nesses ambientes deve se empenhar para a construção efetiva do Reino de Deus, “um reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”, como rezamos no prefácio da missa da festa de Cristo Rei.

O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em prol dos irmãos, onde há o respeito pêlos outros, onde se luta pela justiça e pela libertação. E tudo isso acontece de modo especial através da atuação dos cristãos leigos.

Quando os leigos assumem de fato sua missão específica, podemos sonhar com uma nova ordem social. O Concílio Vaticano II e os ensinamentos do Papa insistem muito na necessidade de os leigos participarem ativamente na construção de uma nova sociedade, aperfeiçoando os bens criados e sanando os males. Felizmente, muitos têm entendido essa missão e se empenhado para bem cumpri-la.

Vemos com muita esperança hoje o crescimento da tomada de consciência por parte de muitos leigos que compreendem essa índole específica de sua missão. Acreditam nela e procuram exercê-la de modo digno e eficiente para que se faça cada vez mais concreta a promessa de Jesus: “O Reino de Deus está presente no meio de vós.”

Na festa de Cristo Rei é importante refletir sobre a corresponsabilidade na construção do Reino. Os leigos devem assumir seu papel, confiantes nas bênçãos divinas.

Devem participar da vida comunitária, buscando nas celebrações, sobretudo na Eucaristia, as forças de que necessitam para bem desempenhar sua missão na comunidade e no mundo.

Através dos leigos, a Igreja se faz presente nos diversos ambientes sociais, impregnando-os da mensagem de Jesus Cristo, semeando os valores evangélicos da solidariedade e da justiça, empenhando-se decisivamente na construção da sociedade justa, fraterna e solidária, sinal do Reino de Deus.

Dom João Bosco Óliver de Faria

Defender a nossa Igreja

pezezinhoAquele senhor que, visivelmente alterado, defendia a Igreja Católica, errou do começo ao fim. Não conhecia a catequese dos santos e, tentando provar que nós católicos somos a melhor igreja, praticamente afirmou que nós adoramos Maria. Não era a pessoa indicada para defender a nossa Igreja. Mostrou que nunca lera o catecismo católico.

Seu oponente não era melhor. Errou nas datas e nos fatos históricos. Ouvira algum pregador da sua nova igreja e falou como quem o ouviu mas não leu os livros que ele disse ter lido. Acusou os católicos de terem matado dez milhões de evangélicos na Alemanha, no tempo de Lutero,e culpou o general Inácio de Loyola de haver massacrado os huguenotes na Inglaterra. Foi triste e inquietante ouvir os dois naquele restaurante. Mais triste ainda ver que os presentes á mesa aceitavam tudo passivamente, como se alta cultura fosse… Parecia discussão de Corintiano e Palmeirense. Um se vangloriando das vitórias do passado, outro exaltando as atuais conquistas do seu time, ambos rindo dos erros do outro e cada um explicando e justificando esta ou aquela eventual derrota do seu timaço.

Não somos obrigados a ficar em silêncio, quando alguém ofende a nossa mãe, mas não se resolve o problema chamando a mãe do outro de prostituta ou leviana. Moleques fazem isso, cristãos, nunca!. Se alguém ofende a nossa Igreja e nos alteramos, ofendendo a dele, negamos o Cristo. O mundo não ficará melhor com isso. Já sabemos aonde leva essa conversa de demônios do lado de lá e anjos do nosso lado, eleitos e rejeitados, santos e ímpios e salvos e perdidos. Quando ensinamos que os nossos fiéis estão salvos e os fiéis deles precisam ser convertidos, já começou a mentira. As guerras de fundo religioso começaram com esse tipo de pregação exclusivista e excludente; em geral também presunçosa e recheada de vaidade. Nós sabemos mais, entendemos melhor a Bíblia, seguimos melhor o Cristo, amamos mais a Deus, somos mais eleitos e, por isso, Deus está mais conosco do que com vocês que ainda não o conhecem!. Quem já não ouviu esse tipo de pregação no rádio e na televisão? Não são ingênuos nem ignorantes. Quem faz esse discurso sabe por que o faz e aonde quer chegar. Sabe por que diminui a igreja do outro e que pontos fracos dela escolheu ressaltar. Sabe também por que oculta os pontos fracos da sua e omite as passagens bíblicas que poderiam dar razão á outra Igreja!

Melhor forma de defender a nossa Igreja naquela hora é dar um sorriso amigo e mudar de assunto. Quando aquele irmão de outra fé quiser de fato dialogar, a gente vai para algum canto onde um mostra para o outro as passagens do livro santo nas quais se baseia e os livros nos quais aprendeu o que pratica. Mas como faremos isso, se não lemos nem a bíblia nem o catecismo da nossa Igreja?. Neste caso o melhor é despedir-nos cortesmente e e desejarmos que a mesma luz que ele quer que nos ilumine, não acabe por cegá-lo!…

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros e 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

Nas celebrações do mês de fevereiro, o que saber sobre

Apresentação do Senhor

pontodevista-internaEmbora esta festa de 2 de fevereiro caia fora do tempo de Natal, é parte integrante do relato da Natividade. É uma faísca do natal, uma epifania do quadragésimo dia. Natal, epifania, apresentação do Senhor, são três painéis de um tríptico litúrgico.

Entre as igrejas orientais esta festa era conhecida como “A festa do Encontro” (em grego, Hypapante), nome muito significativo e expressivo, que destaca um aspecto fundamental da festa: o encontro do Ungido de Deus com seu povo. Obedecendo à lei mosaica, os pais de Jesus o levaram ao templo quarenta dias depois de seu nascimento, para apresentá-lo ao Senhor e fazer uma oferenda por ele.

A bênção das velas antes da missa e a procissão com as velas acesas são características da celebração atual. É adequado que, neste dia, ao escutar o cântico de Simeão no evangelho (Lc 2,22-40), aclamemos a Cristo como “luz para iluminar as nações e para dar glória a teu povo, Israel”.

Quarta-feira de Cinzas

Com a imposição das cinzas, preparamo-nos dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.

Na Igreja primitiva, variava a duração da Quaresma, mas eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa. Isto resultava em 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No século VII, foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma, estabelecendo os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo no deserto.

Hoje em dia, na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

Quaresma

A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender dos nossos pecados e mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo. Ela começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo

Não sabemos bem como se originou essa festa. Mas é certo que existe uma inscrição, datada da 370 – portanto, há mais de 1.600 anos – atribuída ao Papa São Dâmaso, falando de uma cadeira portátil, dentro do Vaticano, considerada a “cátedra” do Apóstolo Pedro.

Hoje, dessa cadeira restam apenas algumas relíquias de madeira, conservadas e honradas, num lugar onde o grande artista Bernini levantou um monumento grandioso, em honra do primeiro Papa, a Basílica de São Pedro.

A Redação

Jornada Mundial – Por dentro da JMJ 2013

jmj-internaA partir deste mês a revista de Nossa Senhora traz informações sobre a Jornada Mundial da Juventude que acontecerá em julho, no Rio de Janeiro. Para início de conversa um pouco da história deste encontro entre o Papa e os jovens e os objetivos deste evento.

Tudo começou com um encontro promovido pelo Papa João Paulo II em 1984. Foi um encontro de amor, sonhado por Deus e abraçado pelos jovens. Vozes que precisavam ser ouvidas e um coração pronto para acolhê-las.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), como foi denominada a partir de 1985, continua a mostrar ao mundo o testemunho de uma fé viva, transformadora e a mostrar o rosto de Cristo em cada jovem.

São eles, os jovens, os protagonistas desse grande encontro de fé, esperança e unidade. A JMJ tem como objetivo principal dar a conhecer a todos os jovens do mundo a mensagem de Cristo, mas é verdade também que, através deles, o ‘rosto’ jovem de Cristo se mostra ao mundo.

A Jornada Mundial da Juventude, que se realiza anualmente nas dioceses de todo o mundo, prevê a cada 2 ou 3 anos um encontro internacional dos jovens com o Papa, que dura aproximadamente uma semana. A última edição internacional da JMJ foi realizada em agosto de 2011, na cidade de Madri, na Espanha, e reuniu mais de 190 países.

A XXVIII Jornada Mundial da Juventude será realizada de 23 a 28 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro e tem como lema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19).

As JMJs tem sua origem em grandes encontros com os jovens celebrados pelo Papa João Paulo II em Roma. O Encontro Internacional da Juventude, por ocasião do Ano Santo da Redenção aconteceu em 1984, na Praça São Pedro, no Vaticano. Foi lá que o Papa entregou aos jovens a Cruz que se tornaria um dos principais símbolos da JMJ, conhecida como a Cruz da Jornada.

O ano seguinte, 1985, foi declarado Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas. Em março houve outro encontro internacional de jovens no Vaticano e no mesmo ano o Papa anunciou a instituição da Jornada Mundial da Juventude.

A primeira JMJ foi diocesana, em Roma, no ano de 1986. Seguiram-se os encontros mundiais: em Buenos Aires (Argentina – 1987) – com a participação de 1 milhão de jovens; em Santiago de Compostela (Espanha – 1989) – 600 mil; em Czestochowa (Polônia – 1991) – 1,5 milhão; em Denver (Estados Unidos – 1993) – 500 mil; em Manila (Filipinas – 1995) – 4 milhões; em Paris (França -1997) – 1 milhão; em Roma (Itália – 2000) – 2 milhões, em Toronto (Canadá – 2002) – 800 mil; em Colônia (Alemanha – 2005) – 1 milhão; em Sidney (Austrália – 2008) – 500 mil; e em Madri (Espanha – 2011) – 2 milhões.

Além do fato de estar em outro país, com seus encantos turísticos, a participação na Jornada requer um corpo preparado para a peregrinação e um coração aberto para as maravilhas que Deus tem reservado para cada um. São catequeses, testemunhos, partilhas, exemplos de amor ao próximo e à Igreja, festivais de música e atividades culturais. Enfim, um encontro de corações que creem, movidos pela mesma esperança de que a fraternidade na diversidade é possível.

Fonte: www.rio2013.com

Caros Leitores (as)

editorialNão sei se vocês têm costume de colecionar os números de nossa revista, mas se tiverem, procurem o Editorial do número de julho de 2012, e leiam novamente o que escrevemos a respeito de nossa identidade missionária. Desde os primórdios, nosso Fundador, o Padre Júlio Chevalier, lutou com todas as suas forças, até mesmo contrariando seu Conselho, para que a Congregação enviasse missionários para as regiões desafiadoras do Pacífico, mais precisamente a Nova Guiné.

Lembramos o sonho do El Dorado, as missões no Equador, na América do Sul, onde em fins do século 19, padres franceses lá estiveram durante sete anos, uma obra aparentemente fracassada, mas que ainda assim produziu muito fruto de salvação. E recordávamos também, com alegria, a volta ao Equador, quase 100 anos depois, de missionários brasileiros que iniciavam um novo trabalho naquele belo país dos Andes. E entre esses pioneiros, focalizávamos a figura de nosso confrade, Padre Antônio Carlos de Meira, que depois de 13 anos, evangelizando comunidades indígenas nos páramos a mais de 3 mil metros de altitude, aceitou o novo desafio de descer até o litoral quente e úmido de Porto Viejo, em meio a uma população pobre e desassistida, reiniciando uma nova vida com o mesmo zelo e o mesmo ardor missionário.

Pois bem, caros leitores, nosso grande missionário, no último dia 29 de novembro, veio a falecer, no vigor de seus 50 anos. Foi juntar-se aos antigos confrades da mesma cepa, Navarre, Verjus, Boismenu e tantos outros que, do outro lado do mundo, mas com o mesmo espírito, há 130 anos, abriram caminhos para essa brilhante epopeia missionária.

Que lá do alto, onde foi receber a recompensa dos justos, Padre Antônio Carlos peça a Deus para que jamais deixemos apagar essa chama acesa pela inspiração de nosso Fundador, Padre Júlio Chevalier.

A REDAÇÃO

Viver o dia a dia

two butterfly on flowers Depois do meu AVC, do qual me recupero com paciência, entendi ainda mais o significado da palavra precariedade.

De fato, há coisas que de nós depende, há outras que acontecem e não prevíamos e há aquelas em que nos arriscamos. Mas, embora possamos colaborar com alguém maior que nós, se cremos que Deus existe, chega o dia em que a palavra cabal é “conformidade”. E passamos a viver do dia a dia. Cada dia é mais um trecho da estrada que não sabemos para onde seguirá. Só sabemos que é Ele quem decide.

Eu disse isso a um amigo meu, que também não sabe no que vai dar sua nova experiência de precariedade. Cada um reza e suplica como sabe, e aceita a sua maneira os fatos.

Mas, eu e meu amigo nos apegamos no Filho de Deus e pedimos sua misericórdia. Também oramos aos santos que nos precederam e principalmente à mãe de Jesus – que dele muito sabia; contamos com sua intercessão sabendo que o intercessor maior é seu Filho que nos disse para invocá-lo na alegria e nas aflições.

Nós sabemos que temos a certeza de que Deus nos ensina a viver e a morrer. Sabemos que não vivemos em vão. Acertamos e erramos, mas, a misericórdia do bom Deus é maior do que nossas misérias…

É uma graça saber que já não somos quem éramos e que há coisas que já não podemos como outrora podíamos… Então, de aprendizado vivemos do dia a dia.

Como São Paulo, também nós completamos a nossa parte e o coração de Cristo supre o que não podemos alcançar!

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros e 115 álbuns musicais. www.pezezinhoscj.com

Diário de Missão: Solidão

amazonasAo esmaecer do sol, crepúsculo envolvente, sigo caminhando pelas ruas de um conjunto de casas populares dentro dos limites de nossa paróquia. Ao meu lado um fiel ministro da Eucaristia, da etnia Tukana que atende pelo patrístico nome de Siríaco. As ruas do bairro denunciam a realidade sofrida e desassistida das pessoas que aqui vivem. Há por todos os lados poucos sinais de limpeza, organização e saneamento básico. Com passos cadenciados, vamos visitando os enfermos, os frágeis e vulneráveis deste lugar.

Numa das casas, um cenário chama a atenção. O silêncio parece uma abadia cartuxa. Após insistirmos, uma voz frágil convida-nos a entrar. Empurramos a porta lentamente. Passos brandos, vamos descobrindo o ambiente. Uma minúscula sala nos coloca num outro cômodo onde encontramos a origem da voz que nos chamava. Numa rede, armada a uma altura mínima do chão, está uma debilitada senhora. À sua direita há uma cuia com água; à esquerda outra, com farinha. Junto delas, uma terceira onde ambas as espécies são misturadas, formando o que aqui chamamos de xibé. Observando aquela senhora, vejo uma desgastada imagem de Maria ao pescoço, sinal da tradição cristã destes povos. Incomodado pela altura da rede, logo percebo que é para facilitar a descida da anciã, pois já não anda e tem que arrastar-se até o banheiro da casa e demais cômodos .

A sensação de solidão é palpável. Conversando com ela, descubro que as filhas todas já se casaram e não há ninguém – por ingratidão e/ou omissão – que possa viver com ela. Existe, contudo, uma filha que, ao raiar do dia, vem encher as cuias com água e farinha e parte para a roça com seu aturá e terçado em riste. O decorrer do dia aquela mulher passa sem companhia alguma. Apenas Deus, assegura ela. As necessidades mais elementares para qualquer pessoa tornam-se complexas, tudo é feito arrastando-se pelo chão da casa.

Paulatinamente, sua combalida voz vai denunciando traços de uma religiosidade intensa. A devoção filial à Virgem Maria nutre sua confiança em Deus. Seu olhar profundo, penetrante e, por vezes, perdido no horizonte revela uma confiança fiducial no Infinito, no transcendente, num Deus que é uma beleza tão antiga e tão nova. Seu sorriso tímido e discreto, revela que, não obstante a situação adversa, há uma felicidade em continuar vivendo.

Após a conversa, cumpro a minha missão: Ouço sua confissão e dou-lhe a Eucaristia. Despedimo-nos e retornamos para casa, desta feita com passos apressados, mas com o coração intimamente ligado ao daquela mulher. Como não rememorar aquela situação, como não pensar em sua vida solitária? Deus, contudo, consola-me e faz entender que solidão é, como diz o poeta, “quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa Alma”. Isso, acredito, certamente não é a situação daquela mulher que se sente

visceralmente ligada a Deus.

Pe. Reuberson Ferreira,mSC trabalha no Alto Rio Negro, Diocese de S. Gabriel da Cachoeira (AM).

Caros leitores, um santo e feliz Natal !

E nossa revista, entre aquelas colunas que vocês se acostumaram a saborear, coloca , este mês, uma ênfase muito especial na solenidade da natividade do Senhor. Se não, vejamos: há três suplementos sobre a festa, os dois primeiros discorrendo sobre uma celebração para crianças e para a família, respectivamente. O terceiro fala de símbolos e ritos que, indo além dos sinais exteriores, nos levam a mergulhar no mistério do amor de Deus por nós, revelado em Jesus.

A coluna sobre Maria, partindo da citação de Lucas, 2, 6-12, acentua os sinais, especialmente o sinal dado pelos anjos aos pastores: “Acaba de nascer para vós o Salvador”. Claro que Jesus nasceu pra todos nós, mas desde as primeiras páginas do evangelho, Deus revela sua predileção pelos pequenos e pobres. E lembra o apóstolo: “O que é loucura para o mundo, Deus escolheu para confundir os sábios” 1 Cor. 1, 27-29.

Na página sobre o Coração de Jesus, Padre Cortez diz que o coração do Deus-Menino pulsa em nossa história, tornando-nos mais humanos, porque aqui o humano e o divino se abraçam. Natal é encontro.

Nosso poeta, o Fernando Clemente, em versos singelos, nos fala de uma prosa-conversa com a Palavra-Verbo de Deus… Jesus, que um dia nasceu em Belém, hoje nos diz: “ Abraça a minha humanidade, deixa-me nascer em ti”.

Caros leitores, um santo e feliz Natal ! 

A Redação.

O Evangelho de Lucas: A VITÓRIA

Assim, Lucas mostra que o Ressuscitado caminha conosco, conhece nossas tristezas, instrui-nos pelas Escrituras e ao celebrar a Eucaristia conosco, envia-nos em missão. O irmão, a Palavra e a Eucaristia, a partir da vivência em comunidade, são as formas de experimentar o Cristo Vivo

Jesus foi crucificado na sexta-feira, véspera da Páscoa celebrada pelos judeus. Sua ressurreição é apresentada no primeiro dia da semana – quando tudo recomeça – e ao amanhecer do dia. Um novo dia é oportunidade de nova luz para recomeçar a vida. As primeiras testemunhas da Ressurreição são as mulheres marginalizadas da época (24,1-12). Pela sociedade não podiam ser testemunhas, por Deus a palavra delas é verdade.

Ao falarmos da Ressurreição de Jesus devemos tomar alguns cuidados. Não se trata de um cadáver que volta à vida, ainda que o cadáver de Jesus possa ter passado por uma transformação. Outro cuidado: a única forma de falar de algo grandioso como a vida nova em Deus era usando imagens. Não podemos tomar as imagens ao pé da letra, mas como ilustrações para compreender a mensagem.

Assim, Lucas mostra que o Ressuscitado caminha conosco, conhece nossas tristezas, instrui-nos pelas Escrituras e ao celebrar a Eucaristia conosco, envia-nos em missão. O irmão, a Palavra e a Eucaristia, a partir da vivência em comunidade, são as formas de experimentar o Cristo Vivo (24,13-35). A insistência nas chagas das mãos e dos pés é uma forma de o evangelista mostrar que o ressuscitado não é um fantasma, mas o Crucificado transfigurado no poder de Deus. Depois de algumas instruções, Lucas narra a ascensão de Jesus (24,36-53) como forma de fazer uma ponte entre seu Evangelho e os Atos dos Apóstolos. Revela também que a partir de agora Cristo termina sua missão e começa a missão de todos nós, que pelo batismo, nos tornamos Igreja.

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé, MG

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