Revista de Nossa Senhora
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Caros Leitores

Sagrado Corazón ©Francesco LayEstá despontando mais uma vez o mês das festas juninas, o espírito festivo e festeiro, mês de quadrilhas, fogueiras e balões, herança lusitana que em nossas plagas aportou com as caravelas de Cabral. Ainda mais agitado que em outros anos, visto que junho vai receber delegações de vários países para um torneio internacional de futebol, sem falar da preparação da Jornada Mundial da Juventude, no mês seguinte.

Contudo, você, leitor(a), que conhece nossas prioridades e comunga com nossa espiritualidade, estranharia se, nesse número da revista ANAIS, não reservássemos matéria especial sobre o Coração de Jesus. É o que você vai ler e apreciar no Destaque do Mês, o artigo: Anunciar o Coração de Jesus, um Dom, uma Meta.

Historiando um pouco o processo da comunicação humana, desde os primórdios até a sofisticação das redes sociais hoje, diz o Padre Air:” Se a Igreja se encontra hoje num espaço multimídia de comunicação, que o conteúdo seja o próprio Cristo, aqui revelado na devoção ao Coração manso e humilde, forte e determinado, características de quem quer vê-lo amado sempre”.

Aos poucos, vamos tirando o foco do Papa Francisco, o Encantador, conforme título de outra coluna.Homem de gestos simples, ele vai colocando em prática, sem alarde, um importante processo de mudança, que teve início com a instituição de um Conselho de Cardeais, expressão eloqüente do colegiado que deve animar a Igreja.

Caro leitor(a), eis aí mais um número da sua revista, modesta contribuição para o nosso crescimento na fé que vai se traduzir em práticas de amor aos irmãos.

Boa Leitura !

A Redação

Morte e Ressurreição

900774_99632240 “Padre, creio piamente que Cristo ressuscitou. Agora, pensando filosófica e historicamente, Jesus, depois de ressuscitado, teria morrido normalmente como qualquer outro ser humano, certo? Por que é que não temos narrativa desse fato de apóstolo nenhum e nem de escritores dos primeiros séculos, como Flávio Josefo? Haveria aí alguma explicação ou este é outro mistério insondável da vida de Jesus?” José Carlos Barbosa – S. José do Alegre MG. Por email

Caro José Carlos, o leitor desavisado talvez estranhe a formulação erudita de sua pergunta porque desconhece sua história de ex-seminarista MSC, hoje professor aposentado, agente pastoral atuante em sua comunidade.Isto, sem falar que foi meu aluno, no curso clássico, na Escola Apostólica, Pirassununga, nos idos de 1960 …

Sabemos que a Bíblia descreve fatos que nem sempre são acontecimentos históricos, razão pela qual exigem uma leitura em clave teológica ou simbólica. Quanto aos fatos da morte e ressurreição de Jesus, trata-se de fatos marcantemente históricos. Sua morte física foi testemunhada pela multidão no calvário, constando seu relato até mesmo em obras de escritores pagãos. Sua ressurreição, embora o sepulcro vazio não a prove diretamente, contudo insinua algo que depois iria se confirmar por várias aparições, caso das santas mulheres, dos discípulos de Emaús e dos apóstolos. Note-se que esses últimos, medrosos e trancados no cenáculo, não alimentavam qualquer expectativa a respeito, alguns até duvidavam no momento de sua subida aos céus. Aliás, Marcos e Lucas (o Lucas do evangelho, não o dos Atos dos Apóstolos) colocam todos os acontecimentos no mesmo dia, domingo, primeiro dia da semana: o Pentecostes, as aparições às santas mulheres, aos discípulos de Emaús e aos apóstolos reunidos no cenáculo. Em seguida, após a refeição, Jesus os leva até Betânia, onde, antes de subir aos céus, os envia a pregar o evangelho. Diz o Catecismo da Igreja, n. 645: Cristo ressuscitado, que apareceu aos apóstolos e comeu com eles, “tem um corpo autêntico e real, possuindo ao mesmo tempo propriedades novas de um corpo glorioso; não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai”.

J.Carlos, não se pode comparar a ressurreição de Jesus com aquelas que Ele realizou, devolvendo a vida à filha de Jairo, ao jovem de Naim e ao seu amigo Lázaro. Esses voltaram a morrer. Cristo, não!

Há muitas lendas sobre a pessoa de Jesus, em especial nas centenas de escritos apócrifos, muitos deles elaborados cerca de 200 anos depois de Cristo, com tempo suficientemente longo para a criação de fantasias. São obras que servem de script para romances e filmes atuais, como O Código Da Vinci. Apócrifos modernos seriam, por exemplo, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e outros. Jesus não voltou a morrer. Na ascensão termina sua presença terrena e histórica, tendo início o tempo da Igreja, a qual, assistida pelo Espírito Santo, procura responder a sua última e solene convocação: VÓS SEREIS MINHAS TESTEMUNHAS! 

Pe. Humberto Capobianco, MSC é Diretor do Colégio John Kennedy em Pirassusunga, SP.

Qual a finalidade da luz dentro da igreja?

atualidadeIIComo tudo dentro do espaço de celebração, o objetivo é sempre a funcionalidade.

Funcionalidade a serviço da liturgia. Mas mais do que isso, a iluminação precisa ser mistagógica e nos ajudar a penetrar o mistério.
Tenho observado que a iluminação, tanto a natural como a artificial, não tem sido usada de forma adequada nas igrejas. Os recursos tecnológicos não têm sido usados corretamente para se ter conforto visual, iluminação adequada nos diversos espaços que compõem o lugar da celebração e muito menos ambientação que nos leve à oração e ao recolhimento. Não podemos iluminar igrejas como iluminamos uma farmácia, uma biblioteca, um hospital, uma loja.

E como a iluminação no espaço de celebração pode valorizar a liturgia e criar o ambiente necessário para exprimir melhor o mistério ali celebrado? Sabemos que as condições ambientais interferem no estado de espírito das pessoas. Não há como participar bem da liturgia sem um mínimo de conforto, seja térmico, seja acústico, com bancos decentes e iluminação adequada. Sem esses cuidados não há como ter um ambiente de recolhimento e oração e muito menos a participação dos fiéis, que os documentos pós conciliares nos pedem.

Por onde começar?

A preocupação primeira deve ser com a iluminação natural do espaço. Em tempos de crise energética, de necessidade de sustentabilidade sob risco de extinguirmos a vida humana do planeta, investir na iluminação natural é o caminho mais sábio. Mas não se trata aqui de abrir um monte de janelas e em qualquer lugar. A luz que entra em excesso pode também ser prejudicial, pois com ela entra também o calor, o barulho de fora e, dependendo da orientação do sol, a luz excessiva que pode ofuscar e atrapalhar nossa participação na liturgia. As aberturas devem considerar a orientação solar, a entrada necessária de ar novo e a saída do ar quente, e considerar qual a paisagem que se terá de dentro da igreja.

Há que se considerar que a luz e a sombra andam juntas. É a existência da sombra que valoriza a luz, a fé caminha entre luzes e sombras, também o espaço deve ter a presença das sombras para fazer sentido. Um lugar todo iluminado por igual, sem distinção de espaços, sem valorização de lugares, um lugar homogeneizado, é sem graça e não estará a serviço da liturgia.

Outra preocupação que devemos ter é com uma iluminação adequada ao espaço de celebração. Não é porque está na moda isso ou aquilo, que será apropriado para o ambiente religioso. Há um tempo trocamos as luminárias de muitas igrejas e as substituímos por calhas de lâmpada fluorescente. Era mais simples e mais econômico. Mas matou o ambiente de recolhimento e oração, ficou sem graça e transformou muitas igrejas em salas frias e nada aconchegantes.

Diácono Michel dos Santos, MSC, trabalha na Paróquia
Nossa Senhora da Soledade em Delfim Moreira – MG

Catecismo da igreja Católica

internaCom o Catecismo, a Igreja apresenta a sua vida litúrgica e os fundamentos de sua existência baseados na Tradição e Magistério. Aqui encontramos a nossa forma de ser Igreja e professar a nossa fé.

Até outubro deste ano, todo católico ouvirá de maneira explícita reflexões sobre a Fé e o Catecismo da Igreja Católica. Pode ser que a palavra catecismo esteja em desuso, mas ela dá título a um dos mais importantes documentos da Igreja católica e vale a pena entender a sua origem. Neste ano, todas as comunidades católicas são convocadas a estudar e conhecer de maneira significativa o que é o Catecismo, para quê existe e qual a sua finalidade dentro da Igreja.

Como história, é bom lembrar que nos idos de 80, em comemoração aos 20 anos do Concílio Vaticano II – hoje comemoramos cinquenta – o Sínodo, promulga a elaboração do Catecismo da Igreja Católica que tinha como finalidade instruir os católicos sobre as doutrinas de sua fé. Como se tratava de um importante documento, referência em todos os aspectos teológicos e abordaria a essência de nossa fé, ele demorou em torno de seis anos para ser preparado. Um trabalho árduo que exigiu a presença de cardeais e vários bispos especialistas em catequese, liturgia e bíblia. Nada mais completo do que um documento que pudesse ser luz para os cristãos católicos e, por isso, tudo devia ser bem fundamentado.

Com o Catecismo, a Igreja apresenta a sua vida litúrgica e os fundamentos de sua existência baseados na Tradição e Magistério. Aqui encontramos a nossa forma de ser Igreja e professar a nossa fé. Por isso, neste ano em que a Igreja celebra o Ano da Fé, nada mais justo e apropriado do que estudar minuciosamente este documento que esclarece de maneira didática e clara, as questões da nossa fé.

Para que isto se torne uma realidade mais acessível a todos os fiéis, há oito anos a Igreja publicou um Compêndio deste Catecismo com perguntas e respostas para facilitar a sua compreensão.

O Catecismo da Igreja Católica está dividido em quatro partes: a profissão de fé, a celebração do mistério cristão, a vida em Cristo e a oração cristã. Estes capítulos abordam a revelação de Deus aos homens através da Encarnação de seu filho Jesus, trata também de maneira minuciosa a oração da profissão fé que rezamos todos os domingos na santa missa, o relacionamento do homem com Deus e as sagradas escrituras.

É um conteúdo denso, cheio de referências para a vivência de nossa vida cristã e um alicerce para compreender que o nosso batismo, a nossa profissão de fé e a oração devem estar entrelaçados por uma vida perfeita e testemunhal.

É importante, portanto, promover em sua comunidade paroquial um estudo sobre este documento. É preciso conhecer e redescobrir valores em nossa Igreja. A nossa profecia precisa sair do achismo sobre isso e aquilo e anunciar com maturidade a nossa fé. E para isso é sempre bom ter o alicerce na Palavra e na Tradição da Igreja.

A Redação

Os limites da Pregação

pezezinhoAquilo que alguns chamam de espiritualidade do púlpito, em alinhamento com a espiritualidade do claustro e com a espiritualidade da missão, há propostas e posturas das quais o pregador não deve se afastar, sob pena de perder conteúdo, autoridade e credibilidade.

Ele deve se estabelecer um “até aqui” ou um “daqui não passo” por mais interessante, vantajoso e missionário que seja prosseguir. Para a formiga também há um limite de tamanho. Cortará o pedaço que pode levar. Além disso, ela cairá pelo caminho. Fazem o mesmo os Joões de Barro, as andorinhas, o castor, e os animais que constroem para o futuro da comunidade. Nenhum deles passa do limite.

Ultrapassado o limite, o pregador que sabe ser enviado pela comunidade à qual se filiou exporá aos superiores as suas razões e decidirá com eles se vai embora, para ou continua.

Há três limites dos quais um pregador não deve abrir mão. O da sua dignidade pessoal, o da sua capacidade de prosseguir ou ampliar o que faz e o do conteúdo. Se sentir que foi desrespeitado gravemente na sua missão e após opinião dos superiores, se sentir que não tem mais saúde ou que exigem dele mais do que pode dar naquele veículo, se interferirem no conteúdo de sua pregação aprovada pelas autoridades de sua Igreja, ele deve evitar conflito e ir embora, comunicar a fé em outro veículo e em outro lugar, mesmo que a partir de sua decisão perca 90 ou 95% de sua assembleia.

As duas vezes em que tomei a decisão de mudar de veículo de comunicação fui questionado por amigos que diziam que eu não poderia perder aquele espaço. Deveria ceder. Mas consultara meus colegas e eles concordaram que meu limite fora ultrapassado. Decidiram comigo. São opções minhas que não devem nunca expor os outros. Se alguém pensa diferente e o veículo de comunicação, ou seja, o púlpito está aos seus cuidados, quem deve se retirar é pregador. Sei de muitos que assim fizeram, deixando o lugar para outros.

A Igreja sempre tem outros pregadores que talvez façam melhor do que ele. E , mesmo que não façam, aceitam a visão dos que conduzem aquele púlpito. Há muitos púlpitos na nossa igreja e, se acontecer de um pregador que ontem falava para milhões de ouvidos, sair por razões de espiritualidade, ficar reduzido a 2% da audiência que tinha, considere isso uma das dores do seu púlpito. Ao sair, não deve dizer ao grande público por que desceu daquele espaço. Coloque-se nas mãos de Deus que, se o quiser com alguma preeminência, o colocará num outro púlpito.

Ninguém deve cavar seu espaço e seu púlpito. Aceite o convite. Se não for convidado, fique no seu pequeno púlpito de onde saiu a convite. Haverá sempre alguma assembleia onde sua pregação será útil à Igreja. Nunca se governe por sucesso, impacto ou números. Isto, para que seja unção e graça, depende de Deus.

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.
www.padrezezinhoscj.com

O Papa Francisco

acontece3O Papa não é apenas um homem que reza missa. O seu principal papel é cuidar da fé do seu rebanho, orientar a Igreja, criar um espírito de fraternidade e promover o seguimento ao evangelho de Jesus Cristo, sem falar dos seus compromissos de estado, relacionados com os governos do mundo todo.

A chaminé instalada sobre o telhado da capela Sistina, em Roma, é sempre a mais vigiada. Mais do que qualquer reality show, ela tem o seu formato delineado, esmiuçado por diversos ângulos de câmeras de todo o mundo que volta o seu olhar para um dos maiores acontecimentos da história: a escolha do sucessor de Pedro, o novo Papa.

Na ausência do Pontífice, por morte ou renúncia, a Igreja declara que a Sede está Vacante, que a cadeira do pastor está vazia. A partir daí há uma corrida contra o tempo para convocar os cardeais eleitores, os de menos de 80 anos, para o encontro que se chama Conclave, que decidirá quem será o novo sucessor de Pedro.

Esta foi a nossa realidade deste o dia 11 de fevereiro, data do anúncio da renúncia de Bento XVI, até o dia 13 de março, quando a fumaça branca, depois de cinco escrutínios, anunciava que um novo Papa estava prestes a ser apresentado ao seu rebanho, na Praça São Pedro, em Roma. E foi assim que o nosso olhar viu e se encantou à primeira vista com um homem simples, de sorriso fácil, e que antes de ministrar a bênção ao povo, chamada Urbi et Orbi, – para a cidade e o mundo – inclinou-se e pediu que primeiro, nós o abençoássemos. O nome escolhido para ser conhecido e amado? Francisco. Papa Francisco. E desde então, a imprensa e a mídia do mundo inteiro o aproximam de Francisco de Assis, o santo amado e reverenciado pelo mundo inteiro. Papa Francisco será dos pobres, como o de Assis. Trará um carisma e um tempo novo à Igreja, é o que se tem idealizado sobre ele.

Especulações à parte, vemos que as últimas atitudes, quebras de protocolo, contato direto com os peregrinos, discursos improvisados já dão conta de que ele será mais próximo do povo até o limite do possível e que o esquema de segurança permitir. É lógico que isto em nada desabona o seu antecessor, papa emérito Bento XVI, pois cada um tem o seu carisma e forma de conduzir.

O Papa Francisco encontrará uma Igreja sedenta. Nos últimos meses toda mídia expôs de maneira violenta, fria e irônica escândalos envolvendo a Igreja, como pedofilia, renúncias de bispos, corrupção financeira e tudo o mais. Este será sempre um prato cheio para os críticos de plantão, mas que o Papa Francisco e o colégio cardinalício tratarão com afinco e determinação. Em princípio, podemos esperar, através de seus discursos que Francisco tratará de todas estas questões e não se intimidará com os apelos sensacionalistas de uma imprensa superficial e interesseira.

A proximidade com o mundo moderno e com os jovens será uma das suas preocupações. Em seus recentes discursos, deu a entender que buscará um diálogo intenso com todos os cristãos e será o porta-voz de um povo que precisa de um pastor, procurando trazer de volta os fiéis que se perderam ou não mais se encantaram com uma Igreja, segundo eles, caricata e antiga. Com as devidas proporções, o Papa Francisco entra na Igreja num momento em que ela precisa de esperança e nele ela a encontra de maneira entusiasmada.

“Uma Igreja dos pobres e para os pobres”, foi uma das frases do santo padre, no dia 16 de março passado, em entrevista coletiva para a imprensa do mundo inteiro, na sala Paulo VI. Isso denota uma preocupação com o outro, um ser de Francisco de Assis e de toda a Igreja. Ao mencionar a misericórdia em sua primeira aparição para o Ângelus, ele reforçou a questão da caridade como meio de relacionamentos justos, livres e verdadeiros.

O Papa não é apenas um homem que reza missa. O seu principal papel é cuidar da fé do seu rebanho, orientar a Igreja, criar um espírito de fraternidade e promover o seguimento ao evangelho de Jesus Cristo, sem falar dos seus compromissos de estado, relacionados com os governos do mundo todo. Não será fácil, como não foi para nenhum Papa, mas ele estará apoiado na oração dos quase 1,2 bilhões de católicos do mundo todo. E convenhamos, não é pouca coisa.

A oração parece ser a busca incessante, segundo o Papa. Nela encontramos a base, a sustentação e o alimento para a nossa fé. Não nos enganemos: o Papa Francisco não será apenas aquele homem de sorriso largo e de intensa liberdade ao se aproximar do seu rebanho. Ele buscará de maneira enérgica e eficaz dar respostas para tantos males do nosso tempo e nós sabemos bem quais são. Tudo o que foi mostrado e dito na imprensa sobre o Papa até agora, com notas e fotos de suas andanças nos metrôs e ônibus de Buenos Aires, não reflete necessariamente o seu pontificado, mas ajuda-nos a compreender que ele não se indisporá com coisas menores e estará atento à vida de cada ser humano onde quer que ele esteja.

A Redação

Pra começo de conversa

XCARETCaro(a)s Leitore(a)s, mês passado, nosso editor, Padre Air José de Mendonça, foi premonitório quando, antes da surpreendente notícia da renúncia de Bento XVI, colocou na capa de nossa revista uma foto do Papa, com o título: “BENTO XVI :

Fez do Reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e ministério, a Diaconia da Caridade na Igreja”, em referência à sua Carta Apostólica “De Charitate Ministranda”.

Por esses dias, já teremos o sucessor de Bento XVI, mas no mês passado o tema predominante em todas as camadas da sociedade, nas igrejas, na mídia, nas feiras e nos salões de barbeiro, passando pelos botequins, foi, fora de dúvida, a notícia da renúncia do Papa.

Usando e abusando da liberdade de expressão, a mídia escrita, falada e televisada nem sempre se houve com equilíbrio, tecendo considerações muitas vezes sensacionalistas, quando não ofensivas ao Papa e à Igreja.

Mas, felizmente a maioria dos cristãos católicos, além da curiosa expectativa, orou fielmente a Deus, pedindo que o Espírito Santo não apenas iluminasse os cardeais-eleitores, mas vencesse todas as resistências que se apoiavam em partidarismos, preconceitos e vaidades.

Atendidas ou não nossas expectativas de ordem humana, peçamos a Deus para que o novo pontífice seja o homem certo para a verdadeira renovação da Igreja em nossos dias.

A REDAÇÃO .

Diário de Missão: Refeição

amazonas-internaMal encerramos os ritos finais da celebração Eucarística, um séquito de mulheres dispara para suas malocas num burburinho de palavras em sua língua materna. Na capela, ficam apenas o padre, o capitão e alguns homens; com o tempo, somente os dois primeiros. Ao cruzar a porta do templo, até onde a vista atinge, não vejo nenhuma daquelas mulheres. Com os olhos, inquiro o capitão que responde laconicamente: foram preparar a refeição.

Decorrido algum tempo, numa liturgia singular, percebe-se que as mulheres vão saindo de suas casas, uma por vez, como que orquestradas, formando uma fila, tendo à cabeça uma panela e outra na mão. Nesta havia Quinhapira, Mugeca ou Japurá; na outra, quela xibé, maçoca ou caribe. Religiosamente, elas são dispostas sobre a mesa, uma ao lado da outra, na casa comunitária, antiga maloca. Ao final, a exclamação, em Tukano: Tea Banar Paií! Tradução: “vamos comer, Padre!”

Após a oração, seguimos um novo cerimonial culturalmente estabelecido. Os primeiros a comer, são os homens. Dentre os homens, aqueles que aos olhos da comunidade gozam de elevada respeitabilidade: padre, capitão, catequista. Depois destes, os demais. Após todos os homens, as mulheres e as crianças. Antes de aventarmos essa possibilidade, deve-se dizer que não se trata de uma discriminação, mas de uma tradição indígena em que, sem deixar as mulheres sem comida, serve-se àqueles a quem se devota maior estima, maior apreço e consideração. Uma delicadeza!

Nessa refeição, vivências singulares do cristianismo primitivo são aprendidas. A partilha é fato ordinário, corriqueiro. Um valor indelével que marca cada um deles. À hora das refeições, todos se dispõem a oferecer o pouco que têm, comida para ser compartilhada. A convivência é intensificada. Todos são chamados a partilhar o mesmo espaço, trocar experiências, fatos e reminiscências de sua própria história. A fraternidade é acentuada. Sentar-se junto à mesa, como amigos e parentes, para saciar-se com o beiju e o xibé, frutos da terra e do trabalho humano e que, a cada ceia comunitária, se tornam motivo de redenção, salvação, confraria, congregação.

Impressionado diante dessa cena que consigo contemplar com os olhos da fé e do coração, bendigo a Deus. Reconheço, assim, quão evangélica é a conduta dos povos indígenas e ressignifico palavras como partilha, doação, convivência e fraternidade. Bendito seja Deus!

Pe. Reuberson Ferreira, mSC, trabalha no Alto Rio Negro, Diocese de S. Gabriel da Cachoeira (AM).

A fé, para que serve?

pontodevistaMas para que serve a fé? Para o cristão a reposta é: serve para praticar a caridade, no sentido paulino, e para encontrar a Deus no sentido joanino.

Estamos em pleno ano da fé, proposto pelo Papa Bento XVI. Tempo de refletir sobre algo que faz parte da vida de milhões de pessoas pelo mundo afora. Os que não têm fé, ainda constituem uma minoria, mas ano após ano vão aumentando, inclusive no Brasil.

Ter fé consiste em algo bastante genérico. As pessoas costumam acreditar naquilo que elas querem. Isso abre infinitas possibilidades de crenças, das mais tradicionais às mais exóticas. Ter fé em última análise é crer em algo. No caso que nos interessa, falamos de uma fé colocada em um Deus. Com isso já chegamos a inúmeras possibilidades, entre elas, ser politeísta, ou monoteísta, ou seja, crer em vários deuses ou em um Deus só.

Nós, cristãos, somos monoteístas, descendentes de Abraão, assim como os Judeus e os mulçumanos. Cada um, porém, embora adorando um só Deus, entende a fé de maneira muito particular. Acredito que um olhar mais minucioso para nossa fé cristã é uma das propostas desse ano.

Mas para que serve a fé? Para o cristão a reposta é: serve para praticar a caridade, no sentido paulino, e para encontrar a Deus no sentido joanino. Para o apostolo Paulo, a fé sem obras é morta, portanto, sem sentido. Para o evangelista João, a fé só pode existir no amor ao próximo; afinal, se não amo o próximo que vejo, como amarei a Deus que não vejo? A comunidade crista, fiel aos ensinamentos de Jesus, entendeu e continua entendendo que a fé em Deus, só se reconhece através do serviço e amor aos irmãos. Madre Teresa de Calcutá entendeu muito bem isso quando disse: “as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”. Em outras palavras: quem tem fé em Deus que é amor, traduz a fé em obras.

Mas se engana quem usa a fé para obter favores e segurança. Pra começo de conversa, a fé sempre pressupõe a dúvida. Onde há certeza, não precisa haver fé. A dúvida aqui não é incredulidade, mas confiança. Eu confio, por isso creio. Não vejo a Deus, não convivi com Jesus, mas confio na sua palavra testemunhada pelos que com ele conviveram. Confio na experiência de tantos homens e mulheres que, ao longo da história da salvação, receberam de Deus a missão de nos transmitir o que Ele desejava de nós.

Quem nunca questiona a sua fé, acaba acreditando em tudo. E nem tudo é crível. Muita coisa é mentira. Muitas “pregações” são falsas, é engano, são desprezo da boa fé dos fiéis. Quem não tem uma fé sólida, baseada na razão, como diz o Apostolo Pedro, se deixa levar. Por isso fomentar uma dúvida saudável, nos atiça o coração em busca das verdades divinas. Que seria de um Tomás de Aquino, ou de um Agostinho de Hipona, se não tivessem o coração cheio de duvidas? Certamente não teriam se tornado Doutores da Igreja. Não porque duvidaram tão somente, mas porque pensaram sobre Deus, e isso esclareceu e aumentou a fé que ambos já cultivavam.

Por isso, é bom rever aquilo que cremos e, sobretudo aquilo que praticamos. Uma coisa complementa a outra, e ambas podem nos levar mais para perto de Deus. Não somos iniciadores de nada. Milhões já creram antes de nós, mas também temos que dar nosso testemunho para os que virão depois. De maneira sóbria e evangélica procuremos conhecer mais o Deus em quem acreditamos, para Nele termos a vida eterna que esperamos, e que Ele mesmo nos prometeu.

Pe. Alex Sandro Sudré, mSC é pároco da Comunidade São José, em Campinas, SP

Vocação e Generosidade

vocacao©Foto_ Moisés Moraes-0674Creio que um dos aspectos mais importantes de um vocacionado é a generosidade de coração. A palavra generosidade é substantivo abstrato. Do mesmo modo que amigo é o substantivo concreto do substantivo abstrato que é a amizade. Generoso é aquele que tem a qualidade da generosidade. No dicionário, a palavra Generosidade indica uma pessoa dotada de caráter e sentimentos nobres, mostrando-se capaz de sacrificar um bem que lhe é precioso para ajudar alguém (podemos chamá-lo de alma generosa); digno; elevado;sublime. Que gosta de se doar, que tem prazer em oferecer coisas aos outros; dadivoso, magnânimo, capaz de doar a vida em favor de outrem. O seu contrário significa avarento, ambicioso, mesquinho. Diz-se de quem dá com largueza é prodigo; fértil, fecundo é o contrário de quem retém para si, árido, infértil. Uma outra qualidade da pessoa generosa é perdoar as fraquezas alheias. O contrário é egoísmo.

Veja, meu irmão(ã), quanto a generosidade está ligada à vocação cristã. Lembro-me de um formador no seminário, o saudoso Padre José Roberto Bertasi, falecido no início de 2013, o qual, sempre que elogiava os nossos vocacionados, dizia que fulano era um jovem generoso e que, por isso, apesar de todos as suas limitações, poderia ser um bom religioso e sacerdote. O contrário, se não fosse generoso, poderia ter todos os dons e qualidades, mas não poderia ser bom cristão e, muito menos, religioso Missionário do Sagrado Coração.

No evangelho, todos os evangelistas mostram um Jesus sempre muito generoso. Em nenhuma passagem encontramos mesquinhez em Jesus, mas sim uma perfeita oblação. Quando Jesus vê a multidão faminta e decide multiplicar os pães, não dá apenas um pão cada um para matar a fome, mas o faz com fartura a ponto de sobrarem doze cestos cheios (João 14), quando Jesus vê alguém doente pedindo a cura, ele não só cura, mas perdoa os pecados e envia em paz. Quando trazem uma pecadora diante dele, (Lc, 7, 36ss), é capaz de perdoar e enviar em paz aquela mulher.

Em Mateus, vemos a beleza das parábolas de Jesus, mostrando como é o Reino dos Céus. Ele sempre relatava as parábolas com largueza e generosidade. Assim falou em Mateus 13, sobre a parábola do semeador, que produziu cem vezes mais, no grão de mostarda, que cresceu tanto que as aves dos céus se abrigavam nos seus ramos, o fermento que a mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado. A parábola da pérola perdida. Quem a encontra, vai, vende tudo o que tem para possuir aquela pérola. E o que dizer sobre a pesca milagrosa, em que as redes ficam cheias de peixes. Jesus falava com largueza e generosidade. Na generosidade de Jesus está a estrutura do evangelho.

Ele soube dar tudo o que tinha, deu a vida abrindo o seu coração e deste coração saíram as últimas gotas de sangue e água, como nos relata o evangelho de São João, capítulo 19.

Em Marcos 10, 17 -22, Jesus pede ao jovem rico que seja generoso para segui-lo. Mas, infelizmente aquele jovem, tão amado pelo Senhor, não foi capaz de dar um passo e deixar o que tinha para seguir Jesus.

Tenho certeza de que o egoísmo nos torna tristes e a generosidade nos faz felizes. Não tenha medo de ser generoso com a Igreja, com as pessoas, consigo mesmo e com os necessitados. A generosidade nos enche de graça e alegria.

Se Deus o está chamando para a missão, Diga SIM e será feliz. E Deus vai abençoá-lo.

Pe. Manoel Ferreira dos Santos Junior, mSC, Superior Provincial

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