Revista de Nossa Senhora
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MARIA Morreu ou não Morreu?

revista“Padre, não sei se o Sr. se lembra de mim, mas faz algum tempo, eu lhe escrevi perguntando sobre a preocupação de um amigo evangélico. Mais uma vez venho pedir-lhe uma explicação, também sobre Nossa Senhora. É o seguinte: eu sempre soube que no caso da assunção de Maria aos céus, a Igreja deixou em aberto a questão de sua morte, mas por ocasião de sua festa, em agosto, ouvi numa TV católica, um padre afirmar que Maria morreu. O que o Sr. me diz?” Adriano Marques da Silva – por e-mail.

Caro Adriano, sim, lembro-me de uma consulta sobre um amigo seu que se tornou evangélico e que, em sua nova comunidade, sentia falta do culto a Nossa Senhora. Quanto ao seu questionamento de hoje, tanto você como o padre da TV tem razão. Recordemos um pouco do histórico desse culto desde os primórdios, quando surgem, no oriente, entre os séculos IV e VI, as primeiras narrativas sobre o passamento da Virgem, a partir de escritos apócrifos, onde se fala do Transitus (passagem) ou Dormitio (dormição) da Mãe de Deus. Algumas igrejas celebravam a morte de Maria, outras a sua ressurreição, seja só da alma, seja da alma e do corpo. A Igreja copta, por exemplo, celebrava a morte e a ressurreição de Maria, sucessivamente, nos dias 6 e 9 de agosto. Também na Igreja do ocidente havia divergências sobre o destino final da Virgem.

Assim, embora não houvesse bases bíblicas para sustentar essa verdade, usava-se o princípio da “Lex orandi, Lex credendi”, isto é, um consenso baseado na fé unânime e universal dos cristãos católicos. O fato eclesial era mais que suficiente para uma definição dogmática. O enunciado da definição dogmática, segundo a qual, “A Imaculada Mãe de Deus, a Sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi assunta à glória celestial em alma e corpo”, evita falar de morte, não define como foi seu fim nem o modo de sua morte. Alguns chegam a dizer que Maria foi arrebatada diretamente à glória do Cristo, sem ter morrido no sentido estrito do termo, segundo nos diz Paulo, em 1 Tes. 4, 17, a exemplo dos justos da última geração.

Caro Adriano, como você pode perceber, o tema é bastante polêmico, a Igreja deixa em aberto a questão da morte de Maria, de modo que tanto você como o padre da TV tem razão, mas hoje, a tendência dos teólogos, em geral, é pela sua morte, visto que somente quem morre pode ressuscitar. Ela morreu porque foi plenamente humana e a morte é consequência natural da vida, independentemente do pecado. Agora, tema ainda mais difícil é o chamado debate antropológico, como, tanto no caso da Virgem como em nosso caso, explicar a ressurreição imediata, logo após a morte. Mas isto pode ficar para uma próxima ocasião. Um abraço!

Pe. Humberto Capobianco, MSC, é Diretor do Colégio John Kennedy em Pirassununga, SP. 

Uma resposta de FÉ

interna1Nem bem absorvemos as ricas e variadas mensagens da Jornada Mundial da Juventude e já Nos encontramos a celebrar, como todos os anos, o mês das vocações no Brasil. De fato, a própria JMJ já teve também um forte apelo vocacional. Muitos jovens participantes, certamente, sentiram, de maneira forte, a voz interior para viver bem a vida, não importando qual estado de vida.

A primeira vocação é o chamado de Deus à vida e a vivê-la na correspondência ao desígnio de Deus. A isso, o papa Francisco exortou os jovens de muitas maneiras, quando os encorajou a não perderem a esperança, a não se conformarem com o consumismo e o hedonismo, a terem a coragem de ir contra a corrente, a serem solidários… Viver, humanamente, de forma plena e frutuosa, também é parte da vocação à fé e à vida cristã. O papa Francisco exortou os jovens a serem protagonistas de um mundo novo.

Agosto, mês das vocações, no Ano da Fé: que há de novo nisso? As vocações, na Igreja de Cristo, não são compreensíveis a não ser à luz da fé. O que dá sentido à vida do Padre e à sua dedicação “às coisas de Deus?” Por qual motivo alguém parte para as missões no meio de povos que não conhece e a eles dedica sua existência inteira? O que explica alguém consagrar sua vida inteiramente a Deus, já neste mundo, vivendo desapegado de coisas boas que a vida oferece? Como explicar que jovens continuem a casar e casais vivam, mesmo com dificuldades, um casamento fiel, santo e sintonizado com a vontade de Deus?

A resposta é só uma: a fé, como resposta a Deus, fruto de uma profunda experiência de Deus. A fé verdadeira faz perceber a vida a partir de um horizonte novo, que não despreza o horizonte das realidades humanas e das deste mundo; a fé é uma luz sobrenatural que se irradia sobre toda a realidade e a faz conhecer a partir do olhar de Deus. Não é por acaso que o título da encíclica do papa Francisco sobre a fé é: Lumen Fidei – A Luz da Fé. A fé, dom de Deus, dom sobrenatural, dá uma capacidade que vai além da nossa natureza. Na Carta aos Hebreus lemos que “a fé é um modo de já possuir o que ainda se espera; é a convicção a respeito de realidades que não se veem” (Hb 11, 1).

Sem fé, não há vocação sacerdotal ou religiosa, nem vocação ao matrimônio ou verdadeira vocação laical. “Sem a fé, é impossível agradar a Deus, pois é preciso crer que Ele existe e recompensa os que dele se aproximam”, diz ainda a Carta aos Hebreus (11, 6). A vocação, no sentido cristão e eclesial, nasce e se desenvolve no diálogo da fé, na consciência das pessoas, no ambiente de oração, de escuta da Palavra de Deus e da prática da vida cristã. Sobre isso, falou de maneira magistral o beato João Paulo II, na Exortação Apostólica pós-sinodal “Pastores dabo vobis” – Dar-vos-ei Pastores…

Muitas vezes se pergunta: Por que as vocações diminuem? Por que não despertam novas vocações sacerdotais e religiosas? As respostas podem ser várias, mas a principal é esta: por causa da generalizada crise religiosa e da crise de fé. A abundância de religiosidades ainda não significa abundância de fé cristã. Sem um clima de fé nos vários ambientes que formam e marcam as pessoas, dificilmente surgem vocações; a fé, experimentada e vivida pessoal e eclesialmente, torna possível o surgimento das vocações.

A vida na fé, consciente, serena e alegre, faz perceber e valorizar o chamado de Deus; ao mesmo tempo, torna possível cultivar e manter uma ordem de valores e escolhas na vida, para perseverar na resposta ao chamado de Deus. A conclusão necessária, pois, parece-me ser esta: ajudar os jovens a terem uma boa iniciação à vida cristã, como “vida na fé”, nos vários ambientes em que eles vivem. Mas, sobretudo, nos espaços da família e da comunidade eclesial. Isso ainda é possível? A JMJ foi uma amostra dessa possibilidade.

Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo.

Evangelho de João:O Fracasso da cruz

Depois de mostrar como a comunidade deve ser fortalecida, João ajuda a comunidade a entender a crucifixão de Cristo. Quando falamos da morte de Jesus, não estamos procurando culpados. Não podemos nos colocar no lugar de quem julga e condena os seus adversários. No entanto, percebemos que Jesus sempre que necessário, criticou severamente os erros da sociedade, principalmente das lideranças. Fez isto por amor ao seu povo e por sua fé. O povo judeu que o conheceu, em sua grande maioria, sentia-se entusiasmado com suas palavras e ações, mas não se comprometia com sua causa. Era um povo desorganizado, sem voz, sem vez e sem acesso à informação.

As lideranças do judaísmo eram sensíveis ao que podia ameaçar a identidade judaica. Muitos desses líderes sentiam-se incomodados e ressentidos com Jesus e sua postura.

As autoridades romanas ocupavam a Judéia política e militarmente, pois eram encarregadas da segurança do Império. Elas reprimiam tudo o que pudesse ser risco para a ordem pública. Geralmente não entendiam as discussões e brigas dos judeus.

A prisão (18,1-11) e o processo religioso de Jesus (18,12 a 19,16) mostram a preocupação de Anás, sogro do sumo sacerdote Caifás, com relação aos discípulos, o futuro do movimento (18,19) e dos ensinamentos de Jesus, que poderiam dividir o judaísmo.

O processo político, que interessa mais ao evangelista, é uma forma de afirmar diante da potência que dominava tudo, a diferença entre o Império Romano e o Reinado de Deus. No centro da narrativa da paixão se encontra a realeza de Jesus: ele é coroado de espinhos, vestem-lhe um manto vermelho, zombam dele dizendo “Salve, rei dos judeus” e há uma solene apresentação para o povo: “Eis o homem”.

Pilatos admite duas vezes esta realeza e escreve, em tom de zombaria sobre a cruz, o letreiro em três línguas. Quer dizer: Jesus é condenado por ser rei. Para o povo judeu as palavras Messias (palavra em hebraico) e Cristo (em grego), cuja tradução é “Ungido”, fazem referência ao rei. Uns esperavam um chefe político e militar ou um sumo sacerdote-rei que devolveria ao povo sua liberdade e independência. Para Pilatos dizer que “Jesus é rei” é admitir um rival para o Imperador. E para Jesus? Para Jesus o papel do messias era outro: em nome de seu Pai promover uma convivência humana, digna e justa, sem excluídos ou oprimidos, estando a serviço da defesa da vida. Jesus não usou o título Messias/Cristo por prestar-se a mal-entendidos. Somente a Igreja nascente, à luz de sua ressurreição e glorificação, passou a chamá-lo com este adjetivo.

Numa sociedade teocrática, em que o poder era exercido em nome da religião, a postura de Jesus mexeu com todas as estruturas, tornando-se um perigo para os líderes judeus e para os romanos.

Em sua crucifixão (19,28-30) todos o abandonam. Só um pequeno grupo permanece ao pé da cruz. Para João, a crucifixão é a “Hora” de Jesus e sua glorificação, ou seja, manifestação do seu amor. De pé permanece sua mãe, símbolo da Igreja, e o discípulo amado, modelo de todo aquele que quer seguir o Senhor. Na cruz, Jesus nos entrega o Espírito Santo. Para João a crucifixão é a morte de Jesus, sua glorificação (ressurreição) e ao mesmo tempo Pentecostes (19, 30). Depois de morto (19,31-42), o golpe da lança faz brotar do seu lado sangue e água, os sacramentos fundamentais da Igreja: batismo e eucaristia (v.34).

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade São Gonçalo, em São Gonçalo, RJ.

Vamos ouvir a Igreja?

intern21Há quase 25 anos, pertenço a uma comunidade católica cujo carisma é a obediência. Em detalhes: “obediência amorosa e incondicional à Igreja”. Por isso mesmo, encaro sempre com certo espanto a atitude – cada vez mais frequente – daqueles que se julgam no direito de contestar (ou ignorar) a voz da Igreja de Jesus Cristo. Como no caso daquela freira que, ao ouvir falar de nosso carisma, fez cara de nojo e exclamou: – “Obedecer à Igreja?! Mas é a Deus que nós devemos obedecer!”

Claro: é mais fácil obedecer aos deuses que habitam a ionosfera ou as escarpas do Olimpo do que obedecer ao Deus que fala por mediações humanas, como o coordenador de equipe, o senhor vigário, o excelentíssimo bispo diocesano ou um simples pai de família. O fato de serem essas mediações pessoas imperfeitas e pecadoras de nenhum modo lhes tira o caráter de falarem em nome de Deus.

Caso concreto de desobediência franca (e descarada) ocorre em relação ao Concílio Vaticano II, quando os Padres conciliares, iluminados pelo Espírito, produziram documentos solenes sobre a Igreja, sua natureza e missão, sua liturgia, suas relações com as outras religiões, a situação dos fiéis na cidade dos homens etc. Prontamente ergueram-se vozes dissonantes para discordar do Magistério eclesial ou, no mínimo, fazer a pergunta desajeitada: “Posso desconsiderar o Vaticano II?!”

No prefácio de seu livro [O que diz o Concílio Vaticano II, Ed. Cultor de Livros, São Paulo, 2012, 102p.], minha amiga Margarida Hulshof parte dessa constatação:

“O Concílio Vaticano II foi, sem dúvida alguma, um acontecimento extraordinário, que marcou profundamente os rumos de nossa Igreja. Mas tem sido também alvo de muitas controvérsias, debates e críticas. Tem sido, muitas vezes, mal interpretado, e usado como pretexto para diversos tipos de desvios e rebeldias que ele, na verdade, não autoriza.”

Margarida tem razão. Boa parte desses críticos nem chegou a ler (menos ainda: a meditar em oração) a íntegra dos documentos conciliares. Basta que um parágrafo desminta a vertente ideológica do eventual leitor para que este sofra um acesso de alergia intelectual e sua língua destile o veneno da rebeldia.

Escreve a Autora: “Algumas vezes, essa ‘rebeldia’ se manifesta na forma de um apego exagerado à tradição anterior ao Concílio, como se toda e qualquer renovação posterior a ele fosse prejudicial à Igreja e devesse ser combatida, ainda que à revelia da legítima autoridade.”

Aí está o nervo exposto. Em tempos de individualismo sem freios, a simples menção de uma “autoridade” desencadeia a síndrome de Gênesis 3: eu mesmo decido o que é bom e o que é mau… Ora, diante de uma Igreja que é Mãe e Mestra (ah! que saudade de João XXIII!), o fiel só pode agir como filho e discípulo. Mãe é para ser amada, não acusada nem condenada.

Essa recusa de uma atitude filial pode explicar muitas defecções, muitas resistências, muitas heresias. Procura-se por uma Igreja à moda da casa, uma Igreja “do meu jeito”, uma Igreja que se adapte à minha filosofia, à minha moral particular, a minhas comodidades. Não admira que muitos batizados andem saltando de galho em galho, em autêntica ginástica religiosa, passando de Igreja em Igreja, em busca da versão mais fácil do Evangelho.

Convido o leitor a examinar com atenção o novo livro de Margarida Hulshof. Com disciplina e carinho, ela nos fornece um resumo eficiente dos documentos conciliares – que a grande massa de fiéis ainda ignora – e nos ajudará a degustar com gratidão esse rico acervo de doutrina, alimento seguro para nossa caminhada entre pedras e espinhos.

Alguns vêm pedindo por um Vaticano III. Tudo bem. Mas não seria o caso de, antes, viver o Vaticano II?

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Não deixe de ler… Caro(a) leitor(a)

Francesco LayEsta página introdutória a que chamamos editorial, é a cortina que se abre para mostrar o palco, o cenário e os atores de um espetáculo diferente, uma peça cuja temática enfoca a vida e o mundo a partir dos valores do Reino. Diretores, atores, técnicos e sonoplastas levam a marca de uma companhia que se inspira na ação de Deus, por seu Filho Jesus Cristo e por Maria, sua Mãe, a quem nomeamos Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Se vale a pena curtir todos os capítulos da peça, gostaria que o leitor prestasse atenção à coluna da espiritualidade, artigo da lavra de nosso confrade-bispo, D. Agenor Girardi.

Comentando o capítulo 21 de São João, – uma espécie de apêndice de seu evangelho, redigido por algum de seus discípulos, – após a pesca da madrugada, o espanto dos apóstolos e a refeição na praia, Jesus quer ajustar as contas com Pedro, aquele que, alguns dias antes, o traíra três vezes. ´- Simão, filho de João, tu me amas, pergunta-lhe Jesus por três vezes, lembrando a Pedro seu pai, resgatando sua família de sangue para depois inseri-lo na grande família da Igreja. Os dois verbos diferentes, usados por Jesus e Pedro,

no original grego, nos mostram o apóstolo contrito e humilhado, bem como a misericórdia de Jesus que não apenas o perdoa, mas o confirma como chefe de sua Igreja: – Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas!

Então revigorado, Pedro assume sua missão e cumpre a promessa de seguir Jesus até

a morte, promessa que fizera antes da paixão e não cumprira, mas que agora vai levá-lo até Roma, onde também derramará seu sangue, na cruz, como seu Mestre e Senhor.

A REDAÇÃO.

No princípio, era o leigo…

destaque2Deus inaugurou a nova e eterna Aliança com a cooperação direta de três leigos: Jesus, Maria e José. Uma dona de casa, um artesão e seu aprendiz. Quando o aprendiz se tornou Mestre e buscou seus discípulos, foi encontrá-los em suas tarefas seculares: Pedro, no barco de pesca; Mateus, na banca de impostos; Tadeu, entre os guerrilheiros zelotas.

Jesus procurava trabalhadores para sua vinha – esta é imagem evangélica que João Paulo II usou na introdução da Encíclica “Christifideles Laici” [Vocação e Missão dos leigos na Igreja e no Mundo – dezembro de 1988]. Havia sacerdotes no Israel daquele tempo, mas o Mestre não se interessou por eles. Parece que não buscava teólogos nem escribas, e foi achar os discípulos no meio do povo. Suados, cansados, mãos calejadas como costuma ser o povo…

Povo? Exatamente! O termo “leigo” está ligado ao grego “laos”, que significa “povo”, “massa do povo”, mas também “soldados”, “combatentes”. Como escreveu João Paulo II, o convite de Jesus se faz sentir “ao longo da história” e se dirige “a todo homem que vem a este mundo”. (ChL, 2.) E é ainda mais explícito: “A chamada não diz respeito apenas aos pastores, aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, mas estende-se aos fiéis leigos: também os leigos são pessoalmente chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para o mundo”. (ChL, 2.)

Nestes vinte séculos de história, a Igreja viu os fiéis leigos edificando catedrais e drenando os pântanos da Europa. Eles copiaram as Escrituras e enterraram as vítimas da peste. Sustentaram os apóstolos com seu trabalho manual e rezaram pelos missionários da linha de frente. Ali aonde chegou a Igreja, os leigos marcaram sua presença. Alfabetizaram, catequizaram, formaram orquestras e corais, organizaram bibliotecas e, do culto, extraíram a cultura.

Se houve de fato uma fase de clericalismo na Igreja, com os fiéis reduzidos a ouvintes passivos, o Concílio Vaticano II veio espanar a poeira desse desvio. Nascido em 1944, eu vi pessoalmente o abalo sísmico do Concílio, quando as batinas caíram por terra, o vernáculo foi adotado e celebramos a “missa dialogada”.

Mas estes são apenas sinais “ad intra”. Muito mais importante é a presença do leigo nas Comunidades Novas, muitas vezes como consagrados, vivendo uma rica espiritualidade que já não se encontra em alguns Institutos religiosos. É assim que a Aliança de Misericórdia evangeliza a população de rua. A Jesus Menino adota deficientes físicos e mentais, formando família com eles. O Caminho Novo estende pontes entre as diferentes denominações cristãs. A Nova Aliança prega o Evangelho e forma lideranças para as paróquias. E estas são apenas algumas entre dezenas de Comunidades de leigos católicos.

Eu sou leigo, casado, 2 filhos, 5 netos. Há 33 anos evangelizo nas escolas e nos presídios, no rádio e na TV, em jornais e revistas. Publico uma reflexão diária na Internet. Escrevi e traduzi mais de 30 livros de conteúdo cristão. Fiz cerca de 330 viagens missionárias pelo Brasil, pregando Evangelho, colaborando na formação de seminaristas, catequistas e equipes de pastoral.

Minha ação é uma resposta de amor à Mãe Igreja, que me gerou para a vida do Espírito. Enquanto o Senhor nos der forças e ânimo, estaremos presentes…

Antônio Carlos Santini,
Comunidade Católica Nova Aliança.

Incapazes para o Matrimônio

Nta.Sra. de La Merced, 30 de dic, 2008 LayFato mais comum do que se imagina, há milhões de casais que nunca deveriam ter se casado, da mesma forma que há profissionais que nunca deveriam estar no posto e na profissão que exercem. A aptidão deveria ser requisito fundamental, tanto para o policial como para o político, tanto para o médico como para o pregador. Deveria também ser exigência inegociável para quem vai viver junto e gerar filhos, de quem supostamente cuidará por vinte a trinta anos até que estes se casem e formem seu próprio ninho.

Exige-se atestado para centenas de funções e missões, mas para o casamento raramente se exige atestado de sanidade mental e de capacidade de vida a dois. O outro é fundamental!

E há indivíduos que não conseguem o mínimo grau de alteridade para conviver com pais e irmãos; menos ainda com esposo ou esposa. Pode não parecer, mas para dormir no mesmo leito, comer à mesma mesa e partilhar os mesmos cômodos há um mínimo de requisitos a se cumprir, sem os quais haverá atritos e agressões.

Quem bate na pessoa “amada” , ou na pessoa que o ama; quem vive de suspeitas infundadas; quem morre de ciúmes ou a espanca, quem acha que nada tem a corrigir, mas exige que a outra pessoa mude; quem tem uma lista de defeitos para o cônjuge e admite no máximo um ou dois defeitos para si; quem levanta a mão, ameaça e bate; quem espanca e depois chora pedindo perdão; quem hoje acaricia e amanhã enche de pancadas… esse tipo de pessoa não está apta para o matrimônio. Não é invenção minha. Dizem-no psicólogos, psiquiatras, médicos, sacerdotes, educadores e autoridades.

O número assustador de cônjuges feridos, espancados, humilhados por calúnias, suspeitas, difamações e palavrões, tratados com desprezo e alvo de piadas infames faz pensar nos rumos de nossa sociedade. Se não devemos formar profissionais incompetentes, o Estado não deveria assinar embaixo de contratos matrimoniais, nem as igrejas abençoar uniões nas quais um dos cônjuges não tem capacidade de perdoar ou de pedir desculpas. Menos ainda uniões nas quais um dos dois primeiro bate e depois chora porque bateu.

Há tratamentos para isso. Em alguns casos a pessoa se regenera; em outros é duvidoso que a pessoa mude. Psicólogos explicam em detalhes para quem quiser saber em que consiste a aptidão ou inaptidão para a vida a dois.

Quem coisifica esposo ou esposa mostra incapacidade de vê-lo(a) como pessoa. Ser mais gentil com o cão do que com os familiares deveria ser crime. E é!

Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.

www.padrezezinhoscj.com

 

Pra começo de conversa…

destaque2Eis aqui mais uma edição de nossa revista, recheada de temas com os quais vocês já se acostumaram, porque levam a marca, o DNA inscrito em nosso carisma, a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa celebramos solenemente no mês passado. E quando falamos sobre o Filho, estamos falando também de Maria, em suas relações profundas e íntimas com o Coração de Deus., Maria, Mãe da misericórdia.

Mas, caros leitores, folheando essas páginas, fiquei lamentando as lacunas que deixaram os saudosos confrades Antônio Carlos Meira e José Roberto Bertasi, eles que ilustraram durante tantos anos essa revista, escrevendo, respectivamente, sobre as missões no Equador e sobre Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Antônio Carlos, alma de missionário, coração ardente como o de Paulo, que se fez grego com os gregos e … equatoriano com os equatorianos. Despertou-me a memória porque neste mês, dia 2 de julho, o Padre Bertasi estaria completando seus 65 anos. . . Outros também escrevem bem e bonito sobre Maria, mas ler o caro confrade era vê-lo no presbitério, microfone em punho, gestos largos e eloquentes.

Que eles, hoje na glória, peçam por nós a Deus o entusiasmo e a coragem para perseverarmos nesse delicado ministério de difundir o evangelho com os matizes de nossa espiritualidade.

A REDAÇÃO.

Evangelho de João: Crises e Conflitos

OaxacaJoão 6, faz uma catequese a respeito da Eucaristia como realidade central na vida cristã. Infelizmente, estamos acostumados a reduzir a Eucaristia somente ao momento da comunhão ou à missa. Isto é perder o rumo que o Evangelho indica. João 6 retrata com realismo como costumamos buscar a felicidade, Deus, com generosidade e grandeza e, muitas vezes, com mesquinhez. Em seguida, apresenta Jesus que alimenta os seus discípulos com tudo o que Ele é e faz. Disso, decorre a Eucaristia em seu contexto correto, integrada com a Cruz, com a Palavra, com o empenho em viver o projeto do Pai, celebrada como um sinal (sacramento) das opções de Jesus na vida comunitária.

Na narrativa da cura do cego, percebemos como o conflito se acirra com aqueles que preferem permanecer na cegueira e não aceitar Cristo como luz. Isto desembocará no discurso sobre os verdadeiros líderes do povo.

O capítulo 10 do quarto evangelho chama a atenção para o bom pastor. Estamos acostumados a pensar no “pastor” – nas lideranças do povo – como pessoas ligadas ao mundo da religião. No entanto, nesta época qualquer autoridade política ou religiosa era chamada de pastor. Naquele tempo, abusava-se muito da palavra Deus. Os pagãos tinham uma pluralidade de deuses para expressar o quanto a divindade é rica e complexa. Autoridades políticas e religiosas, usando o nome de Deus, mantinham o povo na ignorância, alienação, na exploração e na injustiça. Jesus apresenta o Bom Pastor como aquele que deseja conduzir o povo para a fartura, dignidade e alegria. Por isso, a porta está sempre aberta. Trata-se de uma vida digna neste mundo e na plenitude ou vida eterna.

A narrativa da ressurreição de Lázaro aponta para a ressurreição do próprio Cristo, autor da vida eterna (Jo 11). A cena é descrita da seguinte forma: 1. Na pessoa de Lázaro, nome cujo significado é “Deus ajuda”, há uma ligação entre três temas: vida, morte e crer. Jesus parece decepcionar, pois não se encontra presente na morte do amigo. 2. Aparece a figura de Maria, irmã de Lázaro, mulher que professa a fé na ressurreição. 3. Diante da morte do amigo, Jesus fica comovido. 4. Nem a pedra, nem o fato de estar morto há quatro dias são obstáculos para Deus.

5. Jesus chama Lázaro para fora da “mansão dos mortos”, pede para “desatá-lo” e “deixá-lo ir” para Deus. 6. Muitos creram. Maria, expressando sua fé na ressurreição dos mortos, descobre que Cristo é a própria ressurreição.

Esta narrativa está estreitamente ligada à unção em Betânia, realizada por Maria, irmã de Lázaro (Jo 12,1-11). O processo de crer pressupõe carinho e cuidado com o Mestre. A paixão de Jesus se aproxima e Maria, sem saber, antecipa o sepultamento.

O domingo de Ramos (Jo 12, 12-36) é retratado como uma manifestação nacionalista do povo acolhendo Jesus em Jerusalém, debaixo das barbas dos romanos. Saíram ao encontro de Jesus agitando “os ramos de palmeiras”. Estes ramos eram símbolo da revolta dos macabeus contra a dominação grega, tanto em 164 aC (Cf. 2Mc 10,7) como em 142 aC, no final da revolta (Cf. 1Mc 13,51). Na segunda revolta judaica, em 131-135 dC, foram cunhadas moedas com palmeiras desenhadas, simbolizando a independência do povo. A própria saudação “Hosana” era feita em manifestações cívico-políticas. João acrescenta ao Salmo 118,25-26 a frase “o rei de Israel”. Portanto, a acolhida de Jesus em Jerusalém, celebrada por nós no domingo de Ramos, expressa o desejo do povo por libertação do jugo opressor.

O Livro dos Sinais termina (12, 37-50) com duas reflexões: 1. Por que tantos se recusam e se opõem à mensagem de Jesus? A resposta não fala das causas, mas mostra que no passado também aconteceu o mesmo com a palavra dos profetas. 2. Há uma reflexão sobre a manifestação da fé ao falar do Pai e da Palavra anunciada ao mundo (v. 44-50).

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé. MG

Como iluminar nossas igrejas?

atualidadeO projeto de iluminação de uma Igreja é o complemento do projeto arquitetônico. Além se ser um projeto técnico, pode valorizar elementos, espaços e obras de arte, pode revelar algo que se quer impor na obra. O projeto pode destacar, através da luz, as partes diferentes da liturgia e dirigir a atenção da assembleia para os diferentes momentos da celebração.

Porém, deve-se ter cuidado para não fazer da iluminação um espetáculo luminotécnico, que não é aqui o caso. Igreja não é sala de espetáculo. Para cada igreja teremos um projeto diferente de iluminação. Depende da arquitetura, do contexto em que está inserida, a forma de ser e celebrar da comunidade. A localização e aparência das luminárias devem combinar com a arquitetura do prédio e devem ser muito discretas. Luminárias não são para chamar atenção, não são obras de arte, não são peças litúrgicas.

Podem-se destacar alguns ambientes e peças dentro das igrejas com cuidado para não desviar a atenção do principal durante uma celebração. Destaque para o altar e o ambão, para o santo padroeiro e para a pia batismal são bem-vindos.

A igreja tem diferentes espaços com diferentes usos, cada um deles deve ter iluminação diferente e adequada. O átrio é o lugar onde ficam os folhetos e os quadros de avisos, é o que dá entrada à igreja, a iluminação pode ser mais aconchegante, com menos intensidade de luz, e luz direcionada para a leitura dos quadros de avisos.

A nave é o lugar da assembleia, onde ficam os bancos e os corredores. É nesse espaço que os fiéis rezam, cantam, escutam as leituras e leem, o que justifica uma iluminação geral e uniforme. A escolha de uma luz difusa é uma boa escolha e dá mais conforto para a leitura. A iluminação da nave deverá ter níveis suficientes para a realização da tarefa de leitura e percepção do ambiente; por outro lado, em determinados momentos deverá proporcionar um ambiente de maior recolhimento.

O presbitério é o espaço onde fica o presbítero e, na maioria das vezes, apesar de não obrigatoriamente, a cadeira da presidência, o altar e o ambão. Pode ser também o lugar da cruz processional, a estante do comentarista e as cadeiras para os ministros e acólitos. A iluminação principal deve estar dirigida a quem preside à assembleia, tanto na cadeira, no altar como no ambão. Não deve ter muita iluminação pontual no presbitério para não desviar a atenção dos fiéis. No presbitério a iluminação deve destacar a ação simbólica principal de cada momento.

Escolher uma iluminação certa não é uma simples tarefa. Deve-se proporcionar um olhar guiado pela luz. É necessário valorizar o ambiente nas suas formas arquitetônicas, ser funcional e criar um ambiente mistagógico. E, acima de tudo, buscar o essencial sem enfeites, sem exageros, sem luxo.

Diácono Michel dos Santos, MSC, é Vigário Paroquial de N. Sra da Soledade em Delfim Moreira-MG

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