Revista de Nossa Senhora
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Palavra e missão, Palavra-Vida

O testemunho é o coração da vida missionária. A Palavra de Deus sempre foi entendida com uma mensagem a ser anunciada.. Mas corremos o risco de não prestar atenção na vivência desta Palavra e ela ser confundida com tantas outras palavras no mundo em que vivemos. A Palavra de Deus é uma palavra encarnada, transmitida com o testemunho, mas que transforma a vida do mensageiro e dos que a ouvem. Ao anunciar a Palavra, o missionário é convidado ao seguimento do Mestre – Jesus-; e neste caminho da cruz não lhe é estranho; daí, a disposição de arriscar-se nas situações complicadas da vida. A fé nasce num processo de confiança com o Deus da vida.

Estar em caminho com Jesus, anunciando-o, não se pode reduzi-lo a um ensino ou a um conjunto de doutrinas dissociadas da vida da comunidade ou da vida pessoa porque o Evangelho é uma sabedoria com raiz na própria vida e para a vida. Jesus, muitas vezes, foi confundido com um sábio que ensina a viver, ao estilo das escolas rabínicas do seu tempo, aonde cada um recorria quando queria aprender um oficio ou alguma doutrina sobre Deus. Jesus, apesar de ser chamado de Rabi por muitos de seus seguidores, não forma uma escola ao estilo rabínico. Ao contrario, convida seus discípulos a segui-lo com uma proposta de vida: Ele é Caminho, Verdade e Vida. Ele é a Palavra-Vida e seus seguidores devem prestar atenção em como esta Palavra é vivida, escutá-la, prestar atenção a esta Palavra atuante no caminho e ao mesmo tempo Palavra pronunciada por Jesus. Ele é o Mestre que ensina os discípulos, utilizando todo tipo de recursos para que o ouvinte possa entender e tenha claro qual é a sua missão. Mas Jesus, em pessoa, é Palavra encarnada, a Palavra de Deus que se fez carne e habitou no meio de nós para que todos/as pudessem ver a luz por meio da Palavra. (cf.Jn 1,1.14 )

Palavra vivida e palavra pronunciada. Muitas vezes, nós escolhemos ou seguimos nossa vida pelo caminho da palavra falada, que está mais desligada das exigências do seguimento, da simples palavra sem compromisso. Uma missão, assim, se empobrece, sem a exigência do seguimento. O Seguimento é a Palavra vivida que deve estar no coração do peregrino missionário e na vida da missão. Esta experiência provoca transformação na vida interior, caminho de conversão e de discipulado. “O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o mestre que o conduz e acompanha” ( DA 279)

A vocação cristã missionária, por outro lado, segue a linha da vocação comunitária e eclesial, que anuncia o Evangelho e o faz acontecer por meio dos testemunhos e das atividades diárias na vida dos outros.

Em nosso mundo invadido por palavras e informações, o Evangelho corre o perigo de ser uma palavra ou uma ideologia a mais que circula nos meios de comunicação. A “Palavra e Vida” é a síntese expressada na comunidade missionária, onde o Evangelho renova sua força a cada dia, na oração, no testemunho e na ação pastoral.

A vida de fé

Mas como construir uma vida de cristã numa sociedade individualista, onde cada pessoa busca seu próprio caminho? Estaríamos construindo uma igreja discípula de Jesus de Galileia, onde os discípulos renunciavam a tudo para segui-lo, tinham um objetivo, um estilo de vida a construir que atraíam a admiração dos demais?

O nosso discipulado responde ao chamado de seguimento, de escuta da Palavra, de vivência de fé numa vida de comunidade? A realidade, evidentemente, também ajuda a confundir a escuta da Palavra e o conseqüente seguimento a Jesus

Todos sentem essa confusão hoje em dia na vivência da fé, que cada vez mais se reduz a uma vivência subjetiva, distante da vida real; uma fé reduzida a uma experiência emocional, sem dar o passo decisivo para o compromisso com a caridade e com a comunidade. O Evangelho, contudo, chama o discípulo a caminhar, a seguir a Jesus no caminho, com uma vida comprometida; ao mesmo tempo, criativa ante a realidade. É importante reconhecer que hoje necessitamos de uma nova orientação, uma nova configuração, desde as suas raízes evangélicas, para que a fé não fique reduzida a expressões de palavras vazias. (cf. DA36)

Unir a palavra falada com a palavra vivida

A vocação missionária se alimenta com a Palavra-Vida e a entrega da própria vida. O seguimento de Jesus implica na entrega da vida a um caminho e renovação na medida em que se vai caminhando, na escuta da Palavra. Numa experiência missionária, que caminha junto com os irmãos, com os ouvidos abertos aos sinais dos tempos novos desta jornada, e com a alegre presença do Ressuscitado que é força de vida. O discipulado missionário é um lançar-se a uma aventura de um chamado que implica confiança nas mãos de quem chama e envia a uma missão. O responsável pela missão ou pelo caminho missionário é o próprio missionário do Pai, Jesus. Hoje há uma consciência cada vez maior de que é o Espírito de Jesus, o Espírito Santo quem nos conduz e nos lança ao mundo e a Igreja é a barca conduzida por Ele. Do discípulo-missionário exigem-se varias atitudes: escuta à Palavra escrita, atenção à Pessoa de Jesus, e aos sinais dos tempos, onde atua o Espírito Santo. A pessoa do discípulo/a deve estar vinculada ao testemunho de vida. A palavra vivida, encarnada na própria vida. (cf. EN 41)

Concluindo

Estamos no Ano da Fé. Hoje, em tempos de pós-modernidade, fizemos da fé uma experiência sem muita ligação com a vida comunitária; sem consequência para a vida, para o compromisso com o próximo. O Evangelho corre o perigo de ficar reduzido a uma filosofia intimista, onde se busca conforto para uso pessoal. Jesus mostra uma Boa Noticia (Evangelho) que leva à Alegria no amor, porque o Amor é alegria no serviço ao próximo. “A fé cresce quando se vive como experiência de um amor que se recebe e se comunica como experiência de graça e alegria… como afirma Santo Agostinho, ‘os crentes se fortalecem crendo’” ( Porta Fidei 7)

Pe. Antonio Carlos Meira, MSC é missionário no Equador.

Caro Leitor (a),

Mês passado, 11 de outubro, começamos a celebrar o Ano da Fé, lembrando os 50 anos do Concílio Vaticano II, bem como os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica. É tempo de ler, reler e alimentar-se das riquezas que os Padres conciliares, inspirados pelo Espírito Santo, nos deixaram na forma de Constituições, Decretos e Declarações.

Todos estamos de acordo em que, sem demérito de tudo o que foi publicado, dois são os documentos fundamentais que saíram desse grande evento eclesial: a “Lumen Gentium” (Luz dos Povos) e a “Gaudium et Spes” (Alegria e Esperança), tratando, respectivamente, da Igreja, Povo de Deus, e sua atitude de diálogo com o mundo, interessada em envolver-se com os problemas e soluções referentes à fome, à liberdade, à justiça e à paz.

- E Maria? O que o Concílio nos ensina a respeito da Mãe de Deus?

- Caro leitor(a), há toda uma história envolvendo a figura de Nossa Senhora. Ora, como acontece em todo o grupo humano, há sempre duas ou mais correntes ou tendências , apressadamente denominadas progressistas e conservadoras. Os conservadores, minoria na assembleia, esperavam que o Concílio proclamasse um novo dogma ou ao menos um documento especial sobre Maria. Contudo, após dias de debate e várias votações, os Padres conciliares decidiram que não haveria dogma novo nem documento especial. Dizem os cronistas que, após o último escrutínio, muitos bispos choravam … Maria, a mãe da unidade se tornava pomo de discórdia no Concílio … Evidente que todos concordavam com os privilégios da mãe de Jesus, mas em atenção aos esforços ecumênicos, a fim de não suscitar susceptibilidades entre os irmãos evangélicos que, num passado recente, criticavam o maximalismo católico no culto mariano, houveram por bem votar negativamente.

Em compensação, o importante documento da “Lumen Gentium”, reservou um lugar de honra à Mãe de Deus, que ocupa todo o último capítulo, coroamento desta magnífica constituição eclesial. Independentemente de todas as tendências e devoções particulares, ali o Concílio, de modo admirável nos propõe o essencial, tudo aquilo que devemos saber e crer a respeito de Maria.

Nossa revista tem trazido alguns textos sobre o Vaticano II, esperando que vocês, caros leitores, possam apreciá-los, entrando em sintonia com o espírito de renovação que impregna todas as contribuições do Concílio.

A REDAÇÃO

Aquela hora

Um amigo meu, bastante filosófico nas suas colocações, quando fala da morte de alguém, ou da morte como tal, costuma usar a expressão: “Aquela hora”. Raramente usa o substantivo morte. Não gosta dele e não se sente bem pronunciando.

Paúras à parte, numa coisa ele tem razão. A morte não é eterna, ela tem duração. Pode ser dez minutos, um minuto, uma hora, cinco horas, alguns dias, mas ela é certamente mais curta que a vida.

Muitíssimo mais curta. É um túnel que nunca é maior do que a estrada. A estrada não começa nele e não acaba nele. Os túneis são o que são: Passagens. Às vezes escuras, às vezes iluminadas, mas passagens.

Numa sociedade como a nossa, que escolheu tornar-se uma civilização de morte, e que aceita a morte dos outros com enorme naturalidade, sem emoção nenhuma e que todos os dias vê vidas sendo desperdiçadas do berço à velhice, acaba ficando insensível.

Só dói a morte dos parentes ou a própria morte, a dos outros, passa a ser um mero acidente, estatística. Vale a pena a troco de nada num mundo como esse, refletir de vez em quando sobre a inexorabilidade da morte. Tudo o que nasceu, vai morrer um dia. E não serve só para os seres humanos. A coisa mais certa depois do nascimento, é a morte. Nasceu, vai morrer. Não há como fugir.

Se tem que ser, então é melhor vivermos uma vida tranquila de quem sabe que um dia vai morrer, mas quando for, não irá como suicida num carro em altíssima velocidade, ou depois da injeção de drogas ou venenos letais.

Se o céu existe e eu aposto nisso, o certo é chegar lá e poder dizer para Deus: Eu sabia que vinha, não sabia quando, mas, fiz muito bem o meu vestibular. Nos dias de hoje há muita gente fazendo o seu vestibular para a morte violenta. Pena que vestibular para a morte não seja o mesmo que vestibular para o céu. Oremos para que Deus nos ilumine e nos ensine a viver como quem sabe que morrerá, e a morrer como quem soube viver direito. Nem todo mundo consegue.

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros e 115 álbuns musicais. www.pezezinhoscj.com

A FÉ que nos une

Estar atento aos sinais dos tempos implica olhar este emaranhado de acontecimentos à nossa volta com um olhar de fé, sentindo que Deus também pede coisas diferentes, pede mudanças na vida da gente, para as quais muitas vezes não estamos preparados.

O Dinamismo que tudo muda

De tempos em tempos parece que o ser humano enfrenta novas realidades e novos desafios. Os novos horizontes mudam as antigas referências, ou os esquemas mais ou menos organizados. De um momento para outro, a vida se vê desafiada a debater com ambientes, temas ou situações que antes eram desconhecidas. Esses novos panoramas quando chegam, mudam o rumo da história, dão novo sentido ao cotidiano e desorientam a maneira de organizar o tempo e a vida. A própria consciência do ser humano muda de visão; criam-se novos instrumentos de trabalho para responder aos desafios, há mudança nos entretenimentos e nas formas de jogos e até a maneira de rezar acabam alteradas. Nesse dinamismo da vida e da historia também muitos resistem em aceitar a mudança acreditando que tudo deve permanecer no seu lugar. Esse dinamismo, entretanto, segue a lógica do esforço humano em inventar e desenvolver suas capacidades para cumprir a vocação de criador e re-criador da historia.

Olhar com fé tudo isso

Estar atento aos sinais dos tempos implica olhar este emaranhado de acontecimentos à nossa volta com um olhar de fé, sentindo que Deus também pede coisas diferentes, pede mudanças na vida da gente, para as quais muitas vezes não estamos preparados. O jeito de organizar a vida que pensamos ser perfeita também já passou por transformações um dia. Hoje as formas de vida que pareciam perfeitas estão em crises e são questionados por todos os lados, mas a própria experiência da relação social vai ajudando no seu aperfeiçoamento. E quando atuamos com a experiência de fé, também o Espírito de Deus ajuda a encontrar o melhor caminho para a humanidade.

Como missionários, também andamos em busca de métodos, de novas linguagens que cheguem ao coração das pessoas. Necessitamos reinventar o caminho missionário, com muita escuta e paciência no Espírito Santo. Em cada momento da historia, ou em cada contexto, os conteúdos das mensagens do Evangelho têm certa vigência que se perde na medida em que passa o tempo. O Evangelho permanece o mesmo, mas a maneira de anunciar muda. Esse é o nosso desafio. Hoje, parece que todas as mensagens têm prazo de validade, ou seja, não duram muito. Ou então, devemos saber reinterpretar os conteúdos nas novas situações, mas não repeti-las, simplesmente.

O Espírito Santo e o missionário do Padre

Contemplando toda esta realidade, penso na nossa missão do momento e de cada comunidade, porque vivemos nesta tensão de sempre. O Espírito e a comunidade são os protagonistas que levam adiante o trabalho e nossa alegria é contar com a fortaleza da Fé nessa caminhada, no dia a dia. Quando olhamos a realidade cheia de contradição e o dinamismo da vida que muitas vezes nos desorientam, temos a tentação de interiorizar-nos fugindo da realidade deste mundo que nos parece uma loucura. Mas o Espírito Santo nos leva para o profundo da história, para que cada um de nós seja um instrumento de transformação desta realidade. Porque o Senhor é quem acompanha o seu o povo e nos empurra para dentro dos contextos.

Nos Atos dos Apóstolos, Pentecostes, Ascensão, são apresentados como ícones da comunidade em missão ou de envio para a missão que fez o Senhor antes de partir. A missão nunca é um lugar tranquilo, mas é feita de situações cheias de contradições que até as primeiras comunidades custaram a entender. No meio das realidades conflituosas, o Paraclito sempre antecipava, convidava os Apóstolos a caminhar e a arriscar-se na travessia até se encontrarem em lugares onde parecia não ter o mínimo sentido. Por isso, temos que aprender a conviver e escutar o Espírito na missão nos lugares de dificuldades. Hoje, nas orações é comum invocar o Espírito de Deus para que nos ajude a realizar o que nos propomos fazer. Mas na verdade, temos que aprender que Ele já nos espera, nos convida a trabalhar. Devemos estar dispostos a seguir aonde Ele nos guie.

“Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Prepare-se e vá para o sul, pelo caminho que desce de Jerusalém para Gaza; é o caminho que se acha no deserto. Filipe levantou-se e foi”. (Atos 8 , 26)

Pe. Antônio Carlos Meira, MSC é missionário no Equador

CAROS LEITORES,

Vai aqui mais um número de nossa revista, aquele esquema que vocês conhecem bem, sem grandes pretensões, temática simples, estilo-família, como convém aos devotos de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Assim, vocês vão saborear as páginas missionárias, discorrendo sobre a obra de nossos confrades na Amazônia e no Equador; tem a página de Catequese, Santuário em seu Lar, a coluna do Padre Zezinho, a poesia do Frater Fernando, a espiritualidade do Sagrado Coração, da lavra do Padre Cortez, a página do Bispo, Dom Agenor Girardi, o texto sempre aguardado sobre Maria, a página vocacional, a dos Devotos, o Pode Perguntar, tentando resolver algumas questões postas pelos leitores, e tantos outros artigos que vocês se acostumaram a ler e apreciar.

Mas, nesta edição, eu gostaria de chamar a sua atenção para a página sobre Liturgia, do Frater Michel, tratando do “Sacrosanctum Concilium”, um dos grandes documentos do Vaticano II, e, por extensão, lembrar esse belo acontecimento eclesial que este ano está completando seu cinquentenário. Como seria bom se pudéssemos ler ou reler alguns desses documentos, por exemplo, a “Gaudium et Spes”, (Alegria e Esperança) e a “Lumen Gentium” (Luz dos Povos), os quais, entre outros, vieram mostrar a guinada importante nas orientações de nossa Igreja, que teve a humildade de dialogar com o mundo e buscar soluções para problemas contemporâneos, redescobrindo a mensagem original do evangelho e renovando estruturas disciplinares.

Só assim, já dizia o Papa Paulo VI, reavivaremos o espírito do Concílio, fazendo com que aquelas sementes de vida lançadas no campo que é a Igreja, cheguem à plena maturidade.

Vamos tentar? Fica aí o convite!

A REDAÇÃO.

MARIA, missionária por excelência

É comum ouvir-se a expressão “Maria passa na frente” entre os católicos. Não é raro ouvi-la entre os pedidos e intercessões recorrentes à Maria por ocasião de uma viagem, trabalho ou projetos pessoais. Maria é sempre lembrada porque é vista como a companheira fiel, a intercessora, aquela que de uma maneira ou de outra protege.

Mesmo sabendo que Maria não recebeu de Jesus a missão apostólica como os doze, ela é reverenciada pela Igreja como a primeira missionária. Um título que tem sua razão de ser porque desde o momento da saudação do anjo ela iniciou a sua missão de servir. A partir de então fez de sua vida uma total dedicação ao projeto de Deus: coloca-se, por isso, a caminho e visita a sua prima Isabel em estágio avançado de gravidez; nas bodas de Caná foi a intercessora; na cruz assumiu cada um de nós como filhos e em Pentecostes, sustentou os discípulos para o bom êxito da missão que lhes foi confiada.

A Igreja procura seguir este exemplo de Maria suscitando em seu seio o caráter missionário. Através da convocação e do envio de Jesus, ela assume como os discípulos a propagação da Palavra onde quer que vá. Portanto, como Maria, somos missionários por excelência.

O Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração procura cumprir este legado deixado por Jesus através dos trabalhos missionários que visam estar na casa das pessoas, participando de suas vidas e alimentando-as com a semente da fé. Tendo o papel missionário de Maria como pano de fundo, as Capelinhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração cumprem este ministério de ir até o outro levando uma mensagem de esperança. Em cada casa visitada, uma história de fé é conhecida e testemunhada. As visitadoras e zeladoras das capelinhas contam, em cada encontro, uma experiência vivida com histórias de superação, força e devoção a Maria.

É um movimento simples, que faz um trabalho sem alardes e sem grande publicidade. Um trabalho feito no silêncio, na dedicação e pautado na intercessão de Nossa Senhora. São 20 capelinhas que visitam as famílias de nossa paróquia e diversas ruas e bairros próximos que não pertencem ao nosso Santuário. É a devoção que ultrapassa limites geográficos e assume um papel de protagonismo na vida de muitas pessoas.

A primeira Capelinha de Nossa Senhora surgiu há mais de vinte anos e, desde então, famílias inteiras são contempladas com este movimento. A primeira capelinha ainda existe e está aqui em nosso Santuário e por ela, muitos apresentaram a Deus as suas súplicas e agradecimentos. Nela, está contido um universo de orações e simboliza, portanto, a filiação que todos sentem, o acolhimento que todos esperam e a salvação pela qual ela pode interceder.

Com a mesma intensidade é a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora do Sagrado Coração quando vai às paróquias e se encontra com os devotos que a esperam. É Maria que vai à frente e prepara os caminhos. É o amor de mãe que zela pelos filhos que a veneram.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração em Vila Formosa, São Paulo, SP

Mansão dos mortos, O QUE É?

“Padre, sempre recito o Credo na missa e digo que creio que Jesus desceu à Mansão dos Mortos, mas para dizer a verdade, nunca entendi direito o sentido dessa expressão. O Sr. poderia explicar? Obrigado”.  José Carlos Ferruccio – Londrina – PR. – por e-mail

José Carlos, você tem razão, essa expressão pode confundir as pessoas e você teve a franqueza de perguntar sobre esse artigo de nossa fé. Antes costumava-se rezar: “Jesus desceu aos infernos”, no sentido de lugares inferiores, debaixo da terra, segundo o imaginário popular que sempre viu o céu como um lugar físico, lá nas alturas, e o inferno lá em baixo. Era até uma ofensa aos habitantes do Japão, nossos antípodas …

Mas antes, o Credo afirma que Jesus foi sepultado, o que parece óbvio, mas era um problema para aqueles hereges, os docetistas, que diziam que Cristo não tinha um corpo em carne e osso, mas era apenas aparência, um fantasma.

São Paulo, em sua carta aos Hebreus, seus compatriotas, diz que:” pela sua morte, Cristo expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida, pois onde há testamento é necessário que intervenha a morte do testador.Um testamento só entra em vigor depois da morte do testador. Permanece sem efeito enquanto ele vive.”(Hb. 9, 15 b-17). Pedro, em sua primeira carta, lembra que ”é nesse mesmo espírito que Cristo foi pregar aos espíritos que estavam retidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. (Pd. 3,19)

O Catecismo da Igreja Católica, expressando e confirmando esssa doutrina, afirma:” a Morada dos Mortos para a qual Cristo morto desceu, a Escritura denomina os Infernos, o sheol ou o Hades, visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor. O que não significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro recebido no seio de Abraão. São precisamente essas almas santas que esperavam o seu Libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos Infernos. Jesus não desceu aos infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido.”

J. Carlos, fica assim claro que, descendo à região dos mortos, Jesus cumpre em plenitude o anúncio evangélico da salvação. Ninguém fica de fora, a todos é dada a oportunidade de conhecer a Cristo e, livremente, aceitá-lo ou rejeitá-lo. Quando Pedro se refere aos rebeldes dos dias de Noé, supõe-se que eles já tinham se convertido.

Antònio Carlos Santini, escritor e jornalista católico, no seu estilo de poeta-teólogo, falando do mistério da descida, do Filho de Deus que desce do céu até nossa miséria, desce no lava pés, desce da cruz e à mansão dos mortos, escreve, em seu livro “Creio, as Razões da Esperança”: “ … o motivo principal de sua ‘descida’ é que nós, humanos, não somos capazes de galgar as alturas urânicas e fazer de Deus nossa presa. Conhecendo com que dificuldade rastejamos penosamente sobre o húmus original, exatamente aquele que nos faz ‘humanos’, o Logos divino inicia seu interminável mergulho descendente”. Mais adiante ele diz: “… a insistência dos cristãos a respeito dessa ‘visão’ do Senhor no Xeol deve-se à necessidade de proclamar a universalidade da Redenção. Mesmo os homens e mulheres que viveram antes de Cristo têm a oportunidade de acolher ou recusar o Messias. Assim, já livre das barreiras do tempo e do espaço, Cristo visita os mortos, mostra-lhes suas chagas e espera que cada um dos visitados lhe diga um “sim” ou um “não” definitivo.Esta é a nossa fé: a salvação é universal!

José Carlos, dessa vez limitei-me a citar a Bíblia, o Catecismo e o escritor católico. Mas está tudo aí. Agradeçamos a Deus que nos revelou realidades tão bonitas e procuremos vivê-las na alegria e na esperança.

Padre Humberto Capobianco, MSC, é Diretor do Colégio John Kennedy, em Pirassununga, SP

Pra começo de conversa… Caros Leitores

Todos nós sabemos que, batizados que somos, temos um compromisso com a evangelização. A assembleia do CELAM, realizada na cidade de Aparecida, SP, em 2007, – lembram-se? – , com a presença do Papa Bento XVI, produziu um vigoroso documento, tratando exatamente de nossa missão de evangelizar, missão que nos envolve a todos, bispos, padres, religiosos, leigos e leigas.

Em seu n.º 134, diz: “ Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados da humanidade, no aspecto mais paradoxal de seu mistério, a hora da cruz. O grito de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? “ (Mc.15, 34) não revela a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho que oferece a sua vida ao Pai no amor para a salvação de todos.

O texto continua no número seguinte: “ A resposta ao seu chamado exige entrar na dinâmica do Bom Samaritano, que nos dá o imperativo de nos fazer próximos, especialmente de quem sofre, e gerar uma sociedade sem excluídos, seguindo a prática de Jesus que come com publicamos e pecadores, que acolhe os pequenos e as crianças, que cura os leprosos, que perdoa e liberta a mulher pecadora, que fala com a samaritana.”

Mais adiante, o documento nos lembra que assim como Jesus é testemunha do mistério do Pai, assim os discípulos são testemunhas da morte e ressurreição do Senhor até que Ele retorne. Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da vocação mesma.

Caros leitores, em um de nossos editoriais, dizíamos que a vocação missionária “Ad Gentes” é algo gestado em nossas origens, faz parte do DNA dos MSC. Assim, esse preâmbulo quer chamar sua atenção para um tema especial desse número de nossa revista.

Trata-se do artigo intitulado Santuário em seu Lar, uma iniciativa apostólica, uma espécie de Escola Missionária, composta de padres, seminaristas e leigos de nossas de nossas paróquias, os quais, devidamente preparados, colocam-se a serviço de outras comunidades que têm à sua frente padres missionários do Sagrado Coração, da Província de São Paulo.

A primeira experiência aconteceu na paróquia da Aparecida, cidade de Bauru, SP, localidade donde, na década de 1910, os nossos padres se espalharam por aquela região, assumindo várias comunidades. Segundo o autor do artigo, o trabalho foi coroado de pleno êxito, o que vocês poderão conferir ao ler a matéria.

Mas esse número de ANAIS tem ainda muita coisa boa. Vale a pena ler e refletir.

A REDAÇÃO

O culto na época do Novo Testamento

Entende-se por época do Novo Testamento o período que transcorreu entre a morte de Cristo e a morte do último apóstolo, época também chamada era apostólica. Ainda sob o impacto da ligação direta com um apóstolo vivente, a comunidade cristã desse período tinha no culto o seu modelo de identificação. O evento Cristo, assumido por Jesus de Nazaré, foi uma explosão querigmática marcada pelo anúncio do Evangelho da salvação e de curas que indicavam a presença de Deus libertando seu povo e introduzindo o homem na situação metafísica do amor (Agape). Não era um movimento sistemático, mas querigmático. Isso marcou, de certa forma, a estrutura e a liturgia da comunidade apostólica, que foi pouco a pouco definindo o que era de natureza cristã e de natureza judaica. Porém, o culto da era apostólica pode ser definido de forma clara.

Em primeiro lugar, era um culto de profundas raízes judaicas, tanto bíblicas como extra-bíblicas, culto marcado pela história e pela memória. Deus tem presença ativa na história e estabelece com seu povo uma aliança, fundada na recordação do Êxodo. Dessa forma, Israel consegue superar a dimensão naturalista do culto, dando-lhe um significado histórico e construindo o memorial, cuja organização interna segue a tríplice dimensão do tempo: evoca o passado para celebrar o presente e fortalecer a esperança no futuro em torno do “Êxodo definitivo”. Assim o culto de Israel contém um movimento de esperança e uma tensão escatológica voltada para o futuro. A segunda característica do culto na era apostólica é sua originalidade, fundada na distinção da liturgia judaica à medida em que o cristianismo se diferencia do judaísmo. Surge entre os cristãos uma estranha anticultualidade que recusa os paradigmas judaicos e pagãos, evitando termos técnicos como templo, sacerdote, altar e sacrifício.

Na verdade, esse comportamento representa as atitudes de Jesus diante do culto. Embora fosse um homem de oração e de participação no culto de Israel, Jesus também transgride, em favor da salvação, leis cultuais rigorosas, como a lei do sábado e da pureza ritual, além de tornar relativo o significado do Templo. Esse último elemento torna-se credencial para sua pena de morte e motivo de zombaria ao Condenado que morria na cruz (Mc 13,29). O culto que Jesus propôs é um culto em espírito e verdade (Jo 4,20).

Baseados nisso, os cristãos da primeira hora lançam-se com entusiasmo dando um caráter extático à experiência de fé e proclamando com ousadia que Jesus Cristo é o Senhor. Assim dão a fundamentação do novo culto: o agape de Deus revelado em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para sempre.

Uma nova categoria de culto surge no horizonte do cristianismo primitivo: o culto de uma vida vivida no Senhor. Ela é pautada pelas ações e pelos dons do Espírito Santo. Não se trata de um culto ritual, mas de um culto espiritual que representa a vida do dia a dia, vivida na koinonia (serviço) do Espírito Santo. É um conceito paulino de relevância e só pode representar a vida vivida no amor. Porém, esse culto só se mantém cm conexão com o culto ritual da liturgia. Assim, o papel da assembleia litúrgica ganha força no cristianismo da era apostólica e o termo ekklesía torna-se técnico para definir a comunidade cristã. É a partir da liturgia que a comunidade cristã ganha o nome de Igreja.

Além da Eucaristia, agora os cristãos assumem o batismo como rito que gera um novo cristão. Evangelização, fé e conversão constituem o trinômio que garante o batismo (cf. At 2,41; 8,12; 18,18). Por meio dele o cristão é implantado na situação metafísica do amor e integrado na Igreja de Cristo, que tem como fundamento o ensino dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração do pão e as orações (At 2,42).

No primeiro momento, os cristãos afastam-se um pouco da Torá judaica para viver o ensino de Jesus (didaché) transmitido pelos apóstolos. Na Liturgia da Palavra seguem o modelo sinagogal. A seguir realizam a koinonia (comunhão fraterna), seja na refeição comum ou na ajuda aos necessitados da comunidade. Em seguida, realizam a fração do pão (eucaristia), que é a ceia do Senhor descrita em 1Cor 11,20.

Reúnem-se em casas particulares no primeiro dia da semana, num estilo bastante simples e doméstico. Experimentavam fortemente o caráter extático da liturgia, pelo qual clamavam maranathá: Vem, Senhor Jesus (Ap 22,20; 1Cor 16,22). As orações representam, sobretudo, o sagrado costume hebraico de cantar os salmos nas horas canônicas. Provavelmente, era uma prática que os cristãos faziam juntamente com os judeus, embora, para os convertidos a Cristo, cada verso tivesse um sabor cristológico.

Fr. Michel dos Santos, MSC é Seminarista Religioso e cursa o 4º. Ano de Teologia na PUC/SP

EX Padres e EX Freiras

Nós que prosseguimos, devemos a eles o respeito de irmãos e irmãs. Caminharam conosco por anos, sonhando os mesmos sonhos e sofrendo as mesmas dores do reino, até que para eles e elas ficou difícil continuar a servir a Deus dessa maneira. Não deu mais. Alguns podem ter perdido a fé e a perspectiva, mas a maioria continuou amando a Jesus e à Igreja e servindo ao Senhor. Não perderam a vocação . Só não foi mais possível servir e amar num convento, no celibato ou no ministério . Para eles ficou difícil demais prosseguir naquele caminho de vida . Para não servirem a Deus infelizes e desajustados, procuraram seu ajuste noutro caminho.

Há quem os diminua por isso.

Há quem fale em perda, fuga, infidelidade e fracasso; o que é injusto, porque há fracassados que continuam, mas servindo sem amor e há muitos deles que se tornaram pessoas melhores depois da mudança de vida. Cada caso é um caso!

Nós que ficamos nos conventos, nas paróquias, nas pastorais e achamos que podemos ir até o fim, temos mais é que respeitá-los. Por um tempo conseguiram, cheios de zelo e amor, ajudar o povo de Deus como padres, freiras e irmãos. Foi vocação. Sentiram-se chamados. Houve um momento em que, ou não foi mais possível responder daquele jeito ou sentiram-se chamados a outro caminho. Pediram licença, fizeram tudo nos conformes. Mas, ficar não dava mais. Em nenhum momento quiseram desafiar a Igreja, mas o coração pedia um lar, um amor ou um outro caminho de serviço.

Falo dos maduros. Sofreram e ainda sofrem bastante com suas opções. Tenho vários amigos e amigas, maravilhosos em tudo, que já exerceram o ministério sacerdotal e já viveram como religiosas. Aprendi e ainda aprendo muito com eles. Nunca me achei melhor do que eles só porque continuo. Nem sei se os entendo, porque não passei pelo que eles passaram. Mas de ouvi-los, sei o quanto sofreram e ainda sofrem.

Continuam companheiros. Alguns adorariam poder atuar, mas nossa Igreja ainda não fez esta opção. Enquanto isso, prosseguem com saudade, mas sem mágoa, na mesma direção do mesmo reino . Mudaram de veículo, mas não de destino. Nunca os chamo de ex padres ou ex freiras. Chamo-os de irmãos. É o que são. Um dia nossa igreja saberá aproveitar melhor suas capacidades.

Enquanto isso não acontece, que sejam vistos como servidores de Deus, lá onde agora estão, alguns mais, outros menos felizes, outros infelizes como antes. Julgá-los, nunca ! Essas coisas do coração e da fé não podem ser medidas na base do era e não é mais. A maioria continua viajando na direção do mesmo infinito, amando como antes. Se você nunca viveu perto deles ou delas, não terá uma ideia do quanto lhes dói a palavra ex. Não a use. Eles não a merecem.

Pe. Zezinho, SCJ é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

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