Revista de Nossa Senhora
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Os panos dobrados

Dramatic Lighting on Christian Easter Cross at SunriseNo silêncio de uma manhã da qual nada pudesse esperar, o brilho da luz se faz refletir num simples pano dobrado no chão o poder da vida. Um sinal simples sem alardes, assim é a vida, tão simples como a luz, não se carrega de brocados que a tornam pesada, mas traz a leveza que permite romper a pedra que a faz aprisionada.

Os panos dobrados fazem da vida o espetáculo que ainda não conseguimos entender, por ser tão simples. Continuamos atados aos panos mortuários, à saudade egoísta que não deixa ver partir aquele que precisa se distanciar. Os panos dobrados causam pânico a quem os vê e não consegue perceber o mistério. Partir e não deixar marcas é o mesmo que por ali não tivesse estado. Corremos ao túmulo em busca de grandes sinais, quando a vida nos ensina na simplicidade.

Por que os panos dobrados? Será o bastante para acreditar que a vida venceu a morte? Os panos dobrados no chão são os sinais de que a vida passou por ali.

Estas são as marcas que vemos e não conseguimos ver. A morte não consegue sepultar o que é propulsor de vida. A vida uma vez vivida nunca se apagará, pois, as lembranças ainda não lhe permitem viver. Continuo caminhando pelos porões escuros da humanidade. Em cada porão o desafio de ser luz, de ser vida, de ser portador de sentimentos que tragam às pessoas o desejo de se encantar pelos seus próprios valores.

Uma vitória não se dá por meio de um só, mas, se introduz na história com a força que propomos dividir com os demais. A esperança do mundo se aniquila cada vez que se propõe o contrário, quando queremos trazer as dores do mundo em nossas dores. O que me encanta em Jesus, é que ele nunca estava só, sempre dividia os limites do mundo com o Pai; nisto a ressurreição tem sentido, pois, faz renascer uma nova esperança, liberta do que fazia pesar. O mundo passa pelas dores de parto cada vez que se nega abrir os olhos para o nascer, o crescer e o morrer dos que o compõem!

Hoje vivo na certeza que me embala a acreditar na ressurreição… Vivemos para morrer, morremos para Viver! E assim, continuaremos a viver!

Adeilson Silva, MSC, cursa o 3º ano de Teologia na Província do Rio de Janeiro

Mateus: Os excluídos no tempo de Jesus

catequeseNo tempo de Jesus, havia uma variedade de grupos de pobres que eram excluídos na sociedade de Israel. As mulheres formavam a última das últimas categorias de Israel. A mulher não podia estudar, ser discípula, falar durante o culto, ser testemunha, pois ninguém acreditava em palavra de mulher. O pai de família endividado podia vender as filhas para o pagamento. Quando ela se casava, o pai recebia o dote ou pagamento. Jamais um homem dirigia a palavra em público a uma mulher. Essa, se fosse casada, deveria sair às ruas com um véu, deixar-se conduzir em tudo pelo marido e lavar-lhe as mãos, os pés e o rosto quando chegasse em casa. No Templo, os homens ficavam na frente e as mulheres na parte de trás, separadas por grades ou uma parede. O judeu piedoso rezava cada dia, agradecendo a Deus por não ter nascido pagão, nem mulher. Seu valor econômico correspondia ao preço de um escravo, vaca ou jumento (Cf. Ex 20,18).

As crianças, apesar de serem vistas como bênção de Deus, só passavam a serem respeitadas quando entravam na fase adulta, aos 12 anos, no caso dos meninos. As meninas permaneciam na situação de exclusão da mulher. Eram consideradas impuras por tocarem em animais mortos, se machucarem e ter contato com sangue. Não podemos nos esquecer dos tabus que existiam naquele tempo.

Os doentes formados pelo grupo dos cegos, surdos, aleijados, paralíticos e mudos se encontravam numa situação de verdadeira limitação e penúria, agravada pela pobreza. Os leprosos tinham situação ainda pior. Excluídos do Templo, do trabalho, da convivência na cidade e na família, perambulavam pelos campos e encruzilhadas com a roupa rasgada, cabelos e barbas longas – no caso dos homens – e gritando “impuro, impuro!” para evitar o contato humano. Como a medicina era muito rudimentar, qualquer alergia ou doença de pele era considerada lepra.

Os endemoninhados ou possessos também faziam parte do grupo dos doentes. A medicina rudimentar que desconhecia a histeria, a epilepsia, as doenças mentais e outros tipos de doença e a crença popular nos demônios, fazia com que o povo atribuísse ao espírito do mal o que eles ainda não conheciam. Estes tipos de doentes – epilépticos, histéricos, psicóticos e outros – além de sofrer as consequências de sua própria doença, sua exclusão era ainda mais agravada ao ser atribuída ao demônio. Os exorcismos, na realidade, são curas realizadas por Jesus.

O grupo dos pecadores ou impuros era formado pelas prostitutas, adúlteras, cobradores de impostos, os que não conheciam a Lei; certas profissões como médico, parteira, coveiro, açougueiro – por tocarem em cadáveres, animais mortos ou sangue – pagãos e samaritanos, engrossavam a lista daqueles que em nome da religião e de Deus eram excluídos da sociedade. São esses os preferidos de Jesus, a quem o Mestre dirigirá a Alegre Notícia do Reino, se fará solidário e dará sua vida.

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade Paroquial São Paulo, em Muriaé, MG

A Bondade

Bondade com toda a criação. Conhecer o que é importante na liturgia, voltar às fontes, buscar na Tradição.

bondadeNão seria o espaço da igreja o lugar privilegiado de respeito e defesa do meio ambiente?

Por coerência com a mensagem anunciada, o espaço litúrgico não deveria, mais do que qualquer outro lugar, respeitar e proteger toda a criação?

Hoje estamos acordando para isso e já não podemos mais fechar os olhos para essa necessidade sob risco de não sermos eficientes no que anunciamos. A mensagem de amor ao próximo, amor à criação, justiça e solidariedade deve ser coerente com o espaço onde a anunciamos.

O espaço físico é espelho de nossa forma de pensar. E se não há coerência, ele nos contradiz e mostra nossas fraquezas.

Em minha experiência profissional, me deparo sempre com uma questão que me instiga e questiona. O que é hoje sinal do Reino? Qual símbolo encontra hoje eco no coração das novas gerações? Quais símbolos podem nos abrir caminhos de acesso ao sagrado, ao Mistério?

Acho que uma construção sustentável e uma mudança de hábitos por parte das lideranças da Igreja seriam certamente hoje um grande sinal do Reino.

Bondade com os portadores de necessidades especiais.

Não faz sentido conceber um local para que uma comunidade inteira tenha sua experiência com a Verdade e nos depararmos com situações como, por exemplo, ser inacessível a qualquer cidadão que queira fazer uso dele.

As leis e/ou normas para afastar qualquer tipo de segregação da cidadania das pessoas estão aí para nos ajudar, mas a consciência cristã vai além disso. Todas as pessoas devem poder ter acesso a todos os lugares da igreja, inclusive à mesa da palavra e à mesa eucarística.

Vivemos certamente uma crise que vai muito além de tudo isso que aqui falamos e que nos atropela. Mas sociedade e Igreja são constituídas por gente, por nós. Qualquer mudança que queiramos fazer depende de nós, de cada um de nós. Ao preparar uma celebração litúrgica, ao arrumar um espaço para a celebração, ao reformar ou mesmo construir um espaço, pense no essencial, na simplicidade, no aconchego, no contexto em que estamos inseridos, na centralidade de nossa fé, no respeito ao meio ambiente, no respeito aos portadores de deficiências, no conforto térmico e acústico. E procure apoiar-se sobre conhecimentos teológicos e litúrgicos, pastorais e técnicos. E não sobre palpites.

Crie um processo comunitário, democrático e participativo. E planeje.

O espírito ultrapassa o mundo real e se eleva às alturas onde reina o divino. Aí se lhe revelam toda a verdade e toda a beleza. Só o que é eterno é verdadeiro e também belo.

Pe. Michel dos Santos, MSC, é vigário paroquial de N. Sra da Soledade em Delfim Moreira/MG

Batom nos paramentos

Deep prayerO primeiro pensamento que me  ocorreu é que estava diante  de uma “novidade”

Em nossa comunidade paroquial, o pároco nomeou cinco ministros extraordinários da Palavra. São três mulheres e dois homens. Quando o sacerdote está ausente – pois tem várias tarefas na diocese e atende a outra comunidade distante, com a doença do pároco local -, cabe a nós, os ministros, exercer a função de moderadores das celebrações e fazer as reflexões sobre o Evangelho.

Outro dia, ao vestir a túnica própria dos ministros, notei a mancha de batom na gola. O primeiro pensamento que me ocorreu é que estava diante de uma “novidade”, uma possibilidade aberta pelo Concílio Vaticano II: a presença da mulher em ministérios supletivos da ação dos ministros ordenados.

De fato, o novo Código de Direito Canônico [1983], reformado após o Vaticano II, foi citado por João Paulo II em sua Encíclica sobre a “Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no mundo” [Christifideles Laici]: “Onde as necessidades da Igreja o aconselharem, por falta de ministros, os leigos, mesmo que não sejam leitores ou acólitos, podem suprir alguns ofícios, como os de exercer o ministério da Palavra, presidir às orações litúrgicas, conferir o Batismo e distribuir a Sagrada Comunhão”. (ChL, 23.)

Naturalmente, continuamos leigos. Como alerta a mesma Encíclica, “o que constitui o ministério não é a tarefa, mas a ordenação sacramental. Só o sacramento da Ordem confere ao ministro ordenado uma peculiar participação no ofício de Cristo, Chefe e Pastor, e no seu sacerdócio eterno”.

É verdade, ainda, que os fiéis preferem a presença do sacerdote; especialmente os mais idosos experimentam certa dificuldade diante de ministros leigos nas celebrações, ainda que só nos apresentemos ali como extensões, em caráter supletivo, do próprio ministério do sacerdote.

Voltando à mancha de batom (a gola é mesmo estreita e justifica os traços vermelhos…), o Papa João Paulo II falou à Igreja sobre a “presença e colaboração dos homens e das mulheres” (ChL, 52), lamentando a “presença demasiado fraca dos homens”. Devo citar por extenso o que ele escreveu:

“A razão fundamental que exige e explica a presença simultânea e a colaboração dos homens e das mulheres não é unicamente [...] a maior expressividade e eficácia da ação pastoral da Igreja; nem tampouco o simples dado sociológico de uma convivência humana que é naturalmente feita de homens e mulheres. É, sobretudo, o desígnio originário do Criador, que desde o ‘princípio’ quis o ser humano como ‘unidade a dois’, quis o homem e a mulher como primeira comunidade de pessoas, raiz de todas as outras comunidades e, simultaneamente, como ‘sinal’ daquela comunhão interpessoal de amor que constitui a misteriosa vida íntima de Deus Uno e Trino.”

Se as manchas vermelhas se repetirem na gola da “nossa” túnica, continuarei dando graças a Deus pela preciosa presença feminina em nossas comunidades.

Ademais, não me lembro de ter ouvido nenhuma queixa quando os paramentos de antanho tinham apenas manchas de cinza e o aroma típico dos cachimbos e dos cigarros.

Não sejamos machistas…

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança

Onde Reencontrar a Beleza

Atualidade Liturgica-Pe. MichelNa Verdade “Arte é Beleza e a Beleza é o resplendor da Verdade, sem verdade, não há Arte.” Disse o arquiteto espanhol Antonio Gaudi.

A Beleza que procuramos, aquele lugar onde Deus brilha, deve ser um lugar verdadeiro. A arquitetura deve ser verdadeira. A liturgia deve ser verdadeira. Nós devemos ser verdadeiros.

Devemos buscar a verdade naquilo que nos é autêntico.

Procurar a verdade manifestada nas raízes religiosas das culturas locais, na nossa realidade concreta sem querer imitar outras culturas e outras realidades.

Para dar um exemplo, o Brasil tem uma grande quantidade de excelentes artistas de arte naïf; essa modalidade artística tem uma força extraordinária que vem de sua sinceridade e simplicidade.

No dicionário, naïf quer dizer aquilo que retrata simplesmente a verdade, a natureza, sem artifício, sem esforço; que é graciosamente inspirado pelo sentimento. No Brasil só existe um museu de arte naïf, localizado no Rio de Janeiro. Brasileiros não compram essa arte, só os estrangeiros a valorizam. Nós não

valorizamos nossa própria arte, nossa própria beleza, nossa verdade.

Devemos buscar a verdade na centralidade da liturgia.

Há um centro em nossa vida, na vida de nossa comunidade, na liturgia que celebramos, e no espaço onde celebramos? Há um eixo comum? Esse centro é coincidente?

Se o centro da nossa vida e da nossa liturgia não for o Mistério Pascal, o espaço o denuncia. Assim encontramos espaços onde o centro é a presidência, ou o padroeiro, ou Nossa Senhora, ou o sacrário, ou os arranjos florais, ou ainda o dízimo, mas não o Mistério Pascal.

A Igreja nos pede espaços que possibilitem a participação ativa dos fiéis. Já sabemos que a forma longitudinal não possibilita isso, não há como participarmos se não nos vemos, se só enxergamos as costas uns dos outros. Sabemos que a forma circular é ideal para a participação ativa. O círculo se dá a partir de um centro. Ele se desenvolve obrigatoriamente a partir de um centro. A liturgia gira em torno de um centro e é para esse centro que tudo converge.

Este centro é o Cristo. Devemos buscar a beleza na essência. E fugir da simples aparência.

Pe. Michel dos Santos, MSC é vigário paroquial de N. Sra da Soledade em Delfim Moreira/MG

A experiência da intimidade

9662914625_c8035036e4_oEm nossa Congregação, Ninguém é hóspede casual, Ninguém é estrangeiro; Somos todos irmãos No único Coração de Cristo. Pe. Júlio Chevalier, 1897

Fico imaginando quão grande e profunda foi a experiência do padre Júlio Chevalier com o amor de Deus. Uma experiência de amor desta dimensão só pode acontecer a partir da intimidade. Foi no contato íntimo com o Deus da vida que o padre Júlio Chevalier descobriu o Coração de seu Filho. Jamais uma relação frágil e rasa geraria um coração disposto a se doar pelo bem dos outros.

A vivência profunda do mistério amoroso de Deus transcende o nível do romantismo e do sentimentalismo e impulsiona o homem a ir além. Júlio Chevalier percebeu que não bastava mais sentir-se amado por Deus, era necessário levar outras pessoas a fazerem a mesma experiência.

Penso que o nosso fundador sentia o Coração de Cristo como uma casa, um lar, uma morada, lugar de repouso e descanso. Era o ponto de chegada e também de partida. Como não poderia ser diferente, o Coração do Divino Filho se tornou para ele o centro de onde tudo se irradiava.

Lembro-me de que na casa de meus pais, no interior de Minas, a sala de estar precisava ficar sempre limpa e arrumada por causa das visitas, mas quando era uma pessoa próxima da família que chegava, logo era levada para a cozinha, muitas vezes entrava até mesmo pela porta dos fundos. Não tinha problema se a cozinha não estava bem organizada, aquela pessoa fazia parte da nossa intimidade.

A cozinha é um lugar de intimidade para uma família mineira, diz muito dos hábitos e das pessoas que moram ali, levar alguém para dentro era como dizer: “você é de casa”. Mas não era qualquer pessoa que chegava pelos fundos ou que entrava na casa inteira; minha mãe sabia muito bem quem fazia parte da nossa intimidade.

Penso que o padre Júlio descobriu isso, sei que ele descobriu no Coração de Cristo o lugar da intimidade. Todos quantos quiserem ir ao mais profundo de Cristo devem dirigir-se ao seu Coração. Lá é o lugar de onde emanam todas as graças, é também o lugar da aprendizagem.

Desta relação é que aprendi o que o nosso fundador quis ensinar ao dizer que em nossa Congregação ninguém é hóspede casual ou estrangeiro. Ele quis nos mostrar que, como homens do Coração de Cristo, somos levados a mostrar também o nosso coração. Por isso, acolher, receber bem, alegrar-nos com a presença de um irmão, faz parte do nosso carisma como ponto essencial, como pertença de algo vivido e que nos foi transmitido. E aqueles que se aproximam da intimidade MSC, da nossa cozinha, percebem quão frágeis somos nós, quanta humanidade há em cada um, mas percebem acima de tudo qual Coração queremos imitar.

Com o nosso coração simples, humano e acolhedor, queremos levar todas as pessoas à mesma experiência de amor e acolhida feita um dia pelo nosso fundador e que, como seus filhos, um dia também nós fizemos e que agora buscamos transmitir.

Fr. Girley de Oliveira Reis, MSC é seminarista e cursa o 4º ano de Teologia na PUC/São Paulo-SP

O que é peregrinação?

Open bible with man and crossÉ um ato de escuta a Deus e de seus anseios em relação à minha vida. A caminhada é para Deus, no intuito de sentir-me eternamente agradecido pelo amor irrestrito que Ele me dá.

O nascimento é o primeiro passo para uma peregrinação que tem o seu fim último os braços de Deus. O itinerário num primeiro instante se faz ao longo da vida nas escolhas, projetos e a maneira como se quer caminhar. É o que poderíamos nominar de caminhada existencial. Somos os condutores de nós mesmos nesta viagem da qual só sabemos o ponto de partida. O decorrer do trajeto nem sempre é fácil porque não podemos controlar, entender ou prever o que sucederá. Resta-nos pelo caráter específico da peregrinação, viver a prática do abandono em Deus e deixar que Ele conduza a nossa opção de sair em batalha contra todas as adversidades para chegar a um lugar específico que o nosso coração escolheu de antemão.

As motivações para uma peregrinação, sozinho ou em grupo, são diversas: graças alcançadas, sacrifícios por um desejo escondido, busca pela saúde dos seus ou apenas uma manifestação de fé, dando uma característica de renovação da vida espiritual. E são inúmeras as peregrinações: caravanas, romarias em direção a lugares santos, santuários, grutas de aparições de Nossa Senhora… O desejo de alimentar a fé com ardor renovado a cada viagem, suscita no peregrino, mesmo diante de algumas dificuldades físicas, sair de si, da sua casa e cidade para um lugar que entende ser abençoado por Deus. Esta atitude é típica do peregrino e ninguém, ao sair em peregrinação, reclama de algum desconforto. Peregrinar é um encontro com Deus.

É um ato de escuta a Deus e de seus anseios em relação à minha vida. A caminhada é para Deus, no intuito de sentir-me eternamente agradecido pelo amor irrestrito que Ele me dá. E há outro significado profundo na peregrinação: perceber-se criatura que depois de um instante da vida, permanecerá eternamente no céu. É a memória viva de que nossa vida aqui na terra é um sopro que encontra permanência em Deus. É n´Ele que cremos e com Ele peregrinamos.

E, assim, você que é o eterno peregrino de nosso Santuário, saberá que seus esforços contínuos de estar aqui todos os anos terá ainda continuidade no céu, quando Deus, em sua bondade, quiser a sua companhia. Nada se perde para aquele que crê. Em Deus, tudo toma um sentido novo.

Neste mês de fevereiro têm início, aqui no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, várias peregrinações. De muitos lugares, romeiros atravessam estradas para fincar sua fé aqui neste lugar amado por Deus e escolhido pela Virgem Maria. Completamos setenta e cinco anos de existência física porque no coração e no sonho de Deus já existíamos. É aqui, que ano após ano, as pessoas vêm manifestar sua felicidade, suas dores e súplicas. E não será diferente este ano. Na contracapa da nossa revista, oferecemos este mês uma parte da programação da nossa festa para este ano com suas peregrinações, visitas da imagem peregrina, novenas e muito mais preparado especialmente para você.

Não deixe, portanto, de peregrinar ao nosso Santuário este ano. Serão graças testemunhadas e alcançadas por todos os que anualmente se encontram aqui com Nossa Senhora do Sagrado Coração. Deixe-se cativar pelo amor mariano. Venha participar desta festa que contagia a todos. No próximo mês, trataremos das questões das indulgências e da festa jubilar.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, SP.

Calcanhar de Aquiles

1140200_47373163A leitura é o calcanhar de Aquiles de milhões de pessoas que creem em Jesus. Vivem do que ouviram porque ler, não lêem. Acreditam mais nos próprios ouvidos do que nos próprios olhos; mais na fala do pregador à sua frente do que nos rabiscos e anotações que deveriam fazer sobre os livros de pregadores do mundo inteiro.

Jogam fora por ano mil páginas de oito a dez bons livros, em troca de milhares de minutos de rádio, televisão, retiros e missas. Privilegiam a fala. Preferem ouvir a ler. O triste é que muitos dos pregadores que eles ouvem, não ensinam nem 10% do que estes livros ensinariam porque carecem de maior cultura. Assim, recebem doses maciças de piedade, testemunho e conselhos, mas pouquíssima fundamentação filosófica, teológica, antropológica e sociológica que teólogos, catequistas, psicólogos e irmãos mais estudados oferecem.

O que faz um fiel optar pelo pregador, padre ou leigo preferido, que sabidamente não tem o conteúdo daqueles livros nem dos documentos exarados pela Santa Sé ou pelos bispos reunidos? Rejeitam os livros porque não gostam de ler ou porque não foram motivados? E o que os leva a comprar o

livro simples e singelo do padre famoso e não levar o do Papa que a balconista elogia e indica? Marketing? Ora, o fiel sabe que o Papa é um dos maiores catequistas que já tivemos. Então por que não o leva?

Meu palpite é que se divulgam mais os livros de pregadores de mídia do que os dos professores e doutores e os documentos da Igreja. Talvez devamos desenvolver a pastoral da leitura, para que os fiéis procurem primeiro os livros fundamentais e só depois os livros de motivação…

As leituras da fé têm sido um de nossos entraves. Os fiéis leem pouco e, quando leem, não buscam os livros mais importantes da Igreja. A uma senhora que disse que tinha lido dez livros meus, perguntei com delicadeza e olhar interrogante, se havia lido a Bíblia, o Catecismo e os principais Documentos da Igreja, pois meus livros se inspiram neles. Ela riu e disse o que os fiéis deveriam dizer a todos os sacerdotes:

- Você me convenceu a ler seus livros, mas ainda não me convenceu a ler estes. Convença-me!…

Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

Milagre Eucarístico Ferrara

1422732_38534421O coração jamais se engana em relação à fé. Sente-se. Inspira-se e vive-se um momento especial de intimidade com Deus.

O milagre eucarístico de Ferrara é um exemplo da manifestação de fé. Ao que se sabe dos escritos, antigos e recentes, este milagre não foi por um ato de incredulidade como o de Lanciano, mas ao partir a hóstia durante a missa, o Pe. Pietro e seus amigos concelebrantes, viram jorrar da hóstia o sangue que caiu sobre o altar e respingou na abóbada acima. Era um domingo de Páscoa, dia 28 de março de 1171. Fato este presenciado, descrito e tema de uma Bula Papal, promulgada pelo Papa Eugênio 14, em 30 de março do ano de 1442.

O coração jamais se engana em relação à fé. Sente-se. Inspira-se e vive-se um momento especial de intimidade com Deus. No que tange aos sentimentos, ninguém pode dizer o que é correto ou não. Somos dotados por Deus de tantas capacidades de expressar o que sentimos que toda espécie de oração e manifestação deve ser acolhida por todos. É claro que todas estas questões têm o nível de normalidade porque, no que se refere a milagres, principalmente milagres eucarísticos, a Igreja é sempre prudente e estuda cada caso para dizer se ele é verdadeiro ou não. Não é toda sombra de Nossa Senhora que aparece em qualquer lugar que deve nos levar a fazer imensas peregrinações. Somos católicos, temos uma Igreja que nos ama e que nos protege das ciladas dos inimigos e aproveitadores. É ela quem deve atestar a veracidade dos fatos extraordinários.

O milagre eucarístico de Ferrara é outra referência que temos do amor de Jesus por nós e deve ser lido na perspectiva de que Ele ainda é apaixonado por nós e, por isso, nos busca todos os dias. A sua entrega não foi apenas aos 33 anos de idade, mas é eterna. O seu sangue continua sendo derramado por todos para que a nossa esperança na salvação não se extinga. Ele renova esta procura através da eucaristia, das orações cotidianas, do irmão que sofre, dos que necessitam da nossa solidariedade. Estes são também milagres cotidianos que fazemos acontecer na vida das pessoas. E, em primeiro lugar, em nossa vida.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, SP.

Milagres Eucarísticos “Milagre de Lanciano”

home3Milagres são assim, interpelam a uma postura de fé. Acredita-se ou não. Assume-o em nossa vida ou ficamos à mercê dos comentários dos menos entendidos que reprovam toda manifestação de fé, considerando-a alienação e imprudência diante do sagrado. Infelizmente há quem pense assim diante do inexplicável.

O milagre de Lanciano, muito conhecido nosso, mostra uma atitude de descrença de um monge, enquanto presidia à santa Missa. Diante de sua incredulidade, o pão se torna carne e o vinho se torna sangue de Jesus. Esta é a base central que causa furor entre os críticos de nossa Igreja, tentando de todas as maneiras, provar que acreditamos no vácuo, no vazio.

O que se sabe é que a ciência se cala ante tal fato, depois de uma

série de exames para comprovar que a carne e o sangue são verdadeiros. Não nos cabe teorizar sobre a questão achando que podemos dar alguma outra contribuição que a ciência e a religião já fizeram. Cabe-nos, portanto, viver a nossa fé no Santíssimo Sacramento, como prova fiel da presença de Jesus na eucaristia.

Memória, esta é a palavra. Jesus nos pede insistentemente, na sua última ceia, a que somos convidados, a fazer memória da sua participação em nossa vida, quando quisermos mais uma vez ter a participação da sua vida na nossa. Por isso, nos deixou o seu memorial: “Fazei isto em memória de mim”. É o que assumimos na santa missa.

Tomando como referência estas palavras de Jesus, é importante que o cristão católico faça memória de que o milagre de Lanciano acontece todas as vezes que comungamos. O que comungo hoje é o pão transformado no corpo de Cristo o qual me impulsiona a ser de Deus. Não precisamos ir longe para entender isso. Lanciano está presente onde a Eucaristia está. Ele é o convite pleno para que os crentes e os não crentes façam sua adesão ao projeto de Deus de salvar a humanidade.

Lanciano é um ato de fé. Nossa vida é um ato de fé. Nossas conquistas são um ato de fé. Lanciano é tão verdadeiro como o amor de Deus por nós, incondicionalmente.

Pe. Air José de Mendonça, MSC é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, São Paulo, SP.

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