Revista de Nossa Senhora
  • Administração: Rua Angá, 994 – VI. Formosa – São Paulo – SP
  • Telefax: (11) 2211-7873 – E-mail: contato@revistadenossasenhora.com.br

Você acessou a Edição Reportagens

O ódio sagrado

778488_16970647Nestes dias de violência generalizada, crime organizado e batalhas campais, invoca-se a deusa Justiça para clamar pela adoção da pena de morte. No fundo, pulsa a mesma intenção: para acabar com o pecado, acaba-se com o pecador.

Todos conhecem o episódio bíblico em que o profeta Elias, movido por um impulso de ódio, usou da espada para “limpar” o antigo Israel da idolatria. Foram sumariamente “eliminados” 450 profetas de Baal, o ídolo da fertilidade cultuado pelos moabitas (cf. 1Rs 18,40).

É digno de espanto que o gesto de Elias tenha sido aplaudido ao longo dos séculos e admirado como um comportamento “religioso” na defesa dos interesses do verdadeiro Deus. O mesmo Deus que afirma peremptoriamente: “Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva”. (Ez 33,1.)

Como é fácil mascarar sentimentos mais ou menos inconfessáveis em ação religiosa! Intolerância, ódio, vingança, ultranacionalismo e ambições comerciais são alguns desses monstros que se disfarçam de culto a Deus. Invocamos o santo Nome de Deus para agredir o vizinho ameaçador, rapinar a nação rica em recursos naturais, anexar territórios ou, simplesmente, afastar os “diferentes”.

Atualmente, grupos muçulmanos adotam a tática da agressão sistemática contra minorias não islâmicas. Um Islã politizado usa (abusivamente) do Alcorão para impor a Sharia e tornar impossível a presença de outras religiões. A Turquia atual é o palco do conflito entre tais grupos e o exército nacional pró-Ocidente.

Em solo brasileiro, nestes dias de violência generalizada, crime organizado e batalhas campais, invoca-se a deusa Justiça para clamar pela adoção da pena de morte. No fundo, pulsa a mesma intenção: para acabar com o pecado, acaba-se com o pecador. Com este objetivo, apelaríamos para a forca, a cadeira elétrica, a injeção letal. Ouço os aplausos de Hitler, Stalin e Pol Pot…

Esta legião de justiceiros sente-se no direito de matar aquele que mata, sem levar em conta que condenar à morte um criminoso significa cristalizá-lo no seu crime, roubando-lhe um tempo futuro quando, ao menos em potencial, teria a oportunidade de reflexão, arrependimento, reparação e conversão. Exatamente aquela oportunidade que Deus oferece a todos nós, os pecadores.

Não é preciso lembrar que o direito de matar – e eliminar adversários e opositores – sempre foi invocado pelos tiranos de todos os quadrantes e de todas as revoluções. Já devíamos ter aprendido com a História. Já conhecemos o que ocorre no “paredón”, nos “gulags”, nos campos de concentração, na Base de Guantánamo. Já estamos informados sobre os projetos de “limpeza étnica” e de imposição do partido único. Em todos estes exemplos, a dignidade do homem foi negada e sufocada em nome de outros interesses.

Quem deseja a pena de morte parece pensar que o Bem e o Mal são polos de igual valor e poder. Não imagina que o Bem possa abraçar, englobar e fagocitar o Mal, como Luther King dando a vida pelos direitos de seu povo, como Gandhi imolado pela Paz, como Cristo que morre com esta oração nos lábios: “Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem!” É assim que o Bem vence o Mal…

O cristão pensa diferente dos amantes da morte. Ele “sabe” que a dignidade do homem deriva de sua criação “à imagem e semelhança” do Criador (cf. Gn 1-2). O cristão sabe que o crime não despoja o criminoso de sua dignidade original. E se tratamos o criminoso como coisa, fera ou monstro, é a própria imagem de Deus (ainda que deformada!) que estamos deixando de respeitar.

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Famílias de mãos dadas

site1Era muito mais bonito aquele tempo em que ele punha as mãos nos ombros dela, ou publicamente andavam de mãos dadas. Alguém decretou e espalhou que o gesto está fora de moda. Que falem, mas ,se não inventaram coisa melhor, que se calem! O fato é que continua bonito ver a mão dele segurando a dela, sem nenhuma outra razão além do carinho entre dois seres humanos.

Casais idosos ainda fazem isso e há casais jovens que não abrem mão desse privilégio. O gesto não tem nada de antiquado. Diz muito ao coração dela e faz bem ao homem que ele é. Mostra publicamente que há um laço a prender suavemente os dois. As mãos falam e ajudam a dizer coisas boas e más. Por elas também passam o cuidado, o carinho e a ternura. Aquelas mãos dadas são mãos de pai e mãe, ou de quem será. São mãos que cuidaram, cuidam ou cuidarão de vidas tenras e carentes.

Mãos levantam queixos, afagam cabelos, tocam olhos e testas, seguram mãozinhas inocentes, curam feridas, fazem comida, lavam corpos e roupas, constroem brinquedos, afagam bochechas, alisam cabelos brancos, plantam, colhem e beneficiam, assinam decretos, ajudam os pobres e tornam o matrimônio uma fonte de vida. Protagonizam na terra o prolongamento do raham, o colo de Deus. Nada mais justo, então, que homem e mulher caminhem de mãos dadas, porque é bom, é terno, simboliza um vínculo, e é testemunho de Alguém que está amando alguém.

Em algum ponto da caminhada muitos casais perderam este delicado e belíssimo costume. Numa era de tanta violência, fora e dentro do lar, de tanta indelicadeza, ingratidão, ameaças e perda de valores, há costumes que devem ser preservados e incentivados. Um deles é a ternura do casal de mãos dadas. Não faz sentido que duas pessoas que se amam, caminhem sistematicamente separados, como se estranhos fossem. Era bonito, simbolizava cuidado e laços de família e todos podiam ver. Que volte a simbolizar a unidade. Prefiro ver isso do que homens indelicados e mulheres magoadas e de rosto sombrio e enxabido, ao lado do homem que um dia foi a razão dos seus sorrisos.

Pequenos gestos podem fazer a diferença. Parecem bobos e fora de moda, mas não são mais tolos e fora de moda do que um casal se espicaçando na frente dos outros e agindo como se o outro não significasse mais nada em sua vida. Pode até haver mentira naquelas mãos dadas, mas se até inimigos se dão as mãos e assinam tratados , por que não um casal que tem e teve uma história?

Que se reze o Pai Nosso de mãos dadas. Que se comece pelos casais!

Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

Natal tempo de esperança

interna3No Natal trava-se a batalha entre dois imaginários sociais. De mais longe, vem o significado cristão, profundo, religioso do nascimento de Jesus. Todos conhecemos a origem. Cai no solstício de inverno dos países do hemisfério Norte. Desde o Imperador Aureliano (séc. III), celebrava-se nesse dia o Natal do Sol Invicto, festa mitríaca do renascimento do sol. A Igreja de Roma transpõe-na então para o nascimento do Verdadeiro Sol da Justiça, Jesus Cristo, a partir do IV século.

Nos países cristãos, a festa conservou enorme pureza e significado, embelezando a noite das crianças. A tradição do presépio engalanou-a com símbolos religiosos. A apresentação artística do nascimento de Jesus com Maria e José, cercado de anjos, Reis Magos, pastores e animais, em gruta singela, povoou o inconsciente das crianças e ficou como camada subterrânea no imaginário adulto. Vinculou-se a ela a figura de São Francisco de Assis como iniciador, no século XIII, da representação do Nascimento de Jesus. Na forma em que hoje conhecemos o presépio, ele é bem mais tardio, remontando ao século XVI.

São muitos séculos de piedade, de religiosidade que se consubstanciaram nessa festa. Sempre houve o invólucro da ceia de Natal, mas ela se cercava de símbolos religiosos, de orações, de cânticos próprios, antes prolongando que rompendo a sacralidade da festa.

Aos poucos, o capitalismo desbragado na forma de sociedade de consumo começou a tocar-lhe o coração e transformá-lo em mercadoria. Os sinais religiosos conservam a materialidade visível, o significante, mas perderam o significado para se mercantilizarem. Vende-se a festa de Natal em todos os pormenores. Ela é arrancada da celebração litúrgica de tal modo que pode ser celebrada sem nenhuma referência ao evento fundador.

Na prática, vivem-se três situações diferenciadas. Em alguns lugares, predomina ainda a dimensão religiosa. Os mosteiros, comunidades cristãs fervorosas põem o acento na celebração eucarística da meia noite, mesmo que, por razões práticas, o horário venha sendo relativizado. Há lugares do Brasil em que a violência urbana impede as pessoas de saírem tarde da noite para a celebração. Antecipam-na.

Outros jogam com o 50%. Conservam a festa religiosa, mas em proporção igual se munem com os acréscimos seculares de presentes, de consumismo exagerado dos bens natalinos. Nos EUA, a venda de peru cresce enormemente como o prato típico do tempo natalino. As granjas se orientam para tal.

Hoje é a forma mais comum de celebrá-lo. Os aparatos externos consumistas tendem a crescer, mas ainda se respeita o imaginário religioso de séculos. Famílias de boa tradição cristã não abandonam a celebração litúrgica, antes de iniciarem as comilanças, bebedeiras e presentes. Paga-se já tributo considerável ao consumismo.

A vitória completa da sociedade secularizada acontece pela redução do Natal à categoria de simples feriado civil. E o lazer ocupa totalmente o espaço disponível. Vincula-se tal evento ao costume de mútuo presentear-se, sem se dar conta do significado simbólico primigênio. O presente vale pelo presente, pela embalagem, pelo valor material, pelo gozo do consumo. Nada a ver com o grande Presente do Pai na pessoa de Jesus. É o fim do Natal religioso.

Em luta desigual com o afã consumista da sociedade atual, resta-nos conservar a tradição religiosa pelas vias de que dispomos: catequese desde a família, valorização da celebração litúrgica, educação cultural da simbologia religiosa natalina. A religião faz parte da cultura e é-lhe o coração. Tal vinculação permite que ambas se conservem.

Feliz Natal ! 

Pe. João Batista Libânio, é teólogo jesuita.

Quem tem a paz tem muito mais respostas!

interna2Custou, mas encontrou a sua paz
Custou até demais
Momentos houve até em que ele imaginou
Que não conseguiria nunca mais
Doeu, doeu demais não ter a paz
Não ter nenhum conforto para a alma
As noites eram frias
E os dias eram longos por demais
Que dor e que agonia
Dentro de um coração que não tem paz

Alguém lhe apresentou Jesus de Nazaré
Ele nunca viu seus olho
Nunca teve uma visão
Jesus nunca falou nos seus ouvidos
Mas ele sabia que era Jesus

E orava e suplicava
Meditava e meditava
Nas palavras que Ele disse
Para quem carrega um fardo:

Troquem de fardo comigo
Eu fico com o de vocês e vocês com o meu.
Meu peso é leve e meu jugo não machuca.

Uma calma de manhãs de orvalho
Uma brisa suave de primavera
foi se apossando de seu interior.
As palavras do Livro Santo
foram lhe devolvendo a vida
e a vontade de prosseguir.

Começou a respirar,
a dormir e a sorrir leve e solto.
Mudou de rosto, de olhar e de jeito.
E foi lá fora, ajudar os outros.

Nunca se achou melhor e mais santo
Nem mais salvo , nem mais ungido,
Nem mais eleito.

Viveu agradecido pela paz que Jesus lhe dera
Desenvolveu a paz inquieta dos que lutam para levar aos outros a paz que Deus lhes concedeu.
Porque a paz é uma graça que vem do céu
e se cultiva e desenvolve no dia a dia. 

De iluminado tornou-se iluminador
De abençoado, abençoador,
De perdoado, perdoador
E de coração deprimido, coração libertador.

Tinha encontrado a paz para si.
Agora precisava encontrá-la para os outros.
Tornou-se missionário do diálogo.

Nunca mais descansou.
Morreu aos 90 anos, trabalhando
pela paz dos outros.
Convencido de que a paz é de todos os milagres,
o mais bonito milagre
que um coração possa querer. 

Quem tem a paz tem muito mais respostas!

Vamos até Belém

Nativity sceneNum mundo que  leva as pessoas ao individualismo, procuremos participar da alegria dos humildes, fazer nossa a esperança dos pobres, alegrar os que nos rodeiam com a vivência da fé em Cristo.

O Evangelista Lucas, no capítulo 2 de seu Evangelho, põe nos lábios de humildes pastores, este importante convite: “Vamos até Belém! Vamos ver o que aconteceu e o que o Senhor nos manifestou”. Vamos! Caminhemos com os pastores até Belém, ao encontro do Salvador.

A gruta onde Jesus nasceu ficava perto do campo de pastores, que dividiam suas vidas com seus próprios animais, dia e noite. Sem instrução, não sabiam ler coisa alguma, muito menos as Escrituras em língua clássica e antiga. Mesmo assim, embora pobres e à margem dos acontecimentos sociais, eram gente de Israel, acreditavam em anjos – para isso não precisavam ler. E foi um anjo do Senhor, o grande portador das mensagens divinas, quem lhes anunciou a Boa Nova. Enquanto vigiavam seus rebanhos no meio daquela noite abençoada do Natal, ouviram a voz do enviado de Deus: “Eis que vos anuncio uma grande alegria!

“Não temais, a boa nova será para todo o povo: hoje vos nasceu, na cidade de Davi, em Belém, um salvador que é o Cristo Senhor. E completou: ”Vocês vão encontrá-lo na manjedoura, envolto em faixas”.

Alegria na terra e no céu: anjos em multidão cantaram com eles.” Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade”. E Lucas acrescenta: “E a glória de Deus envolveu aqueles pobres”.

Os pastores aceitaram o convite e, juntos, caminharam até à gruta. Encontraram o menino com a mãe e José. Cheios de júbilo, partilharam o que ouviram a respeito do menino”. Maria guardava tudo no coração.

Natal é a festa da família, oportunidade especial de acolhida aos irmãos e irmãs, tempo de abrir as portas para deixar Jesus entrar em nossa casa, no coração, na vida.

Num mundo que leva as pessoas ao individualismo, procuremos participar da alegria dos humildes, fazer nossa a esperança dos pobres, alegrar os que nos rodeiam com a vivência da fé em Cristo. É preciso deixar de lado o comodismo e caminhar com coragem até a gruta de Belém a fim de acolher Jesus e entrar na escola do presépio.

Podemos aprender tantas lições: a disponibilidade, a fraternidade, o acolhimento, a humildade, o amor, a fé, a vida em família, a partilha. Partilhar não é só repartir o que se possui, mas, é também estender as mãos para receber o que os outros têm para repartir. As famílias e a comunidade estão esperando nosso testemunho.

“Cada um de nós, ao contemplar na fé como o Filho de Deus quis nascer e viver nesse mundo, deve deixar-se tocar por esse mistério de um Deus que se faz um com a gente. É tão diferente do que nós teríamos pensado. Não chama a atenção sobre si. Nos braços de Maria, identifica-se com a criança e com os mais simples e pobres, revelando assim a dignidade de toda pessoa humana, independentemente das aparências e da condição social.” Estas palavras ditas por Dom Luciano Mendes são um convite para que nos deixemos envolver pelo amor de Deus revelado de uma maneira tão simples. A contemplação desta cena suscita no coração da gente imensa gratidão, quando pensamos que Deus enviou seu Filho por causa de seu amor incondicional a cada ser humano.

Resta-nos imitar os simples pastores que, decididamente, foram até Belém. Essa deve ser também a nossa atitude. Apresentemo-nos diante de Jesus e Ele nos envolverá com sua ternura. Não deixemos de falar das alegrias, sofrimentos e esperanças. José ouvirá em silêncio e Maria vai guardar tudo em seu coração.

Caro (a) Leitor(a), que neste Natal o Deus que se fez uma frágil criança, ilumine sua vida e fortaleça sua fé. Sinta-se convidado(a): Vamos até Belém!

Ir. Maria da Luz, FDNSC

Morte iluminada

Em sua encíclica “Lumen Fidei”, o Papa Francisco, no número 56, diz o seguinte: “Contemplando a união de Cristo com o Pai, mesmo no momento de maior sofrimento na cruz (cf. Mc 15,34), o cristão aprende a participar do olhar próprio de Jesus; até a morte fica iluminada, podendo ser vivida como a última chamada da fé, o último “Sai da tua terra” (cf. Gn12,1), o último “Vem!” pronunciado pelo Pai…”

maria2

 

A morte iluminada pela fé

Comecei a meditar sobre a morte como encontro, como mergulho profundo no amor, como uma porta que se abre para a felicidade sem fim. Pensando assim, somos capazes de ver essa realidade sob um prisma mais alegre e consolador. Pensei: Uma morte iluminada pela fé, passagem desta para a vida eterna, certamente nos levará à Luz sem ocaso, ao próprio Deus. Esta verdade nos traz uma paz profunda e uma certeza de que não há estado de espírito de maior felicidade do que nos sentirmos totalmente acolhidos nos braços de Deus.

Santa Maria, Rogai por nós

Convido você, para voltar o olhar e coração, com muito carinho, para a pessoa de Maria, na glória do céu. Quando rezamos a Ave Maria, dizemos: “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”, pedindo a Maria que interceda por nós. Reconhecemo-nos pobres pecadores. Por esse motivo nos dirigimos à “Mãe de Misericórdia”, à Toda Santa. Entregamo-nos a ela “agora”, no hoje de nossas vidas. E nossa confiança aumenta para, desde já, entregar em suas mãos “a hora de nossa morte”. Que ela esteja então presente como na morte de seu Filho na Cruz, e que, na hora de nossa passagem, ela nos acolha como nossa mãe para nos conduzir a seu Filho Jesus no Paraíso.” (Cf.Cat. Católico-2677)

Nosso fim último é Deus

Faz parte da condição do ser humano dizer adeus a esta vida terrena. Perante a morte somos todos iguais porque Deus é o Senhor da Vida e pode nos chamar a qualquer momento. Cabe a cada um, cada uma, estar sempre preparado(a). É por graça e bênção do Pai que vivemos. Se formos pessoas de fé viva, a páscoa definitiva desta para a vida eterna, será um momento de entrega nos braços do Pai misericordioso. E as palavras de Jesus então ressoarão: “Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo.” (Cf. Mt 25,34)

Se a morte é a visão de Deus face a face, por que há pessoas com tanto medo de morrer? Jesus disse tantas vezes aos discípulos: “Não tenham medo”!. E isso vale para todo cristão. A morte é um momento sagrado, de entrega e de oferta da vida. Jesus nos diz que Deus ”não é um Deus de mortos, mas, de vivos” (Mc 12,27). Essa vida nova já nos foi assegurada por Jesus com a sua ressurreição. Não devemos temer porque, se escolhermos a vida enquanto estamos na terra, continuaremos a viver na eternidade.

Na oração da Missa do domingo da Páscoa rezamos: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova”. É o que recebemos pela ressurreição de Jesus. Ele passou pela morte, porém, dela saiu “vencedor” porque ressuscitou verdadeiramente. “

Somos povo de esperança. Esperança em Cristo, como nos escreveu o apóstolo Paulo: “Sei em quem pus minha fé” (2Tim 1,12). Foi Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que, com palavras e ações e com sua morte e ressurreição, inaugurou no meio de nós o Reino de vida do Pai, que alcançará sua plenitude lá onde não haverá mais nem morte, nem luto, nem pranto, nem dor, porque tudo o que é antigo terá desaparecido” (Ap 21, 4). (DA 143)

Há muitas moradas na casa do Pai

É difícil imaginar como é o céu, mas é consolador pensar que temos uma morada preparada pelo próprio Cristo. À pergunta de Pedro: “Senhor, para onde vais? Jesus respondeu: Para onde vou não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde.” (Jo 13,36). “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, eu vô-lo teria dito. Vou preparar-vos um lugar. Voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. (Jo 14, 1-3) “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4) tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” ( 1Cor 2,9)

A Igreja – “Comunhão dos Santos”

“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, que somos nós, dos defuntos que estão terminando sua purificação no purgatório, dos bem-aventurados do céu, formando todos juntos uma só Igreja, Corpo Místico de Cristo. E pela fé cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre à escuta das nossas orações.” (Cat. Católico 962)

Maria no céu

Maria é sinal de esperança para o povo de Deus peregrino. Enquanto caminhamos, a Mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada de corpo e alma, é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada no tempo futuro. No versículo do Magnificat, “todas as gerações me chamarão bem-aventurada”, Maria, com toda sua humildade, reconhece que o Poderoso fez nela grandes coisas. Desde os tempos remotos a Bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de Mãe de Deus, sob cuja proteção os fiéis se refugiam suplicantes em todos os perigos e necessidades. (Cap. 8 – LG)

Então, caros leitores da Revista de Nossa Senhora, alegrem-se com esta consoladora verdade e continuem a aprofundar esta beleza de nossa religião. Quando escolhi o título deste artigo, estava lendo os pronunciamentos do Papa Francisco. Desde o início da Jornada até o seu final ele não se cansava de nos incentivar a viver nossa fé com novo entusiasmo, porque, dizia ele, “a fé deve iluminar a vida, os atos, a opção de seguir a Cristo.” Então, se a fé ilumina a vida, ilumina também a morte, como vimos acima.

Oxalá tenhamos o privilégio de ter Maria junto de nós no momento da nossa morte. Com certeza, será uma morte iluminada.

Ir. Maria da Luz Cordeiro, FDNSC

Sobre a esperança depois da morte

899782_17761193

 

Particularmente não sou daqueles que se sentem confortáveis e lidam tranquilamente com a morte se é que existe alguém que o consiga. Nada a ver com falta de fé. Mas realmente não consigo vislumbrar a morte como algo sereno. Quem consegue, talvez não tenha passado pela experiência da perda de alguém muito amado. Por isso não sabe que esse caminho é dos piores a ser percorrido. A sociedade de hoje, inclusive, faz questão de mascarar a morte. Os ritos funerários estão cada vez mais frios, distantes, tentando evitar a dor inevitável. Em tempos passados, quando alguém adoecia de modo terminal, a família estava próxima do enfermo. Até as crianças participavam desse momento. Hoje, com todo aparato hospitalar, dificilmente alguém acompanha os últimos momentos de um moribundo. Depois disso, o próprio funeral se torna distante, frio, protocolar.

Mas o fato é que a morte faz parte da vida. É talvez a mais concreta e dolorosa das certezas. Nessa situação é que entra a fé numa vida que vem depois. Todas as religiões tratam desse tema. Todas apresentam a sua versão da vida após a morte. Cada qual baseada em experiências sobrenaturais, ou seja, nada que se fale sobre a vida além-morte pode ser medido pelos critérios científicos atuais. Nesse ponto surge uma legião de não-crentes que também expõem a sua certeza, de que na falta de evidência científica, conclui-se pela negação da vida após a morte.

Como cristãos, acreditamos, sim, numa vida que vai além dessa. Isso porquês nossa fé está baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus. Ele nos garantiu com palavras e com a sua própria ressurreição que vamos sobreviver à finitude do corpo, como ele próprio sobreviveu. Mais ainda: Jesus nos garante uma vida em abundância, em plenitude. A ressurreição é uma libertação de tudo que nos oprime, física e espiritualmente. Isto porque o nosso Deus é misericórdia e perdão. Por isso mesmo, a despeito do sofrimento que nos vem da morte, a esperança nos mantém de pé e deve se fundamentar em algo que vai além da nossa imaginação. O que nos espera está acima de qualquer projeção. No entanto, é comum nos perdermos em fantasias. Muitas pessoas gastam boa parte de seu precioso tempo de vida tentando imaginar como será o além. Geralmente são imaginações sobre o céu, o inferno o purgatório, cujos detalhes vislumbrados não raro chegam à beira do ridículo.

É muito interessante o fato de o nosso Deus sempre estar voltado para as situações que fazem parte do cotidiano humano, enquanto as pessoas se voltam tão somente para as coisas sobrenaturais. Quem tem uma esperança bem fundada, não precisa de justificativas, nem de ideais mirabolantes. A Palavra de Deus, sobretudo aquela revelada por Jesus, é suficiente. Isso vale, sobretudo, na hora de lidar com a morte. Ela está no nosso cotidiano, mas para nós que cremos, a última palavra nesse assunto é de Deus, cujo Filho venceu a morte para que ninguém se aflija em sofrer depois, mas que tenha esperança em uma vida incomparavelmente melhor.

Pe. Alex Sandro Sudré, MSC é pároco da Comunidade São José, em Campinas, SP.

Finados da esperança

954629_22366309À luz da ressurreição, finados transfigura-se. Perde as cores escuras e tristes. Substitui os cravos amarelos da apatia diante da morte inexorável pelas rosas brancas e vermelhas da fé e da coragem.
Todas as palavras das ciências calam-se diante da morte. A medicina luta até o último instante de vida do paciente. Quando os sinais vitais se apagam, ela amarga a derrota. E definitiva. Retira-se do cenário. Nesse momento entra a religião. O espiritismo devolve à medicina a palavra, ao acreditar na reencarnação. O morto voltará à mortalidade. E de novo cai sob a jurisdição das ciências e do poder humano. A tradição bíblico-cristã, por sua vez, fecha definitivamente a história humana com a morte. Faz dela momento irreversível. Não há retorno. Terminaram todas as possibilidades do ser humano. Está entregue única e absolutamente à misericórdia poderosa de Deus.

A experiência diária retrata-nos um Deus fraco. O salmista sofre, quando vê o ímpio prosperar e o justo sofrer. Volta-se para Deus e não recebe resposta. Ela é adiada. Jesus mesmo experimentou essa mesma fraqueza de Deus. No horto pede a Deus que lhe afaste o cálice do sofrimento. Mas os homens não renunciaram os planos iníquos e Jesus finda a vida no tormento maior da cruz.

Finados parece ser a celebração do fracasso de Deus. Lá no cemitério estão os inapelavelmente vencidos pela morte, não importam a riqueza que tinham, a santidade com que viveram, o grau hierárquico que ostentaram em vida. Ali na terrível igualdade da decomposição estão todos derrotados.

Finados é o dia do mais estrondoso fracasso. Os vencidos da história podem amanhã ser vitoriosos. E os fatos nos mostraram tantas vezes tal filme. Que o diga o nosso atual presidente!

A derrota de finados não tem vitória possível. Tudo isso seria verdade, se Jesus não tivesse ressuscitado, se Deus não tivesse poder sobre a morte. É na fé da vitória de Deus sobre a morte que se resolve o enigma do sofrimento no mundo, do absurdo da morte.

À luz da ressurreição, finados transfigura-se. Perde as cores escuras e tristes. Substitui os cravos amarelos da apatia diante da morte inexorável pelas rosas brancas e vermelhas da fé e da coragem. A escuridão do silêncio tenebroso do cemitério ilumina-se com a luz fulgurante de Páscoa. Os rostos tristes e chorosos sorriem, ao ouvir a palavra: “quem crê, ainda que esteja morto, viverá”.

No cemitério – termo grego que na etimologia fala de sono, de lugar para dormir -, transforma-se num jardim alegre de crianças. Os cantos das vozes angélicas anunciam aos fiéis, que lá foram visitar os mortos, aquilo mesmo que disseram às mulheres chorosas junto ao túmulo de Jesus: “Por que procurais o vivo entre os mortos? Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24,5s). Na fé, ouvimos no cemitério frases semelhantes. “Por que estais aqui a chorar sobre o túmulo de vosso ser querido? Ele não está aqui. Vive na luz imarcescível de Deus”.

Já é outro finados que celebramos. É o finados da esperança. Para os que não crêem, Finados é só tristeza, saudade, cepticismo ou mesmo cinismo existencial. Enfim, tudo vai dar no nada. Para a fé, Finados é um grande sacramento. É uma palavra de passado. Recorda-nos a vida de nosso morto. O que ele foi, aquilo que ele nos deixou, o amor com que nos amou e com que o amamos. O passado roda o filme da recordação. É uma palavra de presente. Ele aponta para a vida. Já não mais no túmulo, mas junto a nós em Deus com uma vida já não ligada ao tempo e ao espaço. Relação pan-cósmica, pan-crônica. E enfim, é uma palavra de futuro: eles nos esperam para uma vida de luz e plenitude, “para que Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15, 28).

Pe. João Batista Libânio é teólogo jesuíta

Fidelidade e Santidade

Vaticano: Misa de los OleosO salmista gritou por socorro, ao ver a epidemia de infidelidade que assolava Israel. Nos salmos 12,36,52 os israelitas cantavam em protesto contra os sem palavra e os que iam embora de Deus, traindo a Ele e ao seu povo. Não se podia mais confiar na palavra de ninguém, porque a maioria quase absoluta buscava o próprio bem estar. Israel vivia sob a égide do “salve-se quem puder”, ou do “leve vantagem você também”. Era o tempo dos espertos que topavam qualquer coisa para se ficar rico e ocupar postos de honra.

Das leituras dos profetas percebe-se que só Deus é fiel; o ser humano precisa aprender a ser fiel e sofre sempre a tentação de faltar à palavra dada quando, pesados os prós e os contras, levará vantagem ao abandonar um compromisso.

A fidelidade era vista como virtude de um santo. Deus é fiel. Quem consegue ser fiel, está mais perto do projeto de Deus. Quem fugia da dificuldade e escolhia seu conforto e sua vantagem pessoal era mal visto.

Isso não dá, hoje, a nenhum cristão o direito de sair por aí denunciando quem lhe pareceu infiel. Houve santos que deixaram alguma situação para buscar mais dificuldade, porque o serviço a Deus e aos pobres o exigia. Tereza de Calcutá mudou de grupo religioso, não por mais conforto, mas por busca de compromisso ainda maior. Como Tereza, muitos outros santos mudaram para levar mais cruzes.

Mas houve e há os que partem para levar vantagem numa outra igreja ou num outro jeito de crer. Os salmistas e os profetas eram duros contra quem adaptava a Palavra de Deus aos seus interesses. Paulo, particularmente alerta contra um tipo de pregador e de fiel que busca a filosofia sofista: ir em busca de quem o diz de maneira agradável e dizer de maneira agradável para levar vantagem sobre a Palavra.(2 Tm 4,1-5) Adaptar a Palavra aos nossos objetivos era e permanece magna tentação para todo fiel e todo pregador que se pretenda crente.

Uma coisa é interpretar a Palavra de Deus para os nossos dias e outra, bem outra, é adaptá-la aos nossos interesses. Ligue o rádio e a televisão e esmiúce os testemunhos de conversão de uma para outra igreja, analise as promessas e garantias de sucesso, oferecidas pelos pregadores e as certezas gritadas ao microfone. Depois leia sua Bíblia e pergunte a si mesmo o que é crer em Deus. Buscar o mais fácil, o mais garantido e perseguir o sucesso político, religioso e financeiro pode ser tudo, menos fidelidade.

Deus é capacitador, mas não está escrito em nenhum lugar da Bíblia que ele é facilitador. Onde se promete uma vida sem dor e sem cruz é sinal de que, ali, o marketing da fé superou de longe o caminhar da fé.

Pe. Zezinho, SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.
www.padrezezinhoscj.com

 

Evangelho de João: O Sepulcro

revista1O capítulo 20 do evangelho joanino descreve a cena: 1. O sepulcro, cuja protagonista é Maria Madalena. Diante do sepulcro vazio, ela vai buscar ajuda. Pedro e o discípulo amado vão ao sepulcro juntos. O discípulo amado crê mesmo sem ver. 2. O encontro: Maria Madalena encontra-se com o Senhor. 3. Aparição aos dez discípulos escondidos e assustados. Jesus devolve-lhes a alegria e presenteia-os com o Espírito Santo, a paz messiânica e a missão de perdoar pecados. 4. Aparição aos onze: Tomé, que se afastou da comunidade, fraqueja na fé. Voltando à comunidade pode fazer a experiência do Cristo Vivo e Ressuscitado.

O final do quarto Evangelho (Jo 20, 30-31) é a conclusão desta obra catequética que declara seus objetivos: para que creiamos – que Jesus é o Messias – o Filho de Deus – e que, crendo, tenhamos vida – em seu nome.

O capítulo 21 é um acréscimo depois da conclusão. Redigido por outro membro da comunidade joanina, ele apresenta o bom pescador (21, 1-14), que depois de uma noite cansativa de trabalho inútil escuta a voz de um jovem e pesca uma quantidade imensa de peixes. O simbolismo do texto aponta para a presença do ressuscitado, que manda pescar (evangelizar), e para Eucaristia, como comunhão fraterna. Em Jo 21, 15-23, Jesus faz Pedro passar de pescador a pastor do rebanho.

Quanto ao discípulo amado, nenhuma vez aparece o seu nome. Dele é dito que Jesus o amava (13,23-25; 19,26-27; 20,2-10; 21,2-8.20-24) como um amigo especial. Ele “enxerga” melhor e por primeiro; é o mais achegado a Jesus; é o mais fiel indo até o fim; chega primeiro ao túmulo, mas deixa Pedro passar na frente; até ajuda Pedro a reconhecer o Senhor (21,7).

CONCLUSÃO:

Todo evangelho é uma obra catequética nascida dentro de uma comunidade de fé. Ele não se preocupa com uma biografia de Jesus ou simplesmente narrar histórias, mas quer ajudar a comunidade a crer em Jesus. Usando os sete sinais e os discursos, colocados na boca de Cristo, podemos experimentá-lo em plenitude na nossa vida. Da mesma forma que crer é um processo, o quarto evangelho nos propõe um itinerário espiritual para seguirmos Jesus, abraçando seu projeto de Vida para todos.

Pe. Paulo Roberto Gomes, MSC é teólogo e pároco da Comunidade São Gonçalo, em São Gonçalo, RJ.

Página 11 de 16« Primeira...910111213...Última »