Revista de Nossa Senhora
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Maria a Mulher Misericordiosa

interna1Deus se revelou misericordioso, de maneira total e completa através da pessoa, das ações e palavras de Jesus de Nazaré. Quem O vê, vê o Pai (Jo 14,9).

Anselm Grun escreve: “Alguns acham que no Antigo Testamento Deus estaria descrito como juiz, mas, isso seria uma interpretação unilateral do Antigo Testamento. Deus é sempre misericordioso, mesmo no Antigo Testamento; a misericórdia é sua essência. Jesus colocou a misericórdia divina no centro de sua mensagem. E ele mesmo tratou a humanidade de maneira misericordiosa.” (Para que o mundo se transforme, p. 16)

É essencial que creiamos no Deus misericordioso. Deus nos criou para sermos instrumentos dele, para sermos misericordiosos também.

Estamos vivendo o ano da misericórdia, tempo de reflexão, de despertar. Com nosso testemunho, devemos mostrar que Deus é amor, ternura e misericórdia. Ele nos ama, ama sua criação com o amor mais profundo que só pode existir n´Ele. Ele é Pai que acolhe e se aproxima de nós. Jesus veio nos revelar o Pai e nos dizer que Ele é Pai e Mãe também. Ele é o Paizinho, Papai.

Para que o Cristo viesse habitar no meio de nós, Maria foi escolhida como o instrumento de Deus na realização do Plano da Salvação. Maria disse SIM à sua missão, a mais sublime que uma mulher poderia abraçar. De sua parte, ao dizer Sim, agiu com misericórdia. Em sua ternura e compaixão, ela se colocou à disposição do Pai e abraçou, com coragem, a vontade do Senhor. Em sua humildade ela mesma cantou em seu magnificat: “Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”. (Lc. 1,50)

Convido vocês, leitores e leitoras da Revista de Nossa Senhora, a meditar sobre Maria como a mulher misericordiosa, porque, além de ter sido o sacrário do Deus feito homem, ela o trouxe à luz, segurou-o nos seus braços, o amamentou e cuidou dele como menino, adolescente e jovem. Essa proximidade de Maria com seu filho Jesus fez dela a mulher mais capaz de nos ensinar o caminho da misericórdia, caminho este que pode ser percorrido somente com muito amor, perdão, fé operante e abertura à graça.

As palavras e conselhos do Papa Francisco sempre me levam a considerar Maria, exemplo vivo da misericórdia do Coração de seu Filho. Maria se torna “a jovem em saída”! Lembremo-nos dela ao se colocar a caminho para visitar sua prima Isabel. Sensibilizou-se, foi fazer-lhe companhia, ajudou-a nas necessidades, partilhou com ela suas experiências e as palavras transmitidas pelo Anjo Gabriel, e, com certeza, orou junto com a família de Isabel. Maria é Igreja em saída. Que exemplo para nós! O que nós devemos ser ela já foi.

Que nossa Mãe, Nossa Senhora do Sagrado Coração, nos ajude a viver com mais autenticidade a nossa fé, a praticar as obras de misericórdia, tanto materiais como espirituais. Somente assim podemos tocar as pessoas, especialmente as que mais precisam.

Jesus nos designa para sermos mensageiros de sua misericórdia. Somos enviados ao encontro de quem está cansado e esgotado, das pessoas feridas e desnorteadas. Assim como Jesus, assim como Maria, devemos nos tornar misericordiosos para com as pessoas, abrir o nosso coração para elas e tratá-las como Jesus as tratou.

Irª Maria da Luz Cordeiro, Filha de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Curitiba (PR).

Portas de Misericórdia

interna3A Porta Santa do Jubileu da Misericórdia aberta pelo Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, representa simbolicamente a peregrinação de fiéis ao Coração de Cristo, onde buscam e encontram a vida e a salvação. A Porta da Misericórdia abre-se aos pecadores que renunciam a tudo o que seja mal, a mentira, a inveja, o ódio, a vingança, a violência, o rancor, enfim, o que gera sofrimento para si e para o próximo. A Porta abre-se aos que abraçam a conversão a Cristo e aos valores do Evangelho. A Porta abre-se aos gestos de amor e disponibilidade, para servir aos semelhantes, especialmente aos mais necessitados.

Há vários gestos referindo-se às obras de misericórdia espirituais e corporais, tais como: visitar e cuidar dos enfermos (Mt 8,14); Ensinar a quem não sabe (Mt 5, 38-48); Dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede (Mt 25, 35.37.42-44); Dar bons conselhos a quem necessita (Mt. 13, 1-13); Corrigir os que erram (Jo. 8, 1-11); Dar pousada aos necessitados (Lc. 2, 1-7); Perdoar as ofensas (Mt. 18, 21-22); Vestir os despidos (Mt. 25, 34.36.43); Consolar os tristes e aflitos (Mt. 11, 28-29); Socorrer quem está preso (Lc 16, 16-21); Suportar com paciência os defeitos dos outros (Lc 5, 1-11); Orar pelos vivos e mortos, sepultar os defuntos (Jo. 11, 1-45). Trata-se de gestos praticados no dia a dia de nossos relacionamentos.

Passar pelas Portas da Misericórdia significa buscar a indulgência, o perdão, a restauração da própria vida e da vida de pessoas destruídas por dentro. Trata-se da conversão, do compromisso de transformação cristã. Há atitudes destrutivas que manipulam as pessoas como objetos de uso e abuso, como traição, calúnia, difamação, preconceito, agressão, exploração. A verdade liberta e se ela for lesada, deve ser restaurada. O perdão corresponde à reconstrução de vidas destruídas. Para recuperar a confiança perdida, passa-se por dentro do arrependimento, da restituição do prejuízo e da honra, do comportamento sincero que demonstra a emenda de vida.

A Porta da Misericórdia do Coração de Cristo abre-se a quem aceita superar as provações. Elas são amargas, mas nos purificam e nos preparam à iluminação interior no itinerário do longo aprendizado evolutivo. De fato, o nosso aprendizado é feito de purificação e de iluminação, remetendo-nos ao serviço do próximo. Para sair do egoísmo e aprender a servir com amor e desapego, é preciso ir ao encontro dos outros. Perdoar é resgatar a dignidade do amor e de respeito, quando ferido ou perdido. Essa atitude é permanente, não se limitando a algum período. O Jubileu da Misericórdia é excelente ocasião para nos renovar na fé e no compromisso cristão.

A fé e martírio – Os Primeiros Séculos do Cristianismo

interna2A morte de Paulo

Ocorreu pelo ano 64, por ocasião da perseguição de Nero aos cristãos de Roma. Neste mesmo ano houve o incêndio na cidade. Os cristãos são acusados por Nero, de serem os responsáveis, quando foi ele mesmo. Entre os anos 66 a 70 houve a revolta dos judeus contra a dominação romana, muitos foram mortos. No ano 70, Tito conquistou Jerusalém e destruiu a cidade e o Templo. Entre os anos 70 e 100 foram escritos os Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João. No ano 96, o papa Clemente, 3º sucessor de Pedro, escreveu uma Carta à Comunidade de Coríntios, fazendo referência ao martírio de Pedro e Paulo em Roma.

O testemunho dos mártires no 2º século

Pelo ano 110, o bispo Inácio de Antioquia é levado a Roma, a fim de ser lançado às feras, para a diversão do Imperador e do povo. Neste período, surge também um Documento chamado a “Didaqué”, que significa Instrução ou Doutrina, de autor desconhecido. É o primeiro Catecismo cristão. Contêm instruções precisas sobre o batismo, a oração, o jejum e a eucaristia. Mostra que o cristianismo não é devoção fechada, mas um caminho de vivência comunitária. A leitura deste texto faz logo sentir que as comunidades cristãs daquele tempo ainda não estavam completamente estruturadas. Uma frase diz assim: – “Toda criatura humana passará pela prova de fogo” (16,5). O nome Inácio deriva de “Ignis” e significa “fogo”. Gostava de ser chamado de “coração ardente”. As suas palavras inflamadas de amor a Cristo e à Igreja ficaram gravadas no coração de todas as gerações futuras: “Eu sou o trigo de Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me um pão puro de Cristo”.

As três colunas da Igreja deste 2º século

Justino descobriu o cristianismo quando tinha 30 anos. O itinerário de sua conversão a Cristo passa pela filosofia. Insatisfeito com as respostas filosóficas retirou-se para um lugar deserto, à beira mar para meditar. Lá encontrou um velho sábio a quem Justino abriu seu coração. Este lhe diz: – “Nenhuma filosofia pode satisfazer o coração humano. A razão sozinha é incapaz de garantir a verdade plena, sem o auxílio divino”. Ele Foi martirizado em Roma, junto com seis companheiros, entre os quais, uma mulher. Policarpo, que era bispo de Esmirna, foi queimado vivo aos 86 anos de idade, no ano 156. Na sua juventude tinha conhecido o apóstolo João. Em 197, Tertuliano, advogado de Cartago, depois de sua conversão, escreve uma tese defendendo o cristianismo. Tal Obra é destinada aos governadores do Império. Sua frase continua viva e ecoando no mundo inteiro até os dias de hoje: – “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.

A perseguição aos cristãos continua no 3º século

Tortura e martírio fazem aumentar ainda mais o número dos cristãos e a irradiação do Evangelho no mundo. Ser cristão era um risco de vida. A qualquer momento a pessoa poderia terminar num circo, enfrentando as feras e divertindo o Imperador e o povo. No ano 203 aconteceu em Cartago, no norte da África, o martírio de Perpétua, uma senhora da nobreza e Felicidade, sua escrava. É de Perpétua esta frase que mostra a grande fé desta jovem de 22 anos apenas: “Agora sou eu que estou sofrendo, mas no momento do martírio, será Cristo que sofrerá por mim”.

 

Orígenes (185-253) é o animador da escola catequética de Alexandria. Sua obra literária, em torno de dois mil livros ele será o mais importante dos Padres gregos da Igreja. Cornélio e Cipriano são martirizados entre os anos 253 e 258. É de Cipriano a frase: – “Ninguém pode ter Deus por Pai se não tiver a Igreja por mãe”. Cornélio foi eleito o 21º papa de Roma em 251 e morreu exilado em 253. Cipriano tornou-se bispo de Cartago, na África.

Maria, mãe de misericórdia

A interna1palavra misericórdia nos faz lembrar o Deus-Amor. Foi ele que nos resgatou do pecado e abriu o céu para nós. Inclinando-se sobre a miséria da humanidade ferida pelo pecado, Ele nos salvou por seu Filho. Misericórdia é isso. Amor que vem das entranhas de Deus, como diz o apóstolo amado: “Ele nos amou com um amor sem limites, “amou-nos por primeiro” (1Jo 4,16).

Gosto muito de ler a reflexão de Dom Geraldo Majella Agnelo, na contra capa da Liturgia Diária. Neste mês de Janeiro de 2016, ele escreve sobre “Deus da Divina Misericórdia”. “Quanto devemos falar da misericórdia de Deus! Ele é incansável, está sempre à espera daquele que volta à sua origem de filho de Deus”.

No último capítulo de seu livro “A Misericórdia”, Cardeal Walter Kasper, escreve sobre Maria: “A Escritura e os padres da Igreja colocam perante os nossos olhos relativamente a Maria uma imagem concreta e mais: uma imagem que é como um espelho da misericórdia divina e um arquétipo da misericórdia humana e cristã”. Lembrando a piedade popular, é fácil entender porque o povo recorre à Mãe de Deus com tanto amor. É uma maneira de buscar, junto à Mãe, a misericórdia do Coração de Deus. Maria faz parte da história de amor de Deus com os seres humanos. São Lucas nos deixa perceber como Maria resume no Magnificat toda a história da salvação, descrevendo-a como uma história da compaixão divina.”A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem(Lc1,50).

Escolhida para participar na grande obra da redenção, ela “achou graça diante de Deus”(cf Lc1,30). Maria não é mais do que a” serva do Senhor”. Ela mesma o disse. A glória não pertence a ela, mas somente a Deus, para quem nada é impossível (cf Lc 1,37). Foi um humilde instrumento da compaixão divina. Para nós católicos, a Mãe de Jesus não é só tipo e modelo, mas misericordiosa intercessora. Por esse motivo a Igreja acrescentou, a partir do século XV, na oração da Ave Maria, a súplica “Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte”.
Resta-nos pedir a interseção de Maria, sabendo que ela tem franca entrada no Coração de Jesus. Se moldarmos o nosso coração de acordo com o Seu coração deixando-nos guiar pela mãe da Misericórdia, chegaremos à prática desta virtude em nossas palavras e obras.

Que Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração, a peregrina da fé, a mulher do povo, nos ajude a suportar e a atravessar os obstáculos e desafios e a nos manter de pé. Que Maria nos dê coragem para nos comprometer com os pobres e necessitados. Que sejamos misericordiosos, como o Pai é misericordioso.

Misericórdia

interna-3Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. Ela é fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação.

Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade.

Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro.

Misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.

Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre,
apesar da limitação do nosso pecado.

 

QUARESMA: oração, conversão e cuidado!

interna-2Um olhar mais demorado, uma reflexão mais profunda, um pensamento mais aguçado, dão-nos conta de que nossa Casa Comum – a terra – inspira cuidados cada vez maiores. Dentre tantos exemplos, basta lembrar a histórica seca de 1915, no nordeste brasileiro, sentir o aumento das temperaturas em nossas ruas ou observar a recente escassez de água nos reservatórios paulistanos para comprovar a certeza de que a Terra precisa de proteção

O esforço do Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Laudato Si, e/ou as decisões da COP 21, ocorrida em Paris só serão sentidos à medida que cada habitante da imensa Terra for capaz de zelar do pequeno universo em que vive. A quaresma que celebramos como preparação para páscoa é, oportunamente, um momento que nos convoca à oração, a conversão e, por que não, ao cuidado com a Casa Comum.

No Brasil, historicamente, associou-se a Campanha da Fraternidade à Quaresma. Este ano apelo de conversão dirigido aos cristãos caminha pelo viés da preocupação com Casa Comum: a Terra. Somos exortados ao cuidado e ao cultivo de ações que reflitam a consciência de que o planeta “geme como que em dores de parto”.

De maneira específica, a Campanha da fraternidade quer voltar nossos olhares para a certeza de que “Justiça ambiental” é parte integrante da “Justiça Social”.

Convida-nos, essa campanha, a reclamar às autoridades constituídas preocupações humanitárias: abastecimento de água potável a todos, destinação correta do esgoto sanitário, um eficaz manejo dos resíduos sólidos, entre outras. Propostas tão eloquentes que não podem ficar circunscritas ao umbrais da Igreja Católica. Por isso, a CF-2016 será também de cunho ecumênico, dirigida a todos os homens e mulheres de boa vontade.

Do ponto de vista bíblico, uma texto de Amós é a fonte iluminadora dessa campanha. Diz o profeta: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Garantir os direitos essenciais para a vida humana e cuidar bem do planeta, são partes fundamentais da justiça exigida por Deus. Quando isso não acontece, diz outro profeta, que as feras, as aves do céu e até os peixes do mar desparecem (Oséias 4,1-3).

O que Deus quer de nós é que sejamos como jardineiros que cuidam da natureza com carinho.  E, também, o cuidado uns dos outros, como quem cuida de plantas que amam. É esta imagem que está presente na descrição do livro do Gênesis, que relata a criação do mundo. Deus tomou Adão e o colocou no Jardim do Éden para que o cultivasse e guardasse (cf. Gênesis 2,15).

Assim, torna-se claro que, além dos habituais gestos quaresmais de

penitência, jejum e caridade, deveríamos, explicitamente, acrescentar o CUIDADO. Cuidado manifesto no zelo concreto e consciente do planeta; na postura crítica em relação àqueles que têm a missão de gerir o patrimônio comum e na educação cada vez mais solidária e respeitosa com a natureza dirigida às novas gerações.

Que a Quaresma seja, portanto, momento de oração, conversão e cuidado!

A Redação

A Misericórdia tem rosto

Estamos em pleno “Ano da Misericórdia”. Ano de graça como o Senhor anunciou, citando a tradição profética, quando iniciou sua vida pública lá na Sinagoga de Nazaré, conforme o evangelho de Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração,para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.(cf. Lc 4, 18ss)”

Mais uma vez, a Igreja, através do papa Francisco, nos dá a oportunidade de reviver essa experiência maravilhosa de Deus que nos permite perceber o quão grande é seu amor por nós. Durante esse ano, teremos a oportunidade de, a cada mês, refletir um pouquinho sobre esse tema tão importante e atual. Estaremos nesta página sempre atento ao que nos propõe o documento do papa “Misericordiae Vultus”[...]

Vivemos num mundo tão complexo onde tudo parece se pautar pelo relativismo, pelo subjetivismo e pela “cultura da indiferença”, a sensação que temos é de que tudo é descartável. Neste contexto de mudanças tão violentas é a vida humana a que mais se torna vulnerável e ameaçada, principalmente a dos mais pobres. Estamos num tempo de agitação, parece que sempre estamos atrasados e nunca conseguimos viver com intensidade o tempo presente. A “verdade de nosso eu” parece ser dura de mais para ser encarada, redimida e abraçada e, assim, vamos deixando nos entorpecer por tantas coisas novas e por tantas informações que surgem, que preferimos viver “distraído” e meio fora do real.

Mas, como em toda “distração” tem um pouco de “traição”, aos poucos vamos perdendo nossa sensibilidade, nossa humanidade e, o pior de tudo, vamos perdendo o sentido da nossa vida. Até a consciência que nossa vida é puro dom de Deus, a certeza de que Ele nos ama e nunca nos abandona, vai ficando como se fosse uma quimera e não uma verdade. [...]

De outro lado, absolutizamos a ciência, o econômico, a técnica e, pouco a pouco vamos relativizando e “coisificando” o ser humano. Já não vemos mais como nossos irmãos e filhos de Deus, mas como objetos. A pessoa só tem valor se for um consumidor. Caso contrário, será apenas um risco nas estatísticas ou “algo”, (não alguém) que poderia ser descartável. Não produz, não rende, não tem valor…

Quando perdemos nossa capacidade de nos sentir amados e queridos por Deus, perdemos nossa capacidade de amar. Quando nos esquecemos da gratuidade de seu amor, perdemos, consequentemente, nossa capacidade de gratidão. Quando perdemos essa sensibilidade de filhos de Deus, o orgulho e a arrogância original se estabelecem e o sentido de pecado se relativiza na onda de que tudo pode, de que não existe mais verdade, mas sim versões. Acostumamos com o mal, ou pior ainda, achamos que o mal se paga com o mal e, assim, entramos numa espiral de morte sem saída. O perdão dá lugar ao ódio e a vingança vai substituindo a capacidade de reconciliação.

Francisco propõe, também, que a Igreja, à luz da sagrada escritura, um caminho para nosso crescimento na experiência de Deus e de sua misericórdia: “Redescubramos as obras de misericórdia corporais e obras de misericórdia espirituais .

Neste ano favorável, façamos uma bonita peregrinação e busquemos passar pela “porta santa” e fazer nossa experiência de contemplar e experimentar a misericórdia de Deus e assim, aprendermos a ser misericordiosos como Ele é misericordioso. Mas, não nos esqueçamos de que a primeira “Porta Santa” foi aberta no Coração de Jesus na Cruz. Pelo batismo, começamos a travessia por esse “Umbral da salvação”.

Seu Coração, sempre aberto, será sempre a porta da misericórdia a todos que acolherem seu amor e perdão. Quando se encarnou, Jesus nos mostrou que a misericórdia tem rosto e na Cruz, quando derramou seu perdão sem limites, nos mostrou que a misericórdia tem coração. Aliás, que misericórdia não é outra coisa senão um coração que se escancara para acolher e curar nossas misérias.

Então paremos um pouquinho para refletir:

Como seremos misericordiosos se não entendemos ou acolhemos a misericórdia de Deus em nossa vida?

Quais as grandes experiências da misericórdia de Deus em nossa vida?

Abram-se todas as “portas santas”, se nós não abrirmos as “portas do nosso coração”, como o Senhor misericordioso poderá entrar?

Pensemos nisso, e até o próximo mês, se Deus quiser.

Pe. Benedito Ângelo Cortez, MSC é mestre de Noviços em Itajubá (MG)

Santuário da Misericórdia e a PORTA SANTA

interna3Duas e vinte da tarde de um domingo ensolarado de dezembro, eu chegava à porta do Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração à Rua Planalto em São Paulo-SP. No local, vários fiéis abriam suas sombrinhas para aguentar o forte sol e a peregrinação que teriam pela frente. Pouco antes das três horas, um carro preto chega em meio aos devotos, dele desce o arcebispo de São Paulo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer. Muito simpático, o arcebispo acena aos fiéis e, poucos minutos, depois dá início a celebração da abertura da Porta Santa no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Oficializava-se o Ano da Misericórdia e a Porta Santa para Região Belém.

A chamada Estatio (Primeira estação) da celebração contou com a Proclamação do Evangelho e a leitura de um trecho da Bula do Ano da Misericórdia. Com as palavras de Dom Odilo de que “a misericórdia é a alegria de Deus”, os devotos saíram com a peregrinação até o Santuário.

A caminhada foi curta, mas não pouco emocionante. Na frente seguia a fila de sacerdotes da Região Belém junto com o Cardeal e uma multidão de fiéis que tomavam as ruas da Vila Formosa.

A multidão durante a peregrinação já impressionava, maior ainda se tornara a admiração quando chegamos a poucos passos do Santuário. Por lá, centenas de pessoas esperavam no pátio da paróquia pela abertura da Porta Santa. Pouco a pouco, os fiéis se aglomeravam em frente às portas fechadas e ouviam, com devoção, as orações invocadas pelo Arcebispo de São Paulo. Alguns minutos depois, solenemente se abria a Porta Santa da Misericórdia.

A felicidade do povo se misturava com orações, reflexões, ansiedade por passar pela Porta Santa da Misericórdia bem como em registrar o momento com uma fotografia – com celulares nas mãos muitos gravavam o momento da passagem para dentro do Santuário, e alguns até falavam para o vídeo o que estavam sentindo “está lindo aqui, olha toda nossa família presente”, dizia um senhor para a tela do celular.

Já com todos acomodados no Santuário, os bancos cheios e os corredores preenchidos de pessoas em pé, algo chamou atenção: o silêncio da oração. Eram centenas de pessoas, crianças, sob um forte calor que se calaram diante da grandeza daquela missa. A cerimônia seguiu com a aspersão, proclamação da palavra e um sermão tocante do Arcebispo, que dizia entre outras coisas: “Teu Senhor é teu Deus, não reconheces a outros senhores que te humilham e te escravizam. Vamos viver um ano para nos aproximarmos de Deus, um tempo santo de reconciliação”.
Na hora da comunhão, outra agradável surpresa: a dedicação dos religiosos para que ninguém ficasse sem comungar, mesmo aqueles que estavam do lado de fora do Santuário receberam, com piedade, a Santa Eucaristia.

Ao final outro importante Rito, antes da Benção final, Dom Odilo fez questão de lembrar que o Templo Santo onde estava era dedicado à virgem Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Rezou acompanhado de um coro de mais de mil vozes a oração da Salve Rainha, Mãe de Misericórdia.

A face daqueles que deixavam o Santuário era de muita alegria. Foram três horas que não se tornaram cansativas, que foram abençoadas. Três horas de orações e de dedicação de voluntários, de religiosos e fieis. A Porta Santa e o Ano da Misericórdia trouxeram e ainda trarão um caminho aberto para experienciar a Misericórdia de Deus.

 

As Bodas de Caná

interna2Não sabemos o nome dos noivos. O que sabemos é que havia uma festa de casamento num lugarejo pobre e esquecido da Galileia. Os noivos são pobres, pois se fossem ricos, não faltaria o vinho. Quem aparece em primeiro plano é a mãe de Jesus. O evangelista João não fala seu nome: – “Maria” – como fazem os demais evangelistas, mas ele usa outros dois termos, tais como: – “a mãe de Jesus” e “mulher”. – É ela quem abre o cenário desta narrativa e o caminho para que Jesus possa realizar o primeiro milagre. Ela impede o constrangimento pelo qual os noivos iriam passar. O evangelista João diz que Jesus e seus discípulos foram convidados para esta festa, porém não diz o mesmo de Maria, pelo contrário; afirma que “a mãe de Jesus estava lá”. Quem sabe ela já tinha ido alguns dias antes para ajudar nos preparativos da festa.

A percepção de uma mãe

A alegria dos noivos era grande. Tudo estava completo. A presença de Jesus e Maria dava um tom diferente àquela festa. Mas logo depois, Maria percebeu algo diferente que preocupava os serventes. Não tinha mais vinho. Sem vinho não haveria mais festa. Isto significa que os convidados iriam embora antes do prazo previsto. Quando terminava o vinho, era costume oferecer aos convidados, um suco de uva, amargo e sem sabor. Quem já estava embriagado, nem percebia mais a diferença. Era chamado o vinho “pior”. Porém, para a maioria dos convidados seria uma decepção. Para as famílias dos noivos, motivo de vergonha. – O que fazer agora? – Onde encontrar vinho de boa qualidade naquele momento da festa? Tudo indicava que aquela festa terminaria num grande fiasco. Da alegria se passaria para reclamações dos convidados.

Jesus é o vinho novo

A necessidade é urgente. O problema a ser resolvido deve ser imediato. O verbo está no presente: – “Eles não têm vinho”. – Os participantes da festa não conheciam o verdadeiro vinho, aquele que Jesus daria gratuitamente. É só por meio de Jesus que obterão o vinho novo, que se opõe ao vinho velho, que é a “lei dos judeus”. Jesus muda a água destinada à purificação dos judeus. Esta água desaparece para dar lugar ao vinho novo. Os ritos judaicos que já não têm nenhum valor para a santificação e devem desaparecer. Algumas perguntas merecem a nossa atenção: – O que em mim é “vinho velho”? – Como evangelizar também em momentos de festas e recreações?

Caná é a festa dos pequenos

A epifania do Verbo de Deus começa no meio de gente simples, os pobres que não têm vinho. Jesus se manifesta primeiro aos serventes, os pequenos, como no dia de seu nascimento, manifestando-se primeiro aos pastores de Belém. Ele não pede muita coisa, somente àquilo que está ao alcance deles e que eles tinham condições de fazer: – “Enchei as talhas de água”. É uma abundância de água. Em breve será o tempo da abundância do vinho. O “noivo” está presente, por isso, é festa.

O novo discípulo

No final deste milagre, em João 2,11 encontramos os frutos desta festa de casamento. Este versículo, embora seja a conclusão, poderia servir como cabeça de todo o relato. Encontramos duas atitudes novas: a) Jesus manifestou sua glória: – É o grande tema do evangelho de João. É a manifestação da própria glória de Deus. É a glória do Filho único do Pai, porque o “Verbo habitou entre nós”. É a superação do Antigo Testamento, onde se apresentava um Deus temível para o qual nenhum ser humano podia olhar, encoberto pelas nuvens, agora, porém, presente em nosso meio. b) Os seus discípulos creram nele: – Todo profeta devia provar a autenticidade de sua missão por meio de “sinais” realizados em nome de Deus. João diz que Jesus realizou aqui o “primeiro sinal” para despertar a fé, primeiramente dos discípulos, depois de todos os presentes e hoje continua repercutindo em toda a Igreja, em todas as famílias.

Equador: missão e frutos

interna1Ao começar este novo ano, a Igreja recorda duas festas litúrgicas que chamam a atenção para a universalidade missionária. São elas: A festa da Paz com sua bênção universal (Nm 6, 22-27; Sal 66) e a Festa da Epifania (Is 60,1-6; Mt 2, 1-2). A salvação é dada para todos os povos. Ser portador destas boas notícias no meio do mundo é ser missionário. É ser irmão universal de muitos povos, raças e culturas. É viver sem fronteiras.

O missionário sempre vive motivado por boas noticias. O Fundador dos Missionários do Sagrado Coração, no inicio da sua congregação já pensava assim: “Que bela a vocação do missionário! Como me sentiria feliz se Deus me concedesse um dia a graça de ser um deles” Nas Constituições da Congregação é marcante este espírito missionário do fundador: “Nós recebemos nosso mandato missionário por meio da Congregação. Este mandato é determinado pelas necessidades da humanidade, pela missão da Igreja, pelas tradições de nossa congregação e pelos talentos e aptidões de cada um” (Const. MSC n. 26).

Para cumprir esta missão, três jovens missionários, cruzaram as fronteiras do Brasil para viver no meio do povo equatoriano. Era a segunda vez que a Congregação chegava a este país. A primeira foi em 1886, quando o Equador foi consagrado ao Coração de Jesus. O tempo passou e cento e dez anos depois, os MSC brasileiros retomaram este sonho do Fundador. Desta vez foram convidados para partilhar a vida com o povo pobre. O lema que adotaram foi: “Peregrinos da Esperança”. O objetivo era: realizar uma missão solidaria entre Brasil e Equador, partilhando a vida, a fé e a esperança. Saíram do Brasil no dia 06 de setembro de 1996, portanto, já são 20 anos de missão “além fronteiras”.

Depois de 20 anos, se pode ver muitos frutos nesta entrega missionária. Houve um esforço para partilhar a vida MSC. Foi possível um trabalho em comunhão com os planos de pastoral das dioceses. A vida fraterna dentro da comunidade MSC, com seu planejamento, oração e projeção para o futuro, foi uma constante. O serviço pastoral, o testemunho da fé, a acolhida do Outro, do diferente de mim, sobretudo dos indígenas com suas etnias diversas dentro da própria paroquia, gerou muita esperança no meio das comunidades. A escuta, a conciliação frente aos conflitos, entre o campo e os centros povoados, geram relações novas baseadas na confiança e na fraternidade. As Missões Populares, as visitas missionarias, a preparação de líderes e de catequistas, foram fundamentais para a superação dos conflitos que existiam nas paroquias de Chunchi, primeiro lugar da missão, e em Palmira – Tixan, segundo lugar de missão.

Eram conflitos que vinham se arrastando por vários anos, provocados pelas lutas para conquistar espaço social, terra e dignidade humana.

Do testemunho missionário, foram nascendo novas vocações para a congregação. Já temos o primeiro diácono MSC equatoriano, ordenado no dia 07 de novembro de 2015, outros dois jovens com votos perpétuos e alguns aspirantes. A família Chevalier se faz presente com a consagração de um grupo de Leigos Missionários do Sagrado Coração equatorianos (LMSC). O reconhecimento do trabalho missionário, por parte do povo equatoriano é grande. Isto nos faz recordar a frase do saudoso Dom Luciano Mendes de Almeida: “Onde há povo, há missão. Onde há missão, há mil razões para ser feliz”.

Você, caro leitor, que está começando um novo ano, você que é um bom cristão, sacerdote, religiosa ou leiga, leigo, o que o impede de viver sem fronteiras, partilhando a vida a fé e a esperança? Já pensou em ser missionário, missionária? São mais de dois terços da população mundial que não conhecem a Jesus, o missionário do Pai. O numero dos indiferentes cresce cada vez mais. Isto o interpela? Comece o ano dando um novo sentido a sua vida cristã. Pense, reze e colabore na missão universal da Igreja. Lute por uma Igreja em saída missionaria, na missão Sem Fronteiras.

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