Revista de Nossa Senhora
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Felizes os que ouvem a Palavra de Deus

home2A Sagrada Escritura é a revelação do plano divino de salvação para a humanidade. Abraão, os demais patriarcas, profetas e o povo de Deus caminharam na esperança dessa salvação. Deus revelou seu amor ao seu povo através de acontecimentos, sinais e também pela palavra dos profetas. A história profética e a esperança salvífica de Israel atingem seu auge com a promessa sobre a vinda do Messias libertador, o Ungido de Deus. Num tempo de grande sofrimento, o profeta Isaías, inspirado pelo Espírito de Deus, convida o rei de Judá a pedir a Deus um sinal do seu amor libertador. O rei recusou-se a acreditar e respondeu: “De maneira alguma! Não quero por o Senhor à prova”(Is 7,10-12). Deus, porém, através do profeta, promete este sinal de salvação: “Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel – Deus conosco” (Is 7,14) Essa Virgem é Maria. Isaías contempla o futuro Salvador: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9,5).

Podemos perfeitamente supor que na família em que Maria cresceu essas promessas foram meditadas com frequência, e por todos foram cantados os grandes cantos de Isaías sobre o Servo de Deus. Maria vivia intensamente essa esperança de Israel, já mesmo antes da vinda do Messias. O mesmo Espírito Santo que iluminou os profetas e escritores sagrados, “cobriu Maria com sua sombra, com uma plenitude tão singular a ponto de formar nela o corpo santíssimo de Jesus. Maria é a Mãe feliz que ouviu, guardou no coração e viveu a palavra de Deus. Mais. Ela abrigou o Verbo de Deus: Jesus. (cf Jo, 1,1) “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo,1-14)

“A plena docilidade de Maria ao Espírito Santo é a característica do seu estado de união com Deus. Maria foi plenamente aberta à vontade de Deus. Maria não vive senão para Deus. Observando a vida dela através do Evangelho, nunca a vemos levada por motivos egoístas, por interesses pessoais. É movida por um só impulso: a glória de Deus e os interesses de Jesus. Na sua condição humilde e escondida, no seu trabalho, na sua pobreza, nas dificuldades e sofrimentos que padeceu, nunca Maria pensou em si mesma, jamais deixou escapar um lamento, mas se manteve sempre e inteiramente entregue ao cumprimento palavra de Deus. O Segredo de Maria está em deixar-se em tudo reger e mover pelo Espírito Santo. É assim que devemos imitar Maria: eliminar de nossa vida tudo o que é fruto do egoísmo, amor próprio, orgulho, para viver sob o impulso do Espírito Santo” (Do Livro: Um mês com o Espírito Santo)

Preservada de toda mancha de pecado desde sua concepção, Maria correspondeu sempre à vontade do Pai e manteve-se fiel à sua palavra. Ser como Maria, totalmente aberta à Palavra, ouvindo, acolhendo e respondendo com ações concretas. Deixemo-nos transformar pela Palavra de Deus como fez Maria. Devemos dirigir o olhar para ela, procurar imitá-la, guardar e meditar a palavra e pedir ajuda quando se torna difícil ser fiel. A Palavra ilumina, nutre e direciona nossa vida para o cumprimento da vontade de Deus. “Como um jovem manterá pura a sua vida? Sendo fiel às vossas palavras. Guardo no fundo de meu coração vossas palavras para não vos ofender”… (Sl 118)

Estimado(a) leitor(a), procuremos ter as mesmas atitudes de Maria, ser dóceis à vontade de Deus e acolher Jesus que é Palavra, porque foi em Jesus que o Pai se revelou a nós. Que Maria interceda por nós para que sejamos abertos e acolhedores, a fim de que a palavra de Deus produza frutos em nossas vidas como semente em terra fértil.

Ir. Maria da Luz B. Cordeiro, FDNSC

Bíblia, por uma leitura coerente e madura

home1A Bíblia é a história de um povo com o seu Deus; não de qualquer povo, mas do povo de Deus, escolhido por Ele, para ser exemplo para todos os povos. Israel representa a humanidade caminhando com Deus. Nas suas andanças e desandanças, espelham-se os tropeços da humanidade confrontada com Deus.

Nós somos o povo de Deus, portanto, não podemos ler a Bíblia apenas como devoção individual. Porque somos povo, somos indubitavelmente solidários com os ricos e com os pobres, com os justos e com os pecadores. Andamos todos misturados, carregando o nosso peso e o dos outros, como também os outros carregam o peso deles e o nosso. Completamente misturado: é assim que anda o povo de Deus (cf. Ex 12,38).

Deus é pastor das ovelhas e dos cabritos. Mas, constantemente, o rebanho se recusa a seguir o seu pastor. O povo murmura e se revolta; quer pão, água, carne. E nós somos este povo de Deus; Deus conosco e nós, rebanho, andando e desandando, nos atrapalhando mutuamente e nos ajudando pela presença dos outros, empurrando e empurrados, aos balidos.

Na frente vai o nosso pastor, levando o rebanho rebelde. Mas o pastor também se cansa desta rebeldia constante, “desanima, se zanga e entrega o rebanho aos lobos”, que rasgam ovelhas e cordeiros. A Bíblia não é só narração idílica e pastoril. É também anúncio severíssimo dos profetas, denunciando ao povo os seus pecados e a sua infidelidade e anunciando os piores castigos: destruição completa de Samaria, o Israel do Norte, em 721 a.C.; destruição de Jerusalém e do Templo, em 587 a.C., com o exílio, longe da Terra Prometida. Depois da morte de Jesus, no ano 70 d.C., nova destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos…

Quando nos propomos a ler a Bíblia, é comum nos dedicarmos aos trechos mais “consoladores”, que falam da ternura de Deus, de seu amor pelo povo… Mas podemos ler e refletir somente aquilo de que gostamos e deixar de lado aqueles outros trechos mais severos? Será que ainda é a Palavra de Deus, ou uma antologia piedosa, adoçada, temperada para o nosso gosto e consolo?

Será que temos o direito de ler e meditar somente aquilo que nos agrada e assim retirar da Palavra de Deus sua mensagem essencial, fabricando um ídolo para nosso uso particular e, amiúde, individualista: “Meus problemas, minhas enfermidades, minha família…” Será que não estamos, dessa forma, esvaziando a Palavra de Deus, que proclama a salvação para a humanidade inteira, reduzindo-a a um remédio caseiro para o nosso egoísmo e egocentrismo? Enquanto isso, o mundo inteiro morre e se destrói por falta de conhecimento da Palavra que o pode salvar, e que nós edulcoramos para o nosso “uso tranquilizante”.

Acredito que temos uma obrigação gravíssima de ler e procurar entender a Bíblia inteira – consoladora e severa – para descobrir o plano de Deus para nós e para a humanidade. Não temos o direito de manter essa Palavra cativa, para nosso uso pessoal. Palavra que pertence à humanidade inteira, e da qual somos os depositários, os responsáveis, mas não os proprietários.

Portanto, impõe-se-nos a necessidade urgente de uma leitura adulta e responsável da Palavra de Deus toda, do Gênesis ao Apocalipse, para perceber e entender o que Deus está hoje gritando para nós e, por nós, à humanidade desvairada. Se alguém está se afogando no rio e deixamos de gritar para pedir socorro, será que não temos responsabilidade pela sua morte? A Humanidade passa por temeridades e temos em nossas mãos o remédio que pode salvar eternamente. Será que temos o direito de adocicar esta mensagem, fazendo dela um “chá de erva-doce” para o nosso uso individualista e egoísta, enquanto muitos dela necessitam?

É por este motivo que se deve, cada vez mais, insistir numa leitura realista e mais completa da Bíblia. Diríamos, uma leitura adulta – coerente – , que procure perceber e entender o plano de Deus para a humanidade, para sermos conscientes nesta caminhada, e para que a Bíblia se torne realmente luz para a nossa vida e para a vida dos nossos irmãos.
Redação da Comunidade Shalom – Fortaleza/CE.

“LAUDATO SI”: Uma boa notícia!

interna3A grande mídia internacional dedicou amplo espaço à promulgação da encíclica “Laudato si”. As associações ambientalistas sustentam o compromisso ético do Papa. Cientistas e líderes religiosos, em diálogo com Francisco, relançam o apelo comum para uma ação urgente a fim de salvar o Planeta.

“Esta encíclica é uma obra-prima do Papa Francisco, que tenho a alegria de partilhar!” Exclamou o cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos bispos da Alemanha. De fato, trata-se de uma mensagem que fala à consciência do mundo e da Igreja. Um sinal forte que chega no momento certo! Trata-se de uma mensagem fundamental, de um forte apelo para assumirmos as nossas responsabilidades diante dos grandes problemas ambientais e sociais que afligem a humanidade.

Seria muito redutivo considerá-la apenas uma “Encíclica Verde”, pois ela entrelaça os problemas do meio ambiente com aqueles relacionados ao desenvolvimento dos povos e à paz mundial, em consonância com a doutrina social da Igreja.

Em 1891, o Papa Leão XIII enfrentou pela primeira vez as questões sociais para responder aos problemas surgidos pela industrialização no norte da Europa. João XXIII, em 1963, diante da ameaça de uma guerra nuclear entre dois blocos de nações fortemente armadas, escreveu a encíclica “Pacem in terris”, sobre a necessidade e a urgência de desarmar os ânimos pelo espírito de paz e Paulo VI, em 1967 abriu uma nova perspectiva relacionada ao desenvolvimento dos povos, pela encíclica “Populorum Progressio”, perspectiva essa ampliada e explorada pelos Papas João Paulo II e Bento XVI.

O Papa Francisco inaugura com esta encíclica um novo campo de intervenção, o ecológico, relacionado com o autêntico progresso para a preservação da paz. Trata-se de uma fecunda e inovadora síntese que responde aos enormes desafios que a humanidade está enfrentando e que, se não encarados corretamente e com urgência, ameaçam o futuro do planeta e da humanidade.

“Laudato si” é uma encíclica que traz elementos de absoluta novidade. Por exemplo, cita documentos de várias conferências episcopais no intuito de reforçar a comunhão do magistério episcopal e a valorização de trabalhos já realizados. Assume a salvaguarda da criação como eixo central de toda a encíclica. Valoriza a contribuição de fontes não apenas provenientes do magistério e da Bíblia, citando teólogos, cientistas e filósofos, e reforça os laços ecumênicos, dando amplo espaço ao empenho do Patriarca ortodoxo Bartolomeu I, já conhecido e apreciado pelo seu magistério e pelo seu trabalho na defesa do meio ambiente. Logo depois da promulgação da encíclica ele declarou: “Além de qualquer diferença doutrinal que possa caracterizar as diferentes confissões cristãs, e além de eventuais controvérsias religiosas que podem separar as várias comunidades de fé, a terra nos une de modo único e extraordinário. Todos somos responsáveis pela tutela e a conservação do planeta. Por isso, esta encíclica é um apelo para que haja intervenções urgentes em favor do diálogo para iniciar a construção de novos processos educativos em condição de mudar a situação em que vivemos”.

O que caracteriza esta encíclica é sobretudo a preocupação pela casa comum, com a conseguinte e corajosa denúncia de sua degradação, a denúncia da iníqua repartição dos bens, o apelo à solidariedade universal e à mudança de rumo da economia através de escolhas políticas corajosas, rumo a uma economia equânime e sustentável, capaz de garantir dignidade a todos os seres humanos a partir dos últimos. L. Boff no primeiro comentário que fez à encíclica escreve: “Logo no início ela diz que ‘nós somos Terra’ (n. 2; cf.Gn 2,7), bem na linha do grande cantor e poeta indígena argentino Athaulpa Yupanqui: “O ser humano é Terra que caminha, que sente, que pensa e que ama”. Talvez esta possa ser uma das chaves interpretativas da novidade trazida pela mensagem de Francisco.

Acolhamos esta novidade rumo a uma conversão bíblica, ecológica e ecumênica que a boa nova da criação anuncia e pede com urgência a todos os seres humanos!

Dom Francisco Biasin é bispo de Barra do Piraí-Volta Redonda(RJ) e membro do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso do Vaticano .

Vocação à Vida Consagrada

interna2Onde estão os religiosos, existe alegria!”

Neste Mês Vocacional somos convidados a refletir sobre como estamos vivendo a nossa vocação humana e cristã. Nós, os Consagrados, temos o Ano da Vida Consagrada, proclamado pelo Papa Francisco, no dia 21 de novembro de 2014, e que vai até o dia 02 de fevereiro de 2016, para nos ajudar nesta reflexão. Como estamos vivendo a nossa vocação, nestas quatro dimensões: a relação com Deus, a relação com as outras pessoas, a relação conosco mesmos e na relação com a natureza?

Na Carta “Alegrai-vos”, o Papa aponta três objetivos para Ano da Vida Consagrada: Olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro. E, conclui o Pontífice na mesma carta: “seja sempre verdade aquilo que eu disse uma vez: ‘Onde estão os religiosos, existe alegria’.” Marca este Ano, sobretudo a alegria dessa Consagração.

O padre jesuíta, Jaldemir Vitório, em artigo na Revista Convergência, da Conferência dos Religiosos do Brasil, de julho/agosto deste ano, destaca que os consagrados tem muitos motivos de alegria, tais como: “de sermos discípulos e discípulas de Jesus e servidores do Reino; de pertencer a uma família religiosa, com sua história, carisma e espiritualidade; de viver em comunidade como irmãos e irmãs; de abraçar juntos a missão; de servir aos empobrecidos e marginalizados; de ser profetas do Reino; de ser ‘reserva de humanidade’, num mundo de desumanidade; de ser presença missionária na Igreja, abraçando as tarefas mais desafiadoras; de abraçar missões ad gentes; de viver a intercongregacionalidade, como possibilidade de alargar o campo da missão; e, de envelhecer com dignidade e chegar ao ocaso da vida conservando viva a chama da vocação e da missão.”Que bom viver estas alegrias! Elas podem ser observadas pelos jovens em nossas comunidades e assim fazerem parte deste caminho que estamos trilhando como pessoas humanas.

Nós, os Missionários do Sagrado Coração de Jesus, somos chamados a viver a nossa vocação de alegria na missão. O Papa diz em sua carta, “Espero ainda de vós o mesmo que peço a todos os membros da Igreja: sair de si mesmos para ir às periferias existenciais. ‘Ide pelo mundo inteiro,’ foi a última palavra que Jesus dirigiu aos seus e que continua hoje a dirigir a todos nós (cf. Mc 16,15).” O que será que Deus pede a nós hoje?

Maria: Vocação Chamada a viver na alegria

Deus chamou Maria e ela disse o seu “Sim”, com alegria. Um “Sim” que nós também podemos dar para viver a alegria de sermos discípulos missionários. Um “Sim” que somos chamados a viver a partir ou discernir a partir de três pilares, a saber: Numa experiência intima com Deus, numa a vida em comunidade e em missão.

Vida de experiência íntima com Deus

Sentir a presença amorosa e misericordiosa do Espírito Santo na vida diária, sendo próximos de Deus, sentando aos pés de Jesus uns 15 a 20 minutos em oração com Ele, silenciando para escutar a sua Palavra, uma espiritualidade integrada, oração e vida, alimentando a fé na escuta do Mestre.

O Papa Francisco nos diz, na Carta Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, que a nossa espiritualidade cristã é uma grande riqueza e uma contribuição para a renovação da humanidade, “aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequências no nosso modo de pensar, sentir e viver. (…) A espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo.” (n. 216).

Somente assim, podemos discernir qual a vontade de Deus na nossa vida de discípulos Missionários. Somente se nos colocarmos numa relação amorosa, entendemos o que ele quer.

Vida vivida em comunidade

Jesus assumiu a missão de anunciar o Reino de Deus formando uma comunidade. Ele formou uma Comunidade de Vida, um grupo de Doze Apóstolos, para estar com Ele e enviá-los a pregar (Mc 3,13-19). Grupo que andou com Ele pelos caminhos da Galileia e foi sendo formado, passo a passo, na prática do dia a dia, em comunidade. “O discípulo missionário de Jesus Cristo necessariamente, vive sua fé em comunidade (1Pd 2,9-10) em ‘íntima união ou comunhão das pessoas entre si e delas com Deus Trindade.’

Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã. Comunidade implica convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores.” (Dir. CNBB, n. 55) Por isto, para discernir bem sobre o que Deus quer de cada um de nós é fundamental fazer parte de uma Comunidade Cristã, viver uma vida em comunhão com outras pessoas.

Vida vivida em missão

A vida é missão e a missão é vida. Temos vários relatos nos Evangelhos onde Jesus enviou os seus discípulos em missão. Foram enviados dois a dois, a partir da Comunidade, para levar o espírito de Jesus. Enviados para levar a vida e vida em abundancia, principalmente onde esta era mais ameaçada.

A CNBB, nas Diretrizes Gerais para a Igreja no Brasil, nos diz que “o discípulo missionário no seu amor por Jesus Cristo, não se cala diante da vida impedida de nascer, diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé.”(DGE,65) O discernimento vocacional acontece com mais clareza se tenho uma vida de missão e uma missão de vida.

Concluindo…

Portanto, a vocação, a resposta ao chamado de Deus, somente poderá ser fiel, assim como foi o “Sim” de Maria e de tantos discípulos e discípulas, se a minha vida está sendo vivida em uma relação íntima com Deus Trindade, numa Comunidade Cristã e na Missão.

O chamado vocacional a uma vida de Consagração alimenta em nós a alegria de viver. E esta alegria faz com que nossos olhos brilhem.

Nosso sorriso se expressa espontaneamente quando podemos viver a alegria do Evangelho, a alegria de ser discípulo missionário, de viver em profunda intimidade com Deus e na vida fraterna evangélica, de ser feliz na opção realizada que é dom de Deus e cooperação nossa.

Esta vocação nos convida a levar às pessoas mais necessitadas o abraço que consola, conforta, transmite fraternidade e alegria, entusiasmo e votos de felicidade; a ser presença simples e ação generosa, criativa, dinâmica e feliz no serviço direto aos mais pobres. Vocação que nos consagra a ser a encarnação da misericórdia de Deus, a estarmos disponíveis para atender à sede de Deus e à sede de espiritualidade, ir ao encontro dos outros, levar-lhes Jesus Cristo, feliz, dentro de nós, como Maria em sua visita a Isabel, um Jesus Cristo desejoso de estar conosco e nos outros.

Nossa Senhora do Sagrado Coração nos fortaleça na missão de testemunhar e evangelizar, servir e libertar. Que nossa vocação ajude a despertar o mundo! Amado seja por toda parte o Sagrado Coração de Jesus. Eternamente!

Pe. Mário Roessler, MSC – (roemarmsc@gmail.com)

O ROSÁRIO

interna1O Rosário, em cuja recitação se usa o instrumento tradicional do terço para contar as Ave-Marias, é uma oração de contemplação. E a humanidade de hoje precisa de contemplação, à qual não se chega sem a experiência do silêncio.

A redescoberta do valor do silêncio é um dos segredos para a prática da contemplação e da meditação. Entre as limitações duma sociedade, onde predomina fortemente a técnica, conta-se o fato de se tornar cada vez mais difícil o silêncio. Tal como na Liturgia se recomendam momentos de silêncio, assim também na recitação do Rosário é oportuno fazer uma pausa depois da escuta da Palavra de Deus, enquanto o espírito se fixa no conteúdo do mistério.

Maria guardava as recordações de Jesus estampadas na sua alma. Em cada circunstância, Maria era levada a percorrer novamente, com o pensamento, os vários momentos da sua vida junto com o Filho Jesus. De certo modo, foram essas recordações que constituíram o “rosário” que Ela mesma, diríamos, recitou constantemente nos dias da sua vida terrena, em sua própria carne ao ver a vida de Cristo revelando-se.

Maria viveu com os olhos fixos em Cristo e guardou cada palavra sua: “Conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19; cf. 2,51).

Precisamente por causa da experiência de Maria, o Rosário é uma oração marcadamente contemplativa. Privado dessa dimensão, perderia o sentido, como sublinhava Paulo VI: “Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas e de vir a achar-se em contradição com a advertência de Jesus: ‘Na oração, não sejais palavrosos como os gentios, que imaginam que hão de ser ouvidos graças à sua verbosidade’ (Mt 6,7).

Por sua natureza, a recitação do Rosário requer um ritmo tranquilo e uma certa demora a pensar, que favoreçam, naquele que ora, a meditação dos mistérios da vida do Senhor”. Assim, podemos, através do coração daquela que mais de perto esteve em contato com o Senhor, chegar às suas insondáveis riquezas.

Rosário vem de rosa. Cada Ave-Maria é uma rosa do buquê a ser oferecido a Jesus e Maria. Porque o Rosário é a contemplação dos mistérios da vida de Jesus, nos mistérios gozosos, dolorosos, luminosos e gloriosos, esse é Cristocêntrico e não Mariocêntrico, como nos ensinou São João Paulo II. Ele é, também, de índole comunitária e se nutre da Sagrada Escritura. Na medida em que o vamos rezando e contemplando, ele nos abre um “painel catequético e bíblico” da história da salvação.

Somos obrigados a rezar o Rosário? Não. É uma devoção. Mas entre os que o rezam não haverá ninguém que ignore sua validade. Milhões e milhões de pessoas pelo mundo inteiro o rezam em todas as línguas e idades. Feita com devoção e piedade, essa prece tão preciosa tem alcançado muitas graças. Por ela, a Igreja superou grandes crises em sua História ao longo dos séculos, e ainda continua superando.

Ir. Myrian Aparecida Pereira é do Instituto Coração de Jesus em Goiânia (GO)

Uma Mãe que visita seus filhos

revista-03De Franca, passando por Jaú, até  sua comunidade!

IMAGEM PEREGRINA EM FRANCA

Visitar, peregrinar, acompanhar, evangelizar e formar são palavras que, embora diferentes em seu significado, resumem o sentido que a Imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração cumpre ao peregrinar por diversas comunidades pelo Brasil afora. Desta vez, as comunidades visitadas foram Jaú e Franca, ambas no Estado de São Paulo.

A bela cidade de Franca, antiga rota dos Bandeirantes, conhecida como a capital nacional dos sapatos, foi o cenário dessa epopeia da Imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Era pouco mais de cinco da manhã de um sábado frio, quando um séquito de devotos de Maria, comprometidos com essas peregrinações, partiu para a Paróquia São Benedito, em Franca. A acolhida calorosa e festiva da imagem, deu-se pontualmente ao meio-dia.Grande número de fiéis aguardavam ansiosos a Imagem na comunidade que tem como padroeira Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Vivas, orações e suplicavas multiplicavam-se nessa acolhida!

O decorrer do dia foi marcado por intensa programação de atividades que gravitavam em torno da necessidade de louvar a Cristo pela intercessão da Virgem Maria, Nossa Senhora do Sagrado Coração. Um Oficio mariano, dominou a tarde ; à noite, uma procissão luminosa resplandeceu na cidade e atraiu uma multidão de fiéis a essa comunidade Mariana.

Palpável era a comoção que a imagem causava. Alguns se arriscavam a contar graças recebidas pela intercessão de Maria. Anita Guerra, coordenadora da comunidade, anunciava os testemunhos de curas, alcançadas pela intercessão de Nossa Senhora do Sagrado Coração, através de uma água costumeiramente abençoada no dia da festa e distribuída aos fiéis no domingo festivo, sempre o terceiro de maio.

No domingo, durante a celebração da missa festiva, outra centena de fiéis lotou a capela. A Coroação de Nossa Senhora do Sagrado Coração, singelamente celebrada pelas crianças, foi um espetáculo de simplicidade e piedade. Ao final da celebração, todos faziam questão de tocar a imagem de Maria e, com o olhar demorado e suplicante, entendia-se que pediam a Ela que intercedesse junto ao seu filho pelas suas muitas necessidades.

IMAGEM PEREGRINA EM JAÚ

Não mais que dez dias separaram a visita que a Franca, daquela que aconteceria em Jaú. Uma animada comunidade da Paróquia São João Batista, com pouco mais de quinze anos, por uma vicissitude da história, decidiu colocar-se sob a proteção de Nossa Senhora do Sagrado Coração. O tempo passou, a comunidade solidificou-se. Embora conhecesse a devoção Mariana, os fiéis sentiam a necessidade de entender esse título de sua padroeira com mais profundidade. A necessidade fez com que despontasse a oportunidade, e a Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Sagrado Coração aportou no Centro-oeste paulista, na Diocese de São Carlos, no Bairro Jardim Novo Horizonte, em Jaú.

A receptividade e a acolhida foram marcas indeléveis desta visita. O Pároco, Dom Sergio Herique Van der Heyder, Abade Emérito da ordem dos Premonstratenses, no Brasil, demonstrou simpatia e devoção por Nossa Senhora do Sagrado Coração. De súbito, o abade buscava nos anais da história de sua Ordem, uma pitoresca narrativa de uma coroação feita a Nossa Senhora do Sagrado Coração, numa antiga abadia Europeia… Entre memórias e acolhida, foi celebrada a Eucaristia.

Nos fiéis daquela comunidade, observavam-se uma veneração imensa por Maria e uma sede sem precedentes de perscrutar as sendas desse título que Padre Júlio Chevalier deu a Maria. Foi momento oportuno, também, para uma formação sobre a origem do título, para aprofundar a espiritualidade e a convicção de seguir Jesus, nos passos de Maria. Nas Palavras do Coordenador, “Nós conhecíamos Nossa Senhora, mas precisávamos saber mais e aplicar as práticas de Devoção, como a Novena Perpétua e a Semana Com Nossa Senhora à vida da nossa Comunidade”.

Peregrinos como e com Maria, sentimos cada vez mais a necessidade de irmos a outros lugares, a outras comunidades a fim de difundir com convicção a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Certos do tão grande bem que essa devoção pode fazer à sua vida, querido devoto, queremos convidá-lo a propor ao seu pároco, ao seu coordenador de comunidade, a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora ao lugar onde você mora.

A Redação

Vocação e Família

revista-02A maioria de nós já sabe que a palavra vocação quer dizer chamado, não um chamado qualquer, mas um apelo de Deus em favor dos outros, uma entrega gratuita e generosa por amor àquele que nos chama e à Igreja. E sendo um chamado, necessariamente exige de nós uma resposta. Toda pessoa é vocacionada, ou seja, toda pessoa é chamada por Deus para uma missão. O desafio, portanto, para cada homem e mulher que assume a sua fé é o de discernir essa vontade divina e responder com confiança. A história da nossa Igreja está repleta de testemunhos vocacionais que nos servem de inspiração.

Olhando para a literatura bíblica, vemos que Deus suscitou no meio do povo inúmeras pessoas que exerceram um papel preponderante na obra da salvação. No Antigo Testamento temos exemplos como o de Abraão (Gn 12, 1-5), Moisés (Ex 3, 1-5), Samuel (1Sm 3, 1-10), Jeremias (Jr 1, 4-10), que foram homens simples a quem Deus chamou ao seu serviço e que, embora com medos e resistências, não deixaram de dar uma resposta afirmativa a Ele. No Novo Testamento, Deus continuou convocando homens e mulheres ao seu seguimento na pessoa de Jesus Cristo. Para isso, basta olharmos a história vocacional de Maria (Lc 1, 26-38) e dos Discípulos (Jo 1, 35-51).

No entanto, toda vocação nasce da oração da comunidade e a principal comunidade à qual somos inseridos é a comunidade familiar que forma uma Igreja doméstica. Nenhuma vocação nasce do acaso, mas ela se fecunda e se nutre principalmente, mas não somente, no seio de uma família. Daí, a importância salutar da família compreender a necessidade de se rezar diariamente pelas vocações e assim compreender que ela é núcleo da ação de Deus e que estas vocações saem de dentro das nossas casas como dom de Deus para toda a Igreja.

Além de rezar, as famílias precisam também instruir bem os jovens na fé, para que não confundam a voz suave de Deus que chama ao serviço do Reino, com as diversas vozes do mundo que atraem para uma existência vazia e muitas vezes perigosa. Fazer a vontade de Deus é a única segurança para uma existência feliz.

Diante desta reflexão, podemos nos perguntar como família: nós temos rezado pelas vocações? Nós temos coragem de incentivar os nossos filhos e filhas para a vida sacerdotal, religiosa e consagrada? Estamos educando os nossos filhos numa autêntica vida cristã comprometida? Para os jovens, um questionamento pessoal: vida sacerdotal, religiosa e consagrada, você já pensou nisso? Por que não arriscar?

Deus nos chama para a liberdade e nunca nos decepciona. Ao contrário do que muitos pensam, o serviço eclesial, todos eles, é uma opção para quem desejar viver radicalmente livre. O seguimento de Cristo e do Evangelho não aprisiona e é a certeza de que a nossa vida não será gasta em vão. Se você deseja algo que dê verdadeiro sentido ao seu viver, eis um desafio: saia da superficialidade da vida e avance para águas mais profundas.

Diácono Girley de Oliveira Reis, MSC, trabalha na Diocese de S. Gabriel da Cachoeira/AM

Nosso dever, nossa Salvação!

revista-01A investigação sobre a Ordem na Liturgia mostrará como a liturgia é criadora de ordem e organizadora do espaço e do tempo à sua disposição, justamente porque beleza tem a ver com harmonia, e harmonia, com ordem.

A liturgia sugere sempre um caráter estruturado, hierárquico e corporativo. Ela não pode ser jamais apossada por grupos ou tendências que queiram marcar sua posição. Isso feriria a natureza da liturgia e a esfacelaria. Trata-se, portanto, da liturgia da Igreja, onde todo o aparato conceitual que constitui o Dogma tem a beleza como sua única via de celebração. E aí reside o gênio litúrgico do cristianismo.

Teologicamente, a ordem na liturgia significa a retomada da ordem que Deus imprimiu à Criação e que o pecado desfigurou. O Mediador desta ordem é Jesus Cristo. Para que isso aconteça, devemos entregar o nosso ser e o nosso tempo àquele que é o Senhor da vida e do tempo e, por isso, o único que pode ordenar as pessoas, o tempo e o espaço de acordo com a ordem da Criação.

A liturgia põe ordem na humanidade e em cada pessoa individualmente. Mas para isso é necessário que nos deixemos ser possuídos, despojados e restaurados pela liturgia da Igreja. Mais uma vez, a palavra entrega é fundamental, pois somente pode ser ordenado pela liturgia quem se deixa possuir por ela. Aqui também, a liturgia tem uma função terapêutica, na medida em que cura nossas almas da desordem estabelecida pelo pecado e da dimensão caótica que fere a existência humana.

Em função da beleza e da ordem, as rubricas são instrumentos que assumem um papel preponderante. Devem ser conhecidas a fundo no seu caráter preceptivo ou “orientativo”, não simplesmente para uma execução fria, mas para que delas se extraia o tesouro teológico escondido sob forma normativa, de tal maneira que a celebração seja o prolongamento da beleza dos gestos de Cristo e ordene o mundo e cada pessoa de acordo com a beleza que deve reinar na ordem da Criação. E ainda coloque todas as realidades numa perspectiva cósmica, libertando-as da dimensão caótica.

Somente um investigador desapaixonado e desvinculado de qualquer tendência ideológica pode ter acesso a esse tesouro e mostrar que as rubricas não se enquadram nos parâmetros do “certo” ou do “errado”, pois a liturgia não é uma questão moral, mas uma questão de fé. Então, a pergunta não deve questionar o que está certo ou errado, mas o que mostra ou esconde a beleza dos gestos de Cristo e a ordem que ele imprimiu na Criação, tirando-nos do caos em que o pecado nos lançou. Esses devem ser os parâmetros que norteiam qualquer nível de investigação litúrgica, seja num curso acadêmico ou numa formação pastoral.

Pe. Michel dos Santos, MSC é Vigário do Santuário das Almas em São Paulo/SP

A fé no Corpus Christi

inerna3Cultivemos o maior respeito ao corpo do Cristo. Isto mesmo. Ele teve um corpo e o manifesta ainda hoje. Não como naqueles dias em que aqui pregou a justiça e a paz, mas de um jeito que o católico aceita e assume. Somos convidados pelo dogma da eucaristia a, por causa do corpo de Cristo, cuidar bem do corpo humano e respeitá-lo em sua sacralidade, sem medo e sem tabus, mas também sem bandeiras erradas… O corpo humano é o que é, com seus valores e suas misérias. Nada de endeusá-lo ou demonizá-lo ou falar de nudez e de sexo como se fosse tudo pecado feio. O corpo humano é santo, o sexo pode ser santo, o prazer com que o casal amoroso e responsável se dá, é santo.

Nosso corpo não é sujo e não é lixo, porque Deus não cria nem a maldade nem a sujeira, nem o lixo. Se alguém o sujou, não culpe o Criador. Se tem medo dos seus instintos e da sua sexualidade não culpe Deus. O corpo e seus desejos têm seus limites, mas têm as suas possibilidades. Começa com o fato de que gera uma vida nova. O corpo da mulher e o do homem são instrumentos maravilhosos de alegria, de paz e de prazer.

Depende de como, por que, quando e com quem. É sem dúvida, uma complexa e maravilhosa máquina, um complexo e maravilhoso composto orgânico cheio de vida que mudou a face da terra, para o bem e para o mal. Foi esta máquina que fez o que fez neste planeta. A mente humana jamais teria conseguido isso sem os seus cúmplices: olhos, braços, pernas, boca, ouvidos, dedos, órgãos reprodutivos, pés circulação, sistema nervoso, juntas e articulações…

Por isso, faz enorme sentido festejar o corpo sagrado e puro do mais Filho dentre todos os filhos de Deus, alguém por cuja causa temos a coragem de chamar a Deus de Pai Nosso e nos declararmos filhos dele.

Nesta era do corpo humano nu, exposto nas telas, exibido, mostrado sob todos os ângulos, explorado, comprado, vendido, banalizado, endeusado, entronizado, erotizado, mercantilizado, cantado em verso e prosa, filmado, teatralizado, malhado e também torturado e massacrado, faz muito sentido, urgente até, buscar uma referência que eleve o conceito da corporeidade. Não basta ter um corpo sadio, malhado e bonito. Isso ainda não faz nem o homem nem a mulher. É apenas estrutura ou fachada do monumento que um ser humano é ou pode vir a ser. E podemos ser um monumento até quando o corpo tem limites.

De repente, um corpo oferecido em sacrifício e torturado numa cruz e outra vez, oferecido misticamente sob as espécies de pão e de vinho, -também eles esmagados e frutos do suor e do trabalho humano-, pode dar enorme sentido aos homens e mulheres de corpos pequenos, magros, mirrados, gordos, grandes, pesados, doídos, feridos, cansados, doentes ou bonitos, elegantes e encantadores. Se soubermos o que fazer com nossos corpos, certamente influiremos no mundo, para melhor. Se o usarmos como isca para ganhar fama, emprego, posição, dinheiro e vantagens, também influiremos, mas de maneira infeliz.

Nós, católicos, celebramos a festa do Corpo de Cristo, dado em comunhão para entender isso. É mais do que crer na Eucaristia. É assumir suas consequências. Na era do poder do corpo, temos feito o quê com o nosso ?
Pe. Zezinho. SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais. www.padrezezinhoscj.com

As aventuras do Diálogo

interna2A referência ao diálogo como aventura, embora cause certo estranhamento, é algo a se considerar no estágio atual da situação sociopolítica, cultural e mesmo religiosa da sociedade brasileira. Cenários diversos revelam a dificuldade generalizada para se estabelecer diálogos. E o diálogo é condição sem a qual não se edifica a sociedade, particularmente a contemporânea, na sua constituição plural. Prejudica esse necessário processo de interação o enquadramento de pessoas e de situações que pode levar a arbitrariedades e a desrespeitos, criando, consequentemente, verdadeira anarquia.

As concepções monolíticas a respeito de situações plurais na política, na cultura e mesmo na vida religiosa, provocam grande confusão.

Evidentemente, é preciso observar certos parâmetros. Princípios éticos e valores inegociáveis devem sempre pautar as condutas. Porém, o diálogo só é exitoso quando se reconhece a pluralidade, compreendendo que ninguém é dono da verdade. O respeito ao outro e às diferenças são condições para se avançar em discernimentos e, assim, fazer escolhas acertadas, corrigir rumos e alcançar novas respostas. Só o diálogo e a capacidade de dialogar revelam e comprovam a envergadura moral e cidadã.

Uma das mais terríveis crises da sociedade brasileira é a generalizada incompetência para o diálogo entre instituições, grupos e pessoas. Para complicar esse quadro desafiador, aparecem os oportunistas e também aqueles que buscam travar as possibilidades do intercâmbio de ideias e opiniões. Prenúncio para radicalismos e outras perdas no necessário processo de se reconstruir a nação. Para superar a falta generalizada de diálogo, são necessários exercícios que alarguem corações e mentes, que iluminem visões capazes de contribuir para o enfrentamento dos muitos problemas que se abatem sobre a sociedade.

O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica, Alegria do Evangelho, fala sobre a crise do compromisso comunitário. O enfrentamento desse problema, com respostas assertivas, é que pode permitir o revigoramento da cidadania, em vista de uma nação civilizada, estabelecida nos trilhos da igualdade social, da justiça e da participação de todos. A solução não é simples e demanda mais que análises de caráter sociológico ou político. É necessário ultrapassar a defesa egoísta dos próprios interesses, de pequenos grupos ou classes, para empreender esforços e garantir soluções que gerem benefícios para a coletividade.

Essa nova postura é que possibilita um processo de interpretação de fatos e de acontecimentos capaz de suscitar nos corações o desejo e a prática do diálogo. Urgente é considerar os rápidos processos de desumanização em curso, muitos deles até com consequências irreversíveis. Uma conta a ser paga no restante da história desta sociedade que acata e acelera esses processos. Em vez de se defender interesses partidários ou de poucos, é preciso considerar os descompassos do mundo contemporâneo. Enormes avanços e conquistas, progressos científicos e inovações tecnológicas contracenam com a violência, a miséria e o medo.

É irracional aguçar a simples defesa de interesses particulares e não percorrer a circularidade existencial, exercício indispensável para conseguir ver a partir do lugar do outro, especialmente de quem é mais pobre. A sensibilidade necessária para enxergar, além do que é particular, constitui condição para abrir-se ao diálogo. Exercitar esse discernimento possibilita reconhecer que todos partilham a mesma estatura e merecem respeito. Assim, é possível o diálogo, caminho para superar a mesquinhez e a indiferença que alimentam, entre outros males, o desarvorado desejo de se acumular dinheiro e poder, verdadeira porta para a corrupção.

Para promover a abertura ao diálogo, em todos os níveis, na sociedade brasileira, vale a pena começar por dizer “não”, como ressalta o Papa Francisco, conselheiro admirável, na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: Não a uma economia da exclusão, pela superação da globalização da indiferença; não à nova idolatria do dinheiro, pelo reconhecimento de que a crise econômica é, acima de tudo, antropológica, pois é desconsiderado o primado da pessoa humana; não à desigualdade vergonhosa, fonte de violência, pois é necessária uma profunda reforma que inclua mais simplicidade nos gestos de ricos, que precisam ajudar os pobres. É preciso reduzir distâncias, aproximar-se do outro, para que se possa construir um futuro melhor. Essa tarefa tem dinâmica própria, que desafia a sociedade brasileira a entrar nas aventuras do diálogo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

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