Revista de Nossa Senhora
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Quaresma: tempo de relações verdadeiras!

Cross with purple drape or sash for EasterDiz o livro do Eclesiastes 3,1: “Debaixo do céu há um tempo para cada coisa”. A delicadeza do autor deste livro, nos ajuda a entrar no tempo da Quaresma, buscando encontrar nele sentido para nossa vida, para nossa caminhada de fé. “Este é o tempo favorável, o dia da salvação”, diz 2 Cor 6,2. Fixando o olhar no mistério pascal, onde contemplamos e vivenciamos o núcleo de nossa experiência espiritual, a entrega de amor do Senhor na Cruz e sua vitória sobre a morte na Ressurreição, queremos fazer deste tempo, um tempo fecundo, tempo de “converter”, de mudar rumos e apurar as relações, para que fique somente o que de fato, for firmado na verdade que nos faz crescer!

Neste sentido, o trecho do Evangelho que ouvimos na liturgia de quarta-feira de cinzas, pode nos orientar durante toda a caminhada quaresmal, lançando luzes sobre nossa forma de conduzir nossos relacionamentos. Parece que a Palavra de Deus (Mt 6, 1-6.16-18), nos orienta a uma tríplice atenção: nossa relação com Deus, nossa relação com os outros e nossa relação conosco mesmos. Ao apresentar aí as três práticas quaresmais do jejum, da esmola e da oração e abrir assim o tempo quaresmal, recebemos um itinerário seguro para refazer nossas práticas relacionais.

A primeira é a vida de oração. A oração ao Pai de amor, no “escondido do quarto”, diante daquele que vê o coração como ele é, sem hipocrisias, é o caminho seguro para um relacionamento que a cada dia pode crescer e amadurecer. A qualidade de nossa relação com Deus depende de nossa vida de oração pessoal e comunitária. A quaresma nos dá a chance de intensificar essa vivência de oração através, quem sabe, de um projeto de oração, um roteiro ou esquema que nos ajude a não nos perdermos na correria do dia a dia, e assim relegarmos a segundo plano nossa vida de oração. Precisamos estar na presença dEle para ouvi-lo. Nossa oração precisa ser encontro, entrega, local de confiança e amizade com Deus. Desta forma nossa relação com Deus, em Jesus, encontrará nesses quarenta dias da quaresma um momento especial para se revigorar.

A segunda prática quaresmal que nos é proposta é o jejum. Jesus pede que não o façamos com hipocrisia, para sermos vistos, mas como um mergulho no nosso coração, para perceber aí o que nos arrasta e desintegra interiormente. A fome, consequência física do jejum, é uma possibilidade de nos encontrarmos com uma necessidade básica de todo ser humano: alimentar-se. Mas nos remete a todas as outras necessidades que trazemos e que, se não nos cuidamos, podem se transformar em vícios que não nos deixam livres para viver de forma mais plena o projeto de Deus para cada um de nós. O jejum é um exercício de ascese. De busca de Deus e de controle de si.

É, portanto uma forma de melhorar nossa relação conosco mesmos. Mas como toda ascese que não leva em conta a ação da Graça, pode nos levar à falsa ideia de que somos nós, com nossas forças e méritos, que conseguimos permanecer no caminho da fé. Esse engano deve ser substituído, sobretudo neste tempo quaresmal, por uma real noção de nossa fragilidade humana, de nossa capacidade de pecar e ao mesmo tempo de perceber aí a oportunidade de uma entrega de toda minha vida a Deus. “E de reconhecer que não tenho garantia alguma de não pecar mais. Se Deus não me sustentar, sempre tornarei a cair no pecado. Posso fazer o que quiser, mas, sem a graça de Deus, eu sou incapaz de resistir ao pecado. Quando isto chega ao meu coração, não me resta outra saída senão entregar-me a Deus” (Anselm Grün. Espiritualidade a partir de si mesmo).

Por fim, ao nos propor a prática da esmola, que podemos dizer aqui, da caridade, Jesus nos coloca na direção do outro, fazendo-nos pensar na qualidade cristã de nossas relações com aquelas pessoas que estão na nossa vida, povoando nosso caminho de todos os dias. Jesus pede que façamos com gratuidade, ou seja, sem esperar nada em troca e de forma que não chamemos a atenção para nós mesmos. Talvez dito de outra forma, nossas relações devem ter como finalidade o bem do outro e não nossa boa fama e nosso desejo secreto de cumprirmos com uma obrigação religiosa ou ficarmos com a consciência livre pelo bem feito.

A Palavra de Deus, desta forma, nos apresentando a proposta de Jesus, coloca diante de nós um itinerário bonito, mas exigente para que renovemos nossas relações. Que nossa quaresma, à luz desta Palavra, seja tempo de recomeçar, confiando no amor de Deus ou como diria São Bento “sem jamais desesperar da misericórdia de Deus” e buscando viver desde já, na nossa experiência cotidiana de fé o mistério de morrer com Cristo (tanta coisa precisa morrer em nossas relações) para com Ele ressuscitarmos.

Pe. Lucemir Alves Ribeiro, MSC, Reitor do Santuário de Nossa Senhora da Agonia – Itajubá- MG

Um convite para a penitência Quaresmal

Young woman praying in a churchO perdão de nossos pecados é uma necessidade espiritual. Mas também psicológica. Nada melhor do que o pecador se sentir perdoado. “Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada” (Sl 31, 1). Isso é benéfico para nós. Restaura nossa autoestima. Sentir-se perdoado significa ter a sensação segura de ser amado.

Trata-se de uma grande experiência interior, portadora da paz e do equilíbrio psicológico. Faz levantar a cabeça. Mas como se pode obter a misericórdia divina em nosso favor? Que possibilidades de perdão o Pai Justo (Jo 17, 25) nos oferece para a purificação de nossas consciências? Cito alguns caminhos, uns mais largos e outros mais estreitos. Entre eles lembro o amor profundo e total para com Deus. “A caridade é o vínculo da perfeição” (Col 3, 14). É bem difícil, mas muitos alcançam essa graça. Cito, sobretudo, a prática da caridade para com o próximo. “A caridade apaga uma multidão de pecados” (1 Pd 4, 8). Esse é um caminho bastante seguro, ao alcance de nossas mãos. Também, vinculadas ao poder legítimo da Igreja, estão as indulgências, cujo poder de perdão provem dos tesouros de santidade dos filhos da esposa de Cristo.

Mas um caminho proposto por Jesus, e aberto pela bondade do Salvador, é o Sacramento da Penitência, também chamado de Confissão. É um caminho seguro para a misericórdia divina, contanto que nos arrependamos e nos ponhamos na senda da mudança interior. Nós acreditamos no poder que Jesus deu à sua Igreja de perdoar, em nome de Deus, os pecados do povo. “Somos embaixadores da reconciliação… Em nome de Cristo vos pedimos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 19-20). Esse sacramento não só perdoa os pecados, – por mais graves que sejam, – mas nos dá forças para praticar o bem. O Papa Francisco sugere que todas as Paróquias do mundo facilitem, nesta quaresma, a aproximação dos Fiéis, a este sacramento. O sacramento é tão humano, que até a Psicologia adotou a “confissão” como um método de terapia. Só existe uma diferença: após o relato diante de psicólogo, este pode orientar o paciente e mostrar o caminho da recuperação. Mas o Sacerdote pode perdoar, em nome de Deus. E isso é uma segurança para nós. “Se o mau renunciar à sua malícia e praticar o bem, ele viverá” (Ez 33, 19).

A diaconia na vida e missão da igreja

interna1O exercício do ministério diaconal é uma ação que remonta às primeiras comunidades cristãs. A instituição do ministério diaconal é narrada no Novo Testamento e mantida até os dias atuais pela Tradição da Igreja.

É o evangelista Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, que nos narra a instituição dos primeiros diáconos (cf. At 6, 1-7). O texto conta que os doze apóstolos escolheram sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria para se dedicarem a administração e ao serviço da caridade enquanto eles se dedicariam a oração e a pregação da Palavra. Mais tarde, o texto os apresenta pregando a Palavra e batizando (cf. At 6,8-14; 8,5-13). Ainda em At 6,6 pode-se notar a imposição das mãos, acompanhada da oração, realizada pelos Apóstolos sobre os escolhidos para tal ministério na comunidade.

A natureza deste ministério se configura a uma tríplice missão que é o serviço ao povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade, sendo que o candidato é ordenado para o serviço. A Lumen Gentium é muito clara quanto à missão do diácono: “administrar o Batismo solene, conservar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar em nome da Igreja aos Matrimônios, levar o viático aos moribundos, ler a Sagrada Escritura aos fiéis, instruir e exortar o Povo, presidir ao culto e as orações dos fiéis, administrar os sacramentos e presidir aos ritos dos funerais e da sepultura” (LG 29).

O diácono deve ser um servidor de todos. Alguém que se coloca à serviço da comunidade e do povo de Deus imitando aquele que é o modelo de diaconia e de todos os servidores. Diante desta motivação reconhecemos a missão a que fomos confiados e para a qual fomos chamados deixando ressoar em nossos ouvidos e em nossos corações as palavras do bispo ordenante: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina o que creres e procura realizar o que ensinares”.

Diácono Girley de Oliveira Reis, trabalha na Paróquia Dom Bosco, São Gabriel da Cachoeira – AM

Iniciar 2015 morando em Deus

interna3Com muita alegria e esperança iniciamos o ano de 2015. Início do ano é sempre tempo de esperança, de renovar projetos, de estar motivados para crescer e responder com generosidade ao chamado que Deus nos faz ao longo da história.

Sim, Deus nos chama a cada dia e a cada ano para que cresçamos como pessoas humanas, como filhos amados de Deus e como membros da Igreja. O chamado de Deus é sempre discreto, através das pessoas que nos rodeiam, dos acontecimentos cotidianos, da Palavra de Deus rezada e ouvida na liturgia, da Igreja pelos seus ensinamentos, e dos pobres que vêm ao nosso encontro pedindo solidariedade e nos ensinando a sermos mais solidários. O grande chamado de Deus é para a vida. Cuide com carinho de sua saúde,  Deus nos quer felizes, realizados e santos no amor. Quanto mais plenos formos como pessoa humana, mais faremos parte do Ser Divino de Deus. Jesus era plenamente humano e por isso plenamente Divino.

Caro (a) leitor ( a) , inicie 2015 consciente de que Deus habita em você. Você e seu irmão são morada de Deus. Dom Helder Câmara insistia em dizrer que Deus habita em nós e nós habitamos em Deus. Ele dizia: “Saio de casa, da Igreja, de qualquer lugar, mas não saio de Deus”. Dizia Dom Helder: “Quando perguntam onde moro, tenho o desejo de dizer ‘moro em Deus’”. Você já pensou nisso? Se vivo em Deus, não há o que temer. Deus está em mim e eu em Deus. Quer proteção maior para iniciar o ano do que a certeza de  estar em Deus?

Desejo a você, caro leitor (a) e benfeitor (a) de nossa Revista e de nossa missão, um ano cheio de realizações e de paz. O Papa São João XXIII dizia que a paz é fruto de quatro coisas: verdade, justiça, liberdade e amor. Creio que este é um bom projeto de vida para 2015. Buscar sempre dizer e viver na verdade interior seguindo a grande Verdade que é Jesus Cristo. Assumir as causas da justiça, a começar na própria família, passando pela vida da sociedade. Buscar ser livre interiormente e ajudar as pessoas a encontrarem a sua liberdade pessoal, sem as amarras dos bens materiais, das pessoas ou dos vícios pessoais. E por fim, o amor. Só o amor poderá nos salvar e nos tornar plenamente felizes.

Descobrir o quanto sou amado por Deus e o quanto sou capaz de amar meus irmãos.
Não se esqueça de que você tem Nossa Senhora do Sagrado Coração ao seu lado. Esta Mãe o protege e cuida com carinho de você.

Pe. Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC (Sup. Provincial)

Um novo Ano se inicia

interna2Iniciamos o ano com grandes festividades no mês de janeiro e queremos partilhar com você um pouco da espiritualidade de cada uma destas solenidades.

Busquemos nelas algum sentimento ou experiência de vida para marcar o rumo do nosso novo ano.

Festa da Santa Mãe de Deus – “Theotokos” palavra grega que significa o título desta festa, a primeira do ano. Aqui podemos nutrir dois sentimentos fundamentais a nossa vida de cristãos. O primeiro diz respeito a nossa filiação divina,ou seja, temos identidade, raízes profundas e seguras. Deus é a nossa essência, a nossa identidade. A Igreja, em seus primórdios, proclama depois de amplo debate, o primeiro dos quatro dogmas Marianos. Maria de Nazaré, aquela pequena e humilde mulher, torna-se a escolhida de Deus para ser, humana e divinamente falando, a Mãe de seu Filho Jesus Cristo.

Nesta escolha de Deus por Maria, o que nos pode marcar é à maneira como Deus nos ama profundamente. O segundo sentimento é o de pertença/serviço. Isto está claro nesta outra marca fundamental para nós, deixar-nos amar por Deus. Foi o que a singela mulher de Nazaré fez, não se exaltou, mas se colocou como humilde serva do Senhor, dando o seu “Fiat(faça-se)” com um detalhe importantíssimo, segundo a vontade de Deus (cf. Lc. 1, 38). Ensinamento maior não poderíamos ter ao iniciarmos um novo ano: temos certeza de que somos amados e nos doamos aos irmãos  confiando nesse amor.

Após as grandes Solenidades que foram Natal e Santa Maria Mãe de Deus,  a Igreja nos insere no mistério da manifestação do Senhor Jesus. A Festa da Epifânia do Senhor, (A Palavra Epifania, em grego, significa revelar, aparecer manifestar. No Cristianismo,ela  diz do mistério em de Deus que se dá a conhecer que se revelou e se revela àqueles que a cada dia o buscam) São Mateus, em seu evangelho, nos deixa isso muito claro, os reis magos chegam a Jerusalém, procurando um recém-nascido rei dos judeus (cf. Mt. 2, 1-2). Jesus se deixa encontrar na simplicidade da manjedoura em Belém, na pequenez de uma criança que naturalmente exige amor, conquista com a sua fragilidade! Jesus não impõe grandeza. Deixa-Se encontrar no dia a dia de nossa vida.

“Tu és o meu Filho amado. Em ti eu me agrado” (Mc. 1, 11). Resposta melhor não poderíamos ouvir na festa do Batismo de Jesus, a qual encerra as festividades do tempo do Natal. Talvez nessa altura de nossa reflexão possamos perceber qual seja o nosso fio condutor. Nesta solenidade encontra-se a centralidade da vida cristã, somos filhos de Deus. A exemplo de Maria, devemos nos deixar ser amados por Deus, buscá-Lo na simplicidade da vida. Desfrutando do amor de Deus através do nosso batismo, nos tornamos ‘o seu agrado, o seu bem querer’. Que o somos, mesmo que não busquemos a Deus, e até mesmo o rejeitemos.

O mês se encerra com a festa de São Paulo Apostolo, homem de uma genialidade fenomenal, cumpridor dos preceitos, amante da Lei, fiel. Às vezes, a fidelidade radicalizada nos pode levar por caminhos difíceis em nossa vida. Assim aconteceu com Paulo: por ser fiel à lei, perseguiu o seu amado ainda não conhecido. É preciso, antes de tudo, em nossa vida de oração, pedir ao Senhor a graça de buscá-lo e conhecê-lo.

Parafraseando  Santo Agostinho, “é impossível amar aquilo que não se conhece”. A queda de Paulo foi fundamental para poder conhecer Aquele que ele procurava através de sua grande fúria contra os cristãos. Ao escutar a voz do Senhor, Paulo respondeu: “aqui estou”! sua vida transformou-se em testemunho de amor ao Amado, como afirma na sua carta aos I Coríntios: “Aquilo que sou, o sou pela graça de Deus” (I Cor. 15,10).
Meus amados irmãos, nesta bonita caminhada de inicio de ano, podemos em nossa vida cristã, abraçá-lo com mais confiança partindo da certeza de que somos filhos amados de Deus. Como Maria, deixemos o Espírito Santo nos cobrir com a sua sombra (cf. Lc 1, 35) e fecundar em nós o Cristo. Em nosso cotidiano, através de nossa oração e ações, permitamos ao Senhor se manifestar em sua bondade e amor. Assim, não nos esqueçamos de que vamos nos tornando o agrado de Deus, a sua afeição do Pai em seu Filho Jesus Cristo, pelo nosso batismo. A exemplo do apóstolo  Paulo, transformemos a nossa vida em um testemunho da boa nova do Reino de Deus em nosso meio. Pois, somos filhos e Filhas amados de Deus. Santo e abençoado ano para você!

Fr. José Eduardo S. Paixão, MSC

Meu pai, meu mestre

interna1Era o ano de 1949. Eu tinha cinco anos de idade. Meu pai mostrou-me o mapa da Europa e apontou com o dedo para a Iugoslávia, dizendo:

- Este país é a união de vários outros países. Foi o Marechal Tito que criou a Iugoslávia. Mas isso não vai durar…

Verdadeira profecia, antecipando-se à fragmentação já verificada entre Sérvia e Croácia, Bósnia e Montenegro, Macedônia e Eslovênia.

Cito apenas, entre tantos, um exemplo do trabalho de formação que meu pai realizava com os dois filhos. Aos cinco anos, eu já sabia ler e escrever, graças a sua atuação como alfabetizador, utilizando o moderníssimo método pedagógico do… jogo da forca! Em sua mesa de trabalho, na subestação elétrica da Rede Mineira de Viação, o encarregado jogava forca com os filhos. Só para facilitar as coisas, extraía do painel umas palavrinhas como Siemens, Worthington e Brown Boveri…

Quando passei pelo exame de admissão ao ginásio, já no colégio interno, aos dez anos e meio, os veteranos me cercavam para perguntar o nome das capitais. França? Paris! Inglaterra? Londres. Sem excluir Liechtenstein, Andorra e San Marino.

Quem me ensinou? Meu pai. Em um bloco usado da RMV, ele me punha a copiar a lista de países e capitais. Como recreio, a escalação do Vasco da Gama, em letras de imprensa, no sistema WM: Barbosa, Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Heleno (ou Ipojucã) e Chico.

Não havia televisão, mas era em companhia de meu pai que acompanhávamos pelo rádio as Aventuras do Anjo, Jerônimo, o Herói do Sertão, e o Balança, mas não cai. Se meu pai ia jogar bilhar, levava os dois filhos como assistentes. Se ia ao treino de futebol, lá estávamos nós. Na foto do Andradina Futebol Clube, eu apareço como mascote, trajando a camiseta vermelha. Na hora da pescaria, nunca nos deixava em casa; e cortava para os dois filhos, em pequenos cubos, o saboroso queijo Dana, que a custo repartíamos com os lambaris.

Bons tempos! Um pai que estava ao lado, acompanhava e estimulava os filhos, sem espaços particulares proibidos aos pequenos.

Se me permitem, vou perguntar: – “Pais, até quando vocês deixarão seus filhos desperdiçarem o seu potencial, gastando o precioso tempo com TV e joguinhos eletrônicos? Não dispõem de tempo para conviver com os filhos?”

Sei que o mundo mudou. Os pais também mudaram. Mas não seria o caso de corrigir mudanças que fazem mal?

Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nosso Renascimento

destaque3A festa do Natal não é feita só de belas recordações. E não são só celebrações de ritos, de tradições afetuosas, de alegria familiar ou pública. É renovação. O nascimento de Cristo, divino e natural, deve ser nosso renascimento espiritual e cristão. Este é um fato maravilhoso próprio da nossa fé.Um fato vital. É a atualização do Mistério da Encarnação.

Devemos renascer, podemos renascer! Quem de nós não tem a experiência da inexorável voracidade do tempo? Quem não vê como todo humano progresso é insuficiente em si mesmo e o próprio desenvolvimento traz em si a condenação de sua caducidade? Quem não observa, especialmente em nosso tempo, que toda manifestação de vida se torna alvo de uma desumana e, em certo sentido, lógica contestação? Quem de nós não traz no fundo da alma uma pitada de desconfiança: desconfiança em si mesmo, principalmente quando se reconhece frágil e pecador; desconfiança nos outros, desconfiança na sociedade, desconfiança na civilização e no mundo?

O Natal vence essa desconfiança, Renascemos cada dia que acolhemos o Senhor e sua palavra e nos deixamos conduzir pelo seu Espírito nesta caminhada para o Pai. Em Cristo, com Cristo, é sempre possível recomeçar do início e retomar a construção da nossa vida pessoal, da nossa vida familiar, da nossa vida social e civil. O Natal de Cristo é perene. A beleza e profundidade deste tempo é que nos fazem experimentar a verdadeira alegria e paz!

Oremos: Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, daí-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir participar da divindade do vosso filho, que se dignou assumir a nossa humanidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém” (missa do dia de Natal).

D. Orani João Tempesta, O. Cist. Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Maria e o mistério do Natal

destaque2Não existe Natal sem Maria. Foi através do seu SIM que a humanidade recebeu Jesus. Deus quis precisar de uma humilde mulher – Maria de Nazaré. Ela é única por ter sido escolhida para a sublime missão de ser Mãe do Salvador do mundo.

A partir do momento da anunciação, quando Maria respondeu: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, nunca mais ficamos sem Jesus. Na plenitude dos tempos, isto é, no tempo que Deus mesmo escolheu, Ele veio fazer morada entre nós. Algo novo aconteceu! Maria foi o canal da graça divina nesse momento da história da humanidade. “Mas, quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher, e nasceu submetido a uma Lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gal 4,4-5).

Todo dia 8 de setembro, festa da natividade da Virgem Maria, já podemos vislumbrar o clarão do natal, quando, no hino da liturgia das horas, cantamos: “Tua beleza fulgura, cingida apenas por véus, pois nos trouxeste, tão pura, o próprio filho de Deus. Hoje é teu dia: nasceste; vieste sem mancha à luz: com teu natal tu nos deste o do teu Filho Jesus.”

Os Evangelistas Mateus e Lucas apresentam as narrativas do nascimento de Jesus, cada um com suas características próprias. Eles se completam. Acredita-se que Lucas deve ter colhido dos lábios de Maria muito do que narra no início do seu Evangelho. É claro que não podemos esquecer que Jesus é sempre o centro. Maria está lá como mãe. Maria adora, escuta, acolhe a todos aqueles que vêm até Jesus.

Os anos vão passando e o Natal continua nos encantando. Na pobreza do presépio aquela criança questiona os poderosos do mundo. Padre Roque Schneider, escrevendo sobre o mistério do natal, diz o seguinte: “A manjedoura de Belém foi o primeiro púlpito de Jesus. Quantas lições de sabedoria, de fé, de eternidade, nas palhas daquele presépio, no despojamento de Jesus, no silêncio orante de José e Maria!” Nós, por nossa vez, ficamos encantados também. Mas, é importante saber que essa criança cresceu em estatura, idade e em graça. Nós não devemos conservar a imagem de um Jesus sempre criança. Não. O Natal é hoje. A vida continua, e nós crescemos e devemos saber que nossa fé ensina que Jesus está conosco hoje, totalmente inserido em nossa história.

Mateus tem um olhar bem cuidadoso sobre Maria que amplia muito a imagem dela. Além de narrar a infância (Mt 1 e 2) ele relata acontecimentos da vida pública de Jesus mencionando a pessoa de Maria. A finalidade dos dois evangelistas era apresentar quem é o Cristo Ressuscitado. O Papa Francisco, na carta encíclica Lumen Fidei, termina, o número 60, com uma prece a Maria, pedindo-lhe que ajude a nossa fé e que semeie nela a alegria do Ressuscitado.

O Natal tem o seu ponto alto na Páscoa porque Jesus é vida e ressurreição. A Páscoa é a maior festa do povo cristão. A prova de que Jesus é Deus. Venceu o pecado e a morte por sua Ressurreição. Por isso nos alegramos e bendizemos a Deus. O Papa Francisco nos diz ainda que “Maria está intimamente associada com aquilo em que acreditamos. Na concepção virginal de Maria, temos um sinal claro da filiação divina de Cristo: a origem eterna de Cristo está no Pai – Ele é o Filho em sentido total e único – e por isso nasce no tempo, sem intervenção do homem. A verdadeira Maternidade de Maria garantiu, ao Filho de Deus, uma verdadeira história humana, uma verdadeira carne na qual morrerá na cruz e ressuscitará dos mortos. Como é bela a nossa vida em união com Maria. Como é bela nossa Igreja caminhando alegremente com Maria. Com ela vamos a Jesus. Precisamos viver essa certeza em nosso dia a dia.

Maria está, de uma maneira toda especial, dentro do mistério do Natal. Quando digo “mistério” eu me refiro à grandiosidade do amor de Deus; a que ponto chegou o amor do Criador pela criatura, não a um mistério como algo que somos incapazes de compreender. Mas, como revelação do amor de Deus que nos amou primeiro. Jesus, sendo Deus, o Deus invisível, assumiu nossa humanidade, com exceção do pecado, elevou a dignidade da mulher escolhendo Maria, quis permanecer nove meses no seio materno, nascer, quis ter um pai adotivo na pessoa de José, ter uma família, foi criança… quantas lições podemos aprender. A Igreja continua repetindo esses mesmos ensinamentos em defesa da vida.

Estimado(a) leitor(a), deixe-se envolver pelo amor de Deus revelado na criança que Maria envolveu em faixas e reclinou na manjedoura.

Vamos, todos nós, abrir o nosso coração para Jesus e seremos envolvidos também pelo amor e pela ternura de Maria.

Ir. Maria da Luz Barbosa
Cordeiro, FDNSC

“…E a Mãe de Jesus estava presente”

destaque1Entre os personagens próximos de Jesus, poucos como Maria. Dela não se diz muita coisa nos evangelhos, mas o que se diz é surpreendente. Mãe, testemunha, seguidora, servidora, presente… Uma mulher fiel a Deus e capaz de ver mais além do cotidiano e estabelecido; uma mulher capaz de ver diferente.

Onde outros viam uma loucura, Maria viu um horizonte; onde muitos tinham visto uma transgressão, ela intuiu a promessa de Deus; onde tantos teriam estremecido diante da proposta de Deus e teriam exigido mais provas, mais seguranças ou mais garantias, Maria exclamou: “faça-se”. Onde a lei era a referência e a condenação, ela foi capaz de cantar a grandeza do Deus que está com os mais simples e quebra as estruturas estabelecidas; onde tudo era convencional, Maria, com uma acolhida feita de valentia, confiança e entrega, foi capaz de colaborar com Deus de modo radical; onde todos viam o desenlace frustrante e triste de uma festa de casamento, ela “viu e antecipou a hora de seu Filho”… Porque estava sempre presente.

Porque estava presente a Deus, Maria fez-se presente nos momentos decisivos de seu Filho, bem como se fez presente na vida das pessoas. Uma presença que faz a diferença: presença solidária, marcada pela atenção, prontidão e sensibilidade, próprias de uma mãe.

Sua presença não era presença anônima, mas comprometida; presença expansiva que mobilizou os outros, assim como mobilizou seu Filho a antecipar sua “hora”. Nas bodas de Caná, a novidade está numa nova forma de presença de Maria, que não se encontra interessada, em princípio, em fazer coisas, em resolver problemas, senão em traçar uma presença. Ela não está aí para “arrumar” as coisas, mas para escutar e compartilhar um momento festivo. Ela se encontra presente, num gesto de solidariedade que transcende e supera toda atividade.

Trata-se de uma presença que é “música calada” nos lugares cotidianos e escondidos, que sabe enternecer-se e escutar as inquietações que procedem desses lugares. Uma presença que descobre o próximo no próximo, que sabe resgatar a solidariedade na vida cotidiana. Uma presença que se manifesta na ausência de recompensa ou de interesse próprio.

Em definitivo, Maria descobre que é chamada a dar de graça o que de graça recebeu. Sabe entrar em sintonia com os sentimentos dos outros e construir vida festiva, e vida em abundância. Sua presença revela um gesto profético de solidariedade e de anúncio: presença que aponta para uma outra presença, a de seu Filho. Sua presença dignifica e revela um novo sentido à presença de Jesus numa festa de casamento.

A presença silenciosa, original e mobilizadora de Maria desvela e ativa também em nós uma presença inspiradora, ou seja, descentrar-nos para estar sintonizados com a realidade e suas carências. Tal atitude nos mobiliza a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações; escutar relatos que trazem luz para nossa própria vida; ver a partir de um horizonte mais amplo, que ajuda a relativizar nossas pretensões absolutas e a compreender um pouco mais o valor daquilo que acontece ao nosso redor; escutar de tal maneira que aquilo que ouvimos penetre na nossa própria vida; implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas e títulos; acolher na própria vida outras vidas; histórias  que afetam nossas entranhas e permanecem na memória e no coração.

Disto se trata: aprender dos outros; recarregar nossa própria história de um horizonte diferente, no qual cabem outras possibilidades e outras responsabilidades; descobrir uma perspectiva mais ampla que ajuda a formular melhor o sentido de nossa própria vida.

Evidentemente, nem toda presença é “saída de si”; uma pessoa pode passar pelos lugares sem que os lugares deixem pegadas; ela pode tocar a superfície das coisas e das vidas, mas esse contato deixa pouca memória e logo desaparece. Com isso não há encontro nem aprendizagem.

Quando a pessoa se faz presença que desemboca no verdadeiro encontro, ela se expõe, se faz vulnerável, se deixa afetar… Mas essa é a oportunidade para transformar os olhares e os gestos de quem se atreve a sair dos horizontes conhecidos.
São muitos os encontros que são fecundos para quem se faz presente e para quem acolhe esta presença. São muitas as pessoas cujas vidas ganham em seriedade, em profundidade, em compaixão e em alegria autêntica ao fazer esse caminho de saída de si. São muitas as pessoas que, em contato com vidas e histórias diferentes e reais, compreendem melhor suas próprias vidas e sua responsabilidade.

O seguimento de Jesus nos mobiliza e nos expande na direção dos outros.

“O discípulo-missionário é um descentrado: o centro é Jesus Cristo que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais. A posição do discípulo-missionário não é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias” (Papa Francisco)
O que significa “fronteiras geográficas e existenciais”. É preciso sair dos limites conhecidos; sair de nossas seguranças para adentrarmos o terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo…

É decisivo estar dispostos a abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novas vivências, novas experiências… Porque sempre há algo diferente e inesperado que pode enriquecer-nos…
A vida está cheia de possibilidades; inumeráveis caminhos que podemos percorrer; pessoas instigantes que aparecem em nossas vidas; desafios, provocações, aprendizagens, motivos para celebrar… lições que aprenderemos e nos farão um pouco mais lúcidos, mais humanos e mais simples…

A fronteira passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida.

Isso pede de todos nós uma atitude de abertura e de deslocamento frente ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele… Nosso desafio não é fugir da realidade, mas nos aproximarmos dela com todos os nossos sentidos bem abertos para olhar e contemplar, escutar e acolher, percebendo no mais profundo dela a presença ativa do Deus que nos ama com criatividade infinita, para encontrar-nos com Ele e trabalhar juntos por seu Reino.

O discípulo missionário não é aquele que, por medo, se distancia do mundo, mas é aquele que, movido por uma radical paixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí revela os traços da velada presença do Inefável. “Encontrar, experimentar Deus em todas as coisas… a Ele em todas amando e a todas n’Ele” (S. Inácio).

Deus emerge na densidade das coisas, das pessoas e dos acontecimentos.

Quem está em sintonia com esta Presença, vive uma festa permanente.
Pe. Adroaldo Palaoro, SJ 
Diretor do Centro de  Espiritualidade Inaciana – CEI

Um prazo para o LUTO

Einsame WinterbankComentei em abril de 2011, por ocasião do triste episódio da escola do Realengo que, com raras exceções, o luto tem um prazo. Aos poucos, até de maneira inconsciente, a pessoa vai se adaptando à ausência da pessoa amada como se adapta às grandes feridas do corpo. Graves acidentes costumam exigir mais tempo para a cura, mas a dor passa, a ferida é sanada e as cicatrizes que ficam lembram o que houve, mas doem menos ou quase nada porque acabaram os dias de chaga viva.

Poucas pessoas cultivam luto prolongado. E não é nem nunca foi falta de amor. É dor superada. Aqui e acolá sabe-se daquela mãe, daquela namorada ou daquele pai para quem a vida acabou. Seu amor foi para o lado de lá e eles ou elas se trancaram do lado de cá. Ou jogaram as chaves fora, ou não as acham, ou não querem sair do seu isolamento. Dizem que não conseguem se controlar, mas é dor consentida e cultivada. Chegam a dizer que sair do luto é trair a memória do falecido. Nunca lhes ocorreu que cultivá-lo pode ser contra a vontade da pessoa que se foi! Afinal, se o céu existe e se a pessoa está com Deus, a ultima coisa que ela, marido, esposa, filho, filha desejam é ver que quem ficou decidiu parar de viver.

Para a maioria, o que era ferida, agora é marca que não dói; o que era perda, agora é paz. Se creem, entendem que haverá um reencontro. Como, ninguém sabe, mas haverá. O aqui que terminou para quem se foi também terminará para quem ficou. Haverá um depois e nele as almas se encontrarão numa dimensão que só quem morreu conhece.

Pregadores da fé, além de crer num depois, costumam fantasiá-lo. Crer é uma coisa, fantasiar é outra! Imaginam o Deus que nunca viram e imaginam o céu que também nunca viram. Vivem mais dessas imagens criadas do que da fé que afirma saber que há, mas não como é!
Magistralmente São Paulo propõe aos seus discípulos que se consolem com palavras de esperança. A carne irá para o túmulo, mas não nós. Somos mais do que nosso corpo. Haverá um depois não para o corpo, mas para a pessoa que somos. Quem perde as duas pernas não fica pessoa pela metade. Quando o corpo morre, a pessoa não morre. No dizer da igreja, a vida não é aniquilada, mas transformada. Seremos a mesma pessoa, mas não com os mesmos detalhes físicos. Jesus ressuscitou e atravessava portas. (Jo 20,26).

Para nossa fé a morte não é o nosso último ato e nem o túmulo o nosso último endereço; do corpo, sim, mas não da pessoa que somos! (1 ts 4,13-18) E não pedimos aos mortos que venham até nós. Esperamos sofridos, mas serenos, o dia de irmos até eles.

Cremos que os que morreram são os primeiros a pedir que paremos de cultivar sua morte. Não vestíamos luto enquanto viviam aqui; não vestiremos agora que se foram, sobretudo se cremos que estão na plenitude. Sabem mais do que nós: conhecem os dois lados do viver. Nós, apenas este… Deixar claro que só estaremos bem se eles se manifestarem não seria o mesmo que exigir que voltem. E isto não seria pensar mais em nós do que neles?…

Pe. Zezinho. SCJ, é músico e escritor. Tem aproximadamente 85 livros publicados e mais de 115 álbuns musicais.
www.padrezezinhoscj.com

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